Qual foi o último filme que viram ?

[nimzabo]

Acho que é um exercício de estilo mais ou menos conseguido.
Moral da história? o importante na vida é andar a dançar sozinho e nu num palacete só nosso.

[Samwise]

Peço desculpa, continuo sem perceber o que é que se quer aqui dizer, o que é que o filme tem para contar. É tudo tão aleatório, tudo tão só porque... sim.

Não considero que seja "tudo tão aleatório". De certa forma, é mesmo tudo muito bem orquestrado, ainda que a personagem principal passe por "variações de humor" (com inuendos sexuais pelo meio) que desnorteiam qualquer tentativa de estabelecer um fio lógico, algo que de resto me parece também ser um estratagema deliberado por parte da realizadora.

Concordo contigo que não há uma "mensagem" única ou óbvia que se consiga extrair do filme (no meio de uma série de camadas e elementos), mas também não creio que a intenção seja fazer "esse tipo de filme".

Para mim resulta quase totalmente como pop-value.

Moral da história? o importante na vida é andar a dançar sozinho e nu num palacete só nosso.

Hmmm... o dançar sozinho nu num palacete só nosso é apenas uma manifestação daquilo que para a personagem era importante na vida, dado os resultados que sacou daquilo tudo. Ou seja, estás só a ver a ponta do iceberg.

[nimzabo]

Hmmm... o dançar sozinho nu num palacete só nosso é apenas uma manifestação daquilo que para a personagem era importante na vida, dado os resultados que sacou daquilo tudo. Ou seja, estás só a ver a ponta do iceberg.

E o que era importante?
diminuí-los? ser mais esperto? ressabiamento social? sadismo?

[José]

Meus caros, ainda relativamente ao Saltburn, o que é que vocês acham mesmo que a personagem do Keoghan queria?

Seria ascender socialmente? Abanar e destruir o status quo? Fazer um teste a si mesmo dos seus limites morais e éticos? Deitar tudo para o ar e abraçar o niilismo? Ele alguma vez sentiu atracção sexual, desejo, amor ou compaixão por alguma das outras personagens?

P.S.: Quando falo em ser tudo tão aleatório, refiro-me às intenções do próprio filme, das mensagens que tenta espelhar mas que não consegue levar a porto seguro. Na minha visão, claro.

[nimzabo]

...só maldade?

Acho que o filme é só casca e que não tem grande coisa por dentro.
''Amava-o mas não estava apaixonado'' e por isso matou toda a gente?
Quanto muito seria a versão colorida de um psicopata, o que não faz grande sentido.

[José]

...só maldade?

Acho que o filme é só casca e que não tem grande coisa por dentro.
''Amava-o mas não estava apaixonado'' e por isso matou toda a gente?
Quanto muito seria a versão colorida de um psicopata, o que não faz grande sentido.

Concordo com tudo. Muito vistoso, muito cool, a querer ser uma sátira social pop mas sem saber como expressar o que queria dizer. Ou melhor, sem se decidir sobre o que é que quer mesmo dizer.

A embalagem é atractiva mas o que está lá dentro é muito genérico e acaba por não satisfazer.

[Samwise]

Em resposta aos vossos "inquéritos" sobre as motivações do personagem,

eu vejo-o como várias personagens/personalidades numa só (algo que aliás é confirmado pelo próprio actor) - numa situação fronteiriça entre o caso clínico de múltipla personalidade + psicopatia, e outros territórios mais obscuros que já serão do domínio do género fantástico/terror (exemplo: o Split do Shyamalan), mas sem nunca se tornar explicitamente nisso. Algo que explica até certo ponto as alterações/oscilações a que vamos assistindo, umas situação para a qual há inúmeras "pistas" ao longo do filme. Há contudo uma dessas personalidades que domina as outras, que se serve delas para tecer a sua teia, e que "vence" no final. O que ela pretende, para além do "jogo da aranha", será a "obliteração total" da presa - nas suas mais diversas camadas e manifestações - a do status social, a sexual e da "conquista do castelo".

Em todo o caso, estou em alguma concordância com o que dizem sobre o vazio existente por baixo da camada "pop". Só acho que gostei mais do filme do que vocês...

[José]

Em resposta aos vossos "inquéritos" sobre as motivações do personagem,

eu vejo-o como várias personagens/personalidades numa só (algo que aliás é confirmado pelo próprio actor) - numa situação fronteiriça entre o caso clínico de múltipla personalidade + psicopatia, e outros territórios mais obscuros que já serão do domínio do género fantástico/terror (exemplo: o Split do Shyamalan), mas sem nunca se tornar explicitamente nisso. Algo que explica até certo ponto as alterações/oscilações a que vamos assistindo, umas situação para a qual há inúmeras "pistas" ao longo do filme. Há contudo uma dessas personalidades que domina as outras, que se serve delas para tecer a sua teia, e que "vence" no final. O que ela pretende, para além do "jogo da aranha", será a "obliteração total" da presa - nas suas mais diversas camadas e manifestações - a do status social, a sexual e da "conquista do castelo".

Em todo o caso, estou em alguma concordância com o que dizem sobre o vazio existente por baixo da camada "pop". Só acho que gostei mais do filme do que vocês...

Obrigado por isto, Samwise. A sério, obrigado.

Confesso que precisava de mais substância no filme para dar o nó nestes fios. Este ou qualquer outro de interpretação consistente e sustentada, como fizeste.

A cena

na sepultura, por exemplo, não consegui decifrar se seria a exaltação sexual final que ele manifesta ou uma espécie de perversidade do tipo "consegui lixar-te, meu grande filho da p*ta"

Continuo a achar que a realizadora tem talento mas acho que ainda lhe falta dar um salto qualitativo em que ela aterre firmemente com ambos os pés no chão.

[Samwise]

A cena

na sepultura, por exemplo, não consegui decifrar se seria a exaltação sexual final que ele manifesta ou uma espécie de perversidade do tipo "consegui lixar-te, meu grande filho da p*ta"

Segundo o que consta no imdb, nessa sequência a realizadora deu "carta branca" ao Keoghan, a seu pedido, para improvisar na hora, sendo que não estava previsto que ele se despisse...

Eu vejo "aquilo" como o ponto de convergência e clímax de tudo o que vem de trás relativo à relação entre os dois, agregando não só as vertentes que descreves, como também a forma possível de consumação do próprio acto sexual, que em vida não teria sido conseguido de forma "consensual". Eu vejo o Keoghan sobretudo como um predador com um plano pré-estabelecido, mas não o vejo como alguém completamente frio e sem sentimentos, pelo contrário, considero-o bastante permeável (se não mesmo vulnerável) às "dores" do amor e da atracção sexual (onde acaba um e começa a outra?), e, como tal, fisicamente refém de uma manifestação explícita. Junta a isso uma mente doentia e psicótica, e tens um cocktail em plena fase de mistura nessa sequência...

Uma sequência que, cheira-me, vai ascender ao alto patamar da iconografia cinéfila de culto na nossa memória colectiva.

[nimzabo]

Em resposta aos vossos "inquéritos" sobre as motivações do personagem,

eu vejo-o como várias personagens/personalidades numa só (algo que aliás é confirmado pelo próprio actor) - numa situação fronteiriça entre o caso clínico de múltipla personalidade + psicopatia, e outros territórios mais obscuros que já serão do domínio do género fantástico/terror (exemplo: o Split do Shyamalan), mas sem nunca se tornar explicitamente nisso. Algo que explica até certo ponto as alterações/oscilações a que vamos assistindo, umas situação para a qual há inúmeras "pistas" ao longo do filme. Há contudo uma dessas personalidades que domina as outras, que se serve delas para tecer a sua teia, e que "vence" no final. O que ela pretende, para além do "jogo da aranha", será a "obliteração total" da presa - nas suas mais diversas camadas e manifestações - a do status social, a sexual e da "conquista do castelo".

