Desabafos... (Off-TopiC)

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rui sousa
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

Tenho vários problemas com a Netflix: a compressão do sistema, o catálogo bizarro e miserável no que a filmes dos anos 70 para trás diz respeito, e a ideia de que um filme pode estrear ao mesmo tempo em sala e em casa. Ninguém pediu isso! Isso mata o ciclo de vida de um filme.

Mas não acredito que a Netflix será a culpada disto. Como sempre aconteceu em Hollywood, os estúdios estão desesperados e, para sobreviver, vão todos agarrar-se à aparente salvação do momento. Neste caso é o streaming. Vão ser criadas milhentas plataformas, cada uma de durabilidade imprevisível, e que causará provavelmente uma implosão no sector. Pode ser só mais uma crise de Hollywood ou, no meu ver, a crise fatal. No fim, fica a Disney, que aumenta assim o seu sistema com contornos de fascista, comprando tudo o que lhe aparece à frente e, depois, quem sabe o mundo inteiro.

No meio deste aparente Apocalipse todo, fico contente quando vejo o filme do Tarantino a ter salas cheias uma semana depois da sua estreia, e que o "Variações" tenha tido mais de 12 mil espectadores só no primeiro dia de exibição. O que nos diz que o modelo Netflix talvez não seja assim tão bem pensado.
Samwise
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Samwise »

Helder Fialho wrote: August 23rd, 2019, 11:20 pm Em que medida, no teu entender, as plataformas digitais farão pela preservação do Cinema?
Como disse, a Netflix é apenas um player, um dos pioneiros, e apenas olhando para ela, e para o catálogo actualmente existente, não se pode inferir, concluir ou prever nada para o futuro. Muito mais está para surgir e para preencher no mercado as vagas e nichos que houver. Dou-te um exemplo prático que já existe: o BFI, a entidade referência que "cuida da memória do Cinema" no Reino Unido, já tem um serviço pago de subscrição. A oferta, como podes calcular, é bem diferente da da Netflix. O futuro das Cinematecas, incluindo a nossa, passa obrigatriamente por aí.
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Helder Fialho
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

Samwise wrote: August 24th, 2019, 4:40 pm
Como disse, a Netflix é apenas um player, um dos pioneiros, e apenas olhando para ela, e para o catálogo actualmente existente, não se pode inferir, concluir ou prever nada para o futuro. Muito mais está para surgir e para preencher no mercado as vagas e nichos que houver. Dou-te um exemplo prático que já existe: o BFI, a entidade referência que "cuida da memória do Cinema" no Reino Unido, já tem um serviço pago de subscrição. A oferta, como podes calcular, é bem diferente da da Netflix. O futuro das Cinematecas, incluindo a nossa, passa obrigatriamente por aí.

Respeito a tua opinião mas estás muito enganado. A Netflix não vai fazer nada para preservar o Cinema. A única coisa que eles preservam é o dinheiro que ganham. Para eles um filme é apenas um produto, um bem transaccionável. Não muito diferente da visão dos presidentes dos estúdios, dos executivos e dos produtores de Hollywood, de resto.

Mas o BFI é uma instituição sem fins lucrativos e de excelência com patrocínio do Estado e parcialmente financiada pela National Lottery que equivale cá à Divisão de Jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. O BFI presta um serviço público e de excelência ao Cinema quase ímpar no mundo. Não têm nada a provar a ninguém e acho bem que tenham um serviço de subscrição de filmes. Mas a Netflix só tem fins lucrativos. Quem preserva o cinema americano é o AFI, não são precisos mais. Ui, a nossa Cinemateca? Com menos de 1% do Orçamento de Estado para a Cultura que é o que os Governos continuam a dar? Muito fazem eles... são verdadeiros heróis. Serviço de subscrição de filmes da Cinemateca, isso só daqui a 50 anos. :-P
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

rui sousa wrote: August 24th, 2019, 2:13 am Tenho vários problemas com a Netflix: a compressão do sistema, o catálogo bizarro e miserável no que a filmes dos anos 70 para trás diz respeito, e a ideia de que um filme pode estrear ao mesmo tempo em sala e em casa. Ninguém pediu isso! Isso mata o ciclo de vida de um filme.

