Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

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waltsouza
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Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by waltsouza »


«O Pátio das Cantigas»: a nova versão já tem trailer

Uma das mais conhecidas comédias do cinema português foi adaptada à atualidade por Leonel Vieira. Miguel Guilherme e César Mourão têm a difícil missão de substituir António Silva e Vasco Santana.

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Foi lançado o primeiro trailer da nova versão de «O Pátio das Cantigas», a comédia realizada por António Lopes Ribeiro e Ribeirinho em 1942.

A história foi adaptada à atualidade e conta com Miguel Guilherme e César Mourão como Evaristo e Narciso, as personagens de António Silva e Vasco Santana. O elenco inclui ainda com a participação dos atores Dânia Neto, Sara Matos, Manuel Marques e Anabela Moreira, entre outras caras bem conhecidas.

Leonel Vieira, cineasta de «A Sombra dos Abutres» (1998), «Zona J» (1998) e «A Arte de Roubar» (2008), é o responsável pela produção e realização.

«O Pátio das Cantigas» integra uma "trilogia de clássicos" que a produtora Stopline preparou com a RTP e de que fazem ainda parte outros filmes do chamado período de ouro da comédia cinematográfica portuguesa: «A Canção de Lisboa» e «O Leão da Estrela».

O primeiro filme estreia a 30 de julho e passará posteriormente na RTP no formato de mini-série com três episódios.


http://www.imdb.com/title/tt3983464/?ref_=fn_al_tt_1



http://cinema.sapo.pt/atualidade/notici ... em-trailer

TRAILER




O que dizer disto? Eu até compreendo a tentativa de tentar fazer dinheiro com refilmagens de filmes da época de ouro do cinema português. O único grande problema é que Portugal não é Hollywood e os anos 40 do século XX já lá vão há imenso tempo, os tempos e o cinema (a preto & branco) de Pátio das Cantigas já não existe.

Isso não significa que este filme (como os próximos remakes já agendados) não possam vir a ter bilheteiras interessantes, porque com um pouco de publicidade na TV isto é filme para chamar gente mais "graúda" de idade ao cinema, que vão na esperança de encontrar neste novo Pátio das Cantigas algo da magia e simplicidade do Pátio das Cantigas original. Pelo que pude ver do trailer não sei se irão ter essa sorte.
JoséMiguel
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by JoséMiguel »

O trailer que o Walt colocou ficou morto e encontrei este:



EDIT: Vou apagar o meu comentário para não criar chatices com o pessoal, pois alguém pode gostar disto e não vale a pena arranjar chatices, pois tenho mais que fazer e não vou perder tempo com um pseudo-filme português. Fica só o trailer e a indicação de que eu sou 100% contra este filme, pelo que observei no trailer.
Gaspar Garção
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by Gaspar Garção »

Fiz um trabalho no 1º ano de mestrado sobre o cinema português, e entrevistei dois doutorandos e especialistas de cinema, se alguém tiver interesse em ler, está aqui:

http://www.incomunidade.com/v25/art.php?art=14


Mas basicamente o que tenho a dizer sobre esta época (de ouro), em relação à qual não sou honestamente objetivo, é o seguinte (não falo muito do que penso, porque era uma reportagem, e o que interessava era ouvir os entrevistados, mas acho que dá para perceber que sou "fã" destes filmes):



A “Comédia à Portuguesa”

O fenómeno sociológico do cinema clássico português, representado em obras tão icónicas como “A Canção de Lisboa” (1933, Cottinelli Telmo), “O Pai Tirano” (1941, António Lopes-Ribeiro), “O Pátio das Cantigas” (1942, Francisco Ribeiro), “O Leão da Estrela” (1947, Arthur Duarte), e em atores tão carismáticos como Vasco Santana, Ribeirinho e António Silva, transcende épocas, gerações e até sistemas políticos, sendo ainda um fenómeno de popularidade surpreendente, como o comprovam as várias edições em DVD e as sempre constantes reposições na televisão, em épocas festivas.