Em todo o caso, estou em alguma concordância com o que dizem sobre o vazio existente por baixo da camada "pop". Só acho que gostei mais do filme do que vocês...

Eu também achei interessante o que escreveste acerca das múltiplas personalidades mas tenho algumas dúvidas.
No fim ao olhar para trás o filme dá a entender que houve uma espécie de plano ou pelo menos uma intencionalidade ou um sentir que esteve sempre presente e nesse sentido não é como se houvesse uma disputa de personalidades em que vão à vez tomando o controlo da personagem. Pelo contrário sugere que quaisquer contradições que pudesse ter havido foram afinal encenadas.
Uma coisa que falta e que por vezes há noutros filmes e mesmo em casos reais é a referência a uma história ou a uma causa que explique o desvio da personagem e lhe dê mais alguma densidade. Na verdade a família dele até parece quase modelar o que contraria o que seria expectável.
Para mim um caso mais flagrante de múltiplas personalidades a disputar uma pessoa é o da Pearl no filme do mesmo nome (ou vice-versa ) ou talvez no Joker, e haverá outros exemplos.
O twist no fim quando percebemos que ele afinal é maquiavélico talvez seja mesmo apenas isso, um twist num filme para criar um efeito surpresa. Querermos estar a ver muitas complexidades por trás da personagem ou da história levanta-me algumas dúvidas. Não sei se o filme merecerá tanto quando também procura ser estiloso e recorre a música e a atitudes arrojadas, lá está, por razões estéticas e por querer criar um certo efeito.

[José]

Em resposta aos vossos "inquéritos" sobre as motivações do personagem,

eu vejo-o como várias personagens/personalidades numa só (algo que aliás é confirmado pelo próprio actor) - numa situação fronteiriça entre o caso clínico de múltipla personalidade + psicopatia, e outros territórios mais obscuros que já serão do domínio do género fantástico/terror (exemplo: o Split do Shyamalan), mas sem nunca se tornar explicitamente nisso. Algo que explica até certo ponto as alterações/oscilações a que vamos assistindo, umas situação para a qual há inúmeras "pistas" ao longo do filme. Há contudo uma dessas personalidades que domina as outras, que se serve delas para tecer a sua teia, e que "vence" no final. O que ela pretende, para além do "jogo da aranha", será a "obliteração total" da presa - nas suas mais diversas camadas e manifestações - a do status social, a sexual e da "conquista do castelo".

Em todo o caso, estou em alguma concordância com o que dizem sobre o vazio existente por baixo da camada "pop". Só acho que gostei mais do filme do que vocês...

Eu também achei interessante o que escreveste acerca das múltiplas personalidades mas tenho algumas dúvidas.
No fim ao olhar para trás o filme dá a entender que houve uma espécie de plano ou pelo menos uma intencionalidade ou um sentir que esteve sempre presente e nesse sentido não é como se houvesse uma disputa de personalidades em que vão à vez tomando o controlo da personagem. Pelo contrário sugere que quaisquer contradições que pudesse ter havido foram afinal encenadas.
Uma coisa que falta e que por vezes há noutros filmes e mesmo em casos reais é a referência a uma história ou a uma causa que explique o desvio da personagem e lhe dê mais alguma densidade. Na verdade a família dele até parece quase modelar o que contraria o que seria expectável.
Para mim um caso mais flagrante de múltiplas personalidades a disputar uma pessoa é o da Pearl no filme do mesmo nome (ou vice-versa ) ou talvez no Joker, e haverá outros exemplos.
O twist no fim quando percebemos que ele afinal é maquiavélico talvez seja mesmo apenas isso, um twist num filme para criar um efeito surpresa. Querermos estar a ver muitas complexidades por trás da personagem ou da história levanta-me algumas dúvidas. Não sei se o filme merecerá tanto quando também procura ser estiloso e recorre a música e a atitudes arrojadas, lá está, por razões estéticas e por querer criar um certo efeito.