Mas não acredito que a Netflix será a culpada disto. Como sempre aconteceu em Hollywood, os estúdios estão desesperados e, para sobreviver, vão todos agarrar-se à aparente salvação do momento. Neste caso é o streaming. Vão ser criadas milhentas plataformas, cada uma de durabilidade imprevisível, e que causará provavelmente uma implosão no sector. Pode ser só mais uma crise de Hollywood ou, no meu ver, a crise fatal. No fim, fica a Disney, que aumenta assim o seu sistema com contornos de fascista, comprando tudo o que lhe aparece à frente e, depois, quem sabe o mundo inteiro.


Tomei a liberdade de colocar a bold aqueles que considero os aspectos mais importantes da tua resposta. É uma subversão total do tempo de vida dos filmes, sem dúvida.

Os estúdios estão desesperados, de facto. As plataformas de streaming são a moda do momento e, como todas as modas, vão passar. Eu também acho que é a crise fatal de Hollywood. Acrescido do domínio da Disney a tender cada vez mais para o absoluto. Estas duas coisas vão constituir a machadada final. Se eles não mudarem, vão desaparecer. Acho que, para a Disney, the world is not enough. :lol: Agora que compraram a 20th Century Fox, dos grandes estúdios já só restam quatro. A Universal, a Warner, a Columbia e a Paramount. Qual será o próximo? Ou então talvez uma das mini-majors como a Lionsgate, a Constantin ou a Amblin do Spielberg para ficarem logo com o catálogo da DreamWorks e da Amblin Entertainment de uma assentada. Ou então a MGM. Fiquei espantado em como é que a Disney não comprou a Weinstein Company. Um catálogo tão bom que ainda por cima foi a leilão... :-P Talvez pelo facto de o Harvey Weinstein ter passado a ser um nome tóxico e eles não quererem ficar associados a ele. Há uma coisa que pode acontecer à Disney. Quem come demais, engorda. A Disney está a comer demais e pode vir a ter uma indigestão ou até vomitar tudo o que come. Quando um monopólio se torna demasiado grande, cai devido ao seu próprio peso excessivo. Não se aguenta. A Disney pode vir a ter de vender coisas que comprou.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

Helder Fialho wrote: August 25th, 2019, 3:05 am Os estúdios estão desesperados, de facto. As plataformas de streaming são a moda do momento e, como todas as modas, vão passar. Eu também acho que é a crise fatal de Hollywood. Acrescido do domínio da Disney a tender cada vez mais para o absoluto. Estas duas coisas vão constituir a machadada final. Se eles não mudarem, vão desaparecer. Acho que, para a Disney, the world is not enough. :lol: Agora que compraram a 20th Century Fox, dos grandes estúdios já só restam quatro. A Universal, a Warner, a Columbia e a Paramount. Qual será o próximo? Ou então talvez uma das mini-majors como a Lionsgate, a Constantin ou a Amblin do Spielberg para ficarem logo com o catálogo da DreamWorks e da Amblin Entertainment de uma assentada. Ou então a MGM. Fiquei espantado em como é que a Disney não comprou a Weinstein Company. Um catálogo tão bom que ainda por cima foi a leilão... :-P Talvez pelo facto de o Harvey Weinstein ter passado a ser um nome tóxico e eles não quererem ficar associados a ele. Há uma coisa que pode acontecer à Disney. Quem come demais, engorda. A Disney está a comer demais e pode vir a ter uma indigestão ou até vomitar tudo o que come. Quando um monopólio se torna demasiado grande, cai devido ao seu próprio peso excessivo. Não se aguenta. A Disney pode vir a ter de vender coisas que comprou.
Tomei a liberdade de assinalar a bold também o que me interessava! :mrgreen:

As plataformas de streaming são a moda, e a este ritmo vão implodir. No entanto, estou curioso para ver o que acontece à Netflix com o apogeu do Disney+, que tem um preço mais baixo (6,99€ com qualidade 4k, enquanto o pacote mais básico da Netflix é mais caro e tem um sub-HD) e o catálogo que, parece-me, é a única coisa que as pessoas querem ver nos tempos que correm.

