Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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JoséMiguel
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Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Introdução

Ainda não pensei bem em como desenvolver este tópico, mas eu tenho um grande gosto pessoal nesta temática, e já apresentei muito material deste tipo, por exemplo o filme ocidental "A Companhia dos Lobos":

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viewtopic.php?f=11&t=49914

Já espreitei o filme de leste que inspirou essa produção ocidental, e que irei ver brevemente:



viewtopic.php?f=11&t=51723

Eu irei focar muito os contos de fadas do bloco soviético, mas não quero restringir a discussão de desenhos animados da Walt Disney, ou o filme "Ella Enchanted" (eu tenho esse DVD :roll: ) se assim o entenderem, porque este tópico será abrangente.

Ao longo do tópico irei falar de filmes infantis, juvenis, adultos e até mesmo eruditos e intelectuais, incluindo filmes que eu nunca vi.

(editado para revisão, porque às vezes perco a calma, quando penso na abordagem da Walt Disney)
Last edited by JoséMiguel on March 17th, 2017, 2:19 pm, edited 2 times in total.
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Dois filmes soviéticos que eu nunca vi...


As we have already mentioned on the pages of this blog, in the Soviet Union, the narratives of supernatural were not quite favoured by the state ideological policy dictated by socialist realism, therefore horror could not develop as a genre, like it did within the majority of Western European national cinemas. But the repressed always returns, that is why horror elements are scattered around Soviet cinema, occasionally popping up in the most unexpected places.


A citação acima e ambos os excertos fazem parte de um artigo, no site britânico Camera Obskura, dedicado ao cinema soviético, cuja premissa é "Russian Cinema beyond Eisenstein and Tarkovsky".

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Obviamente esses cinéfilos ingleses, não acham nenhuma graça a esse elitismo "fan-boy" do Eisenstein, Tarkovsky, Stanley Kubrick, Akira Korusawa, Martin Scorcese, etc. ditado pelas elites "intelectuais" da geração anterior à nossa.

O artigo britânico de categoria, acerca dos contos de fadas do cinema russo, com análise dos dois excertos acima, pode ser lido aqui:

http://www.obskura.co.uk/creepy-russian-fairytales/
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Cinema fantástico da Roménia

Vou indicar um fórum estrangeiro em inglês semelhante ao DVD Mania, que tem lá um tópico parecido com os meus posts e análises, que faço aqui, incluindo o meu tópico do Cinema de Leste.

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O sujeito que criou o seguinte tópico é 10 vezes mais fanático e conhecedor do que eu, do cinema de leste. Eu ainda só vi 5 dos filmes romenos que ele apresenta, cheios de screenshots armado em Zé. :lol: Ele também usa o photobucket como eu.

http://monsterkidclassichorrorforum.yuk ... MtnO2dBrX4

Eu não conhecia esse fórum, e tropecei agora nele enquanto procurava imagens e vídeos de um filme romeno que mistura ficção científica com contos de fadas. Epá! A minha descrição anterior parece o "Star Wars", mas refiro-me a um filme onde o cineasta romeno substitui elementos mágicos de contos de fadas, por tecnologia extraterrestre, no século XIX.

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Por acaso esse "Zé" do fórum estrangeiro esqueceu-se deste... :o :p

https://ro.wikipedia.org/wiki/Povestea_dragostei
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Como suporte a este tópico, criei a ficha técnica para o filme romeno referido na mensagem anterior "Povestea dragostei".

viewtopic.php?f=11&t=51748

Mais uma vez não existem trailers e volto a ser eu o primeiro gajo do mundo a criar um trailer para um certo filme... mas faço isso com todo o gosto. yes-) :-)



O realizador Ion Popescu-Gopo deste filme, começou por ser um pioneiro de desenhos animados no ano 1949, o homem adorava e tinha inveja do visual da Walt Disney, que não conseguia igualar do ponto de vista estético e por isso tentou minar o rival americano, de forma imatura, ao tentar criar um movimento intelectual/artístico anti-Disney no bloco soviético. Ele mais tarde confessou essa estupidez imatura, mas devido a ele ser um frustrado "fan boy" da Walt Disney, enveredou por um estilo de animação mais inteligente, filosófico e maturo, na lógica egocêntrica de que se não conseguia superar a animação da Disney na técnica, iria fazê-lo pela inteligência e maturidade do conteúdo da animação.
Ion Popescu-Gopo attended (but never graduated from) the Academy of Fine Arts in Bucharest. He also attended animation courses in Moscow. He made Maria, Mirabela which is a Romanian-Russian co-production.

