Os Gatos Não Têm Vertigens (2014) - António-Pedro Vasconcelos

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Os Gatos Não Têm Vertigens (2014) - António-Pedro Vasconcelos

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Os Gatos Não Têm Vertigens - António-Pedro Vasconcelos [2014]

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http://www.imdb.com/title/tt2886926/

https://www.facebook.com/osgatosnaotemvertigens

Sinopse (SAPO Cinema)
Jó é expulso de casa pelo pai no dia em que faz anos. Sem ter sítio para onde ir, refugia-se no terraço do prédio de Rosa, que acabou de perder o marido. Ele tem 18 anos e ela 73. Quem diria que ia ser amor à primeira vista?
Trailer
rui sousa
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Re: Os Gatos Não Têm Vertigens (2014)- António-Pedro Vasconc

Post by rui sousa »

Os Gatos Não Têm Vertigens: um terraço com vista para a crise

Quatro anos depois de A Bela e o Paparazzo, o realizador António-Pedro Vasconcelos regressa com uma comédia dramática protagonizada por uma dupla (aparentemente) improvável. Um filme simples, sobre problemas contemporâneos, que não se perde em excessivos simplismos. Uma proposta interessante que pode ser vista, a partir de hoje, nas salas portuguesas.

A história de uma amizade que nos dizem ser improvável – e que de facto é, tendo em conta a conjuntura do país. Um rapaz chamado Jó (João Jesus) é expulso de casa pelo pai no dia em que faz dezoito anos. Sem saber o que fazer, acaba por se refugiar no terraço do prédio onde mora Rosa (Maria do Céu Guerra), uma mulher que tenta enfrentar a vida depois da morte do marido. Criam-se laços entre ambos num país em constantes convulsões, onde as soluções para os problemas são inexistentes, tal como extinta já está declarada a esperança num futuro melhor.

“Quem diria que ia ser amor à primeira vista?” é parte do slogan promocional desta nova comédia dramática (ou será mais um drama com alguns tons de graça?) que nos chega hoje às salas, numa história de António-Pedro Vasconcelos e Tiago R. Santos. Mas tal como o filme nos mostra, e as variadíssimas entrevistas que o realizador tem feito nas últimas semanas, a história que rodeia os dois protagonistas consegue ser um pouco mais do que uma recriação fácil de um cliché cinematográfico que todos nós já vimos antes (não ambicionando, por isso, centrar-se nessa ideia que tanto está a ser publicitada). O trailer fala por si, e os diálogos que nele ouvimos também: esta é uma trama de emoções narrativas, mas acima de tudo um relato humano que tenta captar algum do espírito deste Portugal desesperado.

E é por isso que Os Gatos Não Têm Vertigens consegue ir mais além do que aquilo que parece prometer. As más línguas podem apontar o que quiserem na feitura do filme, na construção da história ou na sua mise-en-scène, mas não há dúvida que, para além de ser um interessante filme “comercial” (conceito do demo que provoca arrepios precipitados em muito boa gente), este é também um exemplo de storytelling com toques mainstream e convencionais – mas um convencionalismo com alguma originalidade e que, sejamos sinceros, consegue ser agradável.

O debate sobre a importância do cinema comercial em Portugal vai longo (no Paleolítico já nem era considerado novidade), monótono e desinteressante, com uma troca aparentemente eterna de galhardetes entre aqueles que o desprezam e os que o consideram a essência do mercado nacional. Não querendo tomar nenhuma posição extrema nessa feroz batalha inescrupulosa, que envolve também o duelo entre “o que pode ser visto” e “o que não pode” (hum, sente-se algo de ditatorial nestas expressões, não é?), talvez seja importante assinalar isto: fossem todos os filmes portugueses mainstream como Os Gatos Não Têm Vertigens e esse tipo de filmes poderia ser feito de outras formas, mais apelativas e conseguidas. Sim, porque este garoto ainda acredita que há uma grande diferença entre o comercialismo de um filme de António-Pedro Vasconcelos e o comercialismo de um Sei Lá.

Não vale a pena confundir coisas, porque as diferenças são notórias: a paixão do realizador pelo cinema é evidente (mas essa cinefilia em pouco auxilia a narrativa – e isso é necessariamente mau?) num filme que não tem rasgos de genialidade (era preciso?) ou uma qualquer grande inovação para o panorama artístico nacional (e isto? Também era indispensável?). Mas tem um ou outro pormenor delicioso que faz com que se destaque. Um deles é a maneira utilizada para mostrar o começo inevitável da narrativa: um notável plano-sequência, que acaba por dar um aspeto muito mais revelador a uma série de situações que são encadeadas da maneira mais previsível possível.

De previsibilidade se fala, também, em todo o resto da história. Serão poucos os que não conseguirão adivinhar, a cada cena, o desenrolar dos acontecimentos que viverão Jó e Rosa (e já que falamos de Rosa, convém não esquecer que a grande surpresa do filme, claro está, é a impecável Maria do Céu Guerra). Mas o entretenimento (outra palavra execravelmente diabólica nesta nossa linda terra) está conseguido de uma forma que nos faz interessar, ainda assim, pela história do princípio ao fim. Nem todas as estreias de cinema podem ser candidatas à maior obra prima do mundo, ou à aclamação da cinefilia. Não, há espaço para filmes com objetivos já usados, e abusados. Mas há que distinguir aqueles que fazem o bom e o mau trabalho dentro destas circunstâncias tão precisas de se fazer cinema.