Paulo Cunha, doutorando em Estudos Contemporâneos, com um projeto de investigação sobre o Novo Cinema Português, na Universidade de Coimbra, considera que “obviamente, o cinema, sobretudo pela sua capacidade de comunicação de massas, foi um instrumento privilegiado para divulgar e reproduzir a mensagem ideológica do regime”

Em filmes que foram considerados pela maioria dos críticos como “comprometidos” com o regime da época, como se compreende esta longevidade? Será que entre a “submissão” à trindade Deus, Pátria, Autoridade, se escondia a (possível) irreverência e contestação? Ou será que o público contemporâneo lê nestes filmes mais do que lá está, inconscientemente “refletindo” os problemas das épocas em que se assistem às impagáveis “comédias à portuguesa”?

Luís Vintém, licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e professor de Comunicação Audiovisual e Fotografia, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, em Portalegre, distingue dois momentos no corpus das obras feitas durante o período do Estado Novo: o primeiro momento é o em que a ideologia do regime influencia o conteúdo das narrativas cinematográficas, e onde “transparece o optimismo da segurança, da ordem e do progresso material, a mitologia da identidade portuguesa, o mito da genuinidade do camponês, a paz entre as classes e a ideia da mobilidade social”, destacando como exemplos os já referidos “O Leão da Estrela”, “O Pátio das Cantigas” e ainda a “Aldeia da Roupa Branca” (1938, Chianca de Garcia).

Paulo Cunha, também membro da direção do Cineclube de Guimarães (o maior do país), e um dos maiores especialistas sobre o cinema português, corrobora a tese de Luís Vintém, declarando que “as comédias à portuguesa não deixavam de transmitir um ideário político e social que, mais do que fascista ou estadonovista, era dominante na época. O respeito pela autoridade e hierarquia (familiar, laboral ou social), o ideal rural, a moral cristã, entre outros, são valores que estão presentes e são promovidos nesses filmes. Mas trata-se sobretudo de uma ideologia contextual, que ultrapassa a própria acção do regime”.

Destaca ainda que o Estado Novo financiou apenas dois filmes de propaganda declarada, “A Revolução de Maio” (1937) e “O Feitiço do Império” (1940), ambos de António Lopes-Ribeiro, mas que toda a produção cinematográfica portuguesa das décadas de 30 e 40 foi condicionada, através da criação dos estúdios da Tóbis e a atribuição de prémios e subsídios para a produção de filmes, “foram apenas algumas formas de pressão que garantiam ao regime a colaboração dos produtores de cinema”.

O segundo momento do cinema do Estado Novo que Luís Vintém realça, é a altura em que começam a aparecer as vozes críticas, sendo estes dois períodos paralelos com a vida e a evolução do próprio regime e da sua aceitação pela sociedade, que “coincide aproximadamente com o início da Guerra Colonial e das primeiras grandes contestações públicas ao regime nas eleições presidenciais de 1958. Para além do desgaste do regime, começam a chegar ao cinema português os ecos do neo-realismo italiano”, nos filmes “Dom Roberto” (1962, José Ernesto de Sousa) e Verdes Anos” (1963, Paulo Rocha).
Na baliza Jackson, defesa com Scorsese, Coppola, Spielberg e Eastwood. No meio campo, Ridley Scott, Wes Anderson, Pollack e Carpenter. Avançados, Woody, e solto nas alas Tarkovsky. Suplentes: Bunuel, Fellini, Kurosawa, Visconti, Antonioni, Lynch e Burton.
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by João Ferreira »

Leonel Vieira para mim é dos melhores realizadores portugueses por isso criei algumas (poucas) expectativas em relação a este filme mas depois de ver o trailer .... enfim tem ar de ser medíocre, que seja só mau, porque se for medíocre nem vale a pena eu perder o meu tempo.
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waltsouza
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by waltsouza »

Mais de 100 mil espectadores já viram «O Pátio das Cantigas»


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O remake de O Pátio das Cantigas, o primeiro de uma nova vaga de refilmagens de clássicos da chamada época de ouro do cinema português, teve 81 mil espectadores, entre quinta e domingo, passando assim este a ser um dos melhores fim-de-semanas de sempre do cinema nacional, batendo mesmo a estreia de 7 Pecados Rurais, que abrira com 78 mil espectadores em 2013.

