Léon (1994) - Luc Besson
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Léon (1994) - Luc Besson
Fita que obrigatoriamente terá de ser incluída em qualquer lista sobre filmes de maior culto dos anos 90 (e mesmo de todo o século XX), «Léon, o Profissional» trata-se de um denso e refrescante thriller elaborado com o toque cinematográfico de Luc Besson, um cineasta que, ultimamente, tem preferido dedicar mais o seu tempo a um certo franchise de bonecada, do qual não voltarei a referir ao longo desta crítica, mas também elaborou um ou outro projeto interessante a que, infelizmente, o mercado não deu tanta atenção, em favor dos ditos "bonecos". Estreado originalmente no ano de 1994, mas com um impacto que perdurou até aos dias de hoje, «Léon, o Profissional» é um filme amado por uns e vexado por outros, mas que se revela ser uma obra com muitas poucas características estabelecidas entre os limites da vulgaridade, quer pela forma como conta a sua história, como pelas "ferramentas" estéticas e formais inovadoras utilizadas por Besson nas variadíssimas cenas de diálogos ou de ação, nunca perdendo o seu ritmo e a atenção do espetador.
«Léon, o Profissional» tem uma narrativa aparentemente simples, mas que é relatada de uma forma original, apelativa e completamente viciante, adjetivos esses que se podem aplicar ao filme desde o seu início, com a fantástica cena, poderosa e inesquecível, que abre a obra, e que nos faz pôr de parte qualquer estereótipo que estejamos à espera que definem muitas fitas deste género. Interpretado por Jean Reno, um dos mais carismáticos atores franceses das últimas décadas (a par, por exemplo, do genial Gérard Depardieu), Léon é um assassino profissional muito pouco normal. Trata-se de uma personagem muito interessante e, em certa medida, com piada. Não porque Léon seja um indivíduo todo galhofeiro e entertainer em qualquer jantar de família. Muito pelo contrário: Léon é aquele fulano que não participa na conversa e que prefere estar no seu cantinho (e, no caso do personagem, gosta de dar parte do seu tempo livre a cuidar de uma planta, que muito estima e que considera ser a sua melhor amiga), e que no entanto não aparenta ter o ar que a sua profissão "exige" (ninguém imagina à partida, como assassino profissional, um fulano com o aspeto e "psicologia" de Léon!). Ou seja, a parte piadesca da personagem de Léon tem mais a ver com o seu caráter e fisionomia, que me fez lembrar, em parte, um certo desenho animado tosco que via em pequeno, mas cujo nome a memória não me auxilia a descobrir. Não sei porquê, mas lembrei-me disso! Talvez por isso posso considerar que Léon é o único assassino que até não me importava de ter como vizinho. Isto é, se eu não pertencesse a alguma organização criminosa ou algo parecido (não queria ter de viver na ansiedade de, algum dia, um meu rival contratar o Léon para fazer o seu trabalhinho à minha pessoa!). Além de nutrir alguma simpatia junto da audiência, Léon é capaz de ser, também, o único assassino profissional a seguir um estilo de vida saudável, sem tabaco e álcool, mas com muito leitinho. Deve ser esse o segredo do sucesso dos seus trabalhos, visto que o cálcio fortalece os ossos... OK, esqueçamos esta frase ridícula e prossigamos com esta análise.
