Westerns - o tópico

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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mansildv
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Re: Westerns - o tópico

Post by mansildv »

waltsouza wrote:Bem que me parecia que já existia um tópico sobre o género "Western". Por acaso criado tb pelo mansildv, em Setembro do ano passado.

Acho que faz todo o sentido juntar estes dois tópicos num só. Para que a informação sobre o mesmo tema não se disperse. :-)
Faz todo o sentido waltsouza, não me lembrei que tinha criado este tópico há uns meses :-)
Samwise
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Re: Westerns - o tópico

Post by Samwise »

Alguém chegou a ver o Bone Tomahawk entretanto?

Está mencionado uma série de vezes neste tópico e é um exemplar bem apropriado para dar sequência à discussão sobre o que faz de um filme um "filme de terror", como parece ser o caso, se olharmos para catalogação que lhe é feita nos sites do costume. Cá para mim não tem nada a ver com terror, apenas mete canibalismo pelo meio e meia dúzia de sequências de violência gráfica do mais bárbaro e explícito que há, e pronto, aí está o suposto "terror". Eu não gostei, mas é um título capaz de agradar a uma série de gente por aqui. Não gostei da passividade de tudo. Passividade narrativa, passividade das personagens, bons e maus (mesmo quando estão prestes a morrer, "está-se bem", "tudo cool") e passividade no modo como tudo é filmado - o ritmo parece o de uma série, ou mini-série, mas depois não chega a haver o devido desenvolvimento das personagens que parece prometida nos primeiros minutos. Os diálogos e as situações até são na sua maioria credíveis e realistas (com algum humor bem contextualizado a condimentar), o que só ajuda a criar um fosso maior para com a tal atmosfera passiva e arrastada. É pena, porque o lote de actores é interessante e a história tinha potencial para voos mais altos. Bastante aborrecido, na maior parte do tempo.
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Re: Westerns - o tópico

Post by PanterA »

Já vi sim. A 1º parte é algo lenta, se calhar até demais, mas compensa claramente na 2º. Como disse na altura, se tirassem pelo menos uns 15/20 minutos ao filme, acredito que conseguia gostar bastante mais dele.
DigitalDesperado
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Re: Westerns - o tópico

Post by DigitalDesperado »

Falando de "Bone Tomahawk", constatei que o mesmo tem estreia em cinemas marcada para 29 de Dezembro, o que não deixa de ser positivo para reforçar a diversidade cinematográfica existente nas nossas salas.
Estranho é o ridículo título português que lhe foi atríbuido: "A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas"(!!!), o que fará pensar alguém que não conheça o filme que se trata de alguma comédia rocambolesca à moda italiana dos filmes do Bud Spencer dos anos 70.Enfim... grr-)
Samwise
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Re: Westerns - o tópico

Post by Samwise »

DigitalDesperado wrote:Estranho é o ridículo título português que lhe foi atríbuido: "A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas"(!!!), o que fará pensar alguém que não conheça o filme que se trata de alguma comédia rocambolesca à moda italiana dos filmes do Bud Spencer dos anos 70.Enfim... grr-)
:shock: :shock: :shock:

É uma "tradução interpretativa" mesmo muito má. E muito divertida ao mesmo tempo.

Será para levar mais pessoas a ver o filme? Vai ser com cada sapo engolido... :mrgreen:
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Re: Westerns - o tópico

Post by mansildv »

http://i1152.photobucket.com/albums/p485/mansildv/terpning_professionals66_zpsm7vel5l6.jpg

Revi o The Professionals, do Richard Brooks!
O elenco é fantástico e a história foca-se num grupo que é contratado para resgatar a mulher raptada de um magnata.

Ainda temos a Claudia Cardinale em... grande forma :mrgreen: e surpreendentemente competente no seu desempenho!

http://i1152.photobucket.com/albums/p485/mansildv/25e03d5386a5c651786ec24b566a2cb0_zpsbcuk4ofa.jpg

Vi a edição very classics, que tanto deu que falar na FNAC, e tirando um ou outro erro nas legendas, está impecável.
nimzabo
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Re: Westerns - o tópico

Post by nimzabo »

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Re: Westerns - o tópico

Post by mansildv »

Vi, e recomendo, o fabuloso The Man Who Shot Liberty Valance!