His career started as a designer and cartoonist in 1939, publishing caricatures and editorial cartoons in newspapers. 1949 brought his debut in the film industry with "Punguţa cu doi bani" (Bag with two coins). Since 1950 he started working for Studioul Cinematografic Bucureşti (Cinematographic Studio Bucharest) in the animation department, that later broke into a separate animation studio, Animafilm.

His most known cartoon character is a little black and white man sometimes referred to as "Gopo's Little Man" after his creator. Later in his life Popescu-Gopo confessed that he tried to start an "anti-Disney rebellion". Unable to surpass Disney's animation characters in color and beauty, Popescu-Gopo tried to be more profound in message and substance and simplify the form and techniques used. Unlike Disney's cartoon characters, Popescu-Gopo's cartoon characters were black and white, designed in simple lines.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Ion_Popescu-Gopo
Observação: Como veem, eu mesmo que me refugie no cinema de leste, não consigo evitar de falar na Walt Disney, de que desaprovo... Infelizmente terei de comentar muitas vezes as produções da Disney, como contra-peso, neste tópico. Irei perder a calma e escrever parvoíces, depois ficarei mais calmo e irei re-editar os meus comentários, fazendo uma revisão ao texto, por isso peço paciência os leitores para aturarem as minha futuras explosões, sempre que eu faça uma comparação com o conceito ideológico de produções Disney.

Este filme romeno de 1977 "Uma História de Amor", baseado no conto "A História do Porco", publicado 100 anos antes, comete uma série de asneiras, a começar pelos maneirismos dos anos 70. O filme é muito original e até possui uma premissa muito inteligente e sofisticada, mas a segunda parte é tão estúpida que só serviria para uma criança de 8 anos, que estivesse sob influência da substância alucinogénica LSD... a segunda parte é um típico filme para hippies drogados dos anos 70, que faz tanto sentido como a canção "The End" do Jim Morrison, com a letra "The blue bus... is calling us."

O problema aqui é que os hippies drogados nos anos 70, não tinham 8 anos de idade, e este filme é infantil e dirigido a criancinhas de 8 anos.

Existe por aí muito filme conceituado, a que chamam cinema de culto, de autor, mas principalmente de surrealismo, como por exemplo o filme "El Topo" (que eu nunca vi), que depois vou ler os comentários dos cinéfilos, e é tudo malta drogada a contar que gostou muito do filme, enquanto estava drogado.

Eu não sou nenhum puritano (antes pelo contrário) e não tenho nada contra a malta que vê filmes, que só funcionam com droga, essa malta até é honesta e explica que o filme só funciona assim. Eu não consumo drogas mas gosto de beber uns copos e sei que há filmes artísticos ou do cinema mudo, que só gosto de ver com uma garrafa de vinho ao lado... :lol:

Mas este "Povestea dragostei" é um filme infantil para drogados, e isso está errado. mau-) teimoso-)

Por acaso o conceito de substituir magia por tecnologia científica extra-terrestre na Idade Média, é algo que me agrada bastante. O episódio do Star Trek "Quem faz o luto por Adónis?", postulava que os deuses gregos eram extra-terrestres:

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http://memory-alpha.wikia.com/wiki/Who_ ... Adonais%3F

O realizador romeno Ion Popescu-Gopo fez filmes melhores do que este... :roll:
JoséMiguel
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Ausência de pudor religioso no cinema e sociedade do bloco comunista da URSS. Parte 1 - A Pequena Sereia

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A liberdade moral apenas surge, quando a Igreja perde o poder. Em Espanha e Portugal as ditaduras do Franco e do Salazar eram apoiadas pela Igreja Católica, organização que no século XX apoiou o fascismo e que na Idade Média apoiava a escravidão do Feudalismo, como bem sabemos dos livros escolares que explicam que "O Clero e Nobreza detinham 98% da Riqueza de Portugal".

