Enigma wrote:
Sim, também me apercebi dos imensas falhas de raccord (a conversa entre Di Caprio e o J.Earle Haley na ala C é mesmo gritante) e confesso que em certos casos me distraiu um pouco. Mas de resto, interpretações excelentes.
Não entendi, imensas falhas de raccord? Como assim?
Sim, raccords de continuidade visual entre planos seguidos ou sequenciais em algumas cenas, principalmente raccords de movimentos ou gestos das personagens (ao ponto de, por exemplo, duas personagens em diálogo: uma primeira num plano está a coçar a cabeça, quando passamos para o contracampo da outra presonagem podemos ver que a anterior presonagem agora tem o braço em baixo, voltamos à primeira e lá está na mesma a mão a coçar... etc).
Curioso, por acaso não me apercebi de nenhum.
Quando o for ver ela 2ª vez hei-de reparar nesse pormenor.
Mas o Scorsese precisava mesmo de uma daquelas cenas com um plano visto de cima, em que a personagem grita "Nooooo!"?
Bom, apesar de haver outros filmes com desfechos semelhantes, pelo menos a parte toda que está antes do mesmo pareceu-me bem. Eh! Não tenho tempo e estou com demasiado sono para me pôr a escrever sem errar as telcas.
Primeiro destacar de imediato a brilhante cinematografia (em todos os aspectos) do Bob Richardson (que ainda me consegue surpreender) pois é absolutamente espantosa e vem numa altura importante , pois no domingo os cinematografos premiaram um filme na categoria na qual toda a composicao de imagem foi feita em pos-producao....acho que foi um reconhecimento de mudança e é um aspecto importante no mundo do cinema . No meu caso particular , espero que os richardson , balhaus , doyles etc deste mundo tenham sempre oportunidade de trabalhar onde se sentem confortavel.
É optimo ver o melhor filme do ano já em Março...tenho serias duvidas que va gostar tanto de um filme este ano como gostei do Shutter Island.
Que Scorsese é um mestre de Cinema já restam poucas duvidas , mas ele desta vez atinge algo raro...a partir de um produto simples , transforma-o numa obra impar. Sempre foi um realizador muito ligado ás personagens , ao espaco envolvente e o tempo decorrente em vez das narrativas mais classicas....e á primeira vista Shutter Island era o contrario de tudo isto. Um plot movie com um twist final ....tudo isto está lá mas o filme é muito mais do que isso. É uma viagem pelas perturbacoes de Edward Daniels, concerteza uma das personagens mais tragicas do cinema de Scorsese. Teddy desde a primeira vez que aparece no frame está agitado , confuso e sempre á procura de algo...o filme é um caminhar junto do mesmo e das suas alucinacoes que tentam esconder um trauma.
O final é arrebatador , mesmo apesar da exposicao algo excessiva do Ben Kinglesy (com os anagramas) , a verdade é que apos a mesma o filme nao acaba , bem pelo contrario , cresce nas emocoes da personagem que vai relembrando a dor que ele foi escondendo através de um artificio criado por si...custa ver sermos quase martelados com aquela historia. E aquela frase final (que pelos vistos ano esta no livro) provoca um sentido quase poético...consciente do que fez , prefere voltar a um estado artificial mas desta vez com o seu consentimento.
Eu sobre o twist e o quão é facil de se aperceber nao posso comentar pois á coisa de 1 ano , quando fazia pequenas leituras sobre o livro do Lehane deparei-me sem querer com spoilers que nunca saíram da minha cabeça. Parece-me no entanto facil de adivinhar , o que torna a experiência ainda mais dura pois apercebemo-nos do quao desesperado está o Teddy que torcemos para que a conspiracao seja uma realidade.
Formalmente os filmes do Scorsese nao têm falhas , uma score arrepiante , uma edicao em consonacia com a narrativa (quando escrevi isto no outro post ainda nao tinha visto o filme) , a continuidade chega a falhar propositadamente (copo da paciente por exemplo) pois o filme é visto pelo ponto de vista do Teddy. O Di Caprio continua a mostrar-se como um actor brilhante , no filme tem um imenso espaco para revelar as suas qualidades (até a altura já era boa mas apos a entrada na gruta a sua interpretação é irrepreensível) , e um cast que se comporta de forma magnifica.