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b7/The_Man_Who_Shot_Liberty_Valance.jpg/220px-The_Man_Who_Shot_Liberty_Valance.jpg
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Re: Westerns - o tópico

Post by mansildv »

'Godless': Why Netflix's Brutal, Timely Western Is a Must-See

http://www.rollingstone.com/tv/features ... ee-w512344

http://img.wennermedia.com/article-leads-horizontal-800/037_godless_106_unit_00671r-f6707b3d-5e27-4754-8205-cd92bb06c750.jpg

Pode ser uma boa sugestão para quem gosta de westerns e séries yes-)
JoséMiguel
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Re: Westerns - o tópico

Post by JoséMiguel »

Este género Western não é bem a minha onda, mas o meu pai era fanático e eu cresci em menino, sentado no sofá ao lado dele a ver filmes Western. :-)

Toda a gente já sabe que eu odeio o actor John Wayne, pelo fanatismo ideológico do homem, nos conceitos políticos fascistas salazaristas, que ele impunha nos seus filmes, e enquanto vedeta apenas aceitava papéis de filmes pró-Salazar e ideologias afins. Já vi entrevistas com o John Wayne a explicar que só aceitava papéis em filmes que impusessem propaganda político-social ao desgraçado do povo norte-americano, no sentido de promover obediência cega à autoridade (podia ser um sheriff ou um polícia de rua) e ao governo, sem que o povo pensasse muito ou questionasse a ordem estabelecida. O John Wayne era igualzinho a um porta-voz do ditador Franco de Espanha, pois esse malandro do John Wayne promovia os mesmos valores da ditadura franquista ou salazarista.

Em termos de filmes, existem dois tipos de que eu gosto, por um lado temos os clássicos italianos do Sérgio Leone, puro entretenimento ou aventura, mas social e eticamente revolucionários à data, e por outro os filmes americanos da Golden Age dos anos 70, que fizerem xeque de Xadrez aos filmes do John Wayne, como o "The Lawman":



Carreguei o clip acima em 2014 no meu canal pessoal do You Tube (não é o meu canal normal de clips), e o mesmo possui 197.195 visualizações e 71 comentários, desde então.

viewtopic.php?f=11&t=49374

O primeiro Western em condições, foi considerado um filme subversivo anti-americano pelos "Powers that be" de então, e trata-se do "High Noon":

viewtopic.php?f=11&t=46534



Estes bons filmes westerns anti-regime não tinham nada de político em si mesmos, a não ser quebrarem a propaganda fascista do regime norte-americano, apoiada na ordem religiosa-política do "Production Code" (sistema de censura cinematográfica americana, de teor religioso ao serviço do governo dos EUA). Estes bons filmes eram considerados uma ameaça pelo regime norte-americano, devido ao facto de colocarem em causa a lavagem ao cérebro dos restantes filmes do regime (cinema do John Wayne e afins).
Samwise
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Re: Westerns - o tópico

Post by Samwise »

Eu sei que odeias o Wayne (já o referiste por diversas ocasiões e aproveitas sempre que podes para o denunciar como fascista pró-militarista), mas acho que, nesse processo de expressão de ódio, acabas por não fazer nenhuma a justiça aos Westerns da fase de ouro em que ele entra, talvez por desconhecimento (isso terás de ser tu a esclarecer ***), talvez por erro de generalização ("se ele é fascista, todos os filmes/westerns em que participa são também fascistas, e têm uma agenda política declarada").

Se em relação ao homem não nutro especial simpatia, pelos mesmos motivos que tu, já em relação às personagens que interpreta e aos filmes em que participa prefiro ver as coisas caso a caso, e são muitas as situações em que a "política não entra", pelo menos até determinado período da sua vida (não conheço as entrevistas que referes, nem as datas ou contextos).

*** ... e por isso a pergunta: quais foram os westerns que viste dele pré 1960 e que recordas o suficiente para neles identificar uma linha política fascista? Viste estes filmes (?): The Big Trail (1930), Stagecoach (1939), Dark Command (1940), Angel and the Badman (1947), Red River (1948), She Wore a Yellow Ribbon (1949), Rio Grande (1950), The Searchers (1956), The Horse Soldiers(1959), Rio Bravo (1959 e o filme que foi feito para contrapor ao High Noon, mas que não tem subtexto político fascista, mesmo que tenha mensagem "patriótica") , The Man who Shot Liberty Valance (1962)...? É uma amostra dos mais significativos.
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Re: Westerns - o tópico

Post by Samwise »

Bom, acerca do interminável debate sobre as virtudes e defeitos das obras High Noon e Rio Bravo, sobre qual é melhor, qual é mais "realista", qual representa de forma mais justa o espírito do american way of life, etc, etc, e uma vez que ficaram cultural e históricamente algemados um ao outro (é impossível --e inadmissível-- por esta altura não ter um olhar relativista sobre qualquer um deles sem considerar o outro), proponho um pequeno debate à boa maneira DVD-Maníaca (que na realidade já começou). :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: Isto podia ser uma extensão da iniciativa "FILME DO MÊS" sugerida pelo ninzabo, mas delimitada aqui e agora a estes dois filmes.