A família dele pareceu-me super estruturada, de classe média alta, gente boa. Se a memória não me falha, eles até viajavam em família, sendo que ficamos a saber inclusive que ele nem sequer é filho único.

Se nem que fosse por um momento, um momento subtil, o víssemos a chorar como que a pensar "o que é que eu estou a fazer?", confesso que isso me faria pensar na tal fragmentação da sua psique e nalgum dilema interior dele. Assim, tal como é, parece-me tudo programado, esquemático e sem enquadramento psicológico nem nenhum rumo.

Vou mais longe: ele não gosta de ninguém e não é melhor do que as pessoas que prejudica. Nem a vertente psicossexual lhe consegue dar real dimensão porque, lá está, não há enquadramento nem consequência em relação a nada. Sexualmente, parece que ele se satisfaz não pelo amor ou desejo pelo outro, mas como forma de descarregar e expiar a sua tensão acumulada perante o que anda a fazer. Por isso mesmo, depois de tudo, dança nu, despido de todos os papéis e convenções que andou a alimentar e que o desgastaram. Ainda se o filme desse a entender que era um auto-teste de sadismo, perversidade e derrocada do establishment do circuito socioeconómico daquela família rica, vá que não vá...

O filme somente lança coisas para o ar e pronto, bola para a frente - ele é assim porque ele é assim.

[nimzabo]

Vi ontem o The Go-between.
https://www.imdb.com/title/tt0067144/?ref_=ttls_li_tt
https://www.rottentomatoes.com/m/gobetween
Pus-me a vê-lo porque vi antes o May December e me pareceu reconhecer a música, retirada do Go-between (diz no fim do filme mas já tinha intenção de procurar), o que é estranho porque não tinha visto este último. Pergunto-me se terá sido usada em mais filmes.
Em relação ao filme propriamente fez-me refletir que a criança tem um sentido apurado de lealdade mesmo sem saber grande coisa sobre relações amorosas. Sentido esse, cada um sabe de si, que se vai (ou pode ir) erodindo com o andar da vida. O que pensam sobre isto?

[Luis.Manuel]

É o meu filme favorito do Losey. A música foi composta pelo Michel Legrand expressamente para este filme. A paixão proibida, o ambiente campestre, a paixoneta que se pode intuir(?) do adolescente pela jovem senhora, ao ponto de inocentemente e sobretudo, com bem dizes, com total lealdade (devoção) servir de mensageiro entre os amantes (de classes sociais diferentes) tudo muito bem fotografado pelo talentoso Gerry Fisher, tornam este filme numa pequena pérola (Palma de Ouro) quase desconhecida, do novo cinema inglês. Gosto muito.

[nimzabo]

Quando referi a lealdade do miúdo não quis dizer que era a sua lealdade enquanto mensageiro.
A questão é que ele estranha que a mulher tenha dois namorados, tanto que quer deixar de dar os recados.
E a minha questão prendia-se com esse seu entendimento de que deveria haver um namorado único (lealdade na relação) versus a atitude mais liberal dos adultos, ou dito de outra forma, menos leal.

[nimzabo]

Ainda a propósito do The Go-between (contém spoilers).
Por vezes e sem ser de forma intencional vejo coisas quase seguidas que é possível relacionar entre si*.
Uma dos elementos do filme é a curiosidade insatisfeita do miúdo acerca de como se concretiza o amor entre um homem e uma mulher, algo que se revela de forma brusca (brutal?) no final do filme.
Ontem, no dia seguinte a ter visto o filme, deparo-me com a mesma situação, agora numa crónica da Clarice Lispector.
Aqui: https://cronicabrasileira.org.br/cronic ... a-do-mundo

* como já me tinha acontecido aqui: viewtopic.php?p=643990&#p643990