Realizador: Damien Chazelle
Elenco: Ryan Gosling, Claire Foy, Corey Stoll, Kyle Chandler, Jason Clarke, Shea Whigham, Christopher Abbott.
A look at the life of the astronaut, Neil Armstrong, and the legendary space mission that led him to become the first man to walk on the Moon on July 20, 1969.
Ainda não há comentários acerca deste filme aqui no fórum (apenas algumas curtas observações aqui e ali, e uma referência bastante elogiosa do Dying Sun no primeiro programa "radiofónico" que partilhou connosco). Aparentemetne tem sido um filme "mal recebido" e pouco apelativo para o público nacional, que para além da "cara bonita" do Gosling (que neste filme "não conta para as contas" por esse lado) não encontrou motivos de interesse que justificassem uma desclocação em massa ao cinema. A julgar pelo trailer, até percebo por que tem passado "debaixo dos radares", e por que razão interessará apenas a uma parcela mais estreita da comunidade que gosta de ver filmes - mas não tanto a ponto de ser cinéfila - e considero que para este último grupo o filme vale bem a pena.
No outro tópico falei do The Right Stuff - Os Eleitos, e do Apollo 13 para enquadrar genericamente o First Man, mas se enquanto ojecto de narração histórica uma sequenciação cronológica e temática pode ser deduzida (afinal de contas, cada um destes filmes foca um determinado período ou evento importante na corrida ao espaço, visto pelo lado americano), em termos de abordagem ao material são três filmes completamente diferentes - cada um com os seus encantos particulares.
O The Right Stuff - Os Eleitos é uma sátira tragicómica em tom heróico, que atinge transversalmente a sociedade americana e o "quest for the american dream", desde as bases individuais e do pequeno núcleo familiar, até às instituições de topo e à questão da competição com a URSS pela conquista do espaço. Se alguém por aqui ainda não teve oportunidade de ver, sugiro que o façam antes de pegar no First Man, porque cronologicamente foca os eventos que antecedem o projecto de colocação de um homem na lua.
O First Man é um olhar intimista sobre o período da vida de Neil Armstrong em que esteve envolvido na primeira viagem à Lua. Armstrong é retratado como um homem extremamente reservado em termos de sentimentos (até perante a família), que escara os desafios que lhe colocam de um forma fria, despida de emoções, extremamente competente e profissional, e um herói relutante que se recusa, devido à sua personalidade contida, a festejar publicamente o sucesso dos seus feitos e que prefere (literalmente) o silêncio das suas memórias ao convívio social, institucional e estatutário da posição que alcançou. Segundo consta, os filhos de Armstrong consideram que este filme, baseado de resto numa biografia oficial autorizada, é o retrato mais fiel da personalidade do pai que o cinema já fez. O tom do filme segue estreitamente essa personalidade contida e intimista, e esse é para mim uma das grandes proezas do realizador - ter encontrado o formato certo na linguagem para estar em sintonia com aquela personalidade. O outro grande trunfo é o embrulho visual e sonoro (sem esquecer a banda sonora, que é uma pequena pérola). Para quem gosta de aviões, foguetões e naves espaciais, vai aqui passar duas horas nas sete quintas.
O Apollo 13 é o mais convencional dos três e acho que apresenta ao mesmo tempo o melhor trabalho do Ron Howard enquanto realizador e os seus limites enquanto autor sem características particulares que o distinguam de um qualquer "tarafeiro" competente e dedicado. Mas o filme resulta muito bem na sua exultação emotiva e sentida da quase-tragédia da missão que lhe dá o nome, não esqucendo a galeria de personagens que em terra apoia e acompanha a missão, nem o impacto social "em tempo real" que naquelas horas teve um pouco por todo o mundo.
Last edited by Samwise on January 8th, 2019, 11:33 am, edited 2 times in total.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Eu se tiver receio é mais pelo realizador que outra coisa. Tem mostrado potencial, mas está-lhe a faltar aquela qualidade narrativa que me prenda. Então com o La La Land que coisinha sem sal.
PanterA wrote: ↑December 31st, 2018, 7:35 pm
Eu se tiver receio é mais pelo realizador que outra coisa. Tem mostrado potencial, mas está-lhe a faltar aquela qualidade narrativa que me prenda. Então com o La La Land que coisinha sem sal.
Pantera, ainda não vi o LLL, nem tenciono ver tão depressa.
Em todo o caso, acho que "coisinha sem sal" e significancias semelhantes possam ser as críticas que se vão ouvir mais por parte de quem não gostar deste First Man. Por um lado, não há a exultação habitual balofa em torno das proezas americanas - o que há é o sofrimento silencioso e contido de uma pessoa - , e por outro falta também a exuberância visual que geralmente vem com esse embrulho - aqui a estética visual está mais próxima daquilo a que se chama "low key". E quem não conhecer a personalidade do Armstrong (como era o meu caso) vai sentir bastante estranheza com a forma como está retratado.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Só tinha lido, e ouvido, críticas negativas, e gostei bastante deste filme! Esperava algo mais frenético e acabei surpreendido ao ver um filme calmo, e muito bem editado, com uma perspectiva mais íntima sobre uma história já muito conhecida! - 7.5/10
Do mesmo realizador continuo a achar o La La Land um excelente filme, assim como o Whiplash!