Este caso encaixa que nem uma luva no modo como eu e o José Miguel olhamos para o cinema - uma coincidência evidente e feliz (porque proporciona o debate).

O José Miguel (e corrige-me por favor se estiver errado em algum ponto) apura a qualidade de um filme maioritariamente: 1) pelo seu apego e proximidade à realidade física do mundo, 2) pela seriedade da representação ficcional narrativa (não gosta de "macacadas" nem de "infantilidades", e depreza tudo o que são efeitos especiais por computador, realistas ou não, bem como as filmagens em estúdio com telas gigantes a fazer de cenário.. :lol: ), 3) pelos valores políticos que realizadores e actores defendem quer na tela, quer na produção em si (se desafia o sistema ou se é "carneiro de rebanho"), quer nas suas vidas privadas, e last but not the least 4) pela forma como denunciam ou desafiam o "sistema" e os "powers that be", querendo com isto dizer que, se um filme sobre determinado tema (say... os descobrimentos) não falar sobre os crimes, imoralidades e sujeiras dos conquistadores, então é porque de alguma forma indica uma censura à verdade dos factos e não presta, independentemente de tudo o resto.

Eu, por meu lado, 1) aprecio mais os filmes pela formulação artística que fazem a partir da realidade e adoro tudo o que é figura de estilo cinematográfica, 2) aprecio quer a seriedade, quer a macacada, pois considero que há excelentes exemplos artísticos em cada campo, e que a qualidade de um objecto cinematográfico não se mede pela proximidade ao que é quotidiano e físico, mas antes por uma multiplilicade de factores que variam consoante o contexto, e pela fidelidade e justesa como esse objecto exprime sentimentos e emoções (assim de repente, lembro-me do Almodovar, que é mestre neste campo), 3) não sou tão gravemente afectado pelas visões e posições políticas dos interveninentes, embora me interesse bastante pelo assunto "político" e pelo assunto "privado" (como, de outro modo, poderia gostar de José Saramago, que deve ser apenas o meu autor português de eleição, acima de todos os que li? olhem se eu fosse dizer: "este gajo é comunista, logo é um escritor da treta!"), 4) considero que nenhum produtor ou realizador deve ser criticado por não colocar este ou aquele assunto nas suas obras, pois podem não ter qualquer interesse natural em o fazer. Se um filme sobre os descobrimentos não denuncia a escravatura, por exemplo, isso não lhe retira qualquer mérito cinematorgáfico, sendo que o contrário também é válido. Outro exemplo, neste caso sucedente de uma "queixa" minha: o filme Che, de Steven Soderbergh, é uma spécie de biopic açucarado sobre a vida revolucionária do guerrilheiro, evitando apresentar as manchas mais evidentes na sua personalidade e exultando as virtudes. Falta à verdade sobre uma série de factos conhecidos. E no entanto é um bom filme - eu, pelo menos, consigo apreciá-lo por esse lado, sem por isso ter de evitar falar sobre estas "omissões".

Voltando agora ao contexto High Noon vs Rio Bravo, já não vejo estes dois camaradas há uns três ou quatro anos, mas da última vez que olhei para a lista dos meus 10 westerns de eleição, constavam os dois no top 5. :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: Isto para dizer que uma parte da equação comparativa, pelo menos no meu caso, não existe - gosto tanto de um como gosto de outro, e não sinto qualquer necessidade de justificar, com argumentos acima de qualquer crítica, que um seja melhor do que o outro. São filmes diferentes sobre um mesmo assunto, com visões sociais, políticas e artísticas distintas, mas ambas perfeitamente válidas e defensáveis.

