Before Midnight (2013) - Richard Linklater

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Samwise
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Re: Before Midnight (2012) - Richard Linklater

Post by Samwise »

Pois, tens razão. Eu até costumo ser cuidadoso com os spoilers, mas lamentavelmente passou-me neste caso. :oops:
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Rui Santos
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Re: Before Midnight (2012) - Richard Linklater

Post by Rui Santos »

Samwise wrote:Pois, tens razão. Eu até costumo ser cuidadoso com os spoilers, mas lamentavelmente passou-me neste caso. :oops:
Não tem problema. Fui rápido... :-D A culpa é mais da critica em si, que imho entra demasiado no filme e no futuro depois do filme. Consegui ler a mesma e para logo que vi que ia contar mais do que eu queria saber.
Para mim só me interessa que eles os dois participam neste filme ponto :) O resto descubro depois. Queria era uma data de estreia...

E para os que não leram... tenham cuidado com o Público que na sua critica conta um pouco do filme. Evitem ler a critica que está no site online... a não ser que sejam mesmo curiosos.
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Rui Santos
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Re: Before Midnight (2012) - Richard Linklater

Post by Rui Santos »

Editado o primeiro post com links para os tópicos dos filmes anteriores.

E para quem não os viu (SHAME) estão a dar agora na FoxMovies...
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by ruben »

Estreia hoje.

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IMDB


Sinopse:

Jesse é um pai de família norte-americano, que acaba de deixar o seu filho Hank no Aeroporto de Kalamata, na Grécia. Hank está de regresso a casa da mãe, nos Estados Unidos, depois de passar o "melhor verão de sempre" com o pai e a sua família. O rapaz acaba por estar mais sereno do que o seu pai, que sofre de ansiedade nestes momentos, já que é quem mais sofre com a distância física. Fora do aeroporto, Jesse tem à espera a sua mulher Celine e as suas pequenas filhas gêmeas Ella e Nina. Jesse é um romancista de sucesso e está na Grécia para um “retiro de escritor”, com a família instalada na bucólica casa de campo do velho escritor Patrick. À medida que viajam de carro através das belas encostas rochosas de Messinia, Jesse e Celine conversam sobre o fato de viverem tão longe de Hank, sobre a carreira de Celine como ambientalista e a perspetiva de um novo emprego, e sobre as mudanças que assistem ao seu redor da antiga Grécia para a moderna. Jesse sugere mudarem-se de Paris para os Estados Unidos, mas eles já viveram em Nova Iorque e Celine não tem vontade de regressar. A longa história que tiveram juntos começa a ressurgir. Jesse é dado a divagações fantasiosas que encantam os seus anfitriões, mas que começam a cansar Celine, que no passado desempenhou um papel de protagonista nos romances autobiográficos do marido, mas que está agora pouco interessada em servir de musa francesa para a sua carreira literária. Os amigos decidem presenteá-los com uma noite num hotel de luxo à beira-mar, e enquanto Jesse e Celine passeiam por uma paisagem espetacular, gozando da companhia um do outro, conversam, brincam, discutem, namoram. Mas a realidade do dia-a-dia acaba por se intrometer aos poucos: as crianças, o trabalho, as ambições, as deceções, o amor romântico e a evolução da relação. E assim, a noite idílica que os espera irá testá-los de maneiras inesperadas.

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Rui Santos
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Rui Santos »

Visto esta noite.
Depois voltarei para escrever algo, mas é um filme tão bom quanto os outros, apenas mais duro de ver. O papel dos dois é como sempre brilhante e existem momentos onde se deixa de pensar que é um filme e pensamos que estamos a ver a vida real. Isso diz quase tudo sobre como este filme sobe ainda um pouco a fasquia, e de como as interpretações estão perfeitas.
Será difícil escrever sem entrar em muitos spoilers, eu fiz questão de nada saber antes de ver o filme. (ou seja entrei na sala a pensar... sei que se vão reencontrar neste filme, mas o que se passou nos últimos 9 anos?)

