Pacific Rim (2013) - Guillermo Del Toro

[THX]

Eu não queria estar a entrar muito em off-topic mas penso que este assunto dos fracassos de bilheteira devem ser por nós bem analisado/discutido.

pedrojamees,

Pensas e escreves bem, mas o maior problema não é esse que apontas, do pessoal só querer ver sequelas. O problema de fundo é bem mais simples e resume-se a 3 pontos :

1º- Aparecimento da net.
Desde que apareceu não pára de crescer. Começou com um Plutão e já vai para cima de um Júpiter.
Se dantes eu via cenas dos filmes em cartazes de cinema e revistas agora consigo ver trailers na palma da minha mão com uma qualidade superior há de muito LCD. "Matou" também os clássicos video-clubes e alastrou a pirataria para um patamar grotesco. Sacar filmes é tão fácil como abrir uma garrafa de tinto.

2º- Assim como o "Video killed the radio star" agora podemos dizer que "Video games killed the cinema". Essa é que é a verdade, e para quem quiser confirmar o que eu estou para aqui a dizer basta verem o ambiente das feiras astronómicas sobre esta temática dos jogos. São cada vez mais e com milhões de visitantes todos os anos. Estamos a falar não só de uma indústria que factura biliões ano e que em nada deve ao cinema, mas de todo um novo mundo que veio abalar fortemente as bases do entretenimento. Os jogos também tem sequelas, e muitas, e os estúdios responsáveis por estes jogos não brincam em serviço. As histórias são fantásticas e cada vez melhores, os gráficos...bem, só vendo mesmo, e a emoção é toda nossa. Jogo apenas na PSP do meu filho de vez em quando, mas sei bem o que são video-games porque vivi a portas com um grande salão nos anos 80. É uma febre, só vos digo.

3º- Essas idéias novas que apontas no teu último parágrafo na verdade não tem nada de novas, e aqui chegamos ao ponto da repetição. Este filme podia até já ter uma sequela na calha, mas "morreu" logo á partida apenas porque a história é...repetitiva, logo desinteressante. Agora está no forno o "Godzilla II" e eu digo...será que vamos ver o sobrevivente da ninhada a vingar a mãe?? - o interesse vai já por aí abaixo. Sequela do "Independence Day"?? - provavelmente irei ver, mas sinceramente acho que não irei ver nada de novo. Actualmente fazem-se coisas bem melhores para as X-Box360, PLS3 e NINtendos. E vem aí as novas consolas...

Depois ainda há a guerra dos estúdios, as criticas venenosas e as pressões sobre os realizadores que também podem inflamar resultados de bilheteiras.

[Kimosabe]

Na minha opinião, a questão ainda está mais a montante e ainda pode ser mais resumida. O público evolui como consequência da evolução da própria sociedade. Para mim é tão "simples" quanto isto. O público de hoje não é o mesmo de há 20 anos, assim como o de há 20 anos não era o mesmo que 20 anos antes. E essa é uma inevitabilidade contra a qual não se pode fazer nada. É a ordem natural das coisas. Como tal, um negócio que se adapte, prevalece, um que se deixe estagnar, morre. Esta ideia era válida ontem, tal como é hoje.

A diferença entre o hoje e o ontem é que tornámo-nos muito mais voláteis como sociedade, mais imediatistas e, por conseguinte, como público e como consumidores em geral. Basta pensar no que a humanidade percorreu até à revolução industrial e no que percorreu daí para cá. O "aceleramento" é exponencial e assombroso.

E acima de tudo o que contribui para essa maior volatilidade é a enxorrada de informação que assimilamos diariamente. A informação hoje circula numa infinidade de meios e plataformas e a uma velocidade estonteante. Estamos a todo o minuto a ser bombardeados com novas informações, notícias, detalhes, etc. Nós hoje não tomamos conhecimento dos acontecimentos. Nós hoje "vivemos" praticamente no meio dos acontecimentos, mesmo que estes tenham lugar a 6000 km de distância.

Naturalmente, isto exige de nós uma capacidade superior de processamento. Mas como ser limitados que somos, para processar nova informação, há que lhe dar espaço, logo "queima-se" a informação mais antiga. Não conseguimos dar a mesma atenção a 30 assuntos em simultâneo, logo prioriza-se a informação, fazem-se escolhas, rejeita-se o que entendemos ser de somenos importância, filtramos e assimilamos o que pensamos ser mais relevante. E a diferença não está na necessidade de o fazer, porque a vida sempre foi feita de escolhas. Está sim no número de vezes em que nos vemos perante a necessidade imperiosa de o fazer. Este ciclo de disseminação, processamento e assimilação de nova informação hoje em dia sofre muitas mais iterações, logo, tornamo-nos altamente voláteis. Daí a sensação que antigamente tudo perdurava. Já hoje, sobretudo na internet, algo que aos 15 dias é moda, no final do mês é "velho, passado, uma relíquia". É impressionante e, sem nos darmos conta, de uma pressão brutal sobre todos nós.