Vou rever, para poder comentar as obras com outra memória. 8)
Last edited by Samwise on November 26th, 2017, 3:09 am, edited 1 time in total.
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Re: Westerns - o tópico

Post by JoséMiguel »

Samwise wrote: November 25th, 2017, 11:18 am Bom, acerca do interminável debate sobre as virtudes e defeitos das obras High Noon e Rio Bravo, sobre qual é melhor, qual é mais "realista", qual representa de forma mais justa o espírito do american way of life, etc, etc, e uma vez que ficaram cultural e históricamente algemados um ao outro (é impossível --e inadmissível-- por esta altura não ter um olhar relativista sobre qualquer um deles sem considerar o outro), proponho um pequeno debate à boa maneira DVD-Maníaca (que na realidade já começou). :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: Isto podia ser uma extensão da iniciativa "FILME DO MÊS" sugerida pelo ninzabo, mas delimitada aqui e agora a estes dois filmes.

Este caso encaixa que nem uma luva no modo como eu e o José Miguel olhamos para o cinema - uma coincidência evidente e feliz (porque proporciona o debate).

O José Miguel (e corrige-me por favor se estiver errado em algum ponto) apura a qualidade de um filme maioritariamente: 1) pelo seu apego e proximidade à realidade física do mundo, 2) pela seriedade da representação ficcional narrativa (não gosta de "macacadas" nem de "infantilidades", e depreza tudo o que são efeitos especiais por computador, realistas ou não, bem como as filmagens em estúdio com telas gigantes a fazer de cenário.. :lol: ), 3) pelos valores políticos que realizadores e actores defendem quer na tela, quer na produção em si (se desafia o sistema ou se é "carneiro de rebanho"), quer nas suas vidas privadas, e last but not the least 4) pela forma como denunciam ou desafiam o "sistema" e os "powers that be", querendo com isto dizer que, se um filme sobre determinado tema (say... os descobrimentos) não falar sobre os crimes, imoralidades e sujeiras dos conquistadores, então é porque de alguma forma indica uma censura à verdade dos factos e não presta, independentemente de tudo o resto.
Fiquei tão contente em ler esta descrição que o Samwise me faz, que antes de sequer ler a 2ª metade do comentário dele, venho logo citar e comentar. Os 4 pontos em que o Sam descreve a minha abordagem ao cinema mostram um grande conhecimento, interesse e atenção ao que eu escrevo, mas o problema é que esta excelente e boa análise é APENAS com base no que eu escrevo no fórum, e quero rectificar pormenores que são importantes e não batem bem certo com a imagem que têm do do que eu escrevo, pois têm a ver com o meu carácter, gostos e ideologias, que já tentei esclarecer sem sucesso no fórum, aqui e ali.

Os meus comentários aos 4 pontos:

Ponto 1

Isto é muito verdade, em situações normais/típicas, mas eu tenho também uma enorme admiração, gosto pessoal e cinéfilo (entenda-se gosto profissional, no que toca ao meu hobby de comentar cinema) por cinema artístico e alternativo, em que é irrelevante o realismo e naturalismo da simulação da realidade da vida e do mundo, nos filmes.

Ponto 2

Isto também é muito verdade, mas tu focaste aqui 3 questões diferentes:

A) Palhaços são no Circo e não em filmes sérios. Não tenho nada contra palhaçadas em filmes de comédia, que se assumem como tal, por exemplo o desgraçado do realizador Woody Allen (odeio quase todos os filmes dele) meteu um gajo disfarçado de banana ambulante num filme de sci-fi que eu vi com 11 anos de idade e odiei essa palhaçada/estupidez. Mas eu não critico o Woddy Allen por ser um palhaço que faz filmes com palhaços, pois essa é a onda assumida dele, e há muita gente que gosta. Eu não gosto, nem sou obrigado a gostar, mas também não critico nem menosprezo ou deito abaixo os filmes dele. Para eu criticar macacada, é mais nos casos de filmes que se tentam passar por cinema sério, como o Star Trek do JJ Abrams.

B) Efeitos especiais CGI: Epá, desenhos animados em filmes live-action é que não! "Por amor de deus"! Efeitos especiais de uma nave espacial a penetrar num Buraco Negro tipo IV (do tipo Kerr-Newman, com rotação e carga eléctrica) tudo bem, mas filmarem um exército de 100.000 soldados com desenhos animados, em vez de meterem lá 100.000 recrutas da tropa, treinados pelo realizador, isso é que não! pois é muito mau cinema e muito pobrezinho, isso é mau cinema de 3º mundo como os EUA.

C) Telas gigantes a fazer de cenário e telas com projecção de estrada, no vidro traseiro de um carro, isso é que não! Odeio isto, sem nenhuma excepção que eu esteja agora a ver!

