Tornando a este belíssimo filme (que ando a ver - e a digerir - muito lentamente), a questão das fotos é um pormenor que faz parte da narrativa, e que, não estando central quanto à atenção que a câmara lhe presta, desempenha contudo um papel emocional de algum relevo: é que o título do filme alude a um local que tem significância para o protagonista (o Travis, desempenhado pelo Harry Dean Stanton), e do qual ele conserva uma foto. Essa foto e esse local - Paris, no Texas - são toda uma representação de um determinado "sonho-americano".
A Fotografia de resto é algo que está presente em praticamente todos os filmes do Wenders (há sempre fotos, e personagens a olhar para fotos) - nalguns mais do que noutros, e nalguns de forma mais estreita em função da narrativa, mas vê-se que há um fascínio identitário, primário, do realizador que ele faz perpassar para as personagens (alguns deles são alter-egos dele, em maior ou menor grau), para além da proximidade paredes-meias entre os dois mundos, o do Cinema e da Fotografia, que em muitas alturas se parecem fundir nos seus filmes. O
Paris, Texas, em particular, é um "tratado de bem fotografar" (e é particularmente acutilante na ligação entre a paisagem que se vê nas imagens e a que se sente no interior das personagens), para além de muitas outras qualidades.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71
in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva