(versão curta)
Excelente filme. Gostei muito.
Não há nada de estranho com o tapatalk
paupau 
, fui eu que "resumi" o comentário

...tinha muitos spoilers
...mas por respeito para contigo vou repô-lo na forma original
(versão longa)
Já tinha ouvido falar bem (e menos bem) desta singular obra de Varda mas ainda não a tinha visto e tinha curiosidade. E é efectivamente um filme "forte", incómodo mesmo, para quem (ainda) for sensível à degradação humana, ou para quem acredite na utopia da liberdade plena, sem encargos ou obrigações,sem preocupações de como será o dia de amanhã, sem horários a cumprir executando tarefas regulares a troco de dinheiro que permita "comprar coisas" ...e ser feliz assim(?) Foi uma visualização algo penosa não porque o filme seja mau, antes pelo contrário, mas talvez porque criei uma certa empatia com a jovem Mona, apesar do seu feitio difícil, e a crueza e a "autenticidade" com que Varda retrata os últimos tempos da vida da rapariga é "dolorosa". Confesso mesmo que tive que interromper e vê-lo em duas vezes, pois a meio comecei a ficar um bocado deprimido (cá em casa ninguém mais quis participar). Mas porquê esse sentimento de perturbação com uma ficção sobre a suposta vida de uma estranha? Talvez porque nos meus quase 50 anos de vida e de algumas viagens, em especial as feitas na minha juventude, de mochila às costas, já me cruzei com gente assim, que deambula sem destino, sem conforto, sem protecção social, tocando nas ruas ou fazendo malabarismos, vivendo da generosidade dos passantes que é cada vez mais escassa, (a generosidade) tal como no filme também vai progressivamente rareando. ...e talvez a perturbação e o desconforto que me causou também tenha sido um pouco ampliada pelo facto de a história se passar no inverno... e estes últimos dias cinzentos e a visualização nocturna a solo ajudaram a "entrar" dentro do filme, para além de não ter uma musiquinha melodiosa (uma balada melancólica) nem luminosidades poéticas tipo "un beau coucher de soleil à la campagne" nada que atenue a tristeza do que é retratado...
Mona é uma jovem algo revoltada/rebelde, sem abrigo, "sem eira nem beira" cujo passado é pouco (ou nada) revelado e o filme começa logo por nos mostrar a sua morte solitária "retrocedendo" depois e relatando um pouco da sua vida recente, da sua luta pela sobrevivência, até ser derrotada(?) por uma morte precoce, contada por quem com ela conviveu nesse espaço de tempo. Mas será que foi "vencida" por ter entrado num "caminho sem regresso" ou terá completado a sua existência de uma forma que tenha sido uma escolha deliberada? e terá sido verdadeiramente feliz na sua curta existência com essa suposta escolha? Bom isso não é claramente explicado, (ou eu não consegui vislumbrar) existem apenas uns indícios algo vagos ...e também nem sei se será relevante (?). A realização é sóbria, austera, realista, eficaz e o desempenho de Sandrine Bonnaire pareceu-me bastante convincente. Ficam mais algumas dúvidas: Até que ponto a liberdade e a solidão se podem confundir? A curiosa história da doença que estava a matar plátanos, provocada por algo inusitado
terá algum simbolismo especial? e algumas mais que ainda não deu bem para perceber...
Se gostei? Até gostei, mas confesso que é um "gosto" um pouco amargo... (enfim é a perfeita antítese de um filme pipoca e isto não é um elogio é apenas uma constatação minha)