Ao contrário do que foi aqui dito, não acredito que as plataformas de streaming sejam uma nova liberdade no consumo de filmes, porque limita o acesso a coisas recentes. Se hoje já é difícil encontrar alguns filmes mais antigos, no streaming não existirão de todo. E se o físico se limitar aos produtos de nicho, que custam 20 ou 30€ por um simples disco, então, e lamento imenso dizer isto, só me resta a pirataria para poder ver o que quero.

Não faltará muito para que a Disney compre os outros estúdios. Mas nada dura para sempre, e quero acreditar que, às tantas,. haverá um volte-face neste modelo de aparente poderio dominante...

Agora, que as salas de cinema perdem gás por culpa dos próprios estúdios, disso não tenho dúvida. Não só por causa destas estratégias a la Netflix, como noutros quadrantes. Por exemplo: faz-me impressão ver que o novo filme do Almodóvar estreia cá a 5 de Setembro, quando aqui no país vizinho já saiu em DVD e Bluray! Quem é proprietário dos filmes devia ter o cuidado de só disponibilizar o filme noutras plataformas quando o mesmo já tivesse tido o seu tempo de exibição nos países que o compraram!

Enfim, mas daí ficar contente com a réstia de esperança que o caso do "Variações" proporciona (update: teve 50 mil espectadores desde quinta até domingo!!!).
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Samwise »

Continuo com muito pouco tempo para responder, e lamento se as minhas abordagens têm tão pouco "tamanho" e ainda mais curtas explicações, até porque tendem a criar confusão.

Para mim não há volta a dar: as plataformas digitais não são apenas o futuro, são já o presente, embora, como em todos os processos evolutivos que impliquem mudanças substanciais em relação a plataformas diversas com um grau alargado de implantação, os primeiros passos podem ser tímidos, ou em falso, ou destinados ao fracasso no caso de algumas ofertas e empresas. Isso é normal.

Queria clarificar algo que penso que não ficou bem entendido da minha "visão" acerca do futuro. Eu olho NÃO para o as plataformas digitais como um "conjunto de empresas capitalistas" que concorrem todas dentro de um mesmo segmento de mercado, com produtos muito similares. Eu olho para o futuro tendo em conta a OFERTA AGREGADA geral. Não só dessas empresas, como das Cinematecas e instituições que não têm apenas o lucro como finalidade a "qualquer custo" e que em conjunto disponibilizam títulos para todos os gostos e feitios. Olho até para parte dessa oferta como gratuita (com trade-offs, como sucede no Spotify, que intercala anúncios aos fim de x músicas). Olho ainda para a rede global dessa oferta como grande e significativa o suficiente para assegurar que haja redundância absoluta nas gravações (evitando que desapareçam títulos).

O que eu noto nas vossas abordagens é um foco muito grande na Netflix, e nas empresas comercias que que estão agora a disputar um mercado global em grande expansão e evolução. Eu não olho só para aí. E mesmo olhando para aí, não vejo nenhuma "implosão" à vista. Vejo um continuar da oferta de vários serviços em constante adaptação e reajustamento face às novas realidades que surgem a cada instante. Não acredito que o Streaming seja uma moda passageira. Isso é quase como dizer que os telemóveis/tablets/dispositivos de comunicação móvel são uma moda passageira. É possível que evoluam para outro estádio, mas nesse caso o Streaming acompanhará essa mudança - adaptando-se.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Samwise »

Helder Fialho wrote: August 23rd, 2019, 11:20 pm
Verdade. Por isso faço questão de comprar o DVD. Não quero é que me "obriguem" a subscrever um serviço só para ver um filme porque a Netflix não quer lançá-lo em formato físico. Há pessoas que sacam filmes da net mas depois quando gostam realmente deles e querem tê-los, compram-nos em formato físico. Há quem compre. Há quem faça questão de ter o filme consigo e não ser só um ficheiro no computador. Não vi o Roma no cinema, tinha muita curiosidade em ver mas esperei para quando estivesse em DVD. Só que quase de certeza que não vai sair em DVD nem em nenhum outro formato porque o Netflix só quer que o Roma esteja na plataforma. Não quero pagar um serviço mensal de vários filmes só para ver um. Era o que faltava. Isto é absurdo. Assim estou impedido de ver o Roma. Isto limita a minha liberdade, para além de ser um claro incentivo à pirataria. O fruto proibido é sempre o mais apetecido. É que se é assim, mais vale sacar da net ou ver num streaming gratuito. Posso ver à mesma no conforto do lar e a imagem tem qualidade de DVD. Nem preciso de legendas, o meu nível de Inglês é C2, percebo tudo o que os actores dizem. Para ter em DVD, pago. Agora pagar para ver um streaming, não. Repara: eu não defendo que a Netflix não ponha um filme deles na plataforma. Acho é que, em primeiro lugar, antes de ir para a plataforma, tem de ir para as salas. Depois de fazer as salas é que pode ir para a plataforma. E, tendo sido exibido nas salas, tem de ser lançado em formato físico. Um filme do Netflix pode perfeitamente sair em formatos físicos e, ao mesmo tempo, estar na plataforma. Assim não prejudica quem não quer subscrever o Netflix só para ver esse filme. E eles podem editar DVDs. Não é porque eles não possam, é porque não querem. Eles têm rios de dinheiro e podem fazer edições dos filmes que distribuem como qualquer distribuidora faz. Não fazem porque não querem. As subscrições ao nível mundial dão-lhes tanto dinheiro que podem dar-se ao luxo de nem sequer distribuírem os filmes em DVD, blu-ray, etc. E a produtora do Roma não tem uma palavra a dizer sobre isto? Não tem voto na matéria? Só o Netflix é que tem a faca e o queijo na mão? Distribuidora vem da palavra distribuir. Distribuir é dividir. Fazer vários exemplares de uma coisa e fornecer às pessoas. As pessoas depois fazem a sua escolha de comprar ou não mas o filme tem de estar cá fora, visível, palpável. Agora filmes exclusivos numa plataforma? Quero senti-lo. Ver uma caixa de DVD, mexer, tocá-la, ver os discos, saber que a obra está ali dentro. Comprá-lo. Saber que é meu. Se um filme só está numa plataforma de streaming, nunca o irei sentir como meu. Irei sempre encará-lo como sendo deles (Netflix). Não acho que seja uma evolução. Acho que é uma regressão porque eles querem transformar algo que é visto por todas as pessoas para algo que é visto só por algumas. As pessoas hoje só pensam no imediato, no curto prazo. Não querem coisas que ocupem espaço. As caixas de DVD e blu-ray de facto ocupam espaço mas o que está ali é para sempre. Fica connosco para sempre e pode-se recorrer a ele a qualquer altura na certeza de que está lá. Na Netflix não. Hoje está mas amanhã pode não estar. Sou adepto da tecnologia mas acho que actualmente já está a ficar demais. Está a faltar bom senso.
Provavelmente a esmagadora maioria das pessoas que frequentam este fórum partilham destas ideias em relação ao formato físico, e ao ter e ao comprar.. Mas... são uma minoria. O grande público não quer saber disso para nada - a oferta que encontram nos catálogos streaming chega e sobra.

Eu considero-me um cinéfilo. Talvez não "sofra" de forma assim tão aguda com o cinema, mas um cinéfilo ainda assim. E eu não quero saber do formato físico para nada. Entendo quem é atingido por essa febre, mas eu não sou. No último almoço que fizemos em Lisboa, com o pessoal aqui do fórum, eu levei a edição especial DVD que tinha do 1900 - o filme que andas à procura - para a troca. Já não sei quem ficou com ele, mas não me custou absolutamente nada a desfazer-me da peça.

Eu também sou adepto da tecnologia - e creio que, também neste caso, as vantagens se vão sobrepor a algumas questões que por agora parecem problemas. A questão aqui, como em todas as situações, não é a tecnologia. É o que as "pessoas que mandam" fazem com essa tecnologia. E eu estou sinceramente convencido que a longo prazo vamos ter a tal rede global com uma oferta ilimitada de títulos, sempre à disposição, e que as subscrições terão um modelo de tal forma flexível e diversificado que nenhuma das questões que colocas vão persistir.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

Olhando para o caso do Spotify, é um caso de sucesso do streaming porque contém, pelo menos, uma grande maioria do catálogo de música disponível no mundo. No entanto, dá que pensar a miséria que os artistas ganham com ele (1000 streamings equivalem ao preço de uma t-shirt de merchandising). Daí que use o Spotify de uma maneira mais moderada, sem ser a versão paga, contribuindo depois com a compra do disco dos artistas de que tenha gostado.

Já no cinema e na TV, teres de repente oferta de 394738 canais de streaming não será benéfico para ninguém. Quem é que vai pagar 7 ou 8 euros por várias plataformas que oferecem demasiadas coisas que, por um lado, são na sua maioria desinteressanres (no meu caso) ou que, simplesmente, não dá nunca para ver com calma, porque há demasiada coisa? E ai chegamos a outro problema: já não estamos na era de ver filmes, mas na de "consumir conteúdos". A este ritmo, lamento mas o streaming, pelo menos no que ao cinema diz respeito, não será uma democratização do acesso (como o Spotify é, mesmo que com resultados prejudiciais para os artistas) mas uma castração, com o domínio das marcas do costume a fazerem o costume (ou, por outras palavras, morrem todos mas no fim fica a Disney).

"ah, e as plataformas de nicho?", podem perguntar. Pois a sua relevância é na realidade zero, e se já tem pouca projecção noutros países, muito menos terão em Portugal. O máximo que temos aqui é o Mubi e o Filmin, e ambas aqui simplesmente não funcionam para mim. O Mubi tem filmes disponíveis por tempo limitado, por vezes em pior qualidade que um upload do YouTube. E o Filmin é composto, na sua vasta maioria, por filmes de autor já circulado até à exaustão noutras plataformas (DVD, TV, etc) pelas editoras da especialidade. Ou seja: novidade e originalidade? Zero.

Não falemos então da Netflix na parte do cinema, falemos da HBO Portugal, que tive durante 6 meses. O que mais me assusta é que o catálogo de filmes não originais da plataforma se compõem de estreias já vistas na TV 30 vezes por semana, e muitos deles "cropados" para não serem exibidos com "barras pretas". Valha a intenção da HBO em apostar no cinema português - mas são, outra vez, os filmes do costume.

Há quem tenha expectativas baixas e fique contente com esta "oferta" - mas eu acredito que, no que toca ao cinema, o streaming não vai proporcionar mais oferta, mas limitá-la até à exaustão numa panóplia de "conteúdos" que são mais do mesmo. O streaming pode ser o futuro, mas é difícil acreditar, que será um bom futuro.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

E acrescentando a esta conversa, a triste novidade sobre a estreia de The Irishman em sala - mas a demonstração de que as salas de cinema não podem nem devem ceder à Netflix.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by paupau »

Esta confirmado que o filme tem 210 min de duracao. Da minha parte viva a Netflix, nao ha estudio que gastasse esta quantia que permitisse 4h de filme. Depois dos ultimos, e de longe o filme que mais anseio ver de momento.

Quantas mais alternativas de producao houver, melhor. Concorrencia nunca e demais. Baumbach, Soderbergh, Cuaron e outros la sabem porque estao a trabalhar com a Netflix.

E os proximos filmes flix vao todos estrear em sala.

