Vi o filme esta noite, foi o primeiro filme a levar-me ao cinema desde The Dark Knight! Mais um filme de Oliver Stone sobre um presidente americano? Estou lá, cacete!
W. é diferente de JFK e Nixon, que também são diferentes um do outro, mas similares em abordagem e técnicas usadas. W. não é. Eu gostei do filme, mas acho que é um filme difícil de julgar assim de repente. Requer múltiplos visionamentos.
Alguns spoilers.
Bush é apresentado por Stone não como o vilão implacável e psicopata que muita gente provavelmente tem na cabeça, mas como um ser humano complexo. Stone até já tinha feito isto com Nixon, que tem momentos tocantes e vulneráveis nesse filme. Bush é aqui apresentado como um tolo, mas não no mau sentido... É difícil explicar. É um personagem trágico, sempre na sombra do irmão Jeb aos olhos do pai e sempre na sombra do pai aos olhos da imprensa. O "vilão" do filme, se tem de haver algum, é sobretudo Dick Cheney (magnífico Richard Dreyfuss!), uma figura que parece tomar as decisões por Bush nos bastidores e qual serpente bíblica envenena-o em privado. Até uma cena pivotal em que ele se revela em frente aos outros numa reunião na Casa Branca e refere mesmo a palavra "Império", referindo-se à América (não me chateiem, sabem que me refiro aos EUA
). Não sei até que ponto tal cena será verídica, tanto essa como muitas outras, mas no filme são espectaculares e é isso que se quer.
O final do filme é excelente e espantoso, uma versão espectacular desta conferência de imprensa:
http://www.youtube.com/watch?v=haQzdW7hg4A
Dá mesmo pena do homem nessa cena, que é feita com muito humanismo e humildade por Josh Brolin, mais do que o verdadeiro Bush mostra. Claro que também tem a ajuda de todo um exército de técnicas cinematográficas desde a montagem, a zooms, música e tudo o mais, é muito diferente da realidade. Mas como dizia, dá pena do homem, ele mostra-se mesmo como um tolo que finalmente se apercebe de que foi manipulado por pessoas mais espertas e mal intencionadas do que ele. A seguir o filme mostra-nos Bush a caminhar depois da imprensa, frustrado com a sua prestação e há um magnífico corte para câmara lenta que pode parecer uma coisa simples ou banal mas é um toque de génio. Voltando à cena que referi como uma pivotal ali acima, é engraçada a forma infantil como Bush encerra a reunião: "this was a great meeting, the best meeting yet!" com o seu sorriso tolo, de quem está a comer hamburgers num churrasco. E nessa reunião basicamente tomou-se a decisão de invadir o Iraq com o objectivo de apertar o cerco ao Irão e dominar a zona da Eurásia de forma a se conseguir chegar ao tal Império Americano com que Cheney sonha. É uma cena magnífica, por todos os personagens/actores: Bush/Brolin, Cheney/Dreyfuss, Colin Powell/Jeffrey Wright, Don Rumsfeld/Scott Glenn, Condoleezza Rice/Thandie Newton.
É mais um excelente filme político de Oliver Stone, embora diferente. Aqui não há muito do seu estilo frenético usado em JFK e Nixon. O que há é um bom argumento (se bem que acho que o filme poderia ser maior e mais profundo, podia muito bem ter 3 horas, como os seus "irmãos") e sobretudo excelentes actores. Cá por mim qualquer dos actores deste filme pode ser nomeado para um Oscar de actor secundário, seja Dreyfuss, Wright, ou ainda o grande James Cromwell. E claro Brolin como actor principal, numa interpretação tocante que me surpreendeu muito, eu que franzi o sobrolho quando li pela primeira vez que tinha sido ele o escolhido para o papel.
