Acho que muita da injusta generalização que permeia muitos dos posts aqui colocados, advém de falta de informação.
Muitos dos preconceitos estarão fundados na imagem que os filmes dão do Direito, da justiça e dos advogados.
Como conheço muitos advogados (e tenho alguns mesmo muito próximos), tentarei, na medida das minhas limitações, ajudar a esclarecer.
Em primeiro lugar, o sistema jurídico americano não tem nada a ver com o nosso... e a maioria dos filmes que todos vemos, sendo feitos em Hollywood, espelham e provavelmente exagerarão, o que se passa nos Estados Unidos e não cá...
Por cá, como contamos com extensa legislação, os Tribunais e igualmente a maioria dos advogados estão especializados.
Dizer-se que qualquer advogado aceitaria defender um homicida ou um violador, caso tivesse interesse patrimonial nisso, é o mesmo que dizer que qualquer médico faria uma operação cirúrgica ao coração, se lhe pagassem bem...
Por cá temos Direito Penal (o tal dos Homicidas e violadores), direito comercial (que se aplica às empresas), direito fiscal (grosso modo sobre os impostos), direito de trabalho (conflitos na relação de trabalho), direito de família (que tutela, entre outras, as relações de casamento, pais e filhos, etc), direito das sucessões (heranças), etc, etc.
E logo à partida, muitos dos advogados, senão mesmo uma larga maioria, nunca poderiam estar na situação apontada e que foi, com grande infelicidade alargada a toda uma profissão, já que não tratam e provavelmente nunca trataram de processos crime.
Por outro lado, felizmente, a grande maioria dos processos crime que correm nos tribunais do nosso país não se traduzem em homicídios e violações. Estes serão uma infíma percentagem, mas em que cada caso adquire obviamente grande notoriedade graças à publicidade que lhes é dada pelos meios de comunicação social.
Ou seja, a tal situação apontada, a de um advogado defender um homicida ou um violador, apenas se poderia colocar a um número infimo de advogados e, com uma grau de ocorrência, felizmente, raro!
Como dizia num post atrás, a maior parte dos casos que se submetem à justiça, são casos em que não é fácil distinguir quem tem razão. Não se traduzem apenas em preto e branco. Muitos graus de cinzento, em muitas das facetas desse caso e que tornam verdadeiramente um quebra cabeças saber se alguém tem ou não e em que medida direito a algo...
Por outro lado, também estão a partir de um pressuposto errado, que é o de o advogado saber que o seu cliente é um homicida e um violador... Pelo que me contava um dia um advogado amigo meu, o maior inimigo de um advogado é o seu cliente, pois raramente lhe conta a verdade... O mais provável se alguém matar ou violar alguém é que tente convencer um advogado da sua inocência, pois assim acredita que ele defenderá com maior fervor a sua causa.
E como também disse atrás, muitas razões podem levar um advogado a aceitar ou recusar um cliente, e não tem só a ver com a sua capacidade financeira. Contam-me muitos advogados amigos meus que recusam clientes quando acham que eles não tem razão, ou quando eles são autoritários e pretendem mandar no advogado, decidindo como é que a causa irá ser defendida, etc, etc...
Mas vamos supor então, que estamos perante um advogado que trata de processos crime e vamos ainda supor que lhe entra pelo escritório dentro um cliente acusado de homicídio, e ainda vamos supor que durante o processo o advogado toma conhecimento de que realmente o seu cliente matou a vítima... Neste caso deverá o advogado largar a defesa do seu cliente? Alguns há que o fazem... São vários os casos de figuras públicas que estão presas e que durante o processo mudaram de advogado... Terá sido devido aos anteriores advogados terem sabido de algo que naõ gostaram? o que levou o advogado do motorista de um político a abandonar a sua defesa? Eu não sei, mas não se podem excluir certas hipóteses...
Voltando ao caso do cliente homicida, e no caso de ele durante anos ter sido violentado, humilhado, por quem acabou depois de matar? Se o advogado continuar a defendê-lo, mas apenas pugnando por uma atenuação da pena devido a essas circunstâncias? Procede de forma imoral se assim o fizer?
São muitas questões e muitas mais se poderiam colocar. É certo que muitos advogados, muitos porque não gostariam de ter que responder a este tipo de questões, voluntariamente se dedicaram a outros ramos do direito...
Mas nem sequer acho justo generalizarmos defendendo que todo o advogado que admita patrocinar processos crime, demonstra, por isso, menor ética.
Com isto tudo não quero dizer que não há advogados desonestos. Infelizmente existem, como também há desonestidade noutras profissões. Desconheço se em maior ou menos grau, pois nunca vi nenhuma estatística...
Mas que não pague o justo pelo pecador! Os advogados também devem gozar de uma presunção de inocência, ou apenas os acusados é que merecem o benefício da dúvida?