Se este fosse um produto de rotina da indústria americana, não estariam em questão problemas tão próprios e recorrentes que povoam a nossa opinião pública, e esta crítica teria seguido um fio condutor mais regular. Mas minhas senhoras e meus senhores, teve de ser. Porque entre tanta historinha dos states para fazer chorar as pedras da calçada, a de Os Gatos Não Têm Vertigens consegue ser melhor do que a maioria delas, vencendo na humildade e sentido crítico do seu conjunto. Os propósitos comerciais são idênticos aos dos filmes desse outro país. São totalmente concretizáveis em Portugal? Não. Vão “ajudar” a nossa economia, ou destruir o planeta? Não. Mas podem existir e conseguirem ser o melhor possível, tendo em conta os seus recursos? Com certeza.

Os Gatos Não Têm Vertigens alerta-nos, com sensibilidade, para a crise que tão bem conhecemos, com personagens que, tal como nós, se encontram à beira do abismo, num país que não quer ser para velhos ou novos. Possui “horripilantes” e “indignas” pretensões comerciais. Mas este é um filme com algo para contar. E talvez seja isso o fundamental. Acontece assim, pelo menos, em todos os outros países do mundo.

7.5/10
rui sousa
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Re: Os Gatos Não Têm Vertigens (2014)- António-Pedro Vasconc

Post by rui sousa »

Entrevista a Ricardo Carriço e João Jesus
http://www.espalhafactos.com/2014/10/02 ... oao-jesus/

Entrevista a António-Pedro Vasconcelos
http://www.espalhafactos.com/2014/10/05 ... ndividuos/
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Re: Os Gatos Não Têm Vertigens (2014)- António-Pedro Vasconc

Post by Rui Santos »

rui sousa wrote: September 27th, 2014, 6:29 pm Se este fosse um produto de rotina da indústria americana, não estariam em questão problemas tão próprios e recorrentes que povoam a nossa opinião pública, e esta crítica teria seguido um fio condutor mais regular. Mas minhas senhoras e meus senhores, teve de ser. Porque entre tanta historinha dos states para fazer chorar as pedras da calçada, a de Os Gatos Não Têm Vertigens consegue ser melhor do que a maioria delas, vencendo na humildade e sentido crítico do seu conjunto. Os propósitos comerciais são idênticos aos dos filmes desse outro país. São totalmente concretizáveis em Portugal? Não. Vão “ajudar” a nossa economia, ou destruir o planeta? Não. Mas podem existir e conseguirem ser o melhor possível, tendo em conta os seus recursos? Com certeza.
Permite-me salientar esta tua excelente frase.
Acabo de ver este filme para completar o visionamento da filmografia do APV (e ainda tenho umas criticas em divida aqui para o site)... e só discordo de ti num ponto, para mim é um 9/10 ou mesmo um 10/10.
Que filme maravilhoso, mesmo que previsível, que final maravilhoso e elegante, uma homenagem aos velhos e aos adolescentes, uma história bonita, muito bem filmada, que não deve nada a muitos filmes de hollywood, e a Maria do Céu Guerra que assombro de papel, bem secundada por quase todos.
Servido por uma banda sonora, melhor que muitas das bandas sonoras habituais... o som da guitarra é lindissimo e Ana Moura orgulho-) .

Ao ver o filme só pensei, como é que isto passa tão despercebido e foi tão pouco promovido grr-) , e como APV tem razão em criticar o rumo do cinema português e a falta de apoios.

Anda a passar na TVI uma entrevista do APV que será o meu próximo visionamento, e depois possivelmente passarei por cá para complementar a minha escrita.
Mas fica uma nota de um realizador que terminei o visionamento de quase todos os seus filmes, e que sem dúvida é o realizador mais comercial a filmar em Portugal, e que é excelente. Tomara termos muitos a filmar assim para um publico maior.

Apenas uma critica negativa... detesto o cartaz do filme, parece-me algo plástico e amador, o muro parece cenário e não dá ideia das imagens lindissimas de Lisboa que o filme transmite. Além da colocação dos personagens demasiado artificiais.
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Os Gatos Não Têm Vertigens (2014) - António-Pedro Vasconcelos

Post by Rui Santos »

Ludovico wrote: May 30th, 2016, 6:53 pm Cá vão os filmes que vi desde de Janeiro até agora:
Os Gatos não têm Vertigens:6/10
e não encontrei mais referências ou criticas ao filme. Apenas um post do João Ferreira recomendando o mesmo.... é pouco meus amigos... muito pouco.
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Re: Os Gatos Não Têm Vertigens (2014) - António-Pedro Vasconcelos

Post by rui sousa »

Os cartazes são um problema dos filmes portugueses. Raramente são bons ou apelativos.

Acho que há realizadores mais comerciais que o APV em Portugal (como o Leonel Vieira, o Joaquim Leitão ou o Diogo Morgado, que vai ter filme em breve, com actores tugas a falar... em inglês), mas é o único que consegue fazer filmes mais interessantes e não vergonhosos.

Na altura estiquei um pouco a nota, talvez por ter entrevistado o APV na altura e achar que podia chatear alguém a escrever coisas para um site. Hoje daria um 6/10. Lembro-me de rever na TV e alguns diálogos já me parecerem muito difíceis de engolir.

Recomendo o documentário em duas partes "Um Índio em Pé de Guerra", sobre o APV, que passou na RTP há uns dias. Muito informativo!
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