O filme conta a história, então, do assassino Léon, e de Mathilda, uma rapariga de doze anos que perde a família devido a um "massacre" por um lunático e psicótico agente da polícia (não deixa de ser irónico que o homem da lei seja o passadinho da cabeça e o outro o mais são...), que aproveita o seu estatuto dentro da Lei e da Grei para agir onde lhe apetece, quando lhe apetece, e como lhe apetece. Mathilda, que quase co-protagoniza a fita com Léon, é interpretada pela atriz (à época, ainda menor de idade), Natalie Portman, num papel surpreendente da adolescente que pretende vingar-se do implacável chui utilizando as "técnicas" do trabalho de Léon. E apesar de ser ainda muito nova, Portman mostrava já ter grandes probabilidades de conseguir atingir um grande futuro e uma carreira de topo no mundo da representação, algo que, ao longo dos anos, o público e a crítica tem sempre destacado (Natalie Portman é uma das grandes atrizes da indústria norte-americana e que, entre filmes com mais ou menos qualidade, mostra sempre o seu enorme talento - veja-se o arriscado e paranormal «Cisne Negro» de Darren Aronofsky, que valeu a Portman a premiação com o Oscar da Acadamia para Melhor Atriz), e «Léon, o Profissional» foi o primeiro passo e uma experiência fulcral na aprendizagem da atriz nas grandes lides cinematográficas. Constrói-se uma relação improvável, quase com contornos familiares, entre Léon e Mathilda, e que é impossível deixar despercebida: sem sentimentalismos desnecessários ou qualquer cliché dramático, temos uma boa e inesquecível química entre os dois atores. E além da enorme surpresa que pude contemplar nos papéis de Jean Reno e Natalie Portman, não me posso esquecer talvez do ator que me deixou ainda mais surpreendido: Gary Oldman, que interpreta o polícia psicopata, faz, provavelmente, um dos vilões mais maléficos e complexos que já vi no Cinema, mostrando também a grande versatilidade e criatividade de um ator que ainda hoje é muito conceituado e aclamado (como no filme «A Toupeira», baseado no romance de John Le Carré, do qual é o protagonista e que lhe valeu uma nomeação para o Oscar de Melhor Ator).
«Léon, o Profissional» não é um filme que pretende dar lições de moral, visto que não segue personagens com condutas ou modos de vida que se adequem à ética de cada um de nós, visto que se trata da história de duas personagens que são completamente outsiders da realidade que vivemos. Por isso, a obra de Luc Besson poderá chocar as mentes mais sensíveis, não sendo, também por isso, aconselhável para pessoas muito influenciadas pelo que veem nos atos que cometem no dia a dia, ou para aqueles que ainda não chegaram à idade de conseguirem pensar por si próprios (porque, c'os diabos, ninguém quer por aí mini-assassinos profissionais espalhados pelo Mundo, que se tornaram em tais tipos por terem visto filmes como este - e pior, se fosse segundo a minha sugestão! Por isso deixo aqui a declaração de responsabilidade ao leitor). A banalidade com que é retratada a carreira e os métodos profissionais de Léon poderá não ser considerada correta para ser mostrada na ficção, mas acho que só assim é que conseguimos sentir a realidade da situação do personagem: para ele, aquilo é o seu trabalho, algo que faz parte do seu quotidiano algo entediante e movimentado ao mesmo tempo.
Para terminar, apenas concluo que gostei muito deste filme, e que nos dá a conhecer uma mentalidade e uma realidade que nos passa completamente ao lado, visto conseguir sempre passar tão discreta da opinião pública (que há aí gente contratada para fazer com que certas pessoas faleçam, não o posso negar - apesar desse negócio, em Portugal, ter de ser diminuído à condição deste nosso país), e que por isso, nos é quase inconcebível e inacreditável. «Léon, o Profissional» é uma grande obra com uma história pouco complexa mas ainda menos convencional, e que consegue ser convincente e que muito bem realizada, escrita e interpretada. Luc Besson e Jean Reno conseguiram deixar a sua marca nos EUA, com este filme que, apesar de talvez ter sido um pouco sobrevalorizado, é completamente imperdível!
* * * * 1/2
Re: Léon (1994) - Luc Besson
É um dos filmes que mais gosto me deu ver até hoje, e que já revi várias vezes!
Aliás se repararem por baixo da minha assinatura, no link para a minha colecção... quem já viu o filme vai perceber logo!
Aliás se repararem por baixo da minha assinatura, no link para a minha colecção... quem já viu o filme vai perceber logo!
Cabeças
Re: Léon (1994) - Luc Besson
Exatamente Cabeças! Ia referir isso e esqueci-me. Quando ouvi a frase no filme deu-se aquele clique na memória... :D
Re: Léon (1994) - Luc Besson
Pela primeira eu assisto inteiro, mesmo sendo um grande filme com uma interpretação da Natalie Portman ficava adiando, mas pela safra do ano me serve para suprir essas lacunas
Re: Léon (1994) - Luc Besson
Vi-o à relativamente pouco tempo e acabei por pensar("porque não vi este filme antes"???).
