Tópico sobre política

Qualquer assunto que não tenha nenhuma relação com as temáticas abordadas noutras secções do fórum.

Moderator: Rui Santos

Locked
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Samwise wrote: April 8th, 2018, 12:10 am José Miguel, estou a ler com atenção, mas já vi para algumas linhas, a propósito da Catalunha e do envolvimento da URSS na guerra civil espanhola, que me fizerem torcer bastante o nariz, essencialmente porque me pareceram parciais e facciosistas. Vou aguardar por desenvolvimentos para depois comentar.
É assim mesmo Samwise! yes-) Não espero menos vindo de ti, pois então não serias o Samwise que conhecemos do fórum! :twisted:

Irás encontrar as respostas que procuras no documentário britânico de 1983, com 5 episódios de 1 hora.

Vou adiantar um pormenor confirmado em telegramas do Estaline, para o chefe de estado da República Espanhola, durante o golpe de estado do Franco, na década de 1930.

O Estaline pede ao chefe de estado espanhol, que se distancie do Partido Comunista Espanhol e do Comunismo, pelo motivo da França e Reino Unido não gostarem do Comunismo. O Estaline explica que a URSS não tinha capacidade militar para ajudar a Espanha a combater o poderio militar da Alemanha Nazi, oferecido a Franco, em nome do Fascismo, e que só uma ajuda militar combinada da França e Reino Unido, poderiam salvar Espanha do golpe de estado militar, apoiado pela Alemanha Nazi.

O que se passou na Catalunha (Utopia futurística do Star Trek) nada teve haver com comunismo. Essa história do "Anarquismo" (não no sentido de desordem) fez com que as mulheres andassem de espingarda ao ombro, e a maléfica Igreja Católica perdesse finalmente o poder de fazer mal ao povo, que já vinha da Idade Média. Assim, com mulheres catalãs de espingarda ao ombro, acaba toda a descriminação sexual milenar contra as mulheres, e todo o abuso religioso contra o povo, pois de repente a Igreja Católica viu-se sem uma ditadura que apoiasse as suas maldades contra a sociedade, e as mulheres catalãs podiam fazer o "amor livre" e terem profissões de homem, se algum homem fascista ou padre refilasse, elas davam-lhe um tiro. Foi assim que as mulheres catalãs de 1930 viveram a liberdade que nós hoje gozamos em 2018. yes-) salut-) Um Século antes...
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Aldeia de Santa Marta em Tierra de Barros

Image
Fotografia tirada por uma amiga minha, quando eu fui comprar tabaco e vinho a Espanha no verão passado

Este texto será político acerca do patriotismo e nacionalismo português, não será político no sentido do clubismo ideológico da Esquerda vs Direita, mas quando um cidadão português diz que um queijo ou um vinho são melhores do que os espanhóis, "porque são portugueses" isso é muito mau, mas nem sempre se trata de vestígios do Salazarismo e por vezes esta anomalia psíquica entra no mesmo foro psiquiátrico do clubismo do futebol.

Não irei falar de presunto, porque nesse aspecto os espanhóis e portugas são iguais, e o presunto ibérico é igualzinho em ambos os países, aliás em Dezembro ocorreu um escândalo diplomático internacional, quando o presunto português ficou retido a caminho da Venezuela, e o Presidente da Venezuela acusou o governo português de sabotagem do petisco de natal venezuelano, ao serviço do governo norte-americano. O que eu mais lamento nesa situação ridícula foi a incompetência da Imprensa portuguesa, que nem sequer sabe escrever português e chama "pernil" ao presunto, porque são jornalistas cábulas, que foram um zero à esquerda na escola, e só passaram nos testes a copiarem e com cábulas. É o jornalismo português do século XXI, composto de idiotas que não sabem fazer jornalismo, nem escrever artigos, e apenas fazem Google Translate do Inglês para PT-PT. Aqui foram apanhados ao traduzirem mal "Presunto" como "Pernil", é mesmo malta estúpida que imaginava que Portugal mandava de barco pernis de porco crús a apodrecerem durante a viagem, e não percebe que se tratavam de presuntos curados. Em espanhol Presunto diz-se "Jamón" e o artigo do jornal espanhol ABC não deixa dúvidas:

http://www.abc.es/internacional/abci-cr ... ticia.html

Já agora a palavra "presunto" existe em espanhol, mas significa "presumível" (suspeito) e não a comida.

Image
Uma amiga minha ao lado da garrafa de tinto, à entrada da aldeia de Santa Marta. Se ela ralhar comigo por eu usar a foto terei de a remover, peço desculpa. Fui eu que tirei a fotografia e gosto muito de como ficou.

Conversa de vinhos

O vinho tinto espanhol mais famoso é o Rioja, é bom mas é muito adocicado para acompanhar um queijo forte francês ou azul dinamarquês, por acaso o vinho Rioja baixa muito de preço se for comprado ao pé de Saragoça, e em vês de 10 euros já custa 3,50. Em Espanha o Carrefour não funciona com produtos fixos como o Continente em Portugal, e para se comprar um chouriço, queijo ou vinho mais barato, é mesmo preciso ir ao Carrefour dessa região, por exemplo o famoso chouriço de Leão (do Reino de Leão) pode ser comprado no Carrefour de Salamanca por 1 euro, mas no Carrefour de Badajoz já custa 5 euros (é uma iguaria regional DOC).

O vinho tinto que mais gosto é o "D. O. Ribera del Guadiana", que custa apenas 1 euro no Carrefour de Almendralejo (as adegas são de lá e por isso fica muito barato), é a mesma região ibérica do Alentejo que fica ao lado do Alentejo, mas em Portugal um bom tinto alentejano como esse custa logo 5 euros. Eu sei que o Pingo Doce vende vinho alentejano a menos de 2 euros, o problema é que em Espanha o vinho alentejano da Ribeira do Guadiana tem a qualidade do alentejano português caro de reserva, que custa 5 euros, mas se for comprado na zona, apenas custa 1 euro.