Ponto 3

A descrição do Sam está precisa em geral, excepto no termo "político", o Sam deveria ter escrito "social" e não "político". Isto faz toda a diferença do mundo, visto que eu odeio política e não tenho nenhum partido político. Aliás o que nós em Portugal chamamos de "intervenção" está politizado e ligado politicamente à música de intervenção dos anos 60/70 contra o Salazarismo, mas os americanos no IMDB utilizam o termo "Social Commentary" quando se referem a filmes de intervenção.

Image
Legenda: Eu ia escrever aqui uma legenda a dizer qual o público-alvo de certos filmes de Hollywood, mas não o faço para não levar uma tareia no próximo almoço do DVD Mania.

Mas para além disso existe um questão maior, do foro literário, quando eu critico os macacos dos argumentistas e produtores de Hollywod que impõem uma fórmula previsível de enredo, para agrado dos mentecaptos e putos miúdos, com vista a aumentar lucros, também os franceses, portugueses e russos fazem esses filmes macacos a imitar os americanos. Isto nada têm haver com questões sociais ou políticas e são apenas produtores gananciosos com os seus lacaios estilo realizador puto estúpido JJ Abrams, a quererem ganhar dinheiro com histórias previsíveis sem nexo. Quando eu critico o recurso a essa fórmula de história/enredo, isso nada tem que ver com ausência de "mensagem social" ou presença de ideologia que eu não goste. Eu gosto de ver filmes pelas histórias, o que se passa aqui no fórum, é que eu dou-me ao trabalho de destacar e elogiar qualquer filmezito (que até pode nem ser muito bom), quando vejo um realizador ou produtor corajoso a desafiar a ordem do regime.

Ponto 4

Pegando no final do meu parágrafo anterior, o Sam neste ponto usou, e fez ele muito bem, o exemplo do que eu escrevi no tópico dos filmes sobre os Descobrimentos, pois é verdade. Mas quero aqui mostrar um exemplo diferente e muito interessante:
JoséMiguel wrote:É verdade que a religião era proibida no cinema russo da era soviética, tal como em Portugal existiam músicas políticas de intervenção contra a ditadura pelo Manuel Freire e Zeca Afonso, a esmagadora maioria dos cineastas russos faziam filmes de intervenção contra a ditadura russa. Tenho um exemplo muito bonito em vídeo por uma realizadora soviética de intervenção, que utilizou o pretexto da 2ª Guerra Mundial, para homenagear a crucificação de Jesus Cristo, que já tinha mostrado no tópico do Waltsouza do cinema feminino:



Pessoalmente sou ateu e acho uma estupidez homenagear contos de fadas religiosos cristãos, mas antes de mais nada sou contra a censura e não acho bem a Rússia Soviética proibir religião no Cinema, por isso tenho de respeitar a luta de intervenção da realizadora Larissa, da mesma forma que respeito a música de intervenção do Zeca Afonso contra o fascismo português.
Ou seja, eu sou ateu e não curto nada a religião, pelo mal que fez ao mundo, mas elogiei esses realizadores soviéticos religiosos (para mim fanáticos) que fizerem cinema de intervenção religioso contra a ditadura do governo soviético proibir referências religiosas no cinema. O filme é realmente bastante bom e muito recomendado por mim. Se eu gosto destas ideologias religiosas!? Não, não gosto! Mas eu defendo a liberdade religiosa e aqui tenho de criticar lá o Soviete Supremo (curto esse nome), ou o raio que o parta.
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Re: Westerns - o tópico

Post by Samwise »

Nice. Eu achei que ias gostar de ler e que te ias rever na maior parte dos traços que tentei resumir sobre "a tua forma de observar e absorver cinema".

Do meu lado tenho também de fazer dois ou três apontamentos em cima dos teus apontamentos.

Claro que a minha análise se debruça apenas sobre aquilo que tu escreves aqui. É um ponto assente - não tenhou outras fontes de informação e não te conheço ao vivo, portanto não podia ser de outra forma, e não gosto de "adivinhar" para preencher as brechas que deconheço.