Depois ao ver o filme, sem dúvida que alguns de nós se irão rever mais nas personagens que outros, acho que é impossível a alguém de 20 anos saborear este filme, da forma como eu o saboreio. Verá com certeza um filme diferente.
Depois voltarei a escrever, até lá... 10/10 sem dúvida nenhuma, e é mais um dos filmes da minha vida.
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Cabeças »

Rui Santos wrote:Visto esta noite.
Depois voltarei para escrever algo, mas é um filme tão bom quanto os outros, apenas mais duro de ver. O papel dos dois é como sempre brilhante e existem momentos onde se deixa de pensar que é um filme e pensamos que estamos a ver a vida real. Isso diz quase tudo sobre como este filme sobe ainda um pouco a fasquia, e de como as interpretações estão perfeitas.
Será difícil escrever sem entrar em muitos spoilers, eu fiz questão de nada saber antes de ver o filme. (ou seja entrei na sala a pensar... sei que se vão reencontrar neste filme, mas o que se passou nos últimos 9 anos?)

Depois ao ver o filme, sem dúvida que alguns de nós se irão rever mais nas personagens que outros, acho que é impossível a alguém de 20 anos saborear este filme, da forma como eu o saboreio. Verá com certeza um filme diferente.
Depois voltarei a escrever, até lá... 10/10 sem dúvida nenhuma, e é mais um dos filmes da minha vida.
Credo! Fiquei mesmo contente ao ler a tua crítica! :-D Ainda não vi este 3º filme, mas agora já não duvido que esta trilogia é absolutamente mágica! orgulho-)
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DarkPhoenix
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by DarkPhoenix »

Eu até tenho "medo" de ver este filme.
Esperarei pela edição BR.
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Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Rui Santos »

Vou tentar escrever algo com dois tipos de spoilers, quem sabe do que se trata este filme, e quem viu o filme.
Eu como o disse mais acima, fui ver o filme sem saber o que se passou nestes 9 anos, se estiveram ou não juntos, se estão ou não juntos. Apenas sei que se encontram neste filme. Foi uma opção minha (que me fez por isso colocar em spoiler a critica do filme na página anterior).
Acho que o trailer, e mesmo a sinopse abrem um bocado o filme (como quase todos) mas para mim este é um caso que prefiro ir às cegas.

Antes de entrar na zona de spoilers, li algures na net algo que ainda não tinha lido por aqui sobre os filmes.
...
This is a dialogue driven film, meaning it’s basically like theater. It’s a movie with very little scene changes, and the heart & soul or the “meat” of the film are just actors in a room talking.
...
If you’re an adult, go see this film, end of conversation.

In: http://theartofcinema1.blogspot.pt/2013 ... -love.html

Confesso que só ontem me apercebi, da ligação destes filmes ao teatro, e ao trabalho que dá fazer parecer uma improvisação aquilo que foi trabalhado e trabalhado até ser filmado. A estrutura deste filme é mais parecida com o primeiro, pois não é tanto em tempo real como foi o segundo filme.
Mas é o mesmo género de filme, onde estamos quase duas horas a ver duas pessoas (por vezes mais) a conversar, por isso para os haters dos primeiros... fugam deste.
Outra coisa que não me sai do pensamento, é a coerência das personagens. Chega a irritar ver tanta perfeição nas personagens, perfeição no sentido de percebermos que quem somos aos 20/30/40 é diferente mas existe um corpo do nosso eu que se mantém sempre. E isso nota-se de forma ainda mais perfeita neste filme, pois é neste que surgem as maiores mudanças, e eles estão diferentes, mas os seus sonhos, tristezas, fobias, loucuras etc são os mesmos do que quando tinham 20 anos e eram apenas jovens.