De acordo com a lei da UE, eu posso trazer o seguinte no meu carro:
800 cigarros
400 cigarrilhas (com peso máximo de 3 gramas por unidade)
200 charutos
1 kg de tabaco
10 litros de bebidas espirituosas
20 litros de vinho beneficiado
90 litros de vinho (dos quais, no máximo, 60 litros de espumante)
110 litros de cerveja

Fonte: https://europa.eu/youreurope/citizens/t ... dex_pt.htm
O meu carro é pequeno e não me cabem 90 litros de vinho tinto espanhol... (e já trago 1 kg de tabaco, chouriços e coca-colas). :-(

Conversa de queijos

Eu sou um gajo completamente contra os nacionalismos e patriotismos, isso para mim é cagada nazi e fascista que acaba quase sempre em genocídio e matança de criancinhas. Eu já disse aqui no fórum, que o limite do meu patriotismo enquanto cidadão português será o bom queijo regional português, como o queijo de Seia, ou a perícia de navegação e cartografia de alguns navegadores dos Descobrimentos.

Na margem sul (de Lisboa) existe o bom queijo de Azeitão, bom e muito caro. Esse queijo apenas existe graças ao governo de França, há poucos anos atrás o malandro do Barack Obama, quando era presidente dos EUA, tentou forçar os governos europeus a serem coutadas de caça e estados-vassalos dos EUA, através do Free Trade Agreement entre a UE e os EUA. A esmagadora maioria dos governos da UE, incluindo o governo português, puserem-se de joelhos e baixaram as cuecas, prontos a assinar o decreto-lei que permitia que o queijo de Azeitão fosse feito nos EUA, e que o vinho do Porto fosse feito na Califórnia. A França vetou o acordo, a França o herói dos europeus, a França que teve tomates para fazer o manguito ao malandro do Barrack Obama (cabrão de merda que queria foder o vinho do Porto ao povo português), quando o governo português baixava as cuecas e se ajoelhava para ser abusado pelo Barrack Obama, em nome do poderio militar norte-americano.

Em agradecimento à intervenção do governo francês no Parlamento Europeu, posso então comparar o queijo português de Azeitão com a Torta de Barros de Almendralejo.

Eu adoro o queijo de Azeitão, mas custa 20 euros o kg. O que é curioso do ponto de vista histórico, é que esse queijo é DOC e único em Portugal, conforme manda a lei da UE (que a França defendeu a ferro e fogo, contra os EUA!), mas ao passear em Espanha descobri um queijo igualzinho em Espanha, também DOC e único em Espanha, que é igual ao de Azeitão. Acho que faz sentido que algum pastor de ovelhas ou de cabras espanhol, tenha usado a mesmíssima técnica do pastor português de Azeitão. Em Espanha existe um queijo igual ao de Azeitão em Portugal, que se chama "Torta de Barros", mas em vês de custar 20 euros o kg, apenas custa 10-14 euros o kg (conforme esteja em promoção ou não), mesmo assim ainda fica caro. Esse é o preço em Espanha na região "Tierra de Barros" (Santa Marta, Aceuchal, Almendralejo), fora da região o queijo passa a 30 euros o kg e ainda fica mais caro do que o queijo de Azeitão português.

Eu costumo comprar em Espanha uma saca com 2kg de queijos, embrulhadas num lacinho vermelho, que custa 10 euros (portanto 5 euros o kg), que contém queijos curados de cabra, ovelha e mistura. Esse preço em Portugal é Impossível, no nosso país pedem logo 5 euros o kg por um Edam ou Flamengo de Vaca, que não sabe a nada, se for um queijo de ovelha ou cabra, já pedem mais de 5 euros em Portugal (abuso contra o povo português!).

Image
Placa a dizer "Santa Marta", à entrada da aldeia espanhola, terra de bons queijos e de bons vinhos

Conversa de Taberna

Epa! Tenho muitos vizinhos nacionalistas que dizem que o que é português é que é bom. Foi preciso eu oferecer umas farinheiras e chouriços espanhóis, para assar, para que os meus vizinhos da taberna acreditassem que as coisas eram mais baratas em Espanha. Existe malta portuguesa que só deixa de ser nacionalista quando tem fome e lhes ofereço um chouriço espanhol assado em álcool. São os meus vizinhos que acham que eu sou maluco... :roll:

Não acho que eles sejam fanáticos de extrema-direita ou fascistas... são apenas como a avestruz que esconde a cabeça no buraco, para não aceitar a realidade.

De vez em quando lá aparece um a dizer que fica excitado com os discursos do Adolf Hitler, e que até estudou alemão para melhor apreciar o ódio racial. Em seguida o vizinho começa a dizer que não existiu nenhum holocausto, e que foi tudo uma mentira dos israelitas e comunistas, ele diz que o Hitler era muito amigo de Portugal e coisas do género. Felizmente há sempre um ou outro vizinho com grandes "cojones" que mete o neo-nazi no sítio que foge logo envergonhado, e não aparece durante uma semana. Assim é uma taberna lisboeta... oops:)

Image
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Publicidade descarada à região de Almendralejo

No ano passado realizou-se ali a 1ª Feira Ibérica do Vinho, com vinho de Setúbal e fado português.

Image
Bodegas extremeñas y portuguesas ofrecen al público sus vinos en la 1ª Feria Ibérica del Vino

8 junio, 2017

Enmarcado en la quinta edición de la Primavera Enogastronómica, que organiza la Ruta del Vino Ribera del Guadiana entre los meses de marzo y junio, se celebra la primera edición de la Fiesta Ibérica del Vino. Bodegas extremeñas y portuguesas se darán cita el próximo fin de semana en la Plaza de Toros de Almendralejo para dar a conocer sus vinos en una fiesta enogastronómica repleta de catas, degustaciones, visitas guiadas, monólogos de humor, talleres de sablage o de cócteles de cava y showcooking, así como música en directo, entre otras sorpresas.

La Primavera Enogastronómica, el gran evento de enoturismo organizado por la Ruta del Vino Ribera del Guadiana y que cada fin de semana ofrece multitud de propuestas para conocer y disfrutar de la cultura del vino en Extremadura, entra en su recta final. Sin embargo, antes de despedir su quinta edición, recala en Almendralejo para celebrar una de sus novedades de este año: la I Fiesta Ibérica del Vino.

