Dersu Uzala (1975) - Akira Kurosawa

[JoséMiguel]

Technicolor, muito bom esse texto do jornal "O Público", pelo Luís Miguel Oliveira. Eu estou totalmente de acordo, tendo em conta que encaro este filme como bom cinema soviético, e não como um filme japonês do Akira Korusawa. Eu adoro este filme, como já devem ter percebido...

No entanto a boa qualidade do cinema soviético não funciona como chamariz para os espectadores portugueses, pois nós crescemos com censura política (bloqueio total do cinema de leste) pela direcção da RTP, durante a Guerra Fria. O isco para um povo subjugado pelo americanismo, como o nosso, terá mesmo de ser o realizador Akira Koruasawa.

[technicolor]

Embora tenha sido finalmente editado em Portugal (este mês?) e o seu preço até seja acessível quero informar a quem interessar espreitar sem pagar nada (com boas legendas em pt) o filme (Dersu Uzala) passará esta noite pelas 00:00h na RTP Memória agora também na TDT. Para mim é talvez um dos mais belos filmes sobre a amizade que vi na minha vida a atingir quase o meio século e com muitas e muitas horas de fitas no "cadastro". Cá por casa existe um edição DVD desde 2006, espanhola, de qualidade manhosa aguardado ansiosamente (desde 2012) pela prometida versão restaurada, em BD de que alguns já ouviram dizer maravilhas. Ficam a dica e os meus votos de Boas Festas a todos os DVDmaníacos. Até 2017

[paupau]

Após vários anos de hype lá consegui ver o filme pela RTP Memória e valeu bem a pena, como disse o Samwise é digno de estar no pelotão da frente do Kurosawa. Gostei do filme ter dois temas principais: a luta Homem vs Natureza e a Amizade, assim mesmo com maiúscula, pois raramente se vê um filme com duas personagens com um relacionamento tão profundo. Nos tempos cínicos de hoje seria um bromance...
Esta última vertente faz distinguir este filme do recente Revenant ou do também soviético Letter Never Sent. O filme de que me lembrei várias vezes foi mesmo o velhinho Nannok.
Uma bela apologia de um modo alternativo de vida, em contato e respeito pela natureza ( a parte do tigre), com o suficiente de aventura e de paisagens deslumbrantes para cativar quem estiver disponível para um filme lânguido como este.
E não tenho qualquer dúvida que a imagem em que aparece o Sol e a Lua simultaneamente inspirou um tal de George Lucas...

[JoséMiguel]

Paupau, julgava que já tivesses visto este filme...

Quem fez o "hype" fui eu....

Mas em 2012, quando criei este tópico, indiquei logo a versão oficial da Mosfilm, na altura antes da parceria com a Google, no stream interno do site do estúdio. Eu sei que nem toda a gente consegue ler legendas inglesas, ver filmes em streaming (com um PC ligado por HDMI à TV da sala) ou ver filmes em SD (qualidade DVD)... No teu caso, qual foi a dificuldade? (Idioma das legendas, stream no PC, ou qualidade SD/DVD).

PS/EDIT: Eu ainda não prossegui o tópico sobre os filmes de Gulags, mas li o teu tópico do "as far as my feet will carry me", e já tinha planeado comentar o que escreveste lá, com um comentário acerca desses povos nómadas estilo esquimós (à falta de termo melhor, que agora não me ocorre) da URSS. Como entretanto viste o Dersu Uzala (com teor pertinente), já ficarás mais prevenido e dentro do contexto, para quando eu responder ao teu tópico...

[paupau]

Foi mesmo ver caps dos DVD no dvdbeaver e sites do género
Já imaginava um filme visualmente espetacular e espreitei a RTPM e tava jeitoso. O as far descobri por acaso é foi com som desincronizado e tudo

Outro exemplo foi o Dekalog que já lia sobre ele há uns 10 anos até finalmente sair uma edição digna desse nome
Espreita essa série polaca que provavelmente irás gostar.

[technicolor]

Não sei se alguém já tinha referido isto por aqui mas para mim é a primeira notícia da existência concreta (depois de tanta espera) de uma edição BD do Dersu embora os comentários sobre a qualidade da mesma não sejam unânimes.

https://www.amazon.it/Dersu-Uzala-Picco ... aycom0c-21

http://forum.blu-ray.com/showthread.php ... &styleid=2

Eu vou esperar mais um pouco até porque parece que só tem mesmo legendas em italiano ('?)

