Life Aquatic With Steve Zissou (2004) - Wes Anderson
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Life Aquatic With Steve Zissou (2004) - Wes Anderson
Parece impossível que não haja um tópico sobre este filme!!
Mais um que entra para o meu top 10 do ano!!
Na linha dos filmes anteriores do Wes Anderson, mas mais maduro.
E sempre com os seus toques desconcertantes.
Apenas alguns momentos divinos:
SPOILER
A fauna aquática, a começar no cavalo-marinho e a acabar no famigerado tubarão jaguar.
O Bill Murray uma vez mais fabuloso, assim como a panóplia de personagens que navegam no filme.
SPOILER
Só não compreendo como é que este filme estreia em tão poucas salas.
Devem ser as regras do mercado.
Mais um que entra para o meu top 10 do ano!!
Na linha dos filmes anteriores do Wes Anderson, mas mais maduro.
E sempre com os seus toques desconcertantes.
Apenas alguns momentos divinos:
SPOILER
A fauna aquática, a começar no cavalo-marinho e a acabar no famigerado tubarão jaguar.
O Bill Murray uma vez mais fabuloso, assim como a panóplia de personagens que navegam no filme.
SPOILER
Só não compreendo como é que este filme estreia em tão poucas salas.
Devem ser as regras do mercado.
Paulo Alho
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Tenho pilhas de curiosidade para ver isto, pois não faço mesmo ideia do que será este filme.
Embora aposte que só o vou ver em dvd, pois este cheira-me a mais um daqueles que não aparecerá por cá em cinema...a não ser que apareça publicitado na Sic Radical ou algo assim...
Embora aposte que só o vou ver em dvd, pois este cheira-me a mais um daqueles que não aparecerá por cá em cinema...a não ser que apareça publicitado na Sic Radical ou algo assim...
46 anos no planeta e ainda não fui expulso.
Ilustração - Fantasia
Artefactos Arqueológicos em Marte ?
Cinema Oriental
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??? Estreou na semana passada nos cinemas. cumprimentosalquimista wrote:Tenho pilhas de curiosidade para ver isto, pois não faço mesmo ideia do que será este filme.
Embora aposte que só o vou ver em dvd, pois este cheira-me a mais um daqueles que não aparecerá por cá em cinema...a não ser que apareça publicitado na Sic Radical ou algo assim...
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Em principio vou ver este fim de semana. Já tenho saudade de efeitos especiais em stop motion e a fauna animal maritima e terreste deste filme está à maneira, muito cool aquela lula vampiro a virar-se do avesso.
Os filmes de Wes Anderson tem um certo fascinio
O 1º que vi foi o Bottle Rocket quando deu na TV depois fui ver os The Royal Tenenbaums a um cinema Warner.
Fico fascinado do principio ao fim com os mundos criados pelo realizador e pelo argumento mas quando acabo a visualização tenho a sensação de que falta ali um je ne sais quoi?
Os filmes de Wes Anderson tem um certo fascinio
O 1º que vi foi o Bottle Rocket quando deu na TV depois fui ver os The Royal Tenenbaums a um cinema Warner.
Fico fascinado do principio ao fim com os mundos criados pelo realizador e pelo argumento mas quando acabo a visualização tenho a sensação de que falta ali um je ne sais quoi?
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Pois, teoricamente. O problema é que nos cinemas desta minha terrinha, o que chega cá são sempre os blockbusters da moda e nada mais.??? Estreou na semana passada nos cinemas. cumprimentos
Então se o filme é daqueles "mais esquisitos" até a mulher da bilheteira aconselha as pessoas a não ir ver o filme, como aconteceu quando o Ghost World estreou por cá em que a média de espectadores era 2 por sessão porque a senhora na bilheteira avisava o povo que o filme não prestava para nada. Resultado, desde esse momento até agora, só filmes pipoca da moda é que passam em Portimão.
Por isso pelo que me toca tenho a certeza absoluta que só o vou ver em dvd. Neste momento as 8 salas estão ocupadas com Elektras e afins há semanas.
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Então se o filme é daqueles "mais esquisitos" até a mulher da bilheteira aconselha as pessoas a não ir ver o filme, como aconteceu quando o Ghost World estreou por cá em que a média de espectadores era 2 por sessão porque a senhora na bilheteira avisava o povo que o filme não prestava para nada. Resultado, desde esse momento até agora, só filmes pipoca da moda é que passam em Portimão.