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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by technicolor »

Eu, embora com uma certa nostalgia dos velhos cinemas de rua (salas com porta directa para a rua das quais poucas sobrevivem) nos quais me iniciei neste "vício crónico" das fitas, e que foram na sua grande maioria arrasados pelo aparecimento dos multiplex (e pelas pipocas) tenho vindo lentamente a aderir ao streaming :shock: e concordo com o Paupau quando escreve:
paupau wrote: August 28th, 2019, 8:43 am Da minha parte viva a Netflix, nao ha estudio que gastasse esta quantia que permitisse 4h de filme.
Quantas mais alternativas de producao houver, melhor. Concorrencia nunca e demais. Baumbach, Soderbergh, Cuaron e outros la sabem porque estao a trabalhar com a Netflix.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by rui sousa »

paupau wrote: August 28th, 2019, 8:43 am Esta confirmado que o filme tem 210 min de duracao. Da minha parte viva a Netflix, nao ha estudio que gastasse esta quantia que permitisse 4h de filme. Depois dos ultimos, e de longe o filme que mais anseio ver de momento.

Quantas mais alternativas de producao houver, melhor. Concorrencia nunca e demais. Baumbach, Soderbergh, Cuaron e outros la sabem porque estao a trabalhar com a Netflix.

E os proximos filmes flix vao todos estrear em sala.

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E por alguma razão o Scorsese terá o seu próximo projecto na Paramount... outra vez!

Nada é perfeito. Viva a concorrência, claro. Mas não dêem é mais pontapés na experiência cinematográfica, sempre a ser agredida desde há algumas décadas, e ultimamente mais até pelos próprios exibidores.

Se é para viver num mundo onde existem centenas de canais de streaming, então fico-me com o meu recentemente adquirido disco externo de 2TB e será essa a minha filmoteca futura, para além dos inúmeros DVDs e Blurays que tenho por casa.
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by paupau »

Ai tambem resta saber quem foi atras de quem....o Sorcesese ou o estudio.

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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by nimzabo »


Vejam a partir dos 47:30
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Re: Desabafos... (Off-TopiC)

Post by Helder Fialho »

rui sousa wrote: August 26th, 2019, 1:10 pm
As plataformas de streaming são a moda, e a este ritmo vão implodir.

Ao contrário do que foi aqui dito, não acredito que as plataformas de streaming sejam uma nova liberdade no consumo de filmes, porque limita o acesso a coisas recentes. Se hoje já é difícil encontrar alguns filmes mais antigos, no streaming não existirão de todo. E se o físico se limitar aos produtos de nicho, que custam 20 ou 30€ por um simples disco, então, e lamento imenso dizer isto, só me resta a pirataria para poder ver o que quero.

Não faltará muito para que a Disney compre os outros estúdios. Mas nada dura para sempre, e quero acreditar que, às tantas,. haverá um volte-face neste modelo de aparente poderio dominante...

Agora, que as salas de cinema perdem gás por culpa dos próprios estúdios, disso não tenho dúvida. Não só por causa destas estratégias a la Netflix, como noutros quadrantes. Por exemplo: faz-me impressão ver que o novo filme do Almodóvar estreia cá a 5 de Setembro, quando aqui no país vizinho já saiu em DVD e Bluray! Quem é proprietário dos filmes devia ter o cuidado de só disponibilizar o filme noutras plataformas quando o mesmo já tivesse tido o seu tempo de exibição nos países que o compraram!

Enfim, mas daí ficar contente com a réstia de esperança que o caso do "Variações" proporciona (update: teve 50 mil espectadores desde quinta até domingo!!!).


