"Os Dias da Rádio" foi talvez o filme do Woody Allen que vi mais vezes até hoje. Foi sempre um dos meus preferidos, o que para mim reúne maior magia e quase todas as coisas que gosto nas histórias contadas por ele.
Desde logo o filme é comentado pelo próprio Woody, e quem gosta dele sabe que tem uma voz, entoação e maneira de falar inconfundíveis, que acrescentam logo muito encanto ao que está a ser visto.
E o que podemos ver e acompanhar, são muitos retratos de época, entre 1938 e 1944, no auge da era dourada da rádio, e episódios da infãncia do pequeno "Joe" (uma espécie de "alter ego" de Woody Allen) junto da família, e uma série enorme de pequenas histórias, que todas juntas compõem um belíssimo filme.
Tendo bebido alguma da inspiração no famoso "Amarcord" de Frederico Fellini (tal como Ingmar Bergman um dos realizadores que Woody admira imenso), "Os Dias da Rádio" são um filme profundamente revivalista relativamente à época, aos costumes, a toda uma maneira de estar própria dos USA dos anos 40, e tudo ganha um gosto muito mais especial devido ao facto de estarmos, como referi, a ser "guiados" pela voz de Woody Allen. Woody só tornaria a narrar um filme seu sem o protagonizar 29 anos depois, no recente "Café Society" (2016)
Entra uma série enorme de gente conhecida... a Mia Farrow num papel muitíssimo giro (tenho vindo a gostar cada vez mais dela de filme para filme) de ingénua e com um trabalho de voz e um arco de personagem a meu ver muito engraçado, entra a Diane Wiest, de que sempre gostei imenso e que tem várias interpretações em filmes do Woody Allen.. aqui faz uma muito sexy e desejável Brenda, tia do pequeno "Joe". Gostei imenso também dos "pais" do "Joe", os actores Julie Kavner (mais tarde ficaria célebre ao fazer a voz da "Maggie" nos Simpsons) e Michael Tucker, um "pai" muito divertido de ver.
Entra também a saudosissima Diane Keaton!!! - num papel muito pequeno, onde interpreta belissimamente apenas uma canção, mas com o encanto de sempre. Foi bom revê-la, mesmo que por um momento para matar saudades, depois de ter visto 5 filmes com a Mia Farrow, que a substituíu como como protagonista depois de cinco filmes. É aliás o único filme de Woody Allen em que contracenam ambas. Como referi, acho que a Mia Farrow cresceu de filme para filme nos filmes do Woody, e acabou por conquistar um espaço e encanto próprios. Quando Woody fez este filme, ele e Mia já estavam juntos há sete anos em termos de relação sentimental.
Entram outros actores conhecidos, entre eles o Danny Ayello, de que gosto muito, no papel de um criminoso. Ele e a "mãe" compõem um episódio muito giro. O "vizinho comunista" não é outro senão Larry David, que muitos anos depois viria a ter o papel principal num dos filmes de Woody Allen de que gostei também imenso, o "Whatever Works" (2009). Também entra Jeff Daniels num pequeno papel, uma das estrelas do filme "The Purple Rose of Cairo" (1985).
Há situações do filme que são baseadas em factos reais. Muitas das histórias sucederam mesmo, como a tragédia da menina, o acidente do jogador de baseball (embora no filme este esteja muito aumentado e parodiado), ou episódio da suposta invasão de marcianos (Orson Wells e o seu bombástico programa de rádio em 1938 "War of the Worlds", transmitido pela CBS Radio). E embora o filme não corresponda ou retrate exactamente a história de infância de Woody Allen, muitos dos episódios narrados foram realmente verdadeiros e trazidos para o filme em função das suas memórias. Woody referiu que via este filme como uma espécie de "cartoon", onde pessoas da sua família e conhecidos eram muito caricaturados.
Woody Allen referiu numa entrevista a Stig Björkman que a ideia donde o filme evoluiu surgiu a partir de uma ideia sua de reunir antigas canções de rádio que tinham sido muito importantes durante para ele e que ao fazer isso reparou que cada música trazia associada a ela muitas recordações. Woody sempre afirmou a importância que a rádio e ouvir música tiveram durante o seu crescimento, numa época em que o rádio estava bastante presente na vida das pessoas. "Os Dias da Rádio" são também portanto uma homenagem de Woody Allen a essa era.
"Os Dias da Rádio" ficaram em 2008 no lugar nº 304 numa lista da Empire's dos 500 melhores filmes alguma vez feitos. O filme tem 43 fantásticas canções, (um bocado inexplicavelmente no entanto, o cd da banda sonora do filme, só tem 16 canções) da era dourada da rádio, todas músicas que Woody Allen adora e todas elas com um significado muito especial para ele. A que a Diane Keaton canta, "You'd Be So Nice To Come Home To", de Cole Porter, foi por ele escolhida especialmente para ela.
Para mim este é um filme belo, nostálgico, cheio de magia, cheio de música maravilhosa e com cenários de época e uma fotografia muito boa. É como referi indiscutivelmente um dos meus preferidos do Woody.
Uma observação: a edição nacional em dvd deste filme é praticamente impossível de encontrar.
Crítica mais desenvolvida, escrita pelo José Carlos Maltez no blog "A Janela Encantada":
https://ajanelaencantada.wordpress.com/ ... adio-1987/
Trailer:
10 coisas sobre "Radio Days":
imdb:
http://www.imdb.com/title/tt0093818/?ref_=nv_sr_1