A sério?? Eu acho que dava uma cabeçada a esta gaja se me disse-se isto. Como eu odeios estes saloios.
Pode-se definir os apreciadores de cinema em 2 classes.
Os Mongolóides: Estes subdividem-se em 2, os snobs que dizem mal de tudo o que é demasiado comercial, críticos do público, etc.. e os saloios que dizem mal de tudo o que é não-comercial.
Depois há os cinéfilos, que somos quase todos nós, repito quase pois por vezes passam por aqui alguns, e apreciamos e criticámos sejam os filmes, comerciais ou independentes.
Eu odorei os The Royal Tenenbaums e este parece-me ainda melhor. Mas só deverei ver em DVD, não é aquele filme que aprecio ver num cinema, mas sim no meu sofa confortavelmente.
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Brilhante!
Wes Anderson é seguramente um dos novos realizadores norte-americanos que vale a pena seguir.
Life Aquatic with Steve Zissou – 8/10
Spoiler
Se “The Royal Tenenbaums” era uma das mais delirantes descida aos infernos de uma família (uma espécie de "O Quarto Mandamento" com muito humor negro) a sequência final de “The Life Aquatic with Zteve Zissou” que decorre no interior do submarino remete para “The Lady from Shanghai”. Nesse filme Orson Welles faz corresponder um animal a cada uma das personagens principais, precisamente aquilo que Anderson faz neste filme. Claro que o tubarão jaguar é aquele que corresponde a Steve Zissou (Bill Murray). A inspiração em Jacques Costeau é evidente e assumida pelo proprio realizador. Também Anderson ficava apaixonado pelas aventuras do comandante Costeau. Será isso suficiente para alargar a definição de pai? Será afinal um pai somente aquele que nos influencia e incute os valores em que acreditamos e defendemos? Sendo portanto muito mais do que uma mera questão biológica.
A relação entre pais e filhos que era a base do filme anterior de Anderson, volta a ser um dos temas fortes de “Life Aquatic”. Isso não significa que o filme se esgote nesse tópico. Uma das maravilhas do cinema de Anderson é justamente a capacidade deste em criar diferentes vias num mesmo filme, contribuindo assim para um cinema diversificado.
Em “The Royal Tenenbaums” o fato de treino de Chas Tenenbaum (Ben Stiller) e dos seus filhos era essencial para os caracterizar. O mesmo se passa com as personagens de Life Aquatic. O gorro vermelho e os ténis Speedo asseguram a cada um dos elementos a confirmação de pertencerem a um clube. Ned Plimpton (Owen Wilson), o suposto filho de Steve Zissou, sente isso mesmo quando recebe o seu gorro e ténis das mãos de Steve. Eleanor Zissou (Anjelica Huston) a ex-mulher de Steve e Jane Winslett-Richardson (Cate Blanchett) não possuem e até o consideram algo ridículo. Dir-se-ia tratar de um clube exclusivo de homens, não fosse o facto de Anne-Marie Sakowitz (Robyn Cohen) também integrar a equipa Zissou. Mas Eleanor e Jane vão ter um papel primordial neste nas vidas de Steve e Ned. É o próprio Steve a afirmar que o cérebro da equipa sempre foi Eleanor. Além disso é ela que obtém o dinheiro através dos seus pais. Jane contribui com a sua entrevista para o retorno em grande de Zissou e apaixona-se por Ned. Essa paixão causa um grande dissabor a Steve pois este queria-a somente para si. Não será o único contratempo de Steve neste filme. Para poupar combustível Steve decide navegar por uma área não protegida e rapidamente é feito prisioneiro de piratas. Mais tarde o seu arqui-rival Alistair Hennessey (Jeff Goldblum) também é feito prisioneiro desses mesmos piratas.
Steve e Alistair partilham a falta de sorte com as mulheres. Este no entanto desculpa-se com o facto de ser bissexual. As diferenças entre eles são no entanto maiores. Enquanto Steve está constantemente tenso e de mau humor, Alistair exibe constantemente um sorriso altivo e uma enorme auto-confiança que lhe permite jogar às cartas com os seus raptores depois destes terem assassinado a sua tripulação.