De Portugal e Espanha nada se conclui acerca da evolução da liberdade do Cinema, porque quando caíram as ditaduras nos anos 70, caiu também automaticamente o poder (influência) da Igreja Católica, a elas agregado.

Será interessante ver a ausência de pudor (conceito criado pela Igreja para subjugar politicamente a sociedade) no cinema infantil da União Soviética.



A minha crítica da versão soviética da "Pequena Sereia": viewtopic.php?f=11&t=47076&p=590147

Eu aqui poderei ter um eventual ou potencial problema com os amigos e companheiros do fórum, porque não vejo mal nenhum na diferença de gostos de cinema, mas a versão da Disney do Conto da Pequena Sereia simboliza ideologia radical de direita pró-religiosa, contra a ciência e contra a liberdade moral ganha durante o Renascimento Europeu, que eu considero muito ofensiva.

Vejam este artigo:

http://listverse.com/2012/12/05/top-10- ... iry-tales/
The Little Mermaid

The Little Mermaid End Of The Story Original

Features: Mutilation, long-term suffering, suicide

A young, beautiful mermaid falls in love with a dashingly handsome human prince, after saving him from drowning. In the hope of winning the prince’s heart, she asks the sea witch for a pair of human legs. The witch agrees to give the mermaid the most beautiful pair of legs known to man. But there’s a catch: every step the mermaid takes will feel like it was taken on razorblades – her feet will bleed ceaselessly. And even worse, her greatest possession – a beautiful mermaid voice – will forever be silenced. But the mermaid, in love with the Prince, agrees to the deal.

The next morning, the prince finds the mermaid washed up on the shore, naked, with her beautiful new human legs. Long story short, he marries another woman. The mermaid, after toying with the idea of killing the Prince, eventually throws herself into the ocean and dies.

I always preferred this version over Disney’s rendition. Some children might beg to differ.

-(Hans Christian Anderson – Fairy Tales 1839)
The horribly disturbing fairy tales featured on this list involve torture, rape, cannibalism, infanticide, necrophilia, bestiality, cruel and unusual punishment, and incest – all of them taboo subjects in today’s sterilized society. Many consider them unsuitable reading material for 21st century children, with their sunny dispositions and delicate, impressionable minds.

Cringe-inducing though such subjects may be to many modern parents, they were often common themes in fairy tales – enjoyed by children and adults alike over the centuries.
Eu não posso aceitar nenhum Production Code religioso versão 3.1, que "protega" "religiosamente"/"moralmente" os cidadãos do século XXI do acesso ao teor dos contos tradicionais europeus.

Que brincadeira de censura e estupidificação vem a ser esta? Voltamos aos tempos em que o bispo de Alexandria mandou matar a cientista Hipátia, para abafar a ciência e impôr a escravidão da fé cristã sobre os povos? Olhem que eu não gosto de ver certos padrões da História a repetirem-se...

Na versão soviética a sereia está cheia de dores lancinantes nas pernas humanas, enquanto caminha em terra, conforme o conto tradicional. Já nem falo da naturalidade em que a nudez aparece num filme soviético para criança ver, numa sociedade mais livre de certos tabus religiosos, que não fazem nenhum sentido, pois nos países nórdicos como a Finlândia, as famílias vão à sauna e todos estão nús... nenhuma criança finlandesa ficou pior por ver nudez que não traz nenhum mal ao mundo.

Se os caros amigos e companheiros do fórum gostam do visual e outros aspectos da versão da Disney, isso tem toda a lógica e não vejo mal nenhum nisso. Mas o puritanismo de origem religiosa evangélica americana, entra em conflito ideológico com os meus valores libertinos do Renascimento Europeu. :wink:

Porque é que antigamente as crianças tinham acesso à versão "hard-core" dos contos de fadas, e no século XX a Disney impõe puritanismo às crianças? Que brincadeira perigosa vem a ser esta?
JoséMiguel
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

O meu ponto de vista

Quando criei este tópico, não pretendi que fosse nenhum blog pessoal totalitário fascista, dedicado aos meus gostos pessoais, pois tal iria contra o conceito deste fórum e contra os meus valores pessoais. Este tópico é generalista do fórum, e não haverá nenhum problema com discussões paralelas sobre filmes da Disney e afins, enquanto eu discuto coisas esquisitas do bloco de leste e não só.

