Active Measures - Jack Bryan - 2018

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Samwise
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Active Measures - Jack Bryan - 2018

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Wiki | imdb

«This is a worldwide threat to Democracy!» - Jack Bryan

«Democracy Dies in Darkness» - The Washington Post


No panorama geopolítico actual, nenhum evento terá provocado mais desestabilizarão e controvérsia do que a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América. O mandato e as atitudes de Trump têm estado sob escrutínio intenso por parte dos media e dos Orgãos de Comunicação Social americanos desde então, tendo o presidente adoptado uma postura invariável de descredibilização e blackout face a todas instituições que de alguma forma o criticam - acusando-as de criarem "fake-news" e "hoaxes". Um dos assuntos mais graves e preocupantes que tem sido objecto de atenção particular por parte da Comunicação Social e dos opositores políticos do presidente (que não se esgotam no partido democrata) é a existência de fortes indícios de que a campanha e o processo de eleição que colocou Trump no cargo terão sido manipulados e influenciados por deliberação do governo russo.

Partindo da firme ascensão de Vladimir Putin ao poder, das suas origens e carreira no KGB, e do seu controlo absoluto sobre as máfias russas, Active Measures apresenta uma complexa cadeia de eventos, ligações sociais e fluxos de influência que ligam directamente, por vias tortuosas, Trump a Putin, e que explicam uma estratégia de combate aos Estados Unidos (e também à Europa) por parte da Rússia, um plano para enfraquecer as nações ocidentais a partir do seu próprio núcleo, minando os valores e inflamando as populações de tais democracias, "sem disparar uma única bala".

A confirmarem-se as teorias e as provas apresentadas neste documentário, nunca na sua história os Estados Unidos estiveram tão vulneráveis ou foram tão humilhados pela Rússia. Para melhor sustentar e enquadrar as teses apresentadas, o documentário recorre a entrevistas a nomes de relevo na política e nas instituições de segurança americanas e internacionais, incluindo ex-presidentes da Ucrânia e da Geórgia, países que caíram reféns de "operações de bastidores" (políticas e militares) ordenadas por Putin. Mesmo considerando que parte dos testemunhos não são imparciais, e que algumas personalidade tinham na agenda a queda de Trump (Hillary Clinton e John McCain, por exemplo), não há que negar o mérito na exposição e na interligação dos factos, muitos deles completamente desconhecidos da opinião pública (a estimativa de agentes russos a operar nos EUA e a falta de meios para monitorizar todos os que estão identificados, por exemplo, ou as incríveis negociatas da máfia dentro da torre Trump). Estes indícios encaixam que nem uma luva na cada vez mais forte noção de que o poder está a cargo de uma marioneta russa, e de que esta foi lá colocada através de tácticas subversivas de manipulação e desinformação em massa do eleitorado, pensadas com antecedência e postas em prática com ajuda de poderosos meios e capacidades informáticas, com as redes sociais das grandes empresas americanas a servirem de meio privilegiado de transmissão e propagação natural de "fake news". É uma vitória pesada e inegável de Putin sobre o grande adversário histórico da Rússia.

Paralelamente, a confirmarem-se as teorias e as provas apresentadas neste documentário, há uma série de figuras próximas de Trump, entre familiares e colaboradores políticos, que arriscam acusações futuras de alta traição, incluindo o próprio presidente - sobretudo o próprio presidente. O surpreendente é haver tanto indícios de corrupção e tudo continuar na mesma - mas estamos ainda no princípio daquilo que será uma grande investigação, uma que deverá ter tanto ou mais impacto do que o caso Watergate (porque aí não havia manipulação russa, "apenas" um presidente corrupto). Seria impensável por esta altura que os assuntos focados não fossem profundamente investigados (e estão a ser), até porque no plano jornalístico já há reportagens com alguma densidade e detalhe (como esta, do New York Times)

A relevância e importância deste documentário sobrepõe-se à desilusão perante a forma algo trapalhona com que foi editado e montado - a rapidez com que, em determinadas partes, nos são mostrados títulos de jornais, blogs, nomes, esquemas de ligações, fluxos e hierarquias de poder, muitas vezes sobrepondo imagem e som de forma pouco coordenada, a disputarem a atenção dos sentidos, não dão espaço para interiorizarmos tudo como deve ser. Dada a extensão e complexidade da matéria (e muito terá sido deixado de fora) talvez que mais meia-hora ou uma hora de fita tivesse sido uma melhor opção. Porque: é uma peça essencial para quem tem interesse por estas matérias, mesmo que deva ser observada com alguma reserva e prudência.

Vivem-se tempos de dramática incerteza - o mundo observar nervoso o desfecho do mandato Trump, e a história desenrola-se perante os nossos olhos a um ritmo alucinante, com notícias de que o Procurador Geral da República, Rod J. Rosenstein, sob pressão presidencial, pode estar de saída do cargo, algo que poderia ser entendido como uma interferência de Trump na investigação que decorre sobre o processo. Vivem-se ao mesmo tempo tempos fascinantes, interessantíssimos, com um caso de corrupção ao mais alto nível (não há mais acima disto) e uma batalha pela verdade e pelo valor das instituições a decorrer num dos berços da democracia, entre as duas nações mais poderosas e influentes do mundo. Desta perspectiva, Active Measures é um documentário que vai também agradar a quem gosta de "teorias da conspiração" em larga escala.

Trailer:


«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

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