O facto de andaram constantemente num navio e isolados do resto do mundo origina entre eles um forte espírito de grupo. O aspecto mais visível desse espírito ocorre quando Steve Zissou é obrigado a aceitar Bill Ubell (Bud Cort) durante as filmagens do novo documentário. Aquele que é visto inicialmente como um intruso acaba por ser aceite e visto como mais um elemento do grupo. Mas Wes Anderson não faz propriamente filmes para a família. Steve Zissou e os seus homens libertam Bill dos piratas mas perante o perigo deixam a cadela de três patas Cody na praia à mercê dos destes. Este episódio representa bem o tipo de cinema de Wes Anderson. As suas personagens buscam desesperadamente ligações afectivas mas o filme não cede ao sentimentalismo básico de um filme de domingo à tarde. Anderson transforma mesmo a necessidade de estima e reconhecimento dos outros numa comédia. Na nossa vida profissional e pessoal ocorrerem por vezes situações semelhantes mas num tom mais dramático (e de súbito lembro-me de “Melinda e Melinda” de Woody Allen). Quando Steve divide o seu grupo em dois para assaltar as instalações dos piratas, Klaus Daimler (Willem Dafoe) fica ressentido por ficar sempre na equipa B. Mas Steve lembra-lhe que assim ele é o chefe dessa equipa deixando Klaus mais satisfeito. Este episódio provavelmente só funcionaria actualmente num filme de Anderson e recorda-nos as personagens infantis e loucas que povoavam os filmes de Federico Fellini. De salientar a excelente interpretação algo lunática de Willem Dafoe.
A criação da bandeira ilustra bem esta lógica de grupo. Ned cria uma bandeira onde não esquece nenhum dos elementos importantes do grupo. Cada um deles tem direito a um símbolo e desse modo todos se reconhecem nela e no grupo contribuindo assim para o fortalecimento deste.
O carácter algo infantil das várias personagens masculinas deste filme é sintetizado na afirmação de Steve sobre a idade ideal – doze anos. E explica de certa forma a obsessão de Steve com os animais e as relações humanas algo superficiais. É quase inevitável fazer a analogia entre o comandante Zissou e o realizador de cinema que investe mais no seu imaginário cinematográfico do que nas relações pessoais.
No início de Life Aquatic estamos na estreia da primeira parte de um novo documentário de Steve Zissou. Este demonstra uma grande frieza e todo aquele ambiente de estreia deixa-o indiferente. Quando começamos a conhecer melhor Steve percebemos que a sua secura não se destina apenas a desconhecidos, mas também para aqueles que lhe são mais próximos. O seu desleixo nas relações humanas custou-lhe a relação com Eleanor Zissou. O convívio com o filho depois de durante anos terem apenas trocado duas cartas vai modificar Steve. Na estreia da segunda parte do novo documentário, no fim do filme, Steve continua indiferente a todo o glamour (a sua cadeira no camarote está vazia durante a exibição do seu filme) mas agora estabelece uma relação especial com um rapaz que conheceu na estreia anterior. E é com este que pela primeira vez Steve parece estar à vontade com o outro. A relação com Ned tornou possível o relacionamento de Steve com os outros. Através de Ned, Steve tornou-se num adulto capaz de assumir os seus erros e defeitos.
Este filme oferece-nos ainda uma adaptação deslumbrante de músicas de David Bowie por Seu Jorge para a lingua portuguesa.
Um dos gags mais utilizados no filme é a forma como trata os estagiários da universidade do Alasca. Poderá parecer um bocado inconsequente, quase como uma piada fácil. Numa altura em que nada parecia correr bem ao capitão a bordo do Belafonte, este decide traçar uma linha no convés para saber quem está com ele. Os estagiários revoltados por servirem apenas para carregar caixotes e servir cafés para Steve avançam para lá dela (uma paródia ao “Couraçado de Potemkin”?). Steve não dá grande importância ao facto. Mais tarde acaba mesmo por encontrar um estagiário que continua com ele. Com uma enorme ironia, Steve felicita o estagiário e diz-lhe que no fim lhe dará um vinte. Anderson não podia ser mais corrosivo para com o sistema académico ao associar as boas notas aos alunos sem personalidade e com espírito subserviente.