Un homenaje a la riqueza vitivinícola y gastronómica a ambos lados de la frontera entre España y Portugal, cuyas bodegas se darán cita los próximos 10 y 11 de junio en la Plaza de Toros de la ciudad con el fin de dar a conocer sus vinos de una forma lúdica y participativa, con catas populares, degustaciones, talleres y demostraciones, además de una programación de visitas guiadas a los principales recursos enoturísticos de la zona.
Image

Por acaso é triste saber que este evento de 2017 não foi divulgado em Portugal, tendo sido uma parceria com Portugal, com vinho português e tapas (petiscos) a 1 euro.

http://www.rutadelvinoriberadelguadiana ... -del-vino/

Fica a informação como complemento ao meu texto político anterior acerca do nacionalismo-patriotismo português. Eu conheço bem Almendralejo e a mim ninguém me tem de pagar para eu dizer bem dessa cidade espanhola.
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Fiquei com fome (e com sede) só de ler esses posts... :lol:

---

O Observador publicou o resumo de uma entrevista que nosso Primeiro M. deu ao The Economist, e eu como não gosto muito de resumos, fui à procura do artigo original. Está aqui: https://www.economist.com/news/europe/2 ... ope-except

É curioso como a nossa geringonça é vista lá fora...
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Toda a entrevista é "luminosa", mas a partir do minuto 14:30 começa uma conversa sobre as diferenças entre os sistemas de leste e a sociedade capitalista para onde o realizador se mudou (Paris, depois de começar a realizar filmes), neste caso de um ponto de vista essencialmente artístico, cultural e social. (*)



Estou a rever o Bitter Moon. É a segunda vez que vejo o filme, sendo que a primeira sucedeu quando ainda era jovem e literalmente ignorante acerca da realidade acerca da vida conjugal. Já tinha gostado do filme então, e agora que a perspectiva é substancialmente mais "informada", estou a deliciar-me.

(*) mais ou menos a meio da entrevista há um intervalo - é engraçado ver os anúncios. :-)))
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Um vídeo meu acerca do fim do fascismo em Portugal, com música muito bonita da Mercedes Sosa.

Fiz este vídeo com 3 documentários sobre Portugal, um deles é do arquivo nacional italiano de propaganda fascista durante a 2ª Guerra Mundial e mostra a suástica nazi numa bandeira da mocidade portuguesa, num encontro em Lisboa (durante a guerra), onde se juntou a Falange Espanhola (Extrema Direita que lutou ao lado do Franco e que até 1975, andava impunemente pelas ruas de Madrid a comportar-se como as SA alemãs, durante a Noite de Cristal, a Falange batia nos cidadãos espanhóis que não soubessem cantar a música fascista "Cara ao Sol", e partia lojas que não exibissem símbolos patriotas em determinadas ocasiões), a juventude hitleriana do 3º Reich, fascistas italianos a apoiar o Mussolini, etc. Basicamente um encontro em Lisboa dos 4 países fascistas (Portugal, Alemanha, Espanha e Itália).

Tenho as fontes na descrição You Tube do vídeo.

Eu criei este vídeo por um instinto irresistível, ao descobrir a música hispânica da Mercedes Sosa, que é tão poderosa como as canções do Manuel Freire, achei que essa grande música combinaria muito bem com o fim do fascismo em Portugal. Por outro lado o meu novo canal do You Tube, já tem 200 subscritores, que na sua maioria acho serem cinéfilos estrangeiros com gostos em cinema iguais aos meus, que ficam intrigados com os filmes obscuros que eu apresento nos meus trailers. Sendo assim escrevi os meus comentários em inglês, pois julgo que o tema terá interesse para muitos estrangeiros.

No entanto, será aqui no fórum português que mais poderão gostar de ver este vídeo musical meu. Eu gosto muito de criar estas montagens musicais, e acho que esta ficou muito bonita e poética.

Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Muito boa colagem, José Miguel. Gostei deveras desse teu resumo.

Creio é que as referências não estão todas explícitas para quem não conhece minimamente o que se passou, ou quem são as figuras e as entidades que por vezes aparecem (a PIDE, o Salgueiro Maia, a situação dos retornado, o Cunhal e o Soares - e o célebre debate que foi um confronto de ideologias, ...)
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Para quem gosta de teorias da conspiração (ou só de conspiração, sem teoria à mistura), atentem ao que se está a passar na imprensa portuguesa e de que forma são criados "filtros" sobre determinadas notícias. Em concreto, porque me parece evidente em demasia, a questão dos lucros elevados que a TAP registou em 2017, noticiados há quase uma semana por alguns orgãos de comunicação social, mas estranhamente silenciados por outros. Estamos a falar dos 100 milhões de lucro, um valor recorde que vai para muitos anos. Comparem, por exemplo, com a notícias e orgão que no passado divulgaram os prejuízos desta mesma companhia.

Googlando "TAP lucros" dá isto: https://www.google.com/search?q=tap+luc ... =firefox-b

Googlando "TAP prejuízos" dá isto: https://www.google.com/search?q=tap+pre ... 80&bih=942

O Observador, o Expresso, o Público e a TSF. Nenhum destes orgãos transmitiu a notícia dos 100 milhões de lucro, divulgada há 5 dias pelo Jornal de Negócios.

É no mínimo estranho...
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Tópico sobre política

Post by JoséMiguel »

Antes de eu avançar com o meu assunto da transição democrática espanhola, quero deixar uma nota ao Samwise, dizendo que concordo com a queixa dele em termos gerais. Não faço ideia do assunto em concreto que ele refere no exemplo, mas concordo plenamente com a queixa dele em termos gerais, por exemplo por volta do ano 2000 eu li na imprensa norte-americana as manchetes acerca de Portugal, com documentos desclassificados pelo KGB e CIA, que diziam muitas coisas pertinentes, entre elas que o PS é um partido financiado pela CIA, com mútuo acordo pelo KGB soviético, que deixou de financiar o PCP no final dos anos 70. Mas na imprensa portuguesa: Nem um piu sobre o assunto! (O que vem a ser isto? Grr:-) )

Espanha - Situação quando o Rei herda o poder supremo do Generalíssimo Franco

O ditador Franco quando já estava velhote e incapaz de ser ditador sozinho, promulgou duas leis. Uma delas era que o Rei de Espanha iria herdar os poderes máximos e supremos de ditador, de que o próprio Franco gozava, quando o Franco morresse. Até lá a 2ª lei que o Franco aprovou foi a criação de um posto de Presidente do Governo, uma espécie de nº2 que na prática não podia tomar nenhuma decisão sozinho e apenas era um moço de recados do ditador Franco.