Edit:

A Mosfilm disponibilizou uma nova versão no seu canal do Tube alegadamente em HD (1080p) e supostamente a versão restaurada, com legendas em "english" e "spanish" onde apesar de não se poder comparar à qualidade de uma edção BD dá para perceber uma notável melhoria a nível da cor principalmente ...e ao que parece a duração também é maior

Fica o link para espreitarem se tiverem interesse e se for esse o caso façam o favor de comentar

https://www.youtube.com/watch?v=bp2ihvch45k&t=454s

https://www.youtube.com/watch?v=HVobfdjETew

I'll be back

[technicolor]

Dersu revisitado

Finalmente posso constatar que Dersu Uzala (em BD) "recuperou" a beleza e a frescura doutros tempos, reafirmando-se como uma obra intemporal. A harmonia de cores quase perfeita, os halos de contraluz que recortam as figuras, a luminosidade da floresta pontilhada de cor proporcionada pela folhagem de outono fora de foco... A beleza da sibéria profunda tão bem captada por Fyodor Dobronravov, Yuriy Gantman e Asakazu Nakai em widescreen (70mm) cuja câmera regista com generosidade todo esse cenário natural onde a história se desenrola. A admirável modernidade de alguns enquadramentos... e a estética clássica mas ao mesmo tempo arrojada dos restantes, os movimentos de câmara escassos e precisos. E obviamente também o seu conteúdo permanece apelativo especialmente aos que são mais sensíveis aos valores da fraternidade e do respeito pela natureza: o laço de amizade entre o culto, humanista e generoso capitão Arsenyev e o muito experiente, solidário e ao mesmo tempo inocente Dersu, os soldados, jovens irreverentes, sinceros, que de guerreiros quase nada tem e desconhecem ainda o horror da guerra que se seguirá a este período idílico das suas vidas (a acção do o filme decorre entre 1902 e 1912)
A espontaneidade dos movimentos dos personagens nas cenas correntes e de acção, tudo tão natural, nada parece coreografado como nos épicos ocidentais (ou chineses) e sobretudo a notável a consciência ecológica subjacente num filme de com 42 anos...

Do restauro, supostamente difícil e demorado, quase nada se sabe (dados técnicos são desconhecidos) mas o resultado relativamente ao que havia em edições DVD representa uma melhoria de 200%, principalmente na cor, a imagem essa embora mais nítida está por vezes um pouco soft e se calhar não perderia em ser tratada com um daqueles modernos algoritmos de image quality improvement dos softwares de última geração existentes em algumas empresas dos USA especializadas na área do restauro de obras cinematográficas. Enfim... um raro filme no panorama do cinema russo tão cheio de temas belicosos e heróicos (2ª Guerra Mundial) até à náusea...

Óbvio que comparando com a minha memória da primeira vez que o vi, algures por volta de 1977 deixa um pouquinho a desejar... e também fiquei com a sensação de que a versão então vista seria a versão integral de cerca de 180 minutos mas... a memória por vezes prega-nos partidas De qualquer maneira aguarda-se ainda uma edição da Criterion que dizem mantém interesse mas não deu mais notícias... a generosidade dos russos em disponibilizar este e outros filmes clássicos para visualização gratuita na net poderá ter prejudicado as suas expectativas de lucro.
Só lamento que até agora só tenha aparecido no mercado esta edição italiana mas é a que os fãs incondicionais do filme como eu estão a comprar pois pode vir a acontecer o que sucedeu com o Marketa Lazarova cuja edição BD restaurada R2 está agora a valores obscenos.

[Cabeças]

Vi ontem pela primeira vez, preenchendo assim mais uma lacuna que me incomodava há anos.

Em primeiro lugar, e com todo o respeito e admiração que tenho pela Leopardo, o primeiro impacto foi relativo à má qualidade da imagem. Sem dúvida seria o melhor master que teriam, mas surpreendeu-me muito pela negativa. Fiquei curioso quanto à qualidade da imagem do bluray referido pelo technicolor...

Relativamente ao filme, gostei mesmo muito. A fotografia, os ambientes agrestes em sintonia com a brusquidão e os modos próprios dos soldados, e sem nada o fazer prever, a aparição de um caçador "Nanai" simples mas cheio de carisma e o desenvolvimento da sua amizade com o capitão encarregado de explorar a zona.

É um drama claro, tal como a vida, que é também como um filme que acaba sempre mal: no final, as pessoas morrem sempre. Mas gostei imenso do filme, que faz parte de um certo tipo de filmes que ajuda a redescobrir a magia do Cinema.

[nimzabo]

É um dos meus filmes preferidos de entre todos.
É o Irmãos Karamazov dos filmes.

[technicolor]

Vi ontem pela primeira vez, preenchendo assim mais uma lacuna que me incomodava há anos.
Em primeiro lugar, e com todo o respeito e admiração que tenho pela Leopardo, o primeiro impacto foi relativo à má qualidade da imagem. Sem dúvida seria o melhor master que teriam, mas surpreendeu-me muito pela negativa. Fiquei curioso quanto à qualidade da imagem do bluray referido pelo technicolor...