Este é um tópico para conversas cruzadas, em que podem falar à vontade de filmes com abordagem infantil ou musical...

Eu não gosto nada dos filmes Disney e tentarei explicar o porquê, mas isso não impede que os vários apreciadores da Disney, já assumidos aqui no fórum, falem dessa abordagem de cinema...

Reparem que eu não estou nada interessado se a Disney faz contos de fadas com bonecos a fazer caretas giras, ou com músicas engraçadas, e para mim é irrelevante qualquer discussão paralela neste tópico sobre tais assuntos, que eu considero fúteis. (mas sei que muita malta adora). Por isso não pensem que este é um tópico do Zé, que não curte a Disney (o que é verdade), e que por isso os fãs da Disney não poderão participar.

Participem à vontade e falem das caretas dos bonecos e das músicas, enquanto eu discuto coisas sérias, que não irei chatear ninguém, que discuta futilidades infantis, por motivos de apreciação artística.

Agora gostaria de falar da ocupação muçulmana da Península Ibérica, muito relevante para a origem do conto de fadas "Hänsel und Gretel" / "João e Maria"

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Existiram duas invasões árabes da Europa, a primeira capturou Portugal e Espanha, entrou em França, mas foi derrotada e recuou para o lado de cá dos Pirinéus, que separa a Península Ibérica do resto da Europa, o resto é a História que os meninos portugueses aprendem na escola entre os anos 1141 e 1249. A segunda invasão que capturou os países de Leste, foi feita pelos turcos otomanos, que não eram bem árabes e fizeram guerra de muçulmanos contra muçulmanos, com a captura de Meca, antes de invadirem a Europa de Leste, onde apenas o "Drácula" (Vovóide da Valáquia e equivalente romeno ao Viriato Ibérico) resistiu à invasão.


O conto de fadas Hänsel und Gretel" foi criado entre estas duas invasões, quando Portugal estava totalmente ocupado pelos muçulmanos, e por isso o povo português ficou protegido de um grande flagelo europeu, que deu origem a este conto.

Após a queda do Império Romano Ocidental, Portugal foi um dos países que menos sofreu a "Idade das Trevas", porque os árabes chegaram cá no século VIII, com tolerância religiosa e conhecimento científico (muito potente e avançado) capturado aos Romanos. Uma das técnicas muito relevantes para este conto de fadas, que os árabes trouxeram a Portugal foi a Irrigação.

Este conto de fadas é criado durante a "Grande Fome" europeia, onde os pais matavam os próprios filhos para os comerem. Este foi um dos maiores flagelos da Europa, onde se praticava canibalismo e infanticídio de forma generalizada, e o conto de fadas ilustra isso.

Mas atenção que o Wikipédia explica que a Grande Fome Europeia, não passou dos Pirinéus, e enquanto na França haviam pais que matavam os próprios filhos para os comerem, Portugal e Espanha eram uma zona muçulmana paradisíaca com muitos pomares e hortas e irrigação no Algarve ensinada pelos árabes.

Este conto de fadas da casinha de chocolate não é ibérico nem nunca faria sentido na nossa Península, pois Portugal e Espanha foram os dois países em que não houve canibalismo dos pais a comerem os próprios filhos. Atenção que este cenário é o mais grave que já li acerca da Idade Média Europeia.

O que eu não posso aceitar nunca é uma adaptação infantil norte-americana deste conto, seja da Disney ou da Cannon. A origem do conto é mais dramática do que o Holocausto Nazi contra os judeus, pois em nenhum campo de concentração os pais comiam os próprios filhos, e eu não aceito que uma empresa americana infantilize o conto, que se baseia numa tragédia que pertence à memória colectiva dos povos europeus.