Na prática este cargo de Presidente do Governo de Espanha, era equiparado ao Salazar não ter morrido mas ter ficado incapaz e pedir ajuda ao Marcelo Caetano para ser Presidente do Governo (sempre sob as ordens do Salazar).

Image
Luis Carrero Blanco (Santoña, 4 de março de 1903 [1] — Madrid, 20 de dezembro de 1973) foi um militar, e político espanhol. Ocupou diversos cargos no governo franquista; foi assassinado em um atentado quando era presidente do governo de Espanha durante a etapa final dessa ditadura.



Com o Franco ainda vivo, a ETA mandou pelos ares o carro do nº2 (ajudante de ditador - Luis Carrero Blanco). A ETA utilizou explosivos em demasia e o automóvel saltou por cima de um prédio de Madrid, indo aterrar nas traseiras desse prédio, por cima de um convento de frades.

O que fariam vocês se fossem o Rei de Espanha, e herdassem os poderes máximos, supremos e totalitários do Generalíssimo Franco?

A pergunta é séria, realista e também filosófica!

Image
João Carlos (nome completo em espanhol: Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias; (Roma, 5 de janeiro de 1938) Rei da Espanha de 1975 até sua abdicação em 2014. Nasceu na Itália durante o exílio do seu avô, o rei Afonso XIII de Espanha, sendo filho do infante Juan, Conde de Barcelona e sua esposa a princesa María de las Mercedes de Borbón-Dos Sicilias.

Afonso XIII havia reinado a Espanha até 1931, quando foi deposto e a Segunda República Espanhola foi instaurada. Por expresso desejo de seu pai, a sua formação fundamental desenvolveu-se na Espanha, onde chegou pela primeira vez aos dez anos, procedente de Portugal, onde residiam seus pais desde 1946, na vila atlântica do Estoril, e foi aluno interno num colégio dos Marianos da cidade suíça de Friburgo.

O ditador Francisco Franco foi quem nomeou João Carlos como o futuro rei em 1969, após Espanha já ter extinto a monarquia.[1] Após a morte de Franco, conseguiu fazer a transição pacífica do regime franquista para a democracia parlamentar, gerando o consenso entre os diversos partidos políticos, incluindo regionais, e, segundo sondagens de opinião, uma grande popularidade entre os espanhóis.

Contudo, alguns incidentes durante o seu reinado levaram a que dois terços dos espanhóis desejassem que o rei João Carlos abdicasse do trono.[2] Em 2 de junho de 2014, o primeiro-ministro Mariano Rajoy recebeu do monarca a sua carta de abdicação.[3][4] Sucedeu-lhe o seu filho, Filipe VI, após a aprovação de uma lei orgânica tal como estabelece o artigo 57.5 do texto constitucional espanhol.[5] Em 11 de junho de 2014, o parlamento espanhol aprovou sua abdicação, com 299 votos a favor, 19 contra e 23 abstenções.[6]

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Carlos_da_Espanha
Eu odeio reizinhos, esse flagelo milenar do continente europeu, uma ditadura hereditária, protegida pela Santa Sé. No entanto vou elogiar este reizinho espanhol, que não foi nenhum boneco como a família real britânica, mas foi um homem que herdou de facto todos os poderes supremos de que gozava o ditador Franco.

Nessa altura (1975) o homem era casado e tinha filhos pequenos, e aparecia uma vez por ano na TVE, no natal, junto com a mulher e filhos, a desejar bom natal ao povo espanhol.

Eu localizei o vídeo original de 1975, o primeiro Natal espanhol com o Franco já morto e a primeira vez que o Rei João Carlos surge na TVE a desejar bom Natal ao povo espanhol.



Este rei espanhol não tem nada a ver com o duque de Bragança de Portugal!!!

Quando eu era criança nos anos 80, lembro-me de ver na RTP o espaço reservado a propaganda eleitoral, e nunca me esquecerei do PPM (Partido Popular Monárquico), em que o candidato era o Duque de Bragança.

Já em criança, eu fiquei "fodido" e lixado com o PPM, porque eu nasci logo após o 25 de Abril e sou de uma geração que não tolera nem aceita ditaduras em nome de Deus (a monarquia europeia reinvidica o Direito Divino, como justificação religiosa para fazerem mal ao povo, seja em que país europeu for).

Esta propaganda autorizada passava a seguir aos desenhos animados e antes do telejornal, lembro-me de perguntar ao meu pai o porquê de um nobre se candidatar ao governo português, estando eu em criança chocado com a falta de vergonha do Duque de Bragança dar a cara numas eleições.

Eu na altura não sabia quase nada de história, e de política sabia zero. Mas achei muito mal um nobre andar a fazer propaganda e ser candidato ao governo de Portugal. Eu já devia ter aprendido alguma coisa na escola acerca do Clero e Nobreza terem tido 98% da Riqueza e Portugal na Idade Média, e estava mesmo lixado com a Igreja e Nobreza.

Mas o meu pai era um homem que fazia questão que os filhos pensassem com a sua cabecinha, e nunca revelava em que partido político votava nem revelava se acreditava em Deus ou não. Eu hoje sei que ele era de esquerdas mas na altura a única coisa que ele disse acerca do P.P.M. (Partido Popular Monárquico), foi que o gajo tinha mesmo voz e ar de "Reizinho".

O meu falecido pai era um grande homem, que se recusava a influenciar os filhos com orientações políticas ou religiosas. Se todos os pais fossem como o meu não existiria terrorismo religioso ou fanatismo político. (Eu considero que a culpa do terrorismo religioso é dos pais que incutem valores religiosos nos filhos, sejam cristãos ou muçulmanos, e não dos filhos terroristas suicidas, que apenas foram vítimas de propaganda religiosa pelos seus próprios pais).