Wes Anderson é seguramente um dos novos realizadores norte-americanos que vale a pena seguir.
Life Aquatic with Steve Zissou – 8/10
Spoiler
Se “The Royal Tenenbaums” era uma das mais delirantes descida aos infernos de uma família (uma espécie de "O Quarto Mandamento" com muito humor negro) a sequência final de “The Life Aquatic with Zteve Zissou” que decorre no interior do submarino remete para “The Lady from Shanghai”. Nesse filme Orson Welles faz corresponder um animal a cada uma das personagens principais, precisamente aquilo que Anderson faz neste filme. Claro que o tubarão jaguar é aquele que corresponde a Steve Zissou (Bill Murray). A inspiração em Jacques Costeau é evidente e assumida pelo proprio realizador. Também Anderson ficava apaixonado pelas aventuras do comandante Costeau. Será isso suficiente para alargar a definição de pai? Será afinal um pai somente aquele que nos influencia e incute os valores em que acreditamos e defendemos? Sendo portanto muito mais do que uma mera questão biológica.
A relação entre pais e filhos que era a base do filme anterior de Anderson, volta a ser um dos temas fortes de “Life Aquatic”. Isso não significa que o filme se esgote nesse tópico. Uma das maravilhas do cinema de Anderson é justamente a capacidade deste em criar diferentes vias num mesmo filme, contribuindo assim para um cinema diversificado.
Em “The Royal Tenenbaums” o fato de treino de Chas Tenenbaum (Ben Stiller) e dos seus filhos era essencial para os caracterizar. O mesmo se passa com as personagens de Life Aquatic. O gorro vermelho e os ténis Speedo asseguram a cada um dos elementos a confirmação de pertencerem a um clube. Ned Plimpton (Owen Wilson), o suposto filho de Steve Zissou, sente isso mesmo quando recebe o seu gorro e ténis das mãos de Steve. Eleanor Zissou (Anjelica Huston) a ex-mulher de Steve e Jane Winslett-Richardson (Cate Blanchett) não possuem e até o consideram algo ridículo. Dir-se-ia tratar de um clube exclusivo de homens, não fosse o facto de Anne-Marie Sakowitz (Robyn Cohen) também integrar a equipa Zissou. Mas Eleanor e Jane vão ter um papel primordial neste nas vidas de Steve e Ned. É o próprio Steve a afirmar que o cérebro da equipa sempre foi Eleanor. Além disso é ela que obtém o dinheiro através dos seus pais. Jane contribui com a sua entrevista para o retorno em grande de Zissou e apaixona-se por Ned. Essa paixão causa um grande dissabor a Steve pois este queria-a somente para si. Não será o único contratempo de Steve neste filme. Para poupar combustível Steve decide navegar por uma área não protegida e rapidamente é feito prisioneiro de piratas. Mais tarde o seu arqui-rival Alistair Hennessey (Jeff Goldblum) também é feito prisioneiro desses mesmos piratas.
Steve e Alistair partilham a falta de sorte com as mulheres. Este no entanto desculpa-se com o facto de ser bissexual. As diferenças entre eles são no entanto maiores. Enquanto Steve está constantemente tenso e de mau humor, Alistair exibe constantemente um sorriso altivo e uma enorme auto-confiança que lhe permite jogar às cartas com os seus raptores depois destes terem assassinado a sua tripulação.
