Pleasantville - Viagem ao Passado
Isto dos filmes é como as cerejas, estava eu a escrever a crítica a O Lado Bom da Fúria e entre Joan Allen, fábula e New Line, deu-me vontade de rever este magnífico filme Pleasantville - Viagem ao Passado, talvez já não tão conhecido por um público mais recente.
Era uma vez... um rapaz moderno (Tobey Maguire, antes de Beleza Americana e Homem-Aranha), cuja vida no mundo moderno, com desgraças, tragédias, guerras e fome, injustiça, uma família desfeita, o levam a refugiar-se nos sonhos. Nos sonhos de um passado perfeito para ele, o de uma velha série de TV a preto e branco, na altura em que a América era inocente, a vida nos subúrbios com famílias ideais, onde todos tinham o seu lugar e tudo era risonho e limpo, a vida perfeita e sem mudanças.
Um dia, esse mesmo rapaz recebe um comando que sem o saber, é mágico e irá transportá-lo ao mundo dos seus sonhos em tons de cinzento. O problema... a sua irmã (Reese Witherspoon), que detesta essa nostalgia, vive apaixonadamente no presente e que por azar (será?), é transportada com ele para esse mesmo mundo mágico a preto e branco. E enquanto o rapaz se integra fácilmente no seu mundo perfeito, ela sente-se entediada e decide divertir-se...
E tal qual uma Eva moderna é o sexo que irá mudar a ordem das coisas. Em resultado uma rosa ganha a cor vermelho, e a cor vermelha começa a quebrar todo o colete de forças deste mundo.
É estranho como a mente e a memória nos pregam partidas. A minha memória dizia-me que a personagem de Reese Witherspoon ao beijar o seu companheiro de saída mudaria a cor dos lábios para vermelho - uma homenagem aos beijos de Cinema Paraíso - mas na realidade ao rever o filme a primeira cor é a rosa vermelha que o acompanhante de Reese vê após o seu encontro sexual.
Seja um libelo contra os regimes autoritários fascistas ou de esquerda, uma denúncia da censura ou dos vendedores de sonhos, poderia apresentar 1001 críticas sobre este filme todas de um ângulo diferente. Um filme sobre a liberdade e sobre o caos, um apaixonado protesto contra o imobilismo. E o uso da cor, a cor que transborda, transgride e revolta-se, um prodígio de imaginação que só poderia ser filmado com as técnicas modernas. Talvez algo de homenagem ao Feiticeiro de Oz. Aliás apesar de não transparecer, o filme teve o maior número de efeitos especiais da altura. Talvez algo comparado ao Avatar nos dias de hoje, mas de uma forma mais subtil.
Existem tantas cenas, fases, referências que poderia discutir deste filme, que poderia passar vários posts só a discuti-las. Por exemplo a quase inversão da atitude dos personagens principais. Embora seja a sua irmã a iniciar físicamente todas as mudanças, na realidade é a personagem de Tobey Maguire que inconscientemente introduz a mudança, quer ao forçar o encontro da irmã, o libertar da personagem de Jeff Daniels que origina o interesse da sua mãe na série, ou a leitura dos livros aos restantes personagens. Livros como As Aventuras de Huckleberry Finn, The Catcher in the Rye ou O Amante de Lady Chatterley que foram na realidade alguns dos mais banidos livros nos EUA.
Um elenco, na altura não propriamente de estrelas de primeira grandeza, interpretam brilhantemente este filme dirigido por Gary Ross, o argumentista de Big com argumento do próprio e produzido entre outros por Steven Soderbergh.
O DVD inclui um óptimo comentário áudio do realizador e argumentista, um documentário e o excelente vídeo da música final do filme, uma cover por Fiona Apple de uma canção dos Beatles, cujas imagens são inspirado numa das cenas do filme.
eu o vejo este fim-de-semana!