Mas lá está! Eu não quero que a malta do fórum se chateie comigo, e não irei implicar ou comentar as vossas trocas de ideias das adaptações americanas deste conto, lá com as "conversas de gaja" sobre a música e os penteados dos bonecos animados, que a mim não me dizem nada.
JoséMiguel
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

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Um bom exemplo norte-americano

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Irei aqui falar de uma adaptação animada do Charles Dickens, que eu vi em criança, numa época (a Golden Age Ideológica norte-americana dos anos 70), em que os EUA possuíam a mesma atitude moral do bloco soviético, no cinema (infantil ou não).

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Isto é bastante importante, para identificarmos o flagelo moral (censura puritana de origem religiosa) que começou a afectar o cinema norte-americano, a partir dos anos 80. Este flagelo de censura moral que estamos agora a atravessar, afecta também actualmente o cinema europeu e o cinema da Federação Russa, devido à esfera de influência norte-americana, que contamina a Europa e a Rússia com os seus valores puritanos.

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Eu irei dar o meu testemunho pessoal do que senti em criança (sentia um mal estar pior do que quando vi "A Lista de Schindler", o que será um aspecto muito positivo pois foi esse o objectivo da obra literária) ao ver esta animação norte-americana. Alguns irão concordar e outros discordar com a opinião que eu tenho de que alguns fanáticos religiosos, donos de estúdios americanos, começaram a estupidificar o cinema, por motivos pessoais religiosos, de forma a torná-lo mais puritano, desde os anos 80 para cá. Eu não gosto nada disso, que considero ser uma forma de censura muito grave e perigosa... Quando eu chamo "Golden Age" ao cinema americano dos anos 70, refiro-me a uma Idade de Ouro ideológica, e não a obtenção de lucros, pois o cinema que estava para atrás era em geral uma Idade das Trevas, cheia de racismo e propaganda política e religiosa, devido ao Código de Censura privado "Production Code".

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Esta será mais uma peça do puzzle, este filme norte-americano de animação é infantil, mas contém assassinatos, médicos bêbados, escravatura infantil numa workhouse inglesa, maus tratos a crianças, infanticídio, prostituição, etc. Todos este temas são tabús pela censura religiosa norte-americana lá dos donos dos estúdios, mas são temas que não eram tabú no cinema de animação infantil (animação do tipo infantil, para crianças pequenas de 5-9 anos de idade) japonês ou soviético.

Em Janeiro de 2016, criei um tópico no DVD Mania, acerca do escritor Charles Dickens:

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viewtopic.php?f=11&t=50715&p=616641

Esta versão do "Oliver Twist" não fará sentido ser discutida por lá, por ser infantil. Existem várias adaptações para adultos deste livro de intervenção. Por outro lado fará todo o sentido ser discutida neste tópico, devido ao forte impacto moral, social e ideológico causado a uma criança, num trabalho infantil norte-americano que respeita e não censura ou estupidifica o teor original forte.

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A minha mãe gravou em VHS a transmissão televisiva deste tele-filme de 90 minutos quando estávamos no estrangeiro, na altura eu tinha 5 anos de idade e o meu conhecimento de inglês era limitado. Gostava muito deste filme que revia anualmente até aos 10 anos de idade, e se querem saber, o impacto pessoal era mais forte do que quando vi a estreia da "Lista de Schindler" do cinema, pois aí já eu tinha cerca de 19 anos e já anteriormente tinha visto o série "Ventos de Guerra" na RTP.

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Na imagem acima vemos a escravatura infantil de uma workhouse inglesa do séc. XIX, que parece saída do filme "Conan" com o Arnold Schwarzenegger a empurrar a mó (nesse filme também havia escravatura infantil), mas o livro "Oliver Twist" não era fantasia nenhuma e era assim que viviam os meninos em Inglaterra.

Eu só aprendi o que eram as workhouses inglesas, em Janeiro de 2016, quando criei o tópico sobre o escritor (andei a ler o wikipedia) citado acima.