Explicado isto, fica uma parte da minha opinião em spoiler, mas sem revelar nada do filme ... ou seja se viram o trailer, ou leram a sinopse um pouco mais acima podem ler à vontade.
Seria necessariamente um filme diferente, a partir do momento em que sabemos que eles tiveram juntos e que tem agora duas filhas. Quem é Pai (e não só), sabe que isso muda as pessoas obrigatoriamente e que o tempo passa a contar de uma forma diferente.
Enquanto os primeiros dois filmes são sobre o enamoramento (e já aqui tinha escrito isso, não existe um desgaste de relação, pois a mesma não existe entre o primeiro e o segundo filme), este existe o desgaste e o nascer... podemos dizer romanticamente do amor.
São duas pessoas, que vivem juntos, e que se amam, discutem etc... ie tornam-se um casal normal, com uma vida normal. Seria impossível por isso este ser um filme onde tudo é paixão, amor e sonhos.
O filme tem um crescendo tremendo, o início do filme no aeroporto e a volta para a casa de férias serve para irmos entrando de novo nas personagens, e perceber com um simples plano num carro como tudo muda (nesse plano, a diferença é haver duas filhas no banco de trás).

É difícil perceber quanto dos atores estão nas personagens, e quanto de nós nós vemos nas personagens. Mas é óbvio que o filme continua a viver um pouco disso. Se formos Pais então ainda mais saboreamos o filme, embora o filme não seja sobre isso seja acima de tudo sobre o amadurecer de uma relação e os problemas e mudanças que isso trás.
Mas o sonho, a paixão, a visão de um futuro são substancialmente diferentes no filme, que ironicamente foi filmado na Grécia (embora segundo li no Público pela amizade do realizador com uma amiga grega). E em todo o caso um pouco irónico este filme mais duro e menos sonhador seja feito na grécia explorando de forma qb a sua beleza natural.
A partir daqui acho que devem ler apenas se viram o filme, pois irei discutir algumas cenas mais detalhadamente.
O filme deixa um sabor amargo, muito duro considerando a discussão dos mesmos na segunda parte do filme. É demasiado real para ser verdade, e chocou-me ver como estes personagens também são pessoas normais com problemas normais. O pequeno twist final deixará algo em aberto e serve para não sairmos do cinema completamente arrasados.
Eu acho que o facto do Jesse ter percebido que ou ia ter com a Celine imediatamente ou o seu casamento acabaria naquela noite é fundamental para o futuro da relação. Não sei se o que disseram (e foram ditas algumas coisas demasiado duras) poderão ser apagadas, mas sei que eu sai do cinema com esperança e mais otimista, mas curiosamente a minha mulher é mais pessimista.

Toda a cena do hotel, é filmada de uma forma tão natural... engraçado que ao ver o peito da bela Julie Delpy isso nos distrai, mas depois ao refletir na cena vemos como isso é demasiado parecido com a vida real. É uma casal a discutir, o facto de ela ter um vestido em baixo é natural, e vemos como a camera quase parece invisível e sentimos que nós espectadores estamos a invadir a privacidade das personagens.
Da mesma forma, o facto de eles terem por fim tempo para conversarem em toda a cena a caminho do hotel é um pouco uma homenagem e um piscar de olhos aos filmes anteriores, quase algo como quando estamos os dois sozinhos continuamos a ser os mesmos.

A cena do jantar (curiosamente pela luz eu diria almoço) é também um bom momento, onde todas as personagens têm uma intervenção que gostarei de rever, e foram ditas coisas muito bonitas, mas logo ai Celine quase que parece antecipar que está a explodir...

Mas no fim o que fica, Jesse e Celine são as mesmas personagens, mas agora foram "castigados" com a vida real... e nesta existem empregos, filhos, dinheiro, ex-mulheres, amigos etc etc E não estando na fase do enamoramento isso aparece mais e molda-nos.
Irei continuar a por por aqui alguns links do que vir interessante sobre o filme, mas é com tristeza que vejo as receitas que este filme está (não está) a gerar.
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Rui Santos »

Em pré-venda na Fnac, sai dia 16/10/2013
A 15€ o filme, e a 25€ o pack com os 3 filmes.