O filme, que ainda assim não bateu os 90 mil espectadores na estreia da adaptação ao cinema em 2012 de Morangos com Açucar, passou também a ser o filme português mais visto em 2015, onde a liderança era de Capitão Falcão com 27 mil espectadores. Com 5 dias nas salas, o filme já ultrapassou os 100 mil espectadores, restando apenas saber se a obra de Leonel Vieira terá força suficiente para nas próximas semanas bater um recorde que vem desde 2005 e que coloca O Crime do Padre Amaro (380.671 espectadores) como a produção nacional com maior audiência desde que o ICA divulga os resultados do box-office (2004).

Claro que este "triunfo" do cinema nacional deve sempre ser posto em perspetiva: O Pátio das Cantigas estreou em segundo lugar, atrás de Mínimos que na sua segunda semana superou os 137 mil espectadores, elevando o seu total de espectadores para os 448 mil espectadores.


http://www.c7nema.net/box-office-mercad ... tigas.html

A publicidade realmente tem um poder enorme sobre as pessoas. Perdi a conta das vezes que isto passou em publicidade na RTP1, fora a publicidade extra da parceria dos CTT com o filme. É natural que acabe por influenciar a ida de gente ao cinema. Não vi o filme mas por aquilo que vejo, e pressinto, devo estar de acordo com a crítica de Hugo Gomes (do site C7nema.net). Isto não é uma tentativa de homenagem de Leonel Vieira à antiga comédia portuguesa mas antes um puro aproveitamento. É o que dá a parecer.

http://www.c7nema.net/critica/item/4399 ... gomes.html
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by waltsouza »

Não resisto e ponho por aqui uma crítica bem recente de Vasco Câmara (Público) que nos traz um título bem sugestivo. :badgrin:

Ó Evaristo, temos cá lixo

A ausência de memória tem consequências sobre a ternura, sobre os sentimentos, sobre as ideias: não os há, não há nada disso em O Pátio das Cantigas, o remake.



1942? É o ano de Ser ou Não Ser, de Ernst Lubitsch, de Lua sem Mel, de Leo McCarey, de The Palm Beach Story, de Preston Sturges... 1942 é o ano de O Pátio das Cantigas, de Francisco Ribeiro.

Pode ser injusto, porque é uma comparação curta e grossa, mas eis então a “idade de ouro” da comédia à portuguesa: cinema do pátio, fechado no provincianismo, com medo, a tentar remediar-se com a propaganda, pendurando bandeirinhas típicas de um país de papelão que décadas depois se declararia orgulhosamente só.

2015? É o ano de O Pátio das Cantigas, remake de Leonel Vieira. Setenta anos depois, há quem continue a falar na “idade de ouro”, por ingenuidade ou porque dá jeito – é que não houve blockbusters, isso é lenda que à força de ter sido repetida ficou impressa, como se dizia naquele outro filme, é a nossa nostalgia de um futuro que nunca aconteceu a tomar conta. Nada contra os mitos, nem mesmo os de pés de barro, mas é inquietante esta admiração confessada por um “cinema” que na realidade nunca o foi – isto é, cinema; era sobretudo teatro, era muito revista –, esta simpatia sem antivírus que ponha em guarda perante o que se escondia ideologicamente por trás do amável retrato de um país de opereta.

Mas o que interessa é o que se faz com eles, com os mitos. E 70 anos depois o que se faz? Lisboa continua a ser um pátio, Portugal pendura bandeirinhas típicas de um cinema de papelão irremediavelmente só, por mais golfadas de 100 mil de nós, portugueses, expelidas todas as semanas nas salas de cinema onde está em exibição o filme de Leonel Vieira.

Igual? Pior. É que sempre se pode encontrar no pátio de Francisco Ribeiro um amor - é excessivo dizê-lo assim, ternura talvez – pelas personagens; sempre se pode detectar um ideário a agitar-se, uma mistificação que seja, alguma coisa em construção, enfim. E um gosto pelos actores: Vasco Santana, António Silva (o Evaristo), Laura Alves... Sim, Miguel Guilherme (o Evaristo), César Mourão, Rui Unas, Dânia Neto, Sara Matos, Anabela Moreira: este Pátio das Cantigas não gosta de vocês, apenas vos utiliza, não vos dá personagens, apenas vos atira bonecos... Por isso uns gritam até à rouquidão para tentarem ter graça, outros só a espaços conseguem que se vislumbre a imitação que puseram como objectivo. Talvez só Anabela Moreira olhe para dentro, para tentar encontrar com silêncio qualquer coisa próxima de uma personagem.

O mais deprimente disto é ver como tamanha mobilização não consegue, pelos vistos e até ver – anuncia-se o remake de O Leão da Estrela (1947), de Arhur Duarte, depois A Canção de Lisboa (1933), de Cotinelli Telmo –, balbuciar a palavra “cinema”. Como se isto que se vê no ecrã, e que é produzido em nome de um passado supostamente glorioso, não conseguisse, afinal, ter memória – de planos, de sequências, enfim, “coisas” que foram arrasadas por uma catástrofe publicitária, audiovisual. A ausência de memória tem consequências sobre a ternura, sobre os sentimentos, sobre as ideias: não os há, não há nada disso em O Pátio das Cantigas, o remake. O que é um passo estreito para o filme denunciar involuntariamente a sua intolerância, apesar do tom “típico”: junta, tudo ao molho, tuk tuks, Bollywood em Lisboa, gays, sem compreender nada, sem querer saber nada (da cidade), olhando à distância, coleccionando o exótico, incapaz de afecto, apenas aproveitando o espectáculo da caricatura. É o ponto de vista do telemóvel.

Há uma semana, Luís Miguel Oliveira escrevia aqui: “Só há uma coisa positiva a dizer do filme, que revela inteligência por, obviamente, ser deliberada: nunca se ouve dizer a mais famosa tirada do original, ‘ó Evaristo, tens cá disto?’”. É verdade. Mas seria mais “cinema verité” se alguém ali dissesse: “Ó Evaristo, temos cá lixo”.

http://www.publico.pt/culturaipsilon/no ... xo-1704145
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by elfaria »

O pátio das cagadas ou... a ressurreição da cumérdia à portuguesa!

