O Governo Sombra (TSF)

[Samwise]

Sobre o programa desta semana, que teve como convidado especial Otelo Saraiva de Carvalho, podem ver a emissão aqui:

https://www.tsf.pt/programa/governo-som ... oplay=true

Acompanho este programa desde que "nasceu", vai para uns 10 anos atrás, a não me lembro ter alguma vez perdido uma emissão.

Foi com alguma curiosidade que olhei inicialmente para o convidado, mas confesso que o tom geral do programa e dos seus membros constituintes (que tenho em boa consideração) me decepcionou desta vez um bocadito. Essencialmente por causa disto:

https://observador.pt/opiniao/o-governo ... -ao-circo/

Talvez que tenham decidido não tocar em assuntos dessa natureza, mas com a idolatria toda que se registou, talvez tivesse sido preferível não terem tido convidado nenhum.

[lud81]

Bem, não é a primeira vez que o Otelo é entrevistado mas que me lembre é a primeira vez que há esta polémica...

[Samwise]

Bem, não é a primeira vez que o Otelo é entrevistado mas que me lembre é a primeira vez que há esta polémica...

Não sei e não digo que não, mas custou-me engolir que naquele programa em particular, e com aquelas pesonalidades em concreto, se tenha valorizado tanto a vertente heróica (até às custas de Slagueiro Maia - a meu ver muito mais merecedor desse termo) e varrido para baixo do tapete um tema verdadeiramente indesculpável.

[Rui Santos]

Vi este tópico na altura, mas só recentemente terminei de ouvir o programa.

Não achei que Otelo fosse propriamente tratado como Herói, e na questão em si do Salgueiro Maia até esteve particularmente bem, não falando mal dele, mas identificando-o como um dos mais de 50 sargentos que nesse dia se juntou ao MFA para fazer o 25/4. Não renegando o papel de Salgueiro Maia, Otelo ao fim ao cabo puxa dos galões, e diz uma verdade inquestionável penso eu (não sou um historiador do 25/4)... que ele era o lider da revolução, pelo que todos os Sargentos lhe respondiam, e que tinha sido por isso mesmo que ele tinha escolhido Salgueiro Maia para o papel crucial que teve.
De resto, várias vezes que todos os intervenientes questionam algumas decisões politicas Otelo, sendo inclusive faladas as FP25.... nem esse tema foi tabu.
Aliás várias vezes Otelo foi gozado, desde a insinuação latente à bigamia dele, ao vídeo da Julie Sargent que dá um toque de humor.

Ouvi com atenção, e não fico com nenhuma ideia que lá estava um herói. Fico com a ideia que passou por lá um dos responsáveis por hoje estarmos em liberdade, e que por ele a democracia nem é um sistema tão bom quando o pensamos.

Quanto ao artigo do observador, li metade... e percebi no fim um certo tom observador.
"Filho de umas das 17 vitimas assassinadas pelas FUP/FP 25 de Abril", quando quem escreve isto é infelizmente uma das vitimas das FP25... será completamente impossível qualquer distanciação do mesmo a Otelo, ou mesmo ao 25/04.

Na minha opinião vale a pena ouvir o programa, embora e mais uma vez para mim... João Miguel Tavares destoe por completo no programa, quer pela obsessão por Sócrates, quer pelas sucessivas piruetas que dá. Honestamente para mim não está ao nível intelectual dos outros três... Pedro Mexia sendo um homem de direita... é muito mais inteligente na argumentação e linha de raciocionio... é um prazer de ouvir, além de ter um sentido de humor extremamente acutilante.




Filho de umas das 17 vitimas assassinadas pelas FUP/FP 25 de Abril

[Samwise]

Com o tempo que decorreu desde o programa, já me esqueci do que foi abordado e do que não foi abordado. Tenho de repetir a audição para poder responder. Não tendo sido tabu, fiquei com uma desagradável sensação de terem deliberadamente deixado o assunto das FP-25 na borda do prato - entendo que é muito mais agradável mostrar a Julie Sargent a rebolar em cima do homem, mas esperava pelo menos que a coisa tivesse tido a mesma importância no debate.

Em relação aos participantes, não partilho da tua ordem de preferência. Quando o programa iniciou, há 10 anos, o JMT era o participante que eu não conhecia. Dos outros três tinha já uma opinião formada, altamente favorável a cada um deles, ainda que circunspecta practicamente a um contexto cultural e artístico. O Carlos Vaz Marques enquanto grande entrevistador (na TSF), o Pedro Mexia enquanto crítico de cinema, autor de livros e pessoa ligada ao comentário intelectual, e o RAP como grande revelação e valor certo no campo do humor (refinado e erudito). O JMT era para mim um ilustre desconhecido.

O programa em questão, mesmo relaxado e invariavelmente bem-disposto, é um programa de comentário de actualidades políticas - o nome não engana - e dentro desse âmbito os três opinadores, cada um no seu estilo, firmam a sua marca de formas bastante diferentes. Diria que o RAP pouco ou nada desenvolve em temos de visão política, e limita-se quase a encontrar form(ul)as humorísticas para reescrever e interpretar a realidade. O Pedro Mexia é o tipo moderado, com uma cultura geral enciclopédica, que de uma forma muito ponderada e educada (mesmo que não ausente de alguma marotice) expõe as suas opiniões sobre os mais variados assunto. O JMT é o gajo mais terra-a-terra que não tem papas na língua e que parte a loiça toda. O modelo é quase de activismo, mas o argumentário, a meu ver, é o mais consistente e trabalhado dos três. As piruetas de que falas, estão praticamente sempre bem estudadas e fundamentadas. É raro ouvires um comentário dele que seja baseado apenas no "achismo" ("eu acho que..."). Muitas das questões de que ele fala merecem ser trazidas à praça pública e amplamente debatidas; necessitamos de comentadores assim, e que ao mesmo tempo não estejam "partidarizados" e falem só daquilo que interessa às respectivas instituições.

Nestes 10 anos o JMT subiu a pulso de um lugar de insignificância social até o topo do comentário político da actualidade. O Governo Sombra deu-lhe um empurrão jeitoso, mas as análises articuladas que escreve para o Público fazem dele um dos mais importantes e acutilantes comentadores de política em Portugal. E tem uma grande virtude que escapa a muitos comentadores, com uma ou outra excepção: não é bairrista. Não está do lado de pessoas ou de partidos, está do lado de ideias.

[Samwise]

Agora reúnem também todos os dias, com um programa mais curto:

https://expresso.pt/podcasts/governo-sombra