Não vi edição BD para venda. Vi numa revista que o filme (o pack) é exclusivo Fnac.
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Cabeças »

Já vi! :-D

O filme é realmente duro de ver, sobretudo quando comparado com a sensação que os dois primeiros transmitiram na altura do visionamento.

Basicamente na minha opinião, os outros dois filmes foram sobre encantamento, e este versa sobretudo sobre desencanto.
A cumplicidade e o encantamento entre os dois quase desapareceu, soterrrada progressivamente por debaixo de camadas de anos, de vida passada, de filhos, de problemas vários. A crise da meia-idade, sobretudo no caso da Céline, possivelmente com a menopausa a espreitar, termo que não é abordado nem ao de leve, poderá também estar relacionada com o rasgar da magia entre os dois. Começou logo a custar-me imenso na conversa ao jantar com o conjunto de amigos (por vezes um certo cheirinho aos filmes do Woody Allen nesta altura), com ela a acusá-lo e a criticá-lo à frente de todos. Pensei logo que a partir daí só poderia piorar, e não me enganei.

A nossa Celine ficou uma cabra. Lamento dizê-lo e aceito estar algo pré-condicionado pelo efeito de género, embora pense que não. Mas durante todo o filme, vi o Jess sempre a ser conciliador, positivo, sempre a fazer um esforço até para ser bem humorado. A Celine nunca parou de fazer críticas e acusações, na maior parte das vezes com uma tromba fechada que me chegou a meter medo. Onde estava a rapariga que quase me fez apaixonar por ela nos outros filmes? Quem é esta megera que a substituíu? Bitch!
Esta trilogia fica na história do Cinema pela originalidade e particularidade de serem os mesmos actores a personificarem as mesmas personagens em ciclos de mais ou menos 9 anos de diferença. Continua a sentir-se a "normalidade" das conversas entre os dois, que flui naturalmente, dando a impressão que é mesmo real o que estamos a ver. Mas como referi, nos outros dois filmes era muito bonito de se assistir. Aqui é realmente como referiu um amigo meu, um autêntico "murro no estômago". Aliás na minha opinião, são uma data deles!

No fundo a trilogia acaba por ser um retrato de muitas situações reais. Com o tempo, há a tendência para a paixão e o encantamento irem sendo substituidos pelos problemas, as pequenas (e grandes) coisas que nunca são abertamente faladas, pela rotina, pela habituação, pelos desencontros e por muitos ressentimentos. Sobretudo, às vezes parece que as pessoas se encontram (ou desencontram) em "tempos" diferentes.

Assustadoramente real este filme, na minha opinião. E o conjunto dos três filmes vale também e sai a meu ver enriquecido com este terceiro. Penso que a aposta do Richard Linklater em apostar na realidade em vez de nos apresentar com mais um conto de fadas, acrescenta bastante credibilidade aos filmes.

E fica a esperança, claro.

E este vídeo que acho se adequa muito bem (com a devida vénia à Wavey):

Cabeças
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Helldr
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Helldr »

Se este é um "murro no estômago" como será daqui a nove anos? Parece que a ideia é continuarem a saga, o que acho curioso.
THX
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by THX »

Daqui a 9 anos??

Violência doméstica, quase que aposto...
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Bladder »

Espero que não venham com o cliché de daqui a 9 anos um deles estar doente e apesar de já não sentirem o mesmo um pelo outro permanecerem juntos em memória daquilo que foi e aconteceu, com muito cliché à mistura.