Scorsese foi a principal razao da minha paixao pelo cinema , e espero que tenha a oportunidade de trabalhar durante muitos anos naquilo que quer. Nao ligue a alguns comentarios snobistas que o associam a um cinema mais comercial , e os outros que nao tiveram coragem de lancar o filme o ano passado por certas "necessidades". Shutter Island é o melhor filme que eu nao vi em 2009.
" Listen, you fuckers, you screwheads. Here is a man who would not take it anymore. A man who stood up against the scum, the cunts, the dogs, the filth, the shit. Here is a man who stood up." Travis Bickle in Taxi Driver
Cabeças wrote:Muito bom, realmente! Um filme que vai "ficar", sem dúvida, na carreira do Scorsese! Uma fotografia muito boa, grandes interpretações. Uma sensação de filme "à antiga", que perpassa todo o filme e que é imensamente agradável.
Houve dois momentos que achei menos bons. Um deles um exagero, outro uma falha. O primeiro, a intensidade da banda sonora, a meu ver demasiado incisiva, assim que chegam a Shutter Island. O segundo momento, é quando estão a executar os guardas alemães no campo de concentração. Os soldados começam todos a disparar contra os alemães ao mesmo tempo, mas eles só vão caindo à medida que a câmara vai percorrendo a fila... Este último então deixou-me mesmo um bocado triste. Todavia, depois do desfecho do filme (que adivinhei assim que ele encontra a médica na gruta), fiquei com a dúvida se não seriam elementos de estranheza propositadamente colocados pelo Scorsese como indicadores de que não estávamos na "realidade" normal.
Como sempre...possiveis Spoilers
Sobre o tal flashback no campo de concentracao , nao esquecer que o Ben Kingsley chega a referir que tal accao (atirar sobre os guardas) pode nem sequer ter acontecido. Acho que a forma como a cena esta montada é um dos imensos detalhes que vao aparecendo no filme para revelar que muito do que ele se lembra pode ser ilusao. Toda essa cena tambem me fez perguntar a razao do Scorsese ainda nao ter feito um filme de guerra
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Fui ver ontem o filme e achei muito bom. Reparei em todas essas falhas de raccord e a banda sonora exageradamente alta, mas, em termos gerais, achei um excelente filme. O final então...grande toque poético que fecha a obra em beleza. Mas, não percebi uma coisa: quando se fez a jogada
"sim Sr., eu estou doente, vou fazer fita para poder sair daqui", o Chuck alinhou e fez-se de seu psiquiatra, certo? Porquê?! Juro que não percebi. Se ele se fez de psiquiatra, seria óbvio que o Dr. Cawley (Ben Kingsley) soubesse da sua existência, certo? Então, assim sendo, acho óbvio que ele seja o Laeddis e com a última questão que ele faz a si próprio, entenda-se que aceita agora o que fez e que prefere morrer como bom Homem. Concordam comigo? Agora não percebo porque é q o Chuck continua a chama-lo "Boss" mesmo depois de ele ter confessado tudo e ter admitido quem realmente era, visto que este era só o psiquiatra que alinhou na tal experiência de deixa-lo ser quem quisesse... Se ele, o Teddy, já se tinha convencido do que era...porquê, no final, continuar com o "Boss"? Não percebi isso... Queria ele, Teddy, continuar a viver como o bom Homem e não como Laeddis?
Uma grande,grande obra prima .
Na minha opinião,é até agora,o filme do ano.
Um memorável guião,prodigiosas intrepretações,técnicamente um verdadeiro primor,um filme carregado de ambiguidade que faz,em muito,lembrar Hitchcock e Kubrick nas suas melhores obras.O único senão é,para mim,o filme ser um tanto ou quanto confuso em partes.Devia durar mais algum tempo na parte final para dar a nota máxima.
9 em 10.
Mas que é um filme portentoso,narrativamente arrebatador e é exactamente como eu gosto,lá isso é.
Se calhar,um filme,em breve,que pode chegar a este folgor,será porventura,"A Origem" de Nolan.