O facto de andaram constantemente num navio e isolados do resto do mundo origina entre eles um forte espírito de grupo. O aspecto mais visível desse espírito ocorre quando Steve Zissou é obrigado a aceitar Bill Ubell (Bud Cort) durante as filmagens do novo documentário. Aquele que é visto inicialmente como um intruso acaba por ser aceite e visto como mais um elemento do grupo. Mas Wes Anderson não faz propriamente filmes para a família. Steve Zissou e os seus homens libertam Bill dos piratas mas perante o perigo deixam a cadela de três patas Cody na praia à mercê dos destes. Este episódio representa bem o tipo de cinema de Wes Anderson. As suas personagens buscam desesperadamente ligações afectivas mas o filme não cede ao sentimentalismo básico de um filme de domingo à tarde. Anderson transforma mesmo a necessidade de estima e reconhecimento dos outros numa comédia. Na nossa vida profissional e pessoal ocorrerem por vezes situações semelhantes mas num tom mais dramático (e de súbito lembro-me de “Melinda e Melinda” de Woody Allen). Quando Steve divide o seu grupo em dois para assaltar as instalações dos piratas, Klaus Daimler (Willem Dafoe) fica ressentido por ficar sempre na equipa B. Mas Steve lembra-lhe que assim ele é o chefe dessa equipa deixando Klaus mais satisfeito. Este episódio provavelmente só funcionaria actualmente num filme de Anderson e recorda-nos as personagens infantis e loucas que povoavam os filmes de Federico Fellini. De salientar a excelente interpretação algo lunática de Willem Dafoe.
A criação da bandeira ilustra bem esta lógica de grupo. Ned cria uma bandeira onde não esquece nenhum dos elementos importantes do grupo. Cada um deles tem direito a um símbolo e desse modo todos se reconhecem nela e no grupo contribuindo assim para o fortalecimento deste.
O carácter algo infantil das várias personagens masculinas deste filme é sintetizado na afirmação de Steve sobre a idade ideal – doze anos. E explica de certa forma a obsessão de Steve com os animais e as relações humanas algo superficiais. É quase inevitável fazer a analogia entre o comandante Zissou e o realizador de cinema que investe mais no seu imaginário cinematográfico do que nas relações pessoais.
No início de Life Aquatic estamos na estreia da primeira parte de um novo documentário de Steve Zissou. Este demonstra uma grande frieza e todo aquele ambiente de estreia deixa-o indiferente. Quando começamos a conhecer melhor Steve percebemos que a sua secura não se destina apenas a desconhecidos, mas também para aqueles que lhe são mais próximos. O seu desleixo nas relações humanas custou-lhe a relação com Eleanor Zissou. O convívio com o filho depois de durante anos terem apenas trocado duas cartas vai modificar Steve. Na estreia da segunda parte do novo documentário, no fim do filme, Steve continua indiferente a todo o glamour (a sua cadeira no camarote está vazia durante a exibição do seu filme) mas agora estabelece uma relação especial com um rapaz que conheceu na estreia anterior. E é com este que pela primeira vez Steve parece estar à vontade com o outro. A relação com Ned tornou possível o relacionamento de Steve com os outros. Através de Ned, Steve tornou-se num adulto capaz de assumir os seus erros e defeitos.
Este filme oferece-nos ainda uma adaptação deslumbrante de músicas de David Bowie por Seu Jorge para a lingua portuguesa.
Um dos gags mais utilizados no filme é a forma como trata os estagiários da universidade do Alasca. Poderá parecer um bocado inconsequente, quase como uma piada fácil. Numa altura em que nada parecia correr bem ao capitão a bordo do Belafonte, este decide traçar uma linha no convés para saber quem está com ele. Os estagiários revoltados por servirem apenas para carregar caixotes e servir cafés para Steve avançam para lá dela (uma paródia ao “Couraçado de Potemkin”?). Steve não dá grande importância ao facto. Mais tarde acaba mesmo por encontrar um estagiário que continua com ele. Com uma enorme ironia, Steve felicita o estagiário e diz-lhe que no fim lhe dará um vinte. Anderson não podia ser mais corrosivo para com o sistema académico ao associar as boas notas aos alunos sem personalidade e com espírito subserviente.
Life is like arriving late for a movie, having to figure out what was going on without bothering everybody with a lot of questions, and then being unexpectedly called away before you find out how it ends.
Joseph CAMPBELL
Joseph CAMPBELL
A minha relação com Wes Anderson:
Ok, o "puto" é bom, mas não consigo aturar tudo...
1º Vi "Tenenbaums" e saí com vontade de curtar os pulsos, apesar de reconhecer que há algo de qualitativo, só não conseguiu entrar comigo...
2º Vi Rushmore, que já me agradou com uma personagem principal fabulástica e com um universo mais "próximo".
3º Este, apesar de mais uma vez não me arrrancar gargalhadas, o sorriso manteve-se ao lonngo do filme todo, o universo criado é fantástico e as interpreções são arrasadoras, nomeadamente o William Dafoe, é qq coisa de espetacular.
