Só uns acrescentos...
Um grupo de miúdos (aí entre 12-14 anos) que partilham entre si o facto de serem vítimas de bullying e de ostracização na escola/liceu - e é este o território comum que acaba por os juntar (mais do que o combate ao monstro - que vem na sequência dessa união para que são empurrados). A fórmula não é nova, mas é um tema caro ao Stephen King - esta amizade que se vi formando/formulando até se tornar num cimento coeso que os torna "imbatíveis" (a união faz a força) e que sinaliza também a passagem à idade adulta pelos desafios que enfrentam (com medo, mas com coragem).
A série Stranger Things apoia-se precisamente nesta premissa (ou não fosse ela também uma homenagem ao universo temático do King), com a curiosidade de ter um actor em comum (noto algun esforço e cuidado em garantir que as personagens não se confundem uma com a outra, quer pela caracterização física - uns óculos de lentes bem espessas, quer pela personalidade, que no IT, e dentro do grupo de amigos, é um fanfarrão algo medroso)
Não concordo com uma coisa - isto não é filme para passar na matiné de domingo à tarde. Tem bastantes cenas de grande violência gráfica (com miudos a serem decepados e devorados, por exemplo, e um banho de sangue que deve figurar entre os mais espectaculares do cinema de terror moderno), para além de um tratamento anti-politicamente correcto que é uma lufada de ar fresco no meio: colocar a miuda a fumar e a servir de modelo de admiração sexual adolescente (coisa natural) sem falsos pudores é motivo de celebração. (na verdade, no final do livro, a coisa vai a um extremo bem mais radical, mas colocar tal sequência no filme seria bani-lo logo à partida de sair para qualquer sala de cinema, mais para mais face ao clima que se vive actualmenete em Hollywood). Mas pior do que a violência gráfica associada ao terror e à fantasia, tens..Vi o filme num domingo à tarde e o filme tem um bocadinho disso também: tem efeitos especiais, não é muito assustador e tem um lado de aventura juvenil.
Vê-se bem.
Só tenho pena que o filme seja... um filme!, e que o reduzido tempo que tenha, já de si dividido em dois para maior aproveitamento (a parte dos adultos fica para um segundo filme), não chegue nem de longe nem de perto para explorar a identidade de cada personagem convenientemente, nem para produzir o estado de aproximação emocional apropriado perante os laços que o grupo vai criando, e sem esse tempo, sem essa dedicação, os miúdos são pouco mais do que meras cartolinas de papel - estereótipos sociais com três ou quatro frases para dizer cada um, o que é pena. Fora isso, é uma competente adaptação de uma parte (reduzida) do livro do King - que nunca poderá ter uma versão de cinema que faça juz à monumentalidade do texto (é impossível - só a contextualização geográfica e histórica da cidade de Derry é aí 50% do texto, e dessa parte quase nada é transposto para o filme).
Gostei da escolha dos actores (todos muito acertados - o miúdo mau parece uma versão mais nova do Kevin Bacon ), gostei bastante do Pennywise (aspecto e voz), e de uma ou outra sequência que estão bem filmadas e são relevantes, mas começo por outro lado a ficar muito farto dos compassos de espera nos momentos de maior aflição, querendo com isto dizer que esticam alguns momentos no tempo para prolongar o horror, e para com isso produzirem tempo narrativo artificial que permite salvar esta ou aquela personagem à última da hora. É um mecanismo típico de muitas fitas de acção e terror, mas que me faz logo torcer o nariz.
7/10