Relativamente à qualidade da imagem dos bluray (tenho a edição italiana e a edição espanhola) a qualidade não será a que eu tenho de memória da versão de cinema em película mas é francamente superior à do DVD sem dúvida. Poderia tentar colocar aqui uns screenshots mas penso que não daria uma ideia precisa da diferença por isso deixo-te o link para o filme no site da mosfilm https://www.youtube.com/watch?v=bp2ihvch45k&t=999s onde se pode ver a 1080p.



O livro ao centro da imagem é uma edição em espanhol.

[Cabeças]

Relativamente à qualidade da imagem dos bluray (tenho a edição italiana e a edição espanhola) a qualidade não será a que eu tenho de memória da versão de cinema em película mas é francamente superior à do DVD sem dúvida. Poderia tentar colocar aqui uns screenshots mas penso que não daria uma ideia precisa da diferença por isso deixo-te o link para o filme no site da mosfilm https://www.youtube.com/watch?v=bp2ihvch45k&t=999s onde se pode ver a 1080p.



O livro ao centro da imagem é uma edição em espanhol.

Viva, muito obrigado technicolor

[diogogogo]

Essa ilustração da capa espanhola é muito fixe.

Gostei do filme, a dinâmica entre o Dersu e o "capitan" é fantástica e há paisagens que são pérolas. No entanto, não chega aos melhores Kurosawa para mim, e essencialmente pela "segunda parte": o início do filme, quando ainda estamos a conhecer os personagens, é impecável; mas a certa altura fica tudo mais "episódico" e nem todas situações apresentadas têm o mesmo interesse ou qualidade de execução. Acho que no geral fica um filme desequilibrado e que falha o potencial. Ainda assim, muito recomendável, apenas não atinge as expectativas do início nem da obra total do Kurosawa.

[Samwise]

Essa ilustração da capa espanhola é muito fixe.

Gostei do filme, a dinâmica entre o Dersu e o "capitan" é fantástica e há paisagens que são pérolas. No entanto, não chega aos melhores Kurosawa para mim, e essencialmente pela "segunda parte": o início do filme, quando ainda estamos a conhecer os personagens, é impecável; mas a certa altura fica tudo mais "episódico" e nem todas situações apresentadas têm o mesmo interesse ou qualidade de execução. Acho que no geral fica um filme desequilibrado e que falha o potencial. Ainda assim, muito recomendável, apenas não atinge as expectativas do início nem da obra total do Kurosawa.

Não estou concordante que não seja doS melhores, nem que tenha ficado aquém do potencial. O filme tem belíssimas paisagens, e um Kurosawa em excelente forma a enquadrar o elemento humano dentro delas (no sentido literal, e no sentido filosófico), factores com que de resto já estaríamos a contar à partida, mas as suas grandes qualidades estão noutro lado: nos valores genuínos com que firma a amizade entre as duas personagens principais. Não há nada de remotamente próximo neste capítulo na sua restante filmografia - nem mesmo no celebrado Os Sete Samurais, onde também ocineasta se debruça fortemente sobre a matéria. Há uma sequência algures no filme que resume e mostra de forma admirável, e de uma penada essa valia: quando o "Capitan" regressa à selva uns anos depois e se verifica que tanto ele como o Dersu pemanecerem na memória um do outro, e que, acima de tudo, e bem distante de tudo, é a amizade que conta ("Capitão, não leva a espingarda?" "Ás urtigas com isso..."). Esse momento de procura e reencontro é "top"!

É o Irmãos Karamazov dos filmes.

Não li (ainda) e não posso concordar nem discordar, mas é uma bela frase para dizer sobre este filme.

[Samwise]

Houve uma sequência do filme de que me recordava bastante bem - a da construção da cabana de feno durante a tempestade, talvez porque me me veio à memória a propósito de um outro filme, quando o vi (o The Revenant do Iñárritu) - mas em termos estéticos e artísticos saltei da cadeira com esta outra fabulosa (e de que me lembrava zero):

[diogogogo]

Há uma sequência algures no filme que resume e mostra de forma admirável, e de uma penada essa valia: quando o "Capitan" regressa à selva uns anos depois e se verifica que tanto ele como o Dersu pemanecerem na memória um do outro, e que, acima de tudo, e bem distante de tudo, é a amizade que conta ("Capitão, não leva a espingarda?" "Ás urtigas com isso..."). Esse momento de procura e reencontro é "top"!

Sim, sem dúvida uma das melhores cenas do filme. Hei-de rever, se bem que quando o fizer tenho de estar atento e encontrar uma versão de boa qualidade, porque tenho memória da que vi ser algo manhosa (e já vi falarem dessa questão nesta thread). Há uns 2 ou 3 meses a RTP2 andou a fazer uma espécie de retrospectiva do Kurosawa, mas penso que este não foi um dos que passaram ("penso" porque na realidade não vi nenhum nessa altura, a minha mãe é que andava a ver e ia comentando).