Agora, a Céline ter-se tornado algo bitch não me supreende, ela sempre foi cheia de si própria, opinosa até chatear, sempre a querer ter a última palavra, obviamente que envelhecendo deve sentir-se traída pelo seu corpo, as mulheres envelhecem de maneira diferente dos homens, a Céline progrediu assim, podia ter sido de outra maneira mas as pessoas mudam, até pode ser uma mulher mais serena daqui a 9 anos, são fases.
Disclaimer: As opiniões aqui expressas são de minha inteira responsabilidade e não refletem, necessariamente, a opinião do Fórum.
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by rui sousa »

Nove anos depois de «Before Sunset», e 18 anos após o primeiro encontro em «Before Sunrise», Céline e Jesse voltaram aos Cinemas com «Before Midnight». Refletindo a crise da meia-idade e do facto das duas personagens terem já passado a barreira dos quarenta, esta dupla de personagens constitui um caso raro no Cinema contemporâneo: são poucas as histórias que conseguem captar tanto o espectador como a evolução e a comédia dramática da relação dos dois de nove em nove anos. A paixão de milhões de admiradores por esta trilogia vai para além do próprio Cinema, porque é para muitos um conjunto de obras que lhes diz muito e a que é impossível classificar. E não é preciso nada muito complexo para explicar o fenómeno de culto da saga «Before»: este terceiro capítulo mantém o espírito dos outros dois, pontuando com longas conversas (e poucas cenas, que são muito grandes em extensão e algumas delas não têm qualquer corte - veja-se com atenção o quão difícil deve ter sido preparar uma das primeiras cenas, a da viagem de carro depois de terem ido deixar o filho de Jesse, que ouvimos falar em «Before Sunset», e onde vemos apenas Céline e Jesse com as conversas banais e profundas quase em "tempo real" que, confessemos!, já tínhamos saudades de reencontrar) e com estes constantes confrontos com a nossa perspetiva das coisas. É que, tal como eles, os espectadores cresceram, ficaram mais velhos e viveram novas experiências, e continuamos desde sempre a pensar na nossa realidade. Contudo, a idade dá-nos novas opiniões e reflexões que, noutras etapas da nossa existência, não seríamos capazes de perceber. «Before Midnight» dá um salto existencial em relação aos seus antecessores (tal como «Sunset» fez com o primeiro filme - a filosofia aumenta de capítulo para capítulo), mostrando-nos como é interessante ver o que mudou e o que ficou nas personagens, no seu relacionamento (e algumas coisas são verdadeiramente insólitas) e no seu caráter. As coisas não estão na mesma, e talvez o charme deixado pelo final da segunda fita pudesse dar a entender um final eterno e onde no qual tudo era Cinema... mas esta nova sequela mostra-nos que «Before...» não quer ser uma história a que se possa chamar "uma coisa que só acontece nos filmes". Querem aproximar-se cada vez mais de nós, espectadores, com dilemas e situações cada vez mais intimistas e fascinantes. E conseguem mesmo essa aproximação!


Em «Before Midnight», Jesse e Céline têm agora duas filhas gémeas em comum e uma vida mais complicada, com problemas e dilemas ausentes dos primeiros dois filmes e do facto de ambas as personagens já não serem jovens como antes. Céline está mais cínica, e Jesse um pouco mais preocupado e sério devido às múltiplas questões familiares e sociais que tem de resolver. A mudança de tom é tão grande que até as conversas perdem algum do grande humor que as caracterizou nos outros dois filmes, e aqui ganham uma tensão e um drama que antes não iríamos associar ao "maravilhoso" mundo deste casal. Com a paternidade em grande destaque, a obra mostra como as ideias racionais e deliciosas dos dois personagens permanecem intocáveis, mas entretanto, o Amor que têm um pelo outro pode estar muito fragilizado. O poder do filme reside no poder destes seus dois protagonistas, e se bem que para uns este capítulo tornou-se uma desilusão (porque queriam que o "conto de fadas" durasse para sempre, o que, nesta visão mais realista das coisas, é quase impossível), talvez este seja a parte mais incisiva e verdadeira da trilogia. O humor tem outro papel: não o de progredir uma relação que está a crescer amorosamente, mas de a conseguir ao menos manter essa relação, que pode acabar ou partir-se ainda mais com pequenas coisinhas que prejudicam o casal. E não será isto um retrato das vivências humanas atuais, onde talvez se faça tudo para complicar e encurtar relações, sem se olhar a meios e por vezes sem se aperceber dessa intenção (e sabendo que, ainda ais, as novas formas de comunicar e de se relacionar deveriam ajudar a manter as relações - só que parecem que ajudam a destruí-las também)?