Eu nem deveria perder o meu tempo a escrever sobre uma trampa destas mas a crítica acima é tão acutilante
e tão engraçada que não resisto a lançar mais umas achas para a fogueira.
Começo por logo por quebrar o tabu e dizer que nunca fui um grande admirador da versão original;
Acho sim que é bastante engraçada tendo em conta a época em que foi feita e o regime político
que a patrocinou e não nego o talento de alguns dos atores (outros nem sequer são actores de todo)
mas depois de ter levado com ela mais de 50 vezes já nem consigo esboçar um leve sorriso. Acho eu
que o valor que lhe é atribuído é o mais por carinho do que por ser uma comédia verdadeiramente hilariante.
Resumindo: gosto mas q. b.
Quando surgiu a notícia do remake e vi o nome do realizador pensei logo que não seria filme que me levasse
ao cinema nem mesmo a perder uma hora diante do televisor; porquê? chamemos-lhe intuição...
Se já vi o filme? não nem tenho intensões de ver pois tenho muita coisa boa em lista de espera;
Então porque tenho o atrevimento de escrever sobre algo que não vi? porque escutei a opinião de 3 pessoas que respeito
e que tem gostos muito idênticos ao meu e todas elas sem excepção foram arrasadoras e também porque conheço a obra do Leonel Vieira
e isso para mim é mais que suficiente.
Ao Leonel nunca lhe perdoarei o ter tido o atrevimento de pegar num dos melhores romances da literatura portuguesa
- A Selva - de Ferreira de Castro, publicado em mais de 40 países e elogiado por nomes que vão desde Agustina Bessa-Luís: (obra-prima) ,
Jorge Amado (clássico do nosso tempo), Albert Camus (Livro inesquecível), Blaise Cendars (brilhante e ardente estilista),
ou Ztefan Zweig (admirável romance) e com um orçamento confortável (3.600.000 euros) ter feito um fraco filme, praticamente ignorado
bem ao contrário da obra que o inspirou. Mas voltando à vaca fria, a falta de criatividade para desenvolver novos projetos
adicionada à falta de argumentistas de talento e a falta de "centelha" do Leonel só poderia conduzir a isto: Tentou reinventar a roda e deu-se mal. E perguntará alguém que se dê ao trabalho de ler esta minha lenga lenga; Mas afinal de que raio é este gajo gosta em termos de comédia
no cinema luso? Eu respoderei: No cinema luso actual nada, mas no luso-francês até achei bastante piada ao A Gaiola Dourada.
Ao contrário de nós, aqui mesmo ao lado "nuestros hermanos" siguem se reyendo y mucho con unas buenas "españoladas" tais como
"Ocho apellidos vascos" (Namora à espanhola) que... "A finales del año, cerró con casi diez millones de espectadores
y cerca de 60 millones de euros recaudados" Olé

É um filmezito insignificante? É... pero muy divertido
Mas há mais: Al final del Camiño, Tapas, La comunidad, Crimen Ferpecto, Fuga de cerebros, La Vaquilla etc etc
Tudo coisas originais, bem escritas, bem filmadas e bem interpretadas.
E dito (escrito) isto me voy (até Espanha :) ) Hasta siempre.
Ludovico
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Re: Pátio das Cantigas (2015) - Leonel Vieira

Post by Ludovico »

waltsouza wrote: August 5th, 2015, 4:03 pm Não resisto e ponho por aqui uma crítica bem recente de Vasco Câmara (Público) que nos traz um título bem sugestivo. :badgrin:

Ó Evaristo, temos cá lixo

A ausência de memória tem consequências sobre a ternura, sobre os sentimentos, sobre as ideias: não os há, não há nada disso em O Pátio das Cantigas, o remake.



1942? É o ano de Ser ou Não Ser, de Ernst Lubitsch, de Lua sem Mel, de Leo McCarey, de The Palm Beach Story, de Preston Sturges... 1942 é o ano de O Pátio das Cantigas, de Francisco Ribeiro.

Pode ser injusto, porque é uma comparação curta e grossa, mas eis então a “idade de ouro” da comédia à portuguesa: cinema do pátio, fechado no provincianismo, com medo, a tentar remediar-se com a propaganda, pendurando bandeirinhas típicas de um país de papelão que décadas depois se declararia orgulhosamente só.

2015? É o ano de O Pátio das Cantigas, remake de Leonel Vieira. Setenta anos depois, há quem continue a falar na “idade de ouro”, por ingenuidade ou porque dá jeito – é que não houve blockbusters, isso é lenda que à força de ter sido repetida ficou impressa, como se dizia naquele outro filme, é a nossa nostalgia de um futuro que nunca aconteceu a tomar conta. Nada contra os mitos, nem mesmo os de pés de barro, mas é inquietante esta admiração confessada por um “cinema” que na realidade nunca o foi – isto é, cinema; era sobretudo teatro, era muito revista –, esta simpatia sem antivírus que ponha em guarda perante o que se escondia ideologicamente por trás do amável retrato de um país de opereta.

