Na minha opinião, mais um belíssimo filme de Woody Allen com inspiração em Bergman. Nestes revisionamentos que tenho feito, tenho notado com alguma surpresa que passei a gostar imenso dos "Bergman ones" e dos "Fellini ones", considerados os filmes mais "sérios". Não há dúvida que as idades e os contextos ajudam mesmo a moldar e a alterar as perspectivas.
Penso que em certa medida os "other ones"
terão sido mais ou menos um compromisso que Allen fez de modo a continuar a garantir uma grande fatia de público que sentia saudades dos seus "early funny ones". Aliás Woody terá referido que o "A Midsummer Night's Sex Comedy" (1982) e este "September" foram os seus dois maiores desastres comerciais. Nos últimos anos Woody Allen parece ter enveredado assim definitivamente pelos "other ones", com elementos de humor mas também com algumas histórias mais sérias. A música, a arte, as grandes questões existenciais, essas felizmente têm permanecido também sempre, juntamente com a qualidade e a magia que faz dele um realizador de culto, um verdadeiro "autor" apreciado por uma legião fiel de cinéfilos, e uma das referências absolutamente incontornáveis em termos de Cinema contemporâneo, com um lugar já garantido e mais do que merecido na História do Cinema. Mas este "Setembro" é um dos "Bergman ones", em termos de inspiração. Não tinha já memória deste filme enquanto todo, só umas lembranças vagas, de modo que foi uma óptima experiência vê-lo novamente.
Este é um filme intimista, delicado, elegante até, onde se cruzam vários sentimentos e paixões durante um fim de semana passado na casa de "Lane" (Mia Farrow). Além de Lane temos "Peter" (Sam Waterston), por quem "Lane" é apaixonada. Mas "Peter" apaixona-se por sua vez por "Stephanie" (Diane Wiest), a maior amiga de "Lane", que é casada e tem fillhos. Há ainda "Howard" (Denholm Elliott, infelizmente já falecido), um vizinho mais velho que por sua vez está apaixonado por "Lane". E para complicar tudo, "Diane" (Elaine Stritch, também já falecida) a mãe de "Lane" resolve aparecer com a sua personalidade fortíssima e o seu actual companheiro "Lloyd" (o actor Jack Warden, também já falecido). No meio das confusões já existentes por causa do ambiente relativo às paixões não correspondidas, "Diane" traz muitos fantasmas do passado que vêm complicar ainda mais a vida de "Lane".
E desde logo, um grande papel na minha opinião da Mia Farrow, que como já referi acho que fez um "crescendo" muito interessante ao longo dos vários filmes de Woody Allen. Eu fui dos que senti bastante a mudança após cinco filmes da Diane Keaton para a Mia Farrow, mas reconheço que esta última embora não consiga que eu tenha para com ela a empatia imediata que a Diane Keaton sempre me provocou, acabou por conseguir conquistar também o meu reconhecimento pelo trabalho de actuação e pelas interpretações que desenvolveu nos vários filmes do Woody Allen em que entrou. Ela é também, uma parte incontornável não só da sua obra, mas também da sua vida.
O filme tem uma fotografia fabulosa, que simplesmente adoro. E tem também uma música fascinante, envolvente, como é usual nos filmes do Woody Allen, neste caso peças de piano Jazz de Bernie Leighton. Basicamente o desenvolvimento passa-se tudo dentro de uma casa, mas a realização, a música, a própria saturação das cores, e uma delicadeza muito grande em termos de expressão de sentimentos, onde se sente o cuidado dos intervenientes em não se magoarem mutuamente, ou de pelo menos minimizarem os danos, tornam este filme bastante "delicado" e encantador de ver. Lembrei-me por vezes que se fosse um ambiente"à antiga portuguesa" ia acabar tudo à gritaria e à estalada no mínimo, possivelmente com alguém esfaqueado e com a casa incendiada.
Mas no filme, estamos entre pessoas sensíveis, educadas e com grande nobreza de sentimentos. Crítica mais desenvolvida, escrita pelo José Carlos Maltez no bog "A Janela Encantada":
https://ajanelaencantada.wordpress.com/ ... mbro-1987/
Trailer:
Alguns pormenores curiosos sobre o filme:
imdb:
http://www.imdb.com/title/tt0093940/?ref_=nv_sr_7
- mas, para mim, é mais um caso como o Manhattan, em que o Woody Allen não ficou satisfeito com um excelente filme)! - 8.5/10