Pegando no cinema em particular, claro que isto não é causa única. Podemos discutir o custo de ir ao cinema, os efeitos da pirataria, o efeito do boom de audiências na TV, a influência dos videojogos, a multiculturalidade na era da globalização - um conceito de robots gigantes contra monstros gigantes pode ser relativamente novo no ocidente, mas encontra fortes raízes a oriente desde há 40 ou 50 anos atrás ou se calhar até mais - podemos discutir a dicotomia arte vs negócio, etc, com certeza, tudo razões com alguma quota de "culpa", mas há uma ideia fundamental que prevalece sobre tudo isso: não há nada que permaneça sempre igual e não há nada que volte a ser como antes.

[Cabeças]

... e no fundo, o facto é que robots gigantes contra monstros gigantes, pelo menos para mim, não tem interessezinho nenhum, ou tem mesmo muito pouco.

É daquelas coisas que, sobretudo em 3D, vê-se logo que é o equivalente um bocado ao Xunning...

Quero filmes com argumentos fortes e histórias originais, elevados por actuações inspiradas. Para ver monstros e robots a destruírem tudo, já há o Godzilla e os Transformers.

Desculpa Guilllermo, mas esperava muito mais de ti.

[bisard]

Ver isto em IMAX 3D na sexta-feira... vou sair de lá todo comidinho da cabeça, mas vai valer a pena. :) :)

[pedrojamess]

Eu não vou criticar o filme sem não o ter visto mas penso que será uma espécie de Transformers com um argumento MUITO mas mesmo MUITO melhor e mais complexo.
Não sei mas às vezes penso que a sociedade não consegue aceitar ótimos blockbusters ou filmes de realizadores conceituados, limitam-se a venerar filmes vazios e produzidos sem "paixão", tipo Transformers e filmes do género.

[DarkPhoenix]

A par do media overdose e da incapacidade em focalizar a atenção, há outro ponto pertinente:
- a mentalidade analítica, pragmática e pseudo-científica do público actual, ou seja, miúdos entre os 12 e os 20 anos.

Salvo raras excepções, esta cambada de desiludidos, cínicos, arrogantes e frustrados, perdeu a capacidade de se deixar maravilhar sem questionar, não atinge a desejada "suspension of desbelief".

Se "Star Wars" estreasse hoje, seria um flop instantâneo, com montes de "críticas" e "plot holes" analisados ao pormenor... basta ver o que aconteceu ao excelente "John Carter".

O cinema mainstream acompanha forçosamente as massas que - potencialmente - podem fazer dos seus filmes grandes sucessos. Ou inesperados fracassos, tal é a volatilidade de uma audiência adolescente.

O que interessa não é se "Pacific Rim" é um filme de robots vs monstros, mas sim se é um bom filme de robots vs monstros.

Se esta mentalidade existisse na década de 80, muitos dos clássicos que hoje acarinhamos estariam enterrados.
Afinal, quem acredita num DeLorean que viaja no tempo graças ao seu "capacitador de fluxo"?

http://thatguywiththeglasses.com/videol ... to-nitpick

[diesel]

Mas entao o publico é apenas na demografia dos 12-20? nao será tb culpa nossa, dos mais velhos, de filmes que para nós sao bons e tem interesse, fracassarem? hollywood neste caso faz filmes e como boa maquina de vender que é, para todos os publicos. Mesmo os filmes para oscars e que estreiam geralmente no fim do ano nos States, ao que atribuem maior "qualidade", que sao direccionados aos que gostam de cinema, que raio de numeros de bilheteira fazem? mesmo os que sao lançados a nivel nacional e com grandes nomes nao passam dos 100 milhoes enquanto filmes como Iron Man, Harry Potters fazem mais de um BILHAO(americano) a nivel mundial. A culpa nao é so dos States. È do publico mundial.

E quanto a fracassos de bilheteira estamos apenas a falar de filmes que nos interessam a nós pq cada ano batem-se records de bilheteira a torto e direito. Nao é culpa da pirataria no meu ver. Curiosidade até que quando foi abaixo o megaupload Hollywood perdeu milhoes de dollars...interessante né?

E nao é so no cinema que se batem bilheteiras. Nao ha videoclubes mas ha ppv,vod, serviçoes digitais pagos....se houvesse ca a netflix como nos States isso é que era!!!!

Tenho tido

[THX]

Kimosabe,

Gostei bastante de ler o teu post .
No teu texto descreves de uma forma simples todo um processo que explica este fenómeno.

[JRibeiro]

A única sessão à noite aqui é 3D, porra.

[Bladder]

Se "Star Wars" estreasse hoje, seria um flop instantâneo, com montes de "críticas" e "plot holes" analisados ao pormenor... basta ver o que aconteceu ao excelente "John Carter".

E se fosse um flop? Star Wars é mesmo alguma coisa de jeito? Se tivesse sido um flop talvez o Lucas tivesse feito o Indiana Jones mais cedo? Ou talvez mais filmes como o American Grafitti que continua a ser a melhor obra dele até agora... E quanto a análise de "plot holes" do Star Wars, até à data que isto continua... a diferença é que agora existe internet e estamos mais ao corrente de maneira global sobre os assuntos, apenas porque não existia net na altura não quer dizer que isto não tivesse sido debatido como fazemos hoje em dia, Star Wars sempre foi debatido e referido até à náusea, tem dó, não é por aqui.

O John Carter é bom mas também existe muito lixo que passa por obra-prima. Perspectivas...

O John Carter terá o seu culto mas o MOS não passa de reciclagem e para a história ficará como uma simples curiosidade, não interessa quanto defendam, quanto racionalizem não passa de reciclagem dos filmes anteriores se quisermos encarar por esta perspectiva, até perdi a conta das sensações de Déja-vu que senti ao visioná-lo, come-se? claro que se come mas pffft... A maior parte dos Star Wars come-se? Claro que se come e então?

É como dizem pontualmente, não passam de Blockbusters, não tentem fazer deles mais do que são.

E por falar em Back To The Future, aquilo era alguma coisa de especial? Um filme apenas por ser novidade na altura não faz dele alguma coisa de especial, apenas caiu no goto do público.

Agora filmes como o Tubarão... o Indiana Jones original, aliam qualidade ao mesmo tempo que despertam os sentidos. Spielberg perdeu a fórmula pelo caminho...

Chegámos a um impasse, não basta que um filme seja uma besta de som e rebente os tímpanos e faça os olhos sangrar ou provoque ataques epilépticos, torna-se necessário voltar atrás e aqui com filmes para as massas que tenham mais conteúdo, eu vejo o público das séries de tv a comentar enredos mais complicados, séries que agradam a todos, há 20 anos que estamos a assistir a uma escalada no género, deixem de tratar as pessoas como se fossem estúpidas e elas passarão a dar atenção a material de qualidade.

As pessoas abandonam os cinemas simplesmente porque não há nada jeito, pirataria os tomates.

Se não fossem os desenhos animados para os putos ou alguns blockbusters hoje em dia não havia cinema em Portugal de tanto se focarem nestes filmes-tipo.

[DaProfezzur]

Vi hoje em IMAX na sessão das 12:45, ainda estou a absorver o que ví.

Só tenho a dizer: Transformers? Godzila? Isso é para crianças.

[KYR SP33DY]

Epa li os últimos posts assim muito rapidamente e se percebi bem o ponto da discussão então só tenho uma coisa a dizer...

Também se fazem filmes fora de Hollywood! Em vez do pessoal se estar a queixar constantemente da falta de criatividade que por la anda, porque é que não gasta antes esse tempo a procurar coisas novas? Há pessoas que falam como se fossem obrigadas a irem ver tudo o que estreia no cinema, ainda por cima tendo que pagar 5/6€ por bilhete!!! (já para não falar de que a experiência do filme é sempre estragada com pessoas a falarem dentro da sala ou a mastigarem pipocas, ainda por cima eu que sofro de misofonia desde pequeno lol).

[Bladder]

Pois...

A questão é que eu para ver filmes e séries de qualidade já não conto com as nossas TVs nem com as nossas salas de Cinema.

Não me venham é com o discurso do coitadinho. Fizeram a cama, deitem-se nela.

O aborrecido é que com Hollywood por exemplo, para um realizador meter cá fora o filme que quer mesmo fazer tem de mamar com 5 encomendas ou ter de ganhar reputação para lhe darem atenção e ainda assim garantir lucro.

O caso do Woody Allen, Hal Hartley por exemplo é à parte.

Mesmo para filme independentes é complicado.

Se quiseres procurar coisas novas (não Blockbuster) que já foram feitas estás à vontade, agora coisas mesmo novas e recentes?

Estamos também a falar do futuro do cinema americano comercial (não precisa de ser popularucho), do impasse a que chegou, a sua estagnação.

[KYR SP33DY]

Enquanto não estrearem no cinema os filmes que mais queremos ver e chegarem serviços como o netflix a Portugal, a única solução passa por sacá-los e não tenho problemas nenhuns em dize-lo. Se os filmes que mais gostar forem realmente bons compro-os, tão simples quanto isto. Quanto a ve-los na tv, posso ligar o portátil à tv e problema resolvido.

Desde que o spotify chegou a Portugal que deixei de sacar músicas. Enquanto não chegar um serviço semelhante para filmes, vou ter de continuar a fazer o que tenho feito.

Há tanto bom filme que se faz fora de Hollywood hoje que há muito que desisti de ir ao cinema.. vou apenas naquelas ocasiões em que estou extremamente aborrecido (e acabo por ficar quase sempre ainda mais durante o filme) ou quando me convidam..

Por isso é que gostei tanto do Spring Breakers. Foi uma experiência à parte, completamente diferente de tudo o que tem estreado.. e dps ainda há pessoal a queixar-se por estar à espera de um simples filme sobre viagens de finalistas e delinquência.. fico parvo com isto! se um filme é igual aos outros todos é porque é igual aos outros todos, se é diferente é porque tavam à espera de outra coisa... há sempre alguém que não está satisfeito com nada

[Bladder]

Eu reservo a minha opinião sobre o Spring Breakers até o ver.

Já reparei que ou gostam ou odeiam.