Em 1994,tinha 16 anos e não gostava deste género de filme,não era o meu género de filme.Era muito novo para o poder apreciar como deve ser.Pois bem,depois disso os anos foram passando e o meu interesse por ele esfreou mais curiosamente e nunca mais tive interesse em ver.À uns meses,porém passado muitos anos deu-me a predisposição e deu na televisão e fiquei verdadeiramente espantado!!!.Poucos filmes tratam a temática exposta com tanto pragmatismo e argucia como este filme consegue expor.Não tenho dúvidas que sé com 30 ou mais anos é que se começa a ser cinéfilo como deve ser.De Besson vi vários filmes sendo que o melhor será "Big Blue",embora ele tenha outros filmes muito bons.Este"Léon" é mais um fabuloso a somar à sua carreira de alguns altos e alguns baixos também.León,é uma reflexão verdadeiramente retumbante sobre a forma de atuar de um assassino profissional francês.O seu dia a dia e ramificações familiares e seus códigos de ética muito bem vincados.É um filme orquestrado com grande intensidade e dinamismo narrativo.Jean Reno tem aqui um desempenho notável,a personagem está urdida,feita à medida da sua aparência física.Natalie Portman,é,talvez,a grande surpresa do filme,a sua personagem de miúda rebelde e má onda,é aqui trabalhada com uma intensidade estupenda.A relação entre estes 2 personagens é,talvez,das melhores relações contraditórias e perturbantes que se fizeram sobre esta temática em muitos anos.Aqui a química entre ambos e os diálogos encerram uma grande ironia porque são ambos maus mas com coração de ouro.É esse o choque pessoal e o resultado do seu relacionamento quase familiar.Poucos maus da fita têm tanta simpatia com personagens como eles têm.O filme é um filme cinzento,isto é,os maus não são maus a 100 por cento nem bons a 100 por cento.Luc Besson organiza e realiza a história com grande arrojo narrativo com várias sequencias muito boas de montagem cinematográfica que apesar der serem marcantes deviam ter sido mais em número para o filme atingir o seu auge supremo mais condignamente e mais apoteótico.Ainda assim,apesar de não ser uma obra prima como era,para mim alcançável.O resultado global é verdadeiramente sensacional de tão duro de análise de tão magistrais interpretações.
Nota:8 em 10
Em 1994,tinha 16 anos e não gostava deste género de filme,não era o meu género de filme.Era muito novo para o poder apreciar como deve ser.Pois bem,depois disso os anos foram passando e o meu interesse por ele esfreou mais curiosamente e nunca mais tive interesse em ver.À uns meses,porém passado muitos anos deu-me a predisposição e deu na televisão e fiquei verdadeiramente espantado!!!.Poucos filmes tratam a temática exposta com tanto pragmatismo e argucia como este filme consegue expor.Não tenho dúvidas que sé com 30 ou mais anos é que se começa a ser cinéfilo como deve ser.De Besson vi vários filmes sendo que o melhor será "Big Blue",embora ele tenha outros filmes muito bons.Este"Léon" é mais um fabuloso a somar à sua carreira de alguns altos e alguns baixos também.León,é uma reflexão verdadeiramente retumbante sobre a forma de atuar de um assassino profissional francês.O seu dia a dia e ramificações familiares e seus códigos de ética muito bem vincados.É um filme orquestrado com grande intensidade e dinamismo narrativo.Jean Reno tem aqui um desempenho notável,a personagem está urdida,feita à medida da sua aparência física.Natalie Portman,é,talvez,a grande surpresa do filme,a sua personagem de miúda rebelde e má onda,é aqui trabalhada com uma intensidade estupenda.A relação entre estes 2 personagens é,talvez,das melhores relações contraditórias e perturbantes que se fizeram sobre esta temática em muitos anos.Aqui a química entre ambos e os diálogos encerram uma grande ironia porque são ambos maus mas com coração de ouro.É esse o choque pessoal e o resultado do seu relacionamento quase familiar.Poucos maus da fita têm tanta simpatia com personagens como eles têm.O filme é um filme cinzento,isto é,os maus não são maus a 100 por cento nem bons a 100 por cento.Luc Besson organiza e realiza a história com grande arrojo narrativo com várias sequencias muito boas de montagem cinematográfica que apesar der serem marcantes deviam ter sido mais em número para o filme atingir o seu auge supremo mais condignamente e mais apoteótico.Ainda assim,apesar de não ser uma obra prima como era,para mim alcançável.O resultado global é verdadeiramente sensacional de tão duro de análise de tão magistrais interpretações.
Nota:8 em 10
"Sempre as horas,as horas,as horas......"