Lucky (2017) - John Carroll Lynch

Discussão de filmes; a arte pela arte.

Moderators: mansildv, waltsouza

Post Reply
emanuriba
Iniciado
Iniciado
Posts: 66
Joined: April 6th, 2018, 8:08 pm

Lucky (2017) - John Carroll Lynch

Post by emanuriba »

Image



Titulo em Português:
Lucky (IMDB: 7,4/10)
Lucky, de 90 anos, vive numa pequena cidade do Texas (EUA). Os seus dias seguem iguais, com a constante repetição das rotinas: fuma os seus cigarros, toma o pequeno-almoço no café, faz palavras cruzadas, faz compras na mercearia e bebe um copo no bar com alguns amigos. Certo dia, cai na cozinha. Este incidente vai desencadear uma reflexão sobre toda a sua existência e a inevitável aproximação do fim...
Com Harry Dean Stanton como protagonista – numa das suas últimas aparições em cinema antes da morte, a 15 de Setembro de 2017 –, um filme dramático que marca a estreia na realização do actor John Carroll Lynch. Logan Sparks e Drago Sumonja também se estreiam como argumentistas. No elenco estão mais alguns veteranos da sétima arte: Ron Livingston, Ed Begley Jr., Tom Skerritt, Beth Grant, James Darren e David Lynch, entre outros. PÚBLICO
Ultimamente o cinema independente americano está evoluir, por vezes bastante bom ou mal, para os seus argumentos e para as suas personagens de cada filme.
O filme que acabei de ver agora mesmo em DVD, do qual eu vou lhes falar, e que é distribuído em Portugal pela Alambique Filmes, chama-se: Lucky de 2017, realizado por John Carroll Lynch e com uma excelente interpretação do falecido actor Harry Dean Stanton.
Harry Dean Stanton foi brilhante neste filme independente que é passado num sudoeste americano.
À medida que estamos a ver este velho solidário no seu dia-a-dia nos seus actos rotineiros, vamos conhecer também outras personagens que ele vai encontrar e falar com eles. Desde de uma cafetaria e um bar onde ele frequenta até ao mini-mercado onde vai sempre comprar as suas compras e ao médico.
No que toca aos outros actores que apareceram no filme: Ron Livingston, Ed Begley Jr., Tom Skerritt, Beth Grant e James Darren foram fantásticos nas suas personagens, assim como David Lynch que também foi fantástico no papel do seu amigo cowboy viciado em palavras cruzadas.
É um filme bem construído e é muito bom. No que toca à selecção musical, achei também muito boa.
Na minha opinião, foi uma grande noite de cinema e do qual eu RECOMENDO, para aqueles que ainda não viram, a verem este filme.
Se já viram este filme, na sua opinião, digam o que é que acharam do filme.
Para terminar, deixo aqui uma critica de um leitor retirado do jornal Público, na sua secção Cinecartaz:
Há cinema e cinema. Há ir e voltar. Mas às vezes o regresso demora. Às vezes o toque da luz na sala escura percute as cordas da nossa sensibilidade e continuamos a vibrar com ele durante dias a fio, como se a película fosse, afinal, uma muito longa metragem. Quando voltamos, percebemos que nos aconteceu um filme, um filme como o recém-estreado “Lucky”.
Um bom filme não nos comunica diretamente as coisas. Levanta apenas a ponta do véu. O espetador tem direito a descobrir por si só; sem o desperdício de ter de engolir as evidências de uma vez; sem palavras ou acontecimentos em excesso, a darem a volta completa ao tabuleiro do filme sem passar pela casa Partida (a da fruição estética). O espetador tem direito a um bilhete para a descoberta interior do “filme por dentro”. O meu custou apenas 5 Euros, num dia de semana à tarde.
“Lucky” não tem fogo de artifício, dramas de telenovela, ou enredos recheados. A ação deste filme podia facilmente ser representada por uma brincadeira de Legos da minha filha: Boneco levanta-se, vai tomar um café, passa pela mercearia, vê televisão, acaba o dia no bar a tomar uma bebida. No dia seguinte o mesmo, e parece que assim qualquer um de nós podia ser cineasta.
Um dos segredos do filme é este minimalismo da ação, que apaga as luzes para que se veja melhor a chama das coisas que interessam: a dimensão física (quase metafísica) dos noventa anos do corpo do Harry Dean Stanton, cuja atuação nos leva a acreditar que temos diante de nós um discurso sério sobre a vida e a morte (e era mesmo o caso, porque o protagonista morreu 2 semanas antes da estreia); o percurso do ator na sua relação com as personagens, que vão iluminando as facetas do seu eixo existencial; a qualidade dos secundários e a sua subtil composição sobre a amizade; e a pairar por cima de tudo, os divertidos diálogos do filme, cujas referências entre si constroem a escada da elaboração filosófica, que termina num patamar muito elevado: a síntese do filme numa única e comovente imagem.
Ao revisitar os mesmos cenários (e os mesmos planos), o filme vai-nos familiarizando com o código que utiliza para se comunicar. À medida que recebemos o alfabeto, vamos entendendo a linguagem da câmara, e vamos sorrindo com ela.
Um filme tocante, cuja beleza confirma que são verdadeiras (em tempo de filme) as palavras que foram nele semeadas. Mas parece-nos que estas até podiam ser menos, porque filmes assim nos recordam que temos dentro de nós uma sensibilidade captativa, que nos faz estremecer com aquilo que não foi dito, mas que foi entendido. Lucky us.
Publicada a 12-01-2018 por Fernando Pimentel
Assinado por: Emanuriba
Post Reply