Mas o que interessa é o que se faz com eles, com os mitos. E 70 anos depois o que se faz? Lisboa continua a ser um pátio, Portugal pendura bandeirinhas típicas de um cinema de papelão irremediavelmente só, por mais golfadas de 100 mil de nós, portugueses, expelidas todas as semanas nas salas de cinema onde está em exibição o filme de Leonel Vieira.

Igual? Pior. É que sempre se pode encontrar no pátio de Francisco Ribeiro um amor - é excessivo dizê-lo assim, ternura talvez – pelas personagens; sempre se pode detectar um ideário a agitar-se, uma mistificação que seja, alguma coisa em construção, enfim. E um gosto pelos actores: Vasco Santana, António Silva (o Evaristo), Laura Alves... Sim, Miguel Guilherme (o Evaristo), César Mourão, Rui Unas, Dânia Neto, Sara Matos, Anabela Moreira: este Pátio das Cantigas não gosta de vocês, apenas vos utiliza, não vos dá personagens, apenas vos atira bonecos... Por isso uns gritam até à rouquidão para tentarem ter graça, outros só a espaços conseguem que se vislumbre a imitação que puseram como objectivo. Talvez só Anabela Moreira olhe para dentro, para tentar encontrar com silêncio qualquer coisa próxima de uma personagem.

O mais deprimente disto é ver como tamanha mobilização não consegue, pelos vistos e até ver – anuncia-se o remake de O Leão da Estrela (1947), de Arhur Duarte, depois A Canção de Lisboa (1933), de Cotinelli Telmo –, balbuciar a palavra “cinema”. Como se isto que se vê no ecrã, e que é produzido em nome de um passado supostamente glorioso, não conseguisse, afinal, ter memória – de planos, de sequências, enfim, “coisas” que foram arrasadas por uma catástrofe publicitária, audiovisual. A ausência de memória tem consequências sobre a ternura, sobre os sentimentos, sobre as ideias: não os há, não há nada disso em O Pátio das Cantigas, o remake. O que é um passo estreito para o filme denunciar involuntariamente a sua intolerância, apesar do tom “típico”: junta, tudo ao molho, tuk tuks, Bollywood em Lisboa, gays, sem compreender nada, sem querer saber nada (da cidade), olhando à distância, coleccionando o exótico, incapaz de afecto, apenas aproveitando o espectáculo da caricatura. É o ponto de vista do telemóvel.

Há uma semana, Luís Miguel Oliveira escrevia aqui: “Só há uma coisa positiva a dizer do filme, que revela inteligência por, obviamente, ser deliberada: nunca se ouve dizer a mais famosa tirada do original, ‘ó Evaristo, tens cá disto?’”. É verdade. Mas seria mais “cinema verité” se alguém ali dissesse: “Ó Evaristo, temos cá lixo”.

http://www.publico.pt/culturaipsilon/no ... xo-1704145
Também vi este filme à pouco tempo mas mais valia não ter o visto.Custa-me a acreditar que Leonel Vieira que é para mim o melhor realizador português depois do 25 de Abril,em que fez vários filmes muito bons no curriculum tivesse querido explorar este filão.Eu pensava que ele teria querido fazer uma comédia com qualidade baseado nos filmes antigos.Mas não,ele fez o que um tarefeiro e insipido autor português faria.Eu não me alongo muito porque assino por baixo o que diz o Luis Miguel Oliveira do Público.Eu detesto os críticos do Público mas neste caso assino por baixo,palavra a palavra o que ele diz.Leonel Vieira faz uma verdadeira NÓDOA DE ENORMES PROPORÇÕES na sua carreira que ainda penso,"como foi possível???".Ele foi muito pouco inteligente desta vez ao contrário do que tinha sido até 2015.É PENA.
Nota:2 em 10
"Sempre as horas,as horas,as horas......"
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