«Before Midnight» é um filme tão bonito como os seus antecessores, e compará-los entre si é uma tarefa inglória, para não dizer injusta. Se bem que a solo não seria um filme tão singular, como é ao pertencer a esta continuidade (que, esperamos, não acabe aqui!), é mais um volume inesquecível de uma história humana que vai continuar a chamar novas gerações, independentemente das idades e feitios de cada espectador. As conversas ganham um tom com o seu quê de "seinfeldiano", e encontramos mais background e personagens secundárias do que em «Sunrise» e «Sunset». Mas o centro continuam a ser os maravilhosos Ethan Hawke e Julie Delpy, que voltam a brilhar com magníficas performances, que dão uma nova vida às suas personagens e que mostram o que é que uma figura ficcional deve ser: um trabalho em constante progresso e evolução, que é condicionada pelas constantes e velozes mudanças trazidas pelo tempo e pelo espaço. Mais uma vez, Richard Linklater transpõe, sem muito trabalho de câmara (porque aqui não é esse o ponto fulcral), o estado das suas personagens, que entram em algumas discussões agressivas e revelam sentimentos que nunca lhes conseguimos decifrar anteriormente, porque ao chegar a esta idade, eles apercebem-se, na ficção, de algo que nós também sabemos na vida real, mas que queremos esquecer, por estarmos a ver um filme: é que a existência não é feita de finais ficcionais. Com novamente as relações humanas em todo o seu esplendor, «Before Midnight» dá-lhes até um novo tom, incluindo-lhes um recheio novo, que inclui temas-chave da experiência do ser humano e que ao qual nem a criação artística pode escapar. E olhando em retrospetiva, podemos ver que os três filmes têm uma coisa em comum: a sensação poética e mágica com que nos deixam no final. Só que nos últimos momentos de «Before Midnight» encontramos uma poesia diferente, que nos pode deixar tanto tristes ou alegres, ao prevermos o que vai depois acontecer às duas personagens preferidas de meio mundo e arredores. Algum dia tudo terá de acabar... ou talvez não. É que apesar de ser uma história, com princípio, meio, e fim, sabemos que esta não deve ter um "fim" como é vulgarmente designado, nem queremos que tudo isto acabe. E, com melhores ou piores notícias para nos darem, esperamos voltar a ver o par Jesse e Céline daqui a nove anos.

* * * * 1/2
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Re: Before Midnight (2013) - Richard Linklater

Post by Rui Santos »

A magia da TV... apesar de ter o filme em formato fisico (claro)... noutro dia estava a passar nos canais abertos de cinema... e lá tive a coragem de o rever.

Mantenho a opinião inicial, um filme magnifico, muito mais rico que os anteriores, e surpresa.. por já estar à espera achei-o muito menos duro e mais suave. O filme está cheio de planos lindissimos, e eles dois estão realmente em excelente plano. Estou agora preparado para outras visualizações :mrgreen:
E o final, está muito mais encantador e menos aberto (no sentido de ter um sinal muito positivo)... que tinha visto na visualização em sala.

Para os amantes da trilogia, e que gostassem de a ter em BD, descobri que além da edição Criterion, a edição alemã tem legendas Pt penso que nos três filmes, e anda a bons preços na amazon.de.
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