Oxalá seja.
Ah! Lendo este tópico pude saber que afinal a minha teoria tinha razão :D revi o filme há uns dias e tinha reparado em algumas coisas que me tinham chamado à atenção de o Teddy ser o Laeddis...
Ouvi uma teoria (que também não está muito errada) do Teddy ser mesmo um polícia, mas o Chuck foi enviado como o novo ajudante, mas que era o doutor Sheehan que o ia vigiar, para ele não descobrir nada do que lá se passava. Aliás, eu até estou na dúvida, porque há uma pequena passagem, no início do filme que me diz que talvez as duas teorias estejam correctas...
É um filme belíssimo, da velha guarda, com uma fotografia extraordinária e um argumento baseado num livro de se lhe tirar o chapéu.
Como qualquer desenvolvimento baseado em paradoxos, se se tenta perceber demais entra-se em espirais que não só nos levam a lado nenhum como nos deixam confusos.
É um pouco como as mulheres. Ninguém consegue percebê-las completamente, mas não é por isso que deixam (algumas, tal com os filmes) de ser muito bonitas e interessantes.
Ora aí está uma boa comparação Cabeças :D mas pronto, é melhor enveredar pelo caminho de ele ser o Laeddis, porque já que é a opinião de toda a gente que neste tópico escreveu, e que percebem todos mais de cinema que eu, isso é certo, prefiro optar por essa escolha.
O Gabinete do Dr. Caligari Scorsese style! Mas que filme extraordinário, só um mestre conseguiria pegar numa caldeirada de temática pulp e noir, o Macthartismo e a paranóia anti comunista dos anos 50, o medo atómico pós WWII, experiências nazis e por aí fora, e obter daí um todo coerente. Mérito para os argumentistas, sem dúvida.
A OST achei brilhante, acompanha perfeitamente o clima de paranóia constante que é o filme, e cujo objectivo é fazer-nos sentir tão perdidos e à procura de respostas do protagonista. É uma representação sonora da tendência para enxaquecas do Andrew, uma música em palpitações, que atingem o ponto máximo aquando da chegada ao portão do hospital, a origem do problema afinal.
A fotografia é apelativa, mas este esquema de cores azul/laranja tornou-se uma verdadeira praga a que poucos filmes de estúdio escapam, reparei nisso com este artigo, e a partir daí, raro é o filme que foge disto, raro mesmo. Quando um mestre é contagiado pela epidemia, torna-se preocupante... http://theabyssgazes.blogspot.com/2010/ ... -stop.html
Sobre os posters já tinha notado o padrão. É realmente um fenómeno difícil de compreender (por muito que seja apelativa).
" Listen, you fuckers, you screwheads. Here is a man who would not take it anymore. A man who stood up against the scum, the cunts, the dogs, the filth, the shit. Here is a man who stood up." Travis Bickle in Taxi Driver
Não concordo nada com o artigo, sobretudo quando mostra imagens quase a preto e branco de tão monocromáticas que são para defender a sua tese, que é precisamente o contrário! Certo que pessoas como o Michael Bay e os seus seguidores sempre mostraram uma preferência pelo laranja, filmando muitas vezes o pôr-do-sol, e usar uma palete de cores muito viva, mas daí a ver esse contraste em tudo o que é filme é um bocado paranóia.
Uma coisa é certa, há décadas que se usa a cor azul na iluminação de uma cena para simular a noite em cinema e televisão. É uma tradição muito, muito antiga, não vem de agora. Toda a gente sabe que a noite na realidade não é azul, nem nos dá um tom azulado à pele, mas em cinema esse efeito é usado há muito tempo, não só nos últimos anos. Se forem ver os filmes do Sergio Leone (estou-me a lembrar em particular do Por Mais Alguns Dólares), já aplicavam essa técnica nos anos 60.
Este último então deixou-me mesmo um bocado triste. Todavia, depois do desfecho do filme (que adivinhei assim que ele encontra a médica na gruta), fiquei com a dúvida se não seriam elementos de estranheza propositadamente colocados pelo Scorsese como indicadores de que não estávamos na "realidade" normal.
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