Pois vão. A Netflix, como referi atrás, na minha opinião só tem uma coisa boa. Acredita na visão dos realizadores. Acredita nos filmes. Só se interessa pelo dinheiro mas, apesar disso, não recusa, não rejeita ninguém. Dá o dinheiro que os realizadores precisam para fazer os filmes e cala-se. Não há produtores e executivos a intervir no trabalho do realizador e a boicotá-lo. O que fizeram ao Michael Cimino no Heaven's Gate não se faz a ninguém! O que é que interessa se um filme não faz um box office brutal de bilheteira na primeira semana? A facturação do filme não é sempre sinónimo de um filme bom. Muitos filmes geniais foram flops financeiros quando estrearam porque o público na altura não os percebeu e rejeitou porque eram filmes que estavam à frente do seu tempo e/ou porque os americanos com o défice de atenção gigante que têm, não suportam filmes com mais de 2 horas e meia. Foi assim com o Blade Runner ou com o Barry Lyndon. Hollywood tem sempre medo de arriscar, de falhar, medo do flop, medo de tudo. Isto é muito da cultura americana que é uma cultura competitiva terrível em que não há paciência, não se cultiva o gosto por nada, não há muitos valores éticos e os valores morais são contraditórios. É uma cultura virada só para o dinheiro, para fazer muitíssimo dinheiro o mais rapidamente possível e com o mínimo de despesa. Os filmes podem fazer ao início menos dinheiro do que custaram mas, com o passar do tempo, muitos recuperam o investimento dos estúdios e acabam mesmo por ser um sucesso. Se o filme for bom, acaba sempre por encontrar o seu público. É preciso é dar tempo. É assim que imensas séries boas ao longo dos anos foram e continuam a ser canceladas só com uma temporada. Se não há audiências esmagadoras logo desde o pilot, pronto, acabou. A Netflix dá liberdade total aos realizadores para fazerem o que querem, o que não acontece em Hollywood onde desde o Heaven's Gate e o One From the Heart o produtor manda mais do que o realizador e o estúdio manda em tudo. No Shakespeare in Love, quando o Ned entra no Globe em pleno ensaio do ainda Romeo and Ethel, the Pirate's Daughter, futuro Romeo and Juliet, e pergunta "What is the play and what is my part?", o Hugh Fennyman (que é quem financiava a peça) diz-lhe "one moment, sir". Ele pergunta-lhe, irritado, quem ele é e ele diz muito simplesmente "I'm.. i'm the money" e ele responde "Then you may remain, so long as you remain silent. Pay attention. You'll see how genius creates a legend". O Fennyman, mais dócil, baixa a cabeça e diz "thank you, sir". Ele era o dinheiro. Ele era, de facto, quem dava o dinheiro para que as peças se pudessem fazer e curiosamente ele não responde dizendo que se chama Hugh Fennyman mas sim "the money". O apelido da personagem é Fennyman. Fenny é uma pun com a palavra penny que é um termo coloquial que quer dizer centavo (o penny é, ainda hoje, a parte mais pequena e mais barata do pence - o nosso cêntimo - na Libra (Pound) -> pound, pence, penny) mas que aqui tem ao mesmo tempo o significado mais alargado (e também coloquial) de referência ao dinheiro como patacas, cacau, pilim ou bago. Portanto Fennyman é uma pun de pennyman (o homem das patacas, o homem do dinheiro). Se separares os elementos tens penny e man, ou seja, o homem do dinheiro. Fennyman, pelo jogo de palavras, é um nome bastante a la Dickens e foi uma criação feliz do John Madden. Não foi uma pessoa real, ao contrário por exemplo do Ned, do Henslowe (personagem do Geoffrey Rush) ou do Burbage. O Mr. Fennyman representa todos os mecenas (nem todos amantes da Arte) que financiavam as peças em Inglaterra no século XVI/XVII. Não resisto a falar disto porque é o meu amor de gosto e de formação académica na língua, literatura e cultura inglesa que inevitavelmente vem ao de cima. Foi isto que aconteceu em Hollywood nos anos 70 durante a geração da New Hollywood. Os estúdios limitavam-se (como deviam limitar-se sempre) a dar o dinheiro aos realizadores, todo o que eles precisarem e depois ficarem calados a ver a criação da obra a decorrer.


Precisamente. A questão da falta de filmes antigos na Netflix também é muito importante. Para as gerações mais novas do que eu (tenho 32 anos), ao verem só cinema através das plataformas vão começar a achar que o Cinema começou com o Tarantino ou se calhar até com o Nolan.



Vai ter de haver uma mudança, sem dúvida nenhuma. Quer eles queiram, quer não. Acabei por me adiantar porque desenvolvi esse assunto dois parágrafos acima. :-P


É lamentável, sim.

Pois, o filme sobre a vida do António Variações. Esperava que o filme tivesse este sucesso. Ele é um dos cantores mais amados no nosso País mas pessoalmente não gosto.
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