In http://www.espalhafactos.com/2013/12/27 ... -familiar/Tal Pai, Tal Filho - os dramas e as angústias da vida familiar
O novo filme de Kore-Eda Hirokazu é um retrato sensível, verdadeiro e tocante das vidas e dos dramas de duas famílias japonesas, unidas por um problema difícil que pode destruir os laços entre pais e filhos.
Tal Pai, Tal Filho é uma história de famílias: quando Ryoata (Masaharu Fukuyama) e a sua mulher (Machiko Ono) descobrem que o filho que educaram durante seis anos não é seu, e que foi trocado à nascença na maternidade, tudo vai mudar. Ao conhecerem a família que tem o seu filho, descobrem não só que este foi inserido num meio muito mais pobre que o deles, e que não será assim tão fácil repor a normalidade da situação.
Mas o novo filme do inovador realizador japonês Kore-Eda Hirokazu fala ao espectador dos pequenos grandes problemas que podem surgir no seio familiar, causados ou não pelos membros desse grupo. Abordando ruturas e condições familiares (com a oposição entre a família mais abastada e a outra com menos recursos – mas que consegue ser mais feliz do que a primeira), esta narrativa retrata as novas mentalidades e as novas conceções de família, e as tradições que ainda persistem e os problemas que tanto a modernidade como a “antiguidade” no coletivo familiar ainda podem causar.
A obra liga o espectador ao mundo real que, apesar de tão simples e direto, traz experiências desconhecidas da maior parte das pessoas. Poucos lidaram com uma tragédia tão grande como a dos dois casais de Tal Pai, Tal Filho, e o filme faz-nos questionar constantemente: Se fossemos nós, o que faríamos numa situação destas? Há soluções duradouras para este tipo de problemáticas tão delicadas? Enquanto cada vez mais se nota um desgaste da criatividade cinematográfica, sabe bem regressar às origens e encontrar, na simplicidade da vida, os temas mais profundos e mais propícios para comover e encantar audiências no grande ecrã.
Entre a disciplina rigorosa da família rica e a boa disposição mais acentuada da família pobre, encontramos duas rotinas familiares que nos fazem pensar na tão consistente diferenciação de educação entre os dois status da sociedade. Apesar da aparente força da primeira (muito apoiada pela reputação da profissão do pai), é provável que o espectador se identifique mais com a segunda, onde, apesar do grande drama que irá marcar as duas famílias, há sempre motivo para se encontrar um sorriso nos pequenos nadas da contemporaneidade e das piores condições de vida. Família será mais isso do que qualquer outra coisa, e pelo menos, é essa uma das mensagens mais fortes que Kore-Eda Hirokazu pretende passar com esta história dramática, onde choramos e sorrimos com as coisas que nos parecem familiares e com as quais nos identificamos.
Com uma lindíssima banda sonora e um magnífico leque de atores, Tal Pai, Tal Filho é uma fita poderosa como poucas do cinema contemporâneo, onde se lida com os temas que acabam por tocar a todos os seres humanos e que aos quais, fatalmente, nunca poderemos escapar. É um filme feito para o coração do espectador, com uma candura e uma beleza raras e que apenas se podem visionar nas obras que arriscam ser diferentes, contando histórias que marcam o quotidiano da humanidade.
Ao acompanharmos a dualidade das famílias vemos um retrato que quase se poderia dizer neorrealista (pela grande aproximação ao real que o argumento e a composição dos personagens demonstram), não fosse o facto de termos atores profissionais a desempenharem os seus papéis e o país em análise ser o Japão. Não são precisos nenhuns “tiques” de documentário para se dar essa sensação realista – uma moda irritantemente abusada na atualidade. Esta é uma fábula de uma bonita simplicidade, onde notamos que, para o ser humano entrar em “parafuso” com a sua própria condição, nem é precisa a mais glamourosa e complexa das ficções. Os melhores temas para se fazer cinema podem estar muito perto de nós…
Tal Pai, Tal Filho é um filme onde os pequenos e singulares momentos e movimentos fazem a diferença, quer no todo cinematográfico, quer nas emoções que suscita no espectador. A crueldade inevitável deste tema familiar, acompanhado pela tensão que aumenta entre as duas famílias, cria uma impressionante reflexão sobre a importância dos afetos e dos laços sanguíneos na constituição da instituição familiar.
As maiores dores são as emocionais, e esta é uma obra que lida com elas e com todas as consequências de um problema que, se visto de um ângulo descuidado, não poderá ser compreendido de forma justa. Um dos filmes mais sensíveis e bonitos deste ano de 2013.
8.5/10
Soshite Chichi ni Naru (2013) - Kore-Eda Hirokazu
Moderators: waltsouza, mansildv
Soshite Chichi ni Naru (2013) - Kore-Eda Hirokazu
Re: Soshite Chichi ni Naru (2013) - Kore-Eda Hirokazu
Também já vi o filme e gostei muito. Mais um grande filme do Kore-eda.
Concordo com a excelente análise que o Rui Sousa escreveu.
Concordo com a excelente análise que o Rui Sousa escreveu.
Re: Soshite Chichi ni Naru (2013) - Kore-Eda Hirokazu
Concordo.Mais um grande filme do Kore-eda.
Vi há poucos dias e também achei excelente.
Re: Soshite Chichi ni Naru (2013) - Kore-Eda Hirokazu
Mais um excelente filme do Koreeda, um drama forte mas que não apela ao sentimento barato, muito bem realizado e interpretado!
Tudo que vi até agora deste realizador parece uma preparação para o fabuloso Shoplifters
8.5/10
Tudo que vi até agora deste realizador parece uma preparação para o fabuloso Shoplifters
8.5/10
Re: Soshite Chichi ni Naru (2013) - Kore-Eda Hirokazu
Bom a crónica do Rui Sousa diz tudo...
O 3º filme que vejo deste realizador e estou a gostar imenso da experiência e da descoberta.
O próximo será o "Shoplifters"
Nota: comprei este e o "Airdoll" por 5 paus cada um na Fnac. Quem quiser aproveitar...
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