Em baixo, os meninos sem terem que comer:

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Mais grave ainda, e à semelhança do regime do Terceiro Reich, estes meninos orfãos não eram considerados pessoas e eram tratados abaixo de cão, cuidado que aqui o termo "abaixo de cão" não é usado no sentido figurativo, pois tirei uma imagem com um cão a comer melhor que um menino:

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Existe uma expressão de algum pensador (que não me lembro de que foi) que diz que a qualidade de um país mede-se pela forma como os seus párias são tratados (velhos, orfãos, criminosos, aleijados, pobres, malucos...). Eu concordo ideologicamente com esse pensador, e a meu ver a Inglaterra do século XIX era o país mais poderoso do mundo, a nível económico e militar, mas era também um dos países mais socialmente atrasados e sub-desenvolvidos pela forma como tratava os rejeitados da sociedade, muito abaixo de uma tribo/aldeia de índios da Amazónia ou de Aborígenes australianos. E este é mesmo o tema de intervenção recorrente do escritor Charles Dickens.

Fazendo aqui um desvio off-topic, eu mostrei um documentário escandinavo, que compara as prisões escandinavas com as prisões norte-americanas, que é gratuito e oficial no You Tube (versão inglesa). Os finlandeses entrevistam um director de prisão norte-americana, que tem perfil sádico e mau carácter igual a guarda SS de campo de concentração, que aproveita a posição de poder, para abusar dos presos americanos, e que ainda mais mau dos que os presos. O malandro conversa com um homólogo na Europa do Norte, que fica escandalizado com o troglodita sádico americano.

viewtopic.php?f=11&t=18126&p=615848#p615848



Voltando ao tema das workhouses, este conceito era muito parecido com um campo de concentração para judeus, durante a 2º Guerra Mundial. Os nazis tinham dois tipos de campo, os de trabalhos forçados e os de extermínio, as workhouses inglesas correspondem ao primeiro tipo. Até 2016 eu ainda não tinha identificado bem a situação, pois não é algo que seja cultura geral em Portugal, existe um filme interessante belga, de quando a Flandres estava sob ocupação luso-espanhola ("domínio filipino"), em que o protagonista é escravo numa workhouse, depois de eu ler sobre o assunto voltei ao tópico para escrever mais elementos ("Holandês Voador"):

viewtopic.php?f=11&t=47404&p=625997

E curiosamente já andava interessado nisto quando no tópico especial "Videoclipes "cinematográficos":

forum.dvdmania.org/viewtopic.php?f=11&t=50037&p=611510
JoséMiguel wrote: January 31st, 2015, 4:23 am A cara chapada deste tópico será mesmo o conjunto dos telediscos oficiais da cantora Mylène Farmer, criados pelo realizador de cinema e de telediscos Laurent Boutonnat.

Estive agora a ver pela primeira vez o Désenchantée de 1991, que arranca a matar com o que parece ser um campo de concentração/extermínio nazi:

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Mas afinal é uma workhouse da Grã-Bretanha, onde historicamente o governo britânico fomentava a escravatura infantil no século XIX (Revolução Industrial / Era Vitoriana):

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O realizador francês Laurent Boutonnat não é pau-mandado de nenhum estúdio ou governo e "tem os tomates no sítio", e está-se cagando para a opressão do "politicamente correcto", e aqui temos um menino escravo a fumar um cigarro de enrolar, historicamente correcto nas épocas em que os governos sancionavam a escravatura laboral infantil:

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Entre a centena de crianças e jovens da Bulgária, que participam neste teledisco, aparece o desgraçado deste actor (ou personagem) sem mãos a comer. Não sei se é efeito especial ou se o actor não tem mesmo as mãos, mas a cena incomoda bastante:

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No final encenam a famosa pintura da tomada da Bastilha, ícone da Revolução Francesa:

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Versão HD do teledisco no Daily Motion: http://www.dailymotion.com/video/xum04d ... 720p_music

Wikipédia: https://en.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9senchant%C3%A9e
A versão do Daily Motion já não está lá, e coloco aqui a versão oficial, mas parece que está a existir censura puritana contra este teledisco francês (por falar no Diabo... o meu tópico é mesmo contra esta censura puritana!!! E depois não digam que eu invento coisas!):



Esta versão é oficial e não parece estar censurada, pois não estou a ver o cineasta e cantora a toleraram censura puritana, pois são ambos pessoalmente malta de intervenção contra o puritanismo, como eu...

Mas neste vídeo abaixo estava a haver censura e já andava o pessoal a carregar o vídeo no site chinês You Ku, para contornar a mesmíssima censura puritana ocidental, de que falo neste tópico: https://www.youtube.com/watch?v=ZfmC9Hj73C0

Voltando ao filme de animação norte americano...

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Este é um filme concebido para crianças e é infantil, não tenho nenhum interesse em revê-lo em adulto e a última vez que o vi foi quando tinha uns 10 anos de idade, mas fiquei marcado! Em 2006 vi uma versão moderna de que gostei e mais tarde vi uma versão a preto e branco dos anos 40 (acho), de que também gostei, essas já são versões para adultos. Mas a violência e intervenção é a mesma pois o desenho animado americano respeita em grande parte o enredo e espírito negro do livro.

Produção norte americana

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Da esquerda para a direita: Norm Prescott (Produtor), Hal Sutherland (Realizador) e Lou Scheimer (Produtor)

Consegui descobrir a foto do realizador deste fllme, com os dois produtores lado a lado! yes-)

O filme foi feito em 1975, mas apenas transmitido na TV em 1981. O IMDB não está em condições: http://www.imdb.com/title/tt2811512/?ref_=fn_tt_tt_27

Será preferível este artigo no Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_w ... d_specials

Esta é que foi a malta da Golden Age americana, que combatia os mafiosos religiosos do puritanismo do Production Code (que já voltaram a tomar o poder)... :-D salut-)

O filme foi feito pela mesma equipa que criou a série animada do Star Trek, nos anos 70, com argumentos sofisticados da equipa original do Gene Rodenberry, que valeram um Emmy à série (eu já vi todos os episódios do Star Trek animado, e aquilo é adulto e inteligente igual à série televisiva).

Também aprendi que eles criaram a animação que eu nunca vi (mas tinha o jogo de Spectrum) Bravestarr, onde se mostra um personagem a morrer de overdose por consumo de drogas.

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Outro mérito de destaque desta equipa do estúdio Filmation foi a criação da seguinte música e teledisco em 1969, a minha irmã mais velha tinha revistas de BD americanas do "Archie" e nós tínhamos alguns episódios gravados em VHS, mas eu era muito pequeno para apreciar isto, pois era isto mais virado para adolescentes de 10-13 anos:



Artigo sobre o estúdio Filmation: https://en.wikipedia.org/wiki/Filmation

Eu cresci muito exposto à cultura norte-americana e comecei a falar pseudo-inglês aos 3 anos de idade, mas a minha exposição aos desenhos animados e filmes norte-americanos apanhou a tal "Golden Age" moral, em que acabaram momentaneamente com o puritanismo religioso-moral, que depois voltou nos anos 80-90. O problema não é do "povo" americano mas sim dos mafiosos donos dos poucos estúdios que existem agora, existem muitos americanos a queixarem-se do mesmo. O problema agora é maior pois o puritanismo americano já contaminou a animação japonesa e russa, por exemplo no remake do icónico "Space Battleship Yamato", de cujo o original eu tanto aprecio.

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O screenshot acima marcou-me bastante na infância, com a sombra do homem enforcado a baloiçar na corda, eu já tinha tentado antes falar disto aqui no fórum, mas só há pouco tempo alguém digitalizou a cassete VHS e a carregou no You Tube (eu já deitei a minha cassete fora), se alguém quiser espreitar o filme, até tem uma música bonita de introdução com desenhos sombrios do século XIX que justifica uma espreitadela. Um aspecto de que nunca gostei em criança foram as "cenas musicais à Disney" lá metidas pelo meio, mas isso não interfere com o artigo que escrevi. Podem também verificar que isto realmente é muito infantil e por isso a importância do teor negro a respeitar o livro original.



Comentários curiosos ao filme no You Tube, por norte-americanos na sua maioria, alguns da minha idade, que também viram o filme em criança:

Emily Monroe: "definitely not a kid movie"
Reposta: "Emily Monroe funny, i was a 3rd grader the first time i seen this"

"I still remember being terrified at the part where Nancy is murdered. I watched it when I was 7, and at 25 I still can't forget that eerie feeling."

(Esqueci-me de comentar isto!)

Ele refere-se à prostituição infantil, mas nesta animação a rapariga é adulta, imagem do assassinato da Nancy:

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"this movie depressed me so much as a child" (Ok! é suposto! :-) )

Espero que tenham gostado de ler e ver o meu artigo, não são obrigados a concordar comigo e não se chateiem por os meus gostos serem diferentes dos vossos... :-?

PS: Estava a rever uma cena do filme e achei imensa graça à expressão idiomática inglesa antiga "Enfiar o Barrete", igualzinha à portuguesa, que nunca tinha ouvido numa produção anglo-saxónica. A expressão antiga inglesa é "hoodwinked", literalmente puxar o barrete (hood) para baixo, no filme um sujeito em Londres diz algo do estilo "Don't think you can hoodwink me" (Não julgues que me consegues enfiar o barrete). Eu acho graça a estas coisas antigas, o meu pai usava muito essa expressão portuguesa, mas a minha geração preferia o termo "engrupir" ou "intrujar". Pelo menos esta produção norte-americana utiliza sotaque e linguagem britânica antiga do século XIX, e não falta ao respeito ao livro a tentar americanizar e modernizar os diálogos para público-alvo infantil americano "so the audiences can relate to" (justificação oficial dada pelos empresários de Hollywood para o flagelo da famigerada fórmula actual que destrói o cinema), como se faz hoje.
JoséMiguel
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Uma montagem com algumas cenas da Pequena Sereia soviética de 1976

Como tenho o PC estragado e não posso usar o Movie Maker, a montagem ficou um bocado rude (com o AviDemux), mas agora não tenho tempo para mais.

Destaques:

A) A parte de que eu mais gosto surge ao tempo 2m10s, que consiste no afundamento do navio, com base no folklore dos marinheiros europeus, em que as sereias atraiam os navios contra rochedos. Aqui o marinheiro grita em russo "Rusalka" (que é "sereia").

B) Destaque para as filmagens submarinas, em particular o actor a tocar violino debaixo de água, na parte final do vídeo. Reparem que as sereias parecem ser nadadoras acrobáticas treinadas, ao serviço do filme.

C) Não é claro se as nadadoras estão em topless (este filme mostra a protagonista nua, mas eu não incluí essa cena neste vídeo), devido à iluminação em contra-luz.

D) Gosto muito das melodias da banda sonora.

JoséMiguel
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by JoséMiguel »

Excerto muito bonito e poético, legendado em inglês, do filme de 1983 "Pohadka o putovani", super co-produção entre estes três grandes estúdios:

Estúdios Barrandov - Checoslováquia (actual República Checa)
Estúdios Mosfilm - União Soviética [Rússia]
Estúdios Bucuresti - Roménia

viewtopic.php?f=11&t=49771&p=604984

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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by drakes »

O estúdio Disney tem um filme realizado na Rùssia com contos folclóricos, chama-se Posledniy bogatyr de 2017, foi uma produção apesar de uma boa bilheteria lá, não teve distribuição mundial.



https://www.imdb.com/title/tt6175394/

- Sobre o panorama atual do cinema russo, o que eu vejo uma tendência de usar a tradição para criar filmes de ação, como exemplo cito:
Skif (2018)
Legenda o Kolovrate (2017)
Vurdalaki (2017)
Viy (2014)
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Re: Contos tradicionais, contos populares e contos de fadas

Post by drakes »

Cudotvorni mac (1950)
Director: Vojislav Nanovic
Writers: Jugoslav Djordjevic, Vojislav Nanovic

https://www.imdb.com/title/tt0042359/
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Magic ... 1950_film)

Sempre tive curiosidade para ver esse filme até por que ele além de usar do folclore eslavo,tem uma matriz de toda a cultura nórdica européia que é o Pomo dourado que é roubado por vilões e o herói faz uma jornada para recupera-lo.
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