7/10
Ok, o "puto" é bom, mas não consigo aturar tudo...
1º Vi "Tenenbaums" e saí com vontade de curtar os pulsos, apesar de reconhecer que há algo de qualitativo, só não conseguiu entrar comigo...
2º Vi Rushmore, que já me agradou com uma personagem principal fabulástica e com um universo mais "próximo".
3º Este, apesar de mais uma vez não me arrrancar gargalhadas, o sorriso manteve-se ao lonngo do filme todo, o universo criado é fantástico e as interpreções são arrasadoras, nomeadamente o William Dafoe, é qq coisa de espetacular.
7/10
Um gnomo por dia, dá saúde e alegria!
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http://www.gritosinsanos.blogspot.com
http://www.geopt.org
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Grande texto Bruno Dias, parabéns, ao nível do que nos costuma ser dado pelo alquimista, etc.
Acabei de ver o filme hoje em dvd, gostei, claro que muitos acharão seca, parado, que não tem cabimento ou graça, mas está muito bem feito na minha opinião, é mesmo para ver com um sorriso e boa disposição (boa onda) do princípio ao fim!
À semelhança do que já tinha acontecido com os Tenenbaums, grandes actores, nesse mais o Gene Hackman, Ben Stiller, e Danny Glover, neste mais o Murray, Dafoe, Jeff Goldblum.
E um espectáculo a banda sonora, apreciei sobretudo as músicas na última meia-hora, e os créditos finais, com os acordes de guitarra e a voz do Brasileiro Seu Jorge com aquele fundo por trás MUITO BOM!
Música Queen Bitch do David Bowie
Acabei de ver o filme hoje em dvd, gostei, claro que muitos acharão seca, parado, que não tem cabimento ou graça, mas está muito bem feito na minha opinião, é mesmo para ver com um sorriso e boa disposição (boa onda) do princípio ao fim!
À semelhança do que já tinha acontecido com os Tenenbaums, grandes actores, nesse mais o Gene Hackman, Ben Stiller, e Danny Glover, neste mais o Murray, Dafoe, Jeff Goldblum.
E um espectáculo a banda sonora, apreciei sobretudo as músicas na última meia-hora, e os créditos finais, com os acordes de guitarra e a voz do Brasileiro Seu Jorge com aquele fundo por trás MUITO BOM!
Música Queen Bitch do David Bowie
Re: Life Aquatic With Steve Zissou (2004) - Wes Anderson
Mais uma etapa concluída do "Project Anderson", com a revisão do seu 4º filme.
Confirmei a ideia menos boa que tinha sobre o filme, de uma única visualização anterior, dos temps em que foi comercializado em DVD cá um Portugal. Considero-o o mais fraco dos filmes de Anderson, apesar de ser ao mesmo tempo um óptimo "showcase" das suas características de autor, muito representativo de temáticas e de processos narrativos, pelo menos a espaços. É um filme extremamente ambicioso e carregado de (boas) ideias, mas aparenemente não as soube explorar e conjugar entre si. Falhou para mim em duas ou três vertentes essenciais. Uma, as personagens face ao cenário. As personagens, que neste filme estão a milhas do brilho e do polimento fatalista que no filme anterior as tornava tão irresistíveis, e sobretudo que era determinante para que formasem uma verdadeira "família disfuncional" - são aqui antes e apenas elementos disfuncionais, apesar de quererem muito ser uma família. Não há química, e não há um verdadeiro cenário compartimentado idiossincrático a nível visual que sustente essa formulação. Não há bases para firmar o dramatismo dessa disfuncionalidade, e não basta "dizer", é necessário "mostrar". Anderson filma o navio (para o qual construíu uma megalómana réplica aberta ao meio em estúdio) com grande sentido de aproveitamento espacial, mas sem garantir a ligação entre "os quartos" e cada personalidade - talvez que o único beneficamente afectado por isto seja Steve Zissou (Bill Murray), o comandante, já que o barco no seu todo é como que uma extensão física da sua psique, com "quartos trancados" que ele de vez em quando decide arrombar. Duas: argumento e os diálogos parecem um molho de bróculos nas voltas e nas reviravoltas que dão. O filme até começa muito bem, com uma farsa auto-centrada, ao colocar a apresentação de um documentário marítimo, filmado por Zissou, numa sala de teatro clássico, toda virado para a arte, e com uma plateia de snobs que parecem ter ido assistir a uma ópera, mas a partir de certa altura, quando o cenário se torna "exterior" no mar alto, e o argumento exige "acção", as sequências disparatadas e ridículas, no mau sentido, começam a suceder-se. Três: também como consequência disso, o humor deixa de ser alegórico e ironico e passa quase a slapstick, um território em que Anderson não se dá nada bem - a sequência do assalto dos piratas é o melhor (ou pior) exemplo dessa desadequação. Há grandes oscilações temáticas e narrativas entre o "modelo Anderson" e os desvios para o lado da comédia mais directa e absurda, e creio que estas duas partes não jogam bem uma com a outra no filme. Há mesmo pormenores que não dá para perceber, como por exemplo o cão com três patas e a sua contribuição para a narrativa (?!) .