Este rei espanhol João Carlos, também foi um grande homem. Não por ter medo de assumir o poder de Franco e de ver a sua família morta com bombas da ETA, pois para isso bastava ele não ter feito nada. Mas ele fez muito... começando por mandar pessoas de confiança a França, para pedir ao Partido Comunista Espanhol (PCE) que estava exilado, que regressasse a Espanha em certa altura, não podia ser de imediato porque com a constituição espanhola e governo de 1975, qualquer comunista era fuzilado de acordo com a lei.

Este Rei espanhol apenas usou os seus poderes para trazer democracia a Espanha, através de manobras políticas e diplomáticas muito perigosas para ele e sua família.

Foi também ele, que travou um golpe de estado nos anos 80, quando os fascistas tomaram o parlamento espanhol com metralhadoras e a cidade de Valência com tanques. É que ele foi publicamente indicado pelo próprio Franco, como herdeiro plenipotenciário (Ditador Supremo) e bastou uma mensagem do Rei na TVE, durante a madrugada, para travar o golpe de estado fascista. É que os fascistas fanáticos eram obrigados a seguir a última vontade do Franco, que era este Rei João Carlos como seu sucessor.

Este Rei herdou todos os poderes do Franco, mas só os usou para aparecer com os filhos a desejar bom natal ao povo espanhol e correr com os fanáticos fascistas do governo. Ele substituiu um fanático pelo Adolfo Suárez, como chefe do governo espanhol, durante a Transição (1975-1982). Ele teve de agir devagar e com tacto para não provocar os fanáticos fascistas, muitos deles generais no exército.

Esse Adolfo Suárez, era um homem do regime franquista, mas não era fanático fascista. Em bom português esse gajo era o típico político corrupto portuga, que apenas procura enriquecer. Mas mesmo um gajo corrupto parecido com os políticos portugueses era uma benção nesse barril de pólvora que era Espanha entre 1975-1982. Olhem! Ao menos já se podiam ver mulheres nuas em revistas! Até então era proibido mulheres com mamas ao léu por serem um pecado religioso da Igreja Católica, tal como era proibida por lei a homossexualidade. Sim! Um gay ia para a prisão espanhola em 1975, pelo crime religioso de ser gay! Assim foi o Fascismo alinhado com a Igreja Católica.

Tenho muito gosto em mostrar o comunicado de emergência, na TVE, na noite em que o governo espanhol estava refém, com metralhadoras apontadas à cabeça, no golpe de estado de 1981. Este rei João Carlos, por ser o herdeiro oficial de Franco, deu uma contra-ordem ao exército rebelde espanhol (Sim, em 1981 já havia um exército rebelde em Espanha e a situação estava à beira de cair numa ditadura militar):



Este rei espanhol não tem nada que ver com o Duque de Bragança português, que provavelmente apenas queria arranjar uns "tachos" para os amigos, caso o PPM fosse eleito nos anos 80. :o

Eu tenho visto notícias acerca de escândalos financeiros e corrupção da família real espanhola, ou seja os filhos deste João Carlos. Epá! Eu não vejo com bons olhos a Monarquia, se os filhos do João Carlos meteram dinheiro ao bolso e foram apanhados pela justiça espanhola, isso não altera o que o homem fez por Espanha em 1975. Reparem que em Espanha não existiu nenhuma revolução como o 25 de Abril, e tão pouco seria possível algo semelhante, porque o Franco tinha tudo "atado e bem atado", de modo a impossibilitar "Capitães de Abril" no exército espanhol.
User avatar
Rui Santos
Site Admin
Posts: 6164
Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
Location: Portugal - Lisboa / MAC
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Rui Santos »

@José Miguel, honestamente penso que tivemos um homem muito parecido em Portugal ao Rei JC, o Presidente de Republica General Ramalho Eanes, acredita que entre a esquerda radical pós 25 abril e os amantes de Salazar, passando pelos militares sedentos de poder... foi o único com uma visão de futuro correta, e um verdadeiro democrata no meio do caldeirão de confusão que foi Portugal, quer no verão quente de 75 quer até à revisão da constituição salvo erro de 1982.
Apenas errou quando se deixou enganar pelo PRD, mas foi o primeiro a saltar fora quando percebeu que era um erro.
Depois disso, está calmamente calado, e ainda recentemente numa entrevista ao expresso mostro como é um tipo às direitas... como poucos.
As entrevistas que o expresso fez a ex-PR depois do 25/04... ver Ramalho Eanes, Jorge Sampaio...e depois ler Cavaco Silva grr-)
Rui Santos - 54 Anos | 22 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Eis um super-artigo de opinião e uma super-resposta a todos os que critica(ra)m a divulgação de imagens de interrogatórios a José Socrates. Dada a multiplicidade e complexidade de questões em debate e em confronto, arrisco-me a dizer que é dos melhores artigos (de opinião) que tenho lido na imprensa portuguesa nos últimos 10 anos. Foca os pontos essenciais, delimitando-os, explicando-os e justificando-os.

O texto original, no site do Expresso
Isto não é não jornalismo, por Ricardo Costa (director de informação da SIC)

Uma das decisões mais banais e corriqueiras do jornalismo assenta nas escolhas que se fazem no dia a dia. Que temas se abordam, que destaque se dá a este ou aquele assunto, que ângulos de abordagem se usam. São opções condicionadas por uma série de fatores - que vão do interesse e da novidade até questões tão básicas como o haver ou não jornalistas com tempo, meios e conhecimentos para o fazerem -, que estão e estarão na base de qualquer dia de trabalho numa redação.

Essa é a questão de partida para o atual discussão sobre os trabalhos que a SIC fez sobre a Operação Marquês, com a acusação concluída e, portanto, fora do âmbito do segredo de justiça. Perante a divulgação da acusação mais grave da nossa democracia, que cruza a maior falência bancária do pós-25 de Abril e o colapso da joia da coroa da bolsa portuguesa, o que devem os jornalistas fazer?

Não estou a perguntar o que deve a Justiça fazer nem o que devem os políticos fazer. A justiça deve correr o seu tempo, assente em várias fases processuais e em recursos fundamentais. A política, essa, deve fazer as escolhas que quiser, sendo que uma delas pode ser ignorar que um ex-primeiro-ministro está acusado de uma série de crimes gravíssimos, num processo que envolve o banqueiro privado mais relevante do nosso período democrático e alguns gestores idolatrados.

Se é claro que a justiça não tem de fazer escolhas e que a política se pode escudar nas regras da justiça para justificar as suas omissões, é igualmente claro que os jornalistas têm a obrigação de fazer escolhas. Uma das mais habituais é não fazer nada. Como me ensinaram há muitos anos, editar é escolher. Naturalmente, escolher não fazer nada é sempre uma opção.

Mas não fazer nada de jeito, nada de relevante, nada de fundo sobre a Operação Marquês é mesmo uma opção jornalística? Deve mesmo tratar-se este caso como todos os outros ou como as questões do momento que vão e voltam? Ou, neste caso, é uma profunda e determinada opção de não jornalismo?

É mesmo uma opção editorial dedicar mais recursos e tempo a falar dos dramas do consumo do abacate ou do futuro da mobilidade urbana do que da Operação Marquês? A pergunta é demagógica e capciosa, porque qualquer jornal, site, rádio ou televisão fazem dezenas de escolhas diárias em paralelo e umas não anulam as outras. Mas a resposta não é demagógica nem capciosa: não, não deve ser opção editorial não dedicar um esforço sério a este caso. Infelizmente foi a de muitos jornalistas e redações, que se esconderam na confortável sombra de um manto que explica tanto o tempo da justiça como o silêncio tático da política.

Os jornalistas não são juízes nem políticos. Não se devem confundir com eles. Mas não podem usar as limitações ou as hesitações daqueles como argumentos para a sua confortável inação, que, no limite, redunda numa profunda incompetência ou inutilidade.

Quando, no final do ano passado, a acusação deste processo saiu tive necessidade de a ler. São quatro mil páginas, que todos os jornalistas das áreas de política, economia ou nacional deviam obrigatoriamente ler. Felizmente trabalho numa redação onde vários jornalistas se deram ao trabalho de a ler. Os que acompanham a Operação Marquês há anos e anos fizeram-no de forma sistemática e profissional. No fim dessa leitura, decidimos, em conjunto, que se deviam fazer várias reportagens que enquadrassem jornalisticamente o que ali estava, tal é a gravidade e dimensão daquele documento. Podia ser feito de várias maneiras, mas escolhemos três ângulos: as entregas de dinheiro, a casa de Paris e o saco azul do GES.

Acho estranho que muitos tenham preferido a não-escolha. Perante o caso judicial mais grave da nossa democracia e a falência bancária que mais dinheiro leva aos contribuintes, reduziram este caso a um assunto judicial. Ora este é um erro gravíssimo, porque este caso é judicial, é político, é financeiro, cruza toda a nossa sociedade. A justiça deve fazer justiça e os jornalistas devem fazer jornalismo. Não dedicar tempo e recursos a este caso é uma omissão jornalística que, na minha opinião, não tem perdão nem justificação.

Há um tempo para a justiça, há um tempo para a política (?) e há um tempo para o jornalismo. O tempo do jornalismo, neste caso, está a correr há alguns anos, e corre de forma urgente desde que a acusação foi produzida. Não dar aos leitores, espectadores ou ouvintes trabalhos de fundo sobre a Operação Marquês é anular o papel dos jornalistas numa democracia. É decretar um intervalo de uma década até que o caso transite em julgado. Nessa altura levantam o cordão sanitário e fazem um ar de espanto com o que esteve sempre à frente dos seus olhos. Talvez, então, batam com a mão no peito e se encham de coragem para fazer de carro vassoura da 25ª hora . Boa sorte.

O trabalho da SIC levou quatro meses a fazer. A meio desse trabalho, um dos jornalistas envolvidos - e os três (Sara Antunes de Oliveira, Amélia Moura Ramos e Luís Garriapa) acompanham a Operação Marquês desde o início - teve acesso a material dos interrogatórios. Para quem não saiba, os interrogatórios são gravados em áudio há muitos anos e, entretanto, começaram a ser gravados em vídeo. Todos os advogados sabem isso; os que não sabem são incompetentes. Este argumento só não é inútil porque, espantosamente, alguns colegas meus resolveram desenterrar o argumento de que os acusados da Operação Marquês e os seus advogados não sabiam que estavam a ser filmados. Sabiam, mas isso é irrelevante para a questão de fundo.


Perante aquele material - que está nas mãos de dezenas e dezenas de pessoas ligadas ao processo -, tivemos várias discussões sobre se devíamos ou não usar alguma coisa e, em caso afirmativo, que critérios devíamos ter em conta. Convém explicar que a esmagadora maioria das frases relevantes - sejam as obtidas através de escuta, sejam as dos interrogatórios - já tinham sido divulgadas na acusação, que não está em segredo de justiça, ou em vários trabalhos de jornais e até da SIC. A questão que se colocava era, do ponto de vista jornalístico, a do uso da imagem e, consequentemente, do direito à imagem dos acusados num ambiente negativo, perante juízes de instrução, procuradores ou inspetores tributários.

O direito à imagem é fundamental numa democracia. Como é o direito à informação. O que coloca, por vezes, estes dois direitos frente a frente é o interesse público. Não vejo - foi essa a conclusão a que chegámos internamente na SIC -, nenhum caso onde o interesse público seja mais relevante. Como o interesse não justifica tudo, decidimos que só devíamos usar frases fundamentais para a compreensão da investigação, expurgadas de qualquer coisa que fosse da esfera privada ou íntima, gratuita, jocosa ou acessória. As reportagens foram editadas e reeditadas tendo isso em conta, cruzando a opinião de várias pessoas. Além disso, decidimos usar apenas imagens de acusados (e não de arguidos ou testemunhas), exatamente porque este caso já tem uma acusação pública. Abrimos uma única exceção para Francisco Machado da Cruz, o contabilista que geria o saco azul do BES/GES, por considerarmos o seu testemunho fundamental à explicação da maior falência dos nossos tempos.

Já sabia que o peso da imagem é desproporcionado no nosso espaço público, sobretudo junto das elites. Mas é estranho ver um jurista como João Taborda da Gama defender que ver pequenos excertos de interrogatórios é pornografia judicial, quando aquelas declarações já foram publicadas por escrito ou recriadas (com outras vozes ) em vários órgãos de comunicação social e não o fizeram corar. Ou seja, a pornografia é, aos seus olhos, um conceito que assenta na imagem - e não no conteúdo. Livros pornográficos, agora, só sem bonecos. Filmes pornográficos, tudo bem desde que sejam dobrados num espanhol lúbrico; no original é que não. Lido, até passa. Visto e a cores, faz corar. Pois, a mim, a Operação Marquês fez-me corar quando li, quando ouvi e quando vi. Corei de vergonha da nossa democracia, da política que finge que não se passa nada e do jornalismo ao retardador ou que não faz o seu trabalho para não atrapalhar a justiça.

Isto não é jornalismo, escreveu Vicente Jorge Silva. É sim, Vicente. Isto é um reality show, sublinhou Vicente. Tem razão, mas o reality show não é o jornalismo, é a vida de José Sócrates. E é sobre esse reality show (que só não digo ser pornográfico para não acordar o Taborda da Gama que talvez tenha dentro de mim) que a SIC fez um trabalho jornalístico. É nesse equívoco profundo que assenta a análise de Vicente Jorge Silva. O objeto do trabalho, esse sim, era um reality show.

Este jornalismo, Vicente, não é um reality show, como não é um pedaço de “cinéma verité” nem uma versão uncut. É jornalismo por estar editado, enquadrado e escolhido, expurgado do acessório, gratuito ou privado. Por ser feito por pessoas que acompanham o caso desde o início, jornalistas altamente especializados, que leram tudo o que existe no processo, que já falaram com os envolvidos, que sabem distinguir o trigo do joio, que fazem escolhas, que editam e enquadram. Que fazem reportagem na rua, que fizeram dezenas e dezenas de trabalhos sobre este caso, que têm fontes, que contam histórias. Esta história só é maior e mais feia do que as que o jornalismo hoje nos contam. O não jornalismo é o que muitos (não) fazem sobre um caso que conheces mal e devias conhecer melhor. Porque foste jornalista e porque, episodicamente, foste deputado. Preferes só conhecer a história da Operação Marquês no fim? É uma opção, mas não para jornalistas. Isso é para historiadores e arqueólogos.

A luta pela liberdade de imprensa e pelo direito à informação nunca acaba. E cruza-se, sempre, com outros direitos, num difícil equilíbrio que está na base de qualquer democracia. O jornalismo não pode abusar das suas prerrogativas, mas tem que ter sempre presente a sua missão principal, que é a de informar. A SIC fê-lo, preservando totalmente as testemunhas e arguidos irrelevantes (exceto o contabilista do GES/BES), focando-se nos acusados e usando apenas excertos que são centrais ao processo. Tudo isto num caso que foi (é) a maior ameaça à nossa democracia. Um primeiro-ministro acusado de corrupção passiva? Sim, é um caso extremo de defesa da democracia.

António Barreto não valoriza este ponto, achando que a justiça ou a política podem ser condicionadas por um trabalho destes, com traços excecionais. Não pode, a justiça seguirá o seu rumo, a política o seu ziguezague encadeado. António Barreto venceu um dos casos mais relevantes de direito à liberdade de expressão, contra o tenebroso Manuel Maria Carrilho. Fez bem em pisar o risco naquele artigo de opinião porque, ao ganhar o caso na justiça, mostrou o valor da liberdade da opinião. A SIC fez uma escolha difícil no processo que existe contra Sócrates. Não é um processo qualquer, é um onde a nossa democracia está em causa. Estamos cientes das nossas responsabilidades, mas não esquecemos os nossos deveres.

Não é preciso ir à “Aeropagitica”, de Milton, nem a Stuart Mill para aprofundar este ponto. António Barreto conhece-os de cor. Podíamos ir a casos célebres ou antigos para ver onde se mexeu a fronteira entre o direito à imagem e à privacidade vs. liberdade de informação. Fico só nos mais recentes. Wikileaks, Snowden, Panama Papers, Malta Papers, Football Leaks. Algum documento foi obtido de forma legal? Quantos violavam sigilo fiscal, bancário ou mails privados? O wikileaks estava pejado de piadas de salão de diplomatas americanos sobre os países onde estavam colocados. Os casos recentes de pessoas pagas pelo saco azul do GES violam quantos direitos? Vários, mas em todos estes casos o direito à informação se sobrepôs e os jornalistas souberam usá-los com cuidado e rigor.

O meu amigo Pedro Marques Lopes resolveu, num arroubo adjetivo, dizer que o trabalho da SIC era nojento. Não, Pedro, não é nojento. Nojento é uma palavra que deve ser usada com cuidado. E neste processo todo já há protagonistas de sobra à altura do adjetivo que agora lanças ao vento. Uns pelo que fizeram, outros pelo que calaram, outros ainda pelo não jornalismo que deliberadamente fazem.

Isto não é não jornalismo. Como ex-gestor, Pedro, sabes seguramente que uma dupla negativa resulta num valor positivo. Como nunca foste jornalista, não percebes isso, muito menos as dúvidas que nos assolam ou o que nos move. Quando o caso fechar, juntar-te-ás aos arqueólogos, historiadores e jornalistas de última hora, vais ler os livros que se vão lançar e assistir aos colóquios que se vão fazer em todo o país sobre o caso do século. Eu estarei numa fila lá atrás, ao lado dos meus colegas que assinaram estes trabalhos enquanto esbracejavas indignado. Nessa hora deixaremos a pista aos outros, aos que só pisam terreno confortável. Terás lá o teu lugar e, estou certo, encontrarás um adjetivo à altura.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
User avatar
Rui Santos
Site Admin
Posts: 6164
Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
Location: Portugal - Lisboa / MAC
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Rui Santos »

Por mais que leia, acho um nojo o que se está a passar. Desculpa mas vai completamente contra a minha noção de democracia. Que um julgamento se transmita em direto... vá que ainda percebo. Que seja uma audiencia / interrogatório e que seja o jornalista a fazer o papel de juiz, filtrando o que é importante para a noticia... honestamente acho exagerado.
Por isso por mais que algumas pessoas que até respeito (como é o caso do Ricardo Costa) defenda esta atitude, para mim não faz qq sentido.

Quanto à fuga da informação... nojo do ministério publico. Sinceramente... parece que só querem marcar golos fora das regras... começo a temer que se queira apenas golear nos jornais... e que depois estando os estragos feitos, venha a cantiga dos poderosos safam-se sempre, e das leis é que estão mal. Tipicamente a atitude da justica Portuguesa à anos.
Rui Santos - 54 Anos | 22 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

Rui Santos wrote: April 25th, 2018, 1:14 am Por mais que leia, acho um nojo o que se está a passar. Desculpa mas vai completamente contra a minha noção de democracia. Que um julgamento se transmita em direto... vá que ainda percebo. Que seja uma audiencia / interrogatório e que seja o jornalista a fazer o papel de juiz, filtrando o que é importante para a noticia... honestamente acho exagerado.
Por isso por mais que algumas pessoas que até respeito (como é o caso do Ricardo Costa) defenda esta atitude, para mim não faz qq sentido.
Rui, o assunto é certamente muito polémico e nada consensual (e será sempre - é um debate que dura desde que há imprensa livre, e que se vai acentuando por conta das possibilidades que as redes sociais vieram criar, para o bem e para o mal).

Eu não tenho a opinião completamente determinada ou radicalizada sobre estes assunto (porque são vários), mas sinto-me mais favorável à necessidade de preservar a completa liberdade de expressão na imprensa, deixado ao critério dos jornalistas profissionais as "manipulações" e a forma como apresentam os factos e as opiniões pessoais nos seus artigos (sejam notícias, reportagens, investigações, etc), e podendo isso por vezes significar que ser cometem erros, que se tomam decisões parciais, e que a matéria de base foi obtida por vias menos próprias, mesmo até ilegais e através de fontes ocultas. Sou mais favorável a este cenário do que a um outro em que estas hipóteses são negadas e decididas por poderes diferentes - nomeadamente por poderes defendidos por interesses privados. Um cenário de maior liberdade de imprensa significa que podemos ter ao mesmo tempo disponíveis no mercado livre coisas como o "Jornal do Avante" e o "Observador" em plena "coabitação", e que os interesses específicos de poderios privados ficam assim diluídos pela diversidade, não cativos, e por isso sujeitos a análises e escrutínio vindos de todos os quadrantes. Penso o conceito de democracia fica melhor defendido desta forma. Considero que a história está cheia de exemplos concretos em que a democracia beneficiou deste género de opções polémicas por parte da imprensa livre, quando cenários de crise como este, e bem piores, estiveram em cima da mesa de decisão ("Publicamos ou não publicamos?").

Como estamos num fórum de cinema, temos o caso bem recente do filme The Post, que se centra mesmo, mesmo, mesmo sobre esta problemática, até porque tem uma finalidade muito concreta de confronto com a realidade actual na América, e com a forma de fazer política da administração Trump no que toca à imprensa.

Em relação a esta situação do Sócrates, o trabalho de investigação por parte da SIC tem sido exaustivo e, parece-me, muito pouco virado para o "sensacionalismo". Se é manipulador ou não, aí entra a parte da confrontação e cruzamento com aquilo que pode ser dito, publicamente, por outros canais de comunicação e fontes.

Em todo o caso, esta última reportagem parece-me uma peça de jornalismo de investigação bastante boa:

https://www.youtube.com/watch?v=UNsnE6hq-bg
Quanto à fuga da informação... nojo do ministério publico. Sinceramente... parece que só querem marcar golos fora das regras... começo a temer que se queira apenas golear nos jornais... e que depois estando os estragos feitos, venha a cantiga dos poderosos safam-se sempre, e das leis é que estão mal. Tipicamente a atitude da justica Portuguesa à anos.
A fuga de informação é um outro assunto. Relacionado com este, mas com outras variáveis de debate, e aqui já entra a lei. Tem a ver com necessidade ou não do segredo de justiça, com os âmbitos em que é utilizado, e com a forma como se deve proteger ou não esse princípio. Agora, o Ministério Público tem mais buracos do que há crateras na lua - aparentemente, nenhuma informação está completamente a salvo, e isto é algo que é difícil de perceber quando caso após caso tudo vem parar cá fora com a maior das facilidades...
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
drakes
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 2577
Joined: June 10th, 2015, 11:44 pm

Re: Tópico sobre política

Post by drakes »

Só um adendo, é muito estranho em todos locais onde a corrupção que o problema sejam juízes, promotores e imprensa que investiga os crimes, sempre aparece alguém procurando algum pelo em ovo e nunca discute o conteúdo dos crimes, por isso não me estranha quando leio ataques a imprensa investigativa como a do Sr. Vicente Jorge Silva.
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Tópico sobre política

Post by Samwise »

drakes wrote: April 26th, 2018, 3:33 pm Só um adendo, é muito estranho em todos locais onde a corrupção que o problema sejam juízes, promotores e imprensa que investiga os crimes, sempre aparece alguém procurando algum pelo em ovo e nunca discute o conteúdo dos crimes, por isso não me estranha quando leio ataques a imprensa investigativa como a do Sr. Vicente Jorge Silva.
Drakes, o último texto dele sobre a Operação Marquês está aqui: link.

Por acaso não considero que ele esteja propriamente a atacar a imprensa de investigação, mas apenas manifestar o desagrado perante a forma como divulgaram algumas imagens e escutas neste caso que envolve o nosso Ex-Primeiro Ministro José Sócrates, por considerar que é populismo "dramatizado". Talvez que o caso lhe seja particularmente próximo em termos de "cor política", mas ele é uma pessoa com obra feita em orgãos de comunicação social de relevo e referência em Portugal, alguém que percebe a importância da imprensa independente (liberta do poder político, isto é) e do (bom) jornalismo de investigação.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
Locked