Em relação ao ponto dois, alínea A) (hehehe, já vamos em alíneas), discordo em boa medida da bipolarização extrema em que separas e divides o humor, quase como se os filmes, para serem associados a géneros, tivesse de se reduzir a um sistema binário de "verdadeiro" ou "falso": ou são ou não são sérios, ou são ou não são comédias, e como se houvesse uma fronteira claramente definida e regulamentada que nos desse de imediato a reposta formalizada nesses termos. É certo que as características de um filme como o Herói do Ano 2000 nos levam de imediato a pensar numa comédia burlesca, nesse caso não há grande discussão para fazer, mas entre um filme com tais características e outro completamente sério, sem pingo ou intenção de humor (como por exemplo o Ascent, que mencionas acima), medeiam uma infinidade de graus e degraus que torna impossível uma categorização objectiva, até porque em muitos casos o que encontras é um conjunto de elementos sérios e dramáticos misturados com as mais absurdas palhaçadas e infantilidades (tal como sucede, de resto, nas nossas realidade quotidianas - faz parte do ser humano conviver com estes dois extremos, que às vezes estão separados no tempo por meros segundos). Só para dar um exemplo, há um filme notável que explora esta realidade muito bem, o Toni Erdmann - este filme é um dramalhão forte e comovente, mas em certos momentos faz-nos chorar a rir (que foi literalmente o que me sucedeu no cinema, a determinada altura) através de uma vertente infantil deliberada na apresentação dos escapes a esse dramatismo.
Critics have generally described the film as a comedy-drama. Director Ade said she thought the story "always had both genres within it, because [Winfried is] playing a comedy for [Ines], but he’s doing it out of desperation." In writing the script, Ade was interested in the film's comedic potential, though she had doubts during the filming. "Then, when we edited the film, I found that the comedy was even stronger because we took things so seriously. (...)

Hüller said that she always thinks "about how humor works" and it was this question "we were asking ourselves during the process. What is it that makes people laugh? What is funny about Toni? I think...desperation...is the origin of comedy." Falling out of a chair is "the oldest joke." But even when things don't work, "you really have to try, seriously. I think that’s what we did — you never have to play the joke."[33]
Quando tu dizes que o um filme como o Star Trek do JJ se tenta passar por "cinema sério" (tal como há tempos indicaste algo semelhante em relação ao Die Hard), eu replico: não há ninguém que considere que esse é um filme sério, sob nenhuma perspectiva. É tudo menos um filme sério. É uma pipocada à boa maneira de Hollywood e em momento algum o Abraams teve intenção de fazer um filme sério. É um entretenimento puro e duro, sem pretenções científicas de qualquer espécie. Independentemente de desprezares a abordagem (e eu entendo a tua "revolta", porque não é isso que esperarias de um filme com o rótulo Star Trek), não faz sentido nenhum dizer que tenta ser algo que não é. Não, nunca tentou ser mais do que uma pipocada (a meu ver muito bem esgalhada e conseguida, mas isso são outros quinhentos). Os elementos dramáticos que o filme contém, e ainda são uns quantos, são completamente engolidos e trucidados pelo ritmo narrativo trepidante (rapidamente se esquecem as mortes de familiares e amigos, mesmo quando ocorrem "em larga escala") e pelos inúmeros a algo insistentes apontamentos humorísticos (e no entanto o filme não é uma comédia). Toda a ciência on-display é fake, e a linha narrativa tem outras intenções que não a exploração de conceitos futuristas numa base de previsão à luz de conceitos científicos reais ou sociais da actualidade. É acção pipoca e choque de personalidades (Kirk vs Spock). Se o filme se assume como alguma coisa, então são estas duas vertentes que dominam essa "identidade".

Quanto às telas em background a simular cenários, quer estáticos, quer em movimento, eu adoro esse tipo de artifício. Ao contrário do CGI manhoso, que quando se dá por ele deita logo abaixo a credibilidade de uma sequência, tenho um grande encantamento por ver essas telas e pelos momentos em que se notam de imediato nos filmes antigos. Tenho também muita compreensão e respeito pelas jutificações que os realizadores dão para as utilizar. O Hitchcock, por exemplo, e o Michael Powell (de quem recentemente vi o Black Narcissus, que faz uso ostensivo de telas para poder controlar a luz de forma uniforme) são grandes cineastas que recorrem a tais artifícios. Para mim é deslumbramento.

Finalmente, a propósito do termo "político", eu acho que o utlizei com o sentido que indicas. O termo tem essa flexibilidade - que é a de poder ser utilizado em contexto social sem que signifique uma partidarização ou uma associação a direita/esquerda.
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Re: Westerns - o tópico

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Recomendo o The Misfits! yes-)

Não é o típico western, mas penso que até se enquadra no tópico :wink:

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/4/4b/Misfits3423.jpg/220px-Misfits3423.jpg
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