Quando em 2009 a Crytek anunciou que Crysis 2 chegaria à Xbox 360 assisti – se calhar por contágio – e festejei sem saber muito bem o porquê de tanto alarido. Para vos explicar tenho que regressar ao ano de 2003, ano em que andei a poupar cada cêntimo para comprar uma placa gráfica para o meu PC, até que um amigo meu me falou na Xbox. Sempre olhei de esguelha para o desfile de consolas que apareceram no mercado com joguinhos infantis, gráficos pixelizados e comandos estranhos. Foi com desconfiança que fui ver a Xbox, mas a desconfiança rapidamente se transformou em amor à primeira vista. First Person Shooters, jogos de condução evoluídos, e graficamente convincentes, um comando bastante agradável e, acima de tudo, um produto mais em conta do que a placa gráfica que eu andava a namorar, implicaram uma opção que levou a que nunca tenha jogado os Crysis anteriores, pelo que me lancei nesta aventura, sem ideias pré-concebidas, e sem querer entrar em comparações com a versão PC de Crysis 2 que, obviamente, não testei.
Em termos de historial, fiquem a saber que a Crytek entrou no clube das grandes companhias de jogos através de um reduzido número de obras, todas elas de grande sucesso, e sempre ligadas ao PC. Esta é a primeira incursão verdadeira e a fundo no mundo das consolas, escrutinada por inúmeros olhares de desconfiança espalhados pelo mundo. Perante isso, uma coisa posso já revelar: Não desaponta ninguém. Primeiramente somos levados para Nova Iorque no ano de 2024 e encarnamos a pele de um Marine. Chegámos a Alcatraz a bordo do USS Nautilus numa missão de resgate do Dr. Natham Gould. A acção começa quando o Submarino é atacado e os eventos levam o nosso personagem a assumir o nanosuit do moribundo dono, Laurence "Prophet" Barnes, que o incumbe de continuar a sua missão, e de ser guardião do fato.
A partir daí somos lançados às feras, no meio de uma guerra sem quartel, em que, à partida, todos são nossos inimigos e as diversas facções fazem de nós o seu alvo preferido. A história está bastante bem transmitida e só lhe perdemos o fio quando as batalhas literalmente nos arrancam da realidade e nos levam à luta pela sobrevivência. As várias alterações no rumo dos acontecimentos vão levar-nos a ter aliados onde antes só havia inimigos e a ter de adaptar a nossa estratégia a cada inimigo ou situação de jogo, desde áreas amplas a túneis de metro em escombros.
A jogabilidade não deixa de fazer lembrar Halo, com umas partes de Splinter Cell. Parece estranho, mas só jogando se percebe. Tirando algumas secções, raras, que nos impõem um carril pré-determinado, as grandes secções de combate dão-nos liberdade de escolha em relação à abordagem ao conflito, nas quais podemos ter uma abordagem à Master Chief ou, no campo oposto, à Sam Fisher. É tudo uma questão de gosto. Assim, há escolhas para todo o tipo de jogadores, com alturas em que podemos agarrar na nossa Sniper silenciada e coleccionarmos headshots, como se de cromos se tratassem. A utilização do nanosuit dá-nos uma vantagem significativa e, especialmente, quando nos defrontamos com inimigos humanos, chega a meter impressão a facilidade com que nos desenvencilhamos deles. Mesmo assim, assim que começamos a lidar com Aliens as coisas tornam-se diferentes, com a estratégia, a escolha das armas, e a utilização dos poderes do nosso fato a tornarem-se de vital importância para a ultrapassagem das secções. A curva de aprendizagem é de fácil progressão, e a dificuldade do jogo está bem patente na forma como os nossos inimigos agem, demonstrando, na maioria das vezes, uma IA aperfeiçoada. E disse a maioria das vezes pois em algumas, raras, situações, essa IA roça o patético, especialmente nos inimigos humanos. Refiro isso porque essas raríssimas excepções não deixam de parecer estranhas numa experiência deste calibre. Quando entramos em combate, com uma facção aliada, raramente sentimos que somos parte dela, e a experiência a solo que pauta a maioria do jogo poderia ter sido melhorada para sentirmos que os nossos camaradas estão realmente a combater ao nosso lado, e não só a combater o mesmo inimigo.
Em termos técnicos a Crytek levou o CryEngine a um patamar que a concorrência, até agora, só pode sonhar. O jogo é, sem qualquer dúvida, o melhor jogo a nível gráfico que alguma consola alguma vez rodou, não sendo nada escondido por filtros, pois tudo está à vista para ser visto e bem visto. Com o desenrolar dos acontecimentos que levam à deterioração do ambiente que nos rodeia ficamos a perceber bem até onde a Crytek foi ao nível de detalhe, com os cenários não só a estenderem-se até onde a vista alcança, mas também com uma dimensão vertical impressionante. Paralelamente, os menus de escolha de armas e de optimização do nosso nanosuit também surgem bastante simplificados, contribuindo para a experiência e evitando perdas de tempo em menus de vários níveis que acabam sempre por quebrar o ritmo do jogo. A banda sonora desempenha aqui um papel de monta, e recorrendo ao uso dos meus novos auscultadores 7.1, pude sentir a perfeita simbiose entre a banda sonora, o som ambiente e o barulho das armas.
O multiplayer, que foi possível experimentarem na Beta, quis aproveitar a boleia do sucesso de Call of Duty e importou alguns dos conceitos, com o tempo a ditar se daqui irá sair uma legião de adeptos que belisque a forte base da série da Activision. Após alguma insistência no produto, esse é um facto no qual eu ponho as minhas fundadas dúvidas, pois a fórmula mostra-se, no geral, bastante desequilibrada, e as opções vencedoras restringem-se a três ou quatro escolhas. Em suma, embora bem construído, não trás nada de realmente novo, sendo difícil que faça mossa nas comunidades online de CoD e Halo.
Em conclusão, Crysis 2 é um jogo essencial para todos os que gostam do género, e mesmo não sendo perfeito as suas falhas surgem onde menos se nota, apresentando, na globalidade, uma experiência majestosa e de fácil imersão.
Análise no XTP:
http://www.xboxteamportugal.com/index.p ... &Itemid=60