Ando cheio de curiosidade sobre este filme, e por causa disso a "namorar" este steelbook na amazon.it...
E depois de ler aqui o tópico, ainda fico mais com água na boca.
Das coisas que me irrita, é nem ter dado pela estreia deste filme no cinema... isto hoje em dia passa tudo tão rápido que por vezes há filme que me passam completamente ao lado.
Confesso que já tenho a minha dose de idas à Lua, entre filmes e documentários.
Para mim um argumento interessante seria um que materializasse a versão que diz que tudo não passou de um embuste.
A versão verdadeira já perdeu muito da novidade para mim.
No caso do First Man se é verdade que tem um tom meio tristonho (gosto da expressão inglesa 'blue mood') e que não é dos mais espalhafatosamente americano-triunfalistas (é antes uma versão sofrida da história), de cada vez que o Neil Armstrong abre a boca é para fazer as observações mais inteligentes e pertinentes.
E para mim tem também uma coisa que já apontei noutras ocasiões que é o cansaço com alguns actores, aqueles actores que já vimos 500 vezes a fazer os mais diversos papéis. Desta vez é astronauta. Penso que por vezes acabam por tirar um bocado de credibilidade às personagens.
nimzabo wrote: ↑January 8th, 2019, 12:03 pm
Confesso que já tenho a minha dose de idas à Lua, entre filmes e documentários.
Para mim um argumento interessante seria um que materializasse a versão que diz que tudo não passou de um embuste.
...nem parece um filme do Altman mas até tem um bom cast
Um filme que deve ser interessante, mas que só encontro em DVD... e com poucas edições... Espanha numa ediçao não anamorfica, e Uk (que nem percebi o detalhe da edição)....
Mas fiquei curioso até com a história do filme.
technicolor wrote: ↑January 19th, 2019, 6:03 pm
...nem parece um filme do Altman mas até tem um bom cast
Foi dos primeiros filmes que ele fez para cinema. Ainda estava a dar os primeiros passos, e até sucedeu isto:
Altman was fired as director of the film for delivering footage that featured actors talking over each other. While this went on to be a signature invention of Altman, it was so new that studio executives considered it incompetence rather than an attempt to make scenes more realistic. In the documentary "Altman," the director explains that he was "just trying to get the illusion of reality" but that he was fired for "overlapping dialogue."
Deve ter sido frustrante para ele explicar o que quis fazer e do outro lado ouvir uns "yeah, right!" Não espanta o ódio todo que ele tinha a estes senhores.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Quando vi o trailer fiquei com poucas expectativas, pelo Chazelle e por mostrar momentos mais "expressivos" da narrativa, que me sugeriram uma coisa mais telenoveleira (à Apollo 13) e portanto já visto. Mas quis vê-lo no cinema porque achei que pelo menos teria uma boa e espectacular meia hora final com a chegada à lua. Acabei por deixar passar a oportunidade e o filme saiu de sala. Vi-o no outro dia em casa e arrependi-me de não o ter ido ver no grande ecrã. Ainda bem que o meu filho estava com os avós porque pus a TV bem alta e começo já por aí: o trabalho sonoro, da música aos efeitos, é inacreditável! Apesar de até simpatizar com o Goslyng, admito que às vezes é um bocado canastrão, mas acho que tem bons momentos aqui. Achei a Claire Foy incrível (teve um bom ano também: É a rainha Isabel II na série The Queen, está brutal no Unsane do Soderbergh, foi a nova Rapariga da Tatuagem do Dragão (que não vi nem tenho muita curiosidade) e é brilhante neste First Man). Adorei a fotografia, que recria as emulsões das películas da NASA da época. Achei o filme espectacular sem ser fácil. Não está preocupado em exibir os efeitos especiais (como um Gravity) e trabalha no ponto de vista dos astronautas, na claustrofobia dentro das naves (nunca tinha sentido num filme o facto de se ter conseguido chegar à lua (ou até ao espaço) dentro de "latas de sardinha"). Por último, na sua simplicidade narrativa de retrato de uma personagem, acaba por resultar uma ideia poética, através do subtexto, muito interessante: a de que, neste espírito de progresso e descoberta, está uma fuga da nossa condição humana, da nossa mortalidade, da fragilidade da nossa existência. Um dos melhores do ano, sem dúvida.
mas até tem um bom cast
Não espanta o ódio todo que ele tinha a estes senhores.