Este foi o primero filme em que Owen Wilson não participou como argumentista auxiliar, e em vez dele surge o nome de Noah Baumbach, um realizador de renome que teria à partida muito em comum com Anderson, mas não posso dizer que tenha ficado deslubrado com o resultado desta colaboração.
(texto em construção)
Confirmei a ideia menos boa que tinha sobre o filme, de uma única visualização anterior, dos temps em que foi comercializado em DVD cá um Portugal. Considero-o o mais fraco dos filmes de Anderson, apesar de ser ao mesmo tempo um óptimo "showcase" das suas características de autor, muito representativo de temáticas e de processos narrativos, pelo menos a espaços. É um filme extremamente ambicioso e carregado de (boas) ideias, mas aparenemente não as soube explorar e conjugar entre si. Falhou para mim em duas ou três vertentes essenciais. Uma, as personagens face ao cenário. As personagens, que neste filme estão a milhas do brilho e do polimento fatalista que no filme anterior as tornava tão irresistíveis, e sobretudo que era determinante para que formasem uma verdadeira "família disfuncional" - são aqui antes e apenas elementos disfuncionais, apesar de quererem muito ser uma família. Não há química, e não há um verdadeiro cenário compartimentado idiossincrático a nível visual que sustente essa formulação. Não há bases para firmar o dramatismo dessa disfuncionalidade, e não basta "dizer", é necessário "mostrar". Anderson filma o navio (para o qual construíu uma megalómana réplica aberta ao meio em estúdio) com grande sentido de aproveitamento espacial, mas sem garantir a ligação entre "os quartos" e cada personalidade - talvez que o único beneficamente afectado por isto seja Steve Zissou (Bill Murray), o comandante, já que o barco no seu todo é como que uma extensão física da sua psique, com "quartos trancados" que ele de vez em quando decide arrombar. Duas: argumento e os diálogos parecem um molho de bróculos nas voltas e nas reviravoltas que dão. O filme até começa muito bem, com uma farsa auto-centrada, ao colocar a apresentação de um documentário marítimo, filmado por Zissou, numa sala de teatro clássico, toda virado para a arte, e com uma plateia de snobs que parecem ter ido assistir a uma ópera, mas a partir de certa altura, quando o cenário se torna "exterior" no mar alto, e o argumento exige "acção", as sequências disparatadas e ridículas, no mau sentido, começam a suceder-se. Três: também como consequência disso, o humor deixa de ser alegórico e ironico e passa quase a slapstick, um território em que Anderson não se dá nada bem - a sequência do assalto dos piratas é o melhor (ou pior) exemplo dessa desadequação. Há grandes oscilações temáticas e narrativas entre o "modelo Anderson" e os desvios para o lado da comédia mais directa e absurda, e creio que estas duas partes não jogam bem uma com a outra no filme. Há mesmo pormenores que não dá para perceber, como por exemplo o cão com três patas e a sua contribuição para a narrativa (?!) .
Este foi o primero filme em que Owen Wilson não participou como argumentista auxiliar, e em vez dele surge o nome de Noah Baumbach, um realizador de renome que teria à partida muito em comum com Anderson, mas não posso dizer que tenha ficado deslubrado com o resultado desta colaboração.
(texto em construção)
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva