The Exorcist - 2016

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Samwise
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Re: The Exorcist - 2016

Post by Samwise »

waltsouza wrote:
Helldr wrote:Pois, isso de impressionar através de tortura e muito sangue acho que se consegue facilmente. O que é difícil é criar aquele ambiente claustrofóbico em que quase se sente a presença do mal e se cria um mau estar incrível. E não podemos esquecer o que é dito por uma criança de 12-13 anos e o que ela faz com o cruxifixo por exemplo, o que continua a ser completamente inesperado e transgressor até para os dias de hoje. Isto é a minha opinião, não a tenho como uma verdade absoluta, mas o que é certo é que o filme sempre me fez sentir desconfortável (o que para mim é pior do que impressionado ou chocado). Acho que o seu segredo, além da maneira como é brilhantemente filmado, é começar como um drama que nos envolve e achamos credível e que de repente nos cospe na cara! E aquela imagem em contraluz do padre parado em frente à casa é simplesmente icónica.
O Exorcista sendo um filme que lida com a religião tem logo um handicap para algumas pessoas. Ou tu acreditas naquilo (de alguma forma), ou podes passar o filme a rir, não consegues levar aquilo a sério. Suponho que diversos ateus e pessoas não crentes em Deus (e na religião católica) se tenham divertido imenso a ver o "Exorcista", mas não pelos motivos que o filme nos tenta apresentar. Eu não sou uma dessas pessoas, eu tenho imenso respeito pelo filme de Friedkin , e tenho ainda mais respeito pela religião católica, e pelos exorcismos, mas é preciso tu acreditares. Senão nada feito.

Já "Martyrs" vai ao extremo mas não só da violência, é um filme em termos psicológicos muito forte. É certo que utiliza em boa parte essa violência para nos poder atingir de outras formas, mas se formos a ver, o mesmo acontece com o "Exorcista", se não existisse Pazuzu, se aqueles exorcismos também visualmente fortes, com o uso de contornos de ossos e de cabeça, com vómitos, levitações e outros, não fossem como são, e a que Regan se sujeita, mais de metade da força do filme perdia-se certamente pelo caminho.
Estou mais de acordo com o Helldr e com o Cabeças - e julgo que o cerne da questão aqui é mesmo o factor sobrenatural, por um lado, e o facto de ter a ver com algo que de vez em quando ouvimos falar no nossa realidade, e que é a existência de exorcismos (eu já ouvi umas quantas histórias do tio, ou do avô, ou do conhecido do amigo, que quando eram pequenos, lá na terra deles, souberam que o padre não sei das quantas libertou fulano e sicrano de uma presença maligna que se contorcia no chão, que eram necessárias várias pessoas para segurar, e que sendo analfabeto se constatava que falava várias línguas), acreditando-se ou não em Deus. Estas vertentes o Martyrs não tem, e mesmo que concorde quanto ao extremo insuportável a que vai na demonstração de violência, é um filme que não me assusta nem me arrepia nada, uma vez que o ambiente de tensão é criado mais na base do histerismo grotesco e dos efeitos de câmara alucinantes. Há a presença do mal, mas é um mal humano, que volta e meia vemos nos telejornais ou lemos nos livros de história (com outros extremos de maldade). No Exorcista há um mal de origem desconhecida, sabendo-se extra-terreno, e só por aí cria-se logo metade do medo. O resto é o "jeitinho" e o toque pessoal do Friedkin...

Vi entretanto um outro filme do sub-género, o Exorcismo de Emily Rose. Meh. A história tem alguma originalidade (aparentemente é baseada num caso real), e tem bons actores e interpretações, mas não assusta grande coisa, nem constrói a tal atmosfera densa que o Exorcista conseguia, uma atmosfera que não dependia apenas das sequências em que aparecia a possuída - antes é quase constante desde o início do filme, com as sequência das escavações no Iraque e da constatação de que há um demónio ancestral que vai fazer estragos mais cedo ou mais tarde.
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Samwise
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Re: The Exorcist - 2016

Post by Samwise »

waltsouza wrote: Da mesma forma não veria com bons olhos um remake do "Exorcista" a não ser que tentassem ir mais além, tentassem algo de novo, de chocante, e que fosse ousado o suficiente para poder surpreender. Mas tendo em conta que eu acho que isso é uma tarefa complicada, não é impossível mas deve ser tramado, em tentar melhorar o Exorcista de 1973, é bom que se fiquem por séries, como esta. :-)))
Uma das coisas boas da série é que não tenta imitar nem sobrepor-se ao "espaço" do filme, mesmo que em termos estruturais parta de uma base semelhante (uma rapariga possuída, uma mãe coragem passada dos carretos, um padre sem experiência que toma conta do assunto, e um outro padre veterano que o vai ajudar). Tem pequenos apontamentos explícitos que nos fazem recordar a obra do Friedkin, mas em tudo o resto não se limita a ser uma modernização para os tempos actuais do filme. Para além de uma contextualização muito mais cuidada das personagens (quer na comunidade, quer em função da Igreja Católica,quer na linha temporal), a série introduz e inova numa série de vertentes muito interessantes. Vi até ao episódio 4 (ainda não saiu mais nenhum) e continuo a gostar.

Mas não tem a pujança do filme... :mrgreen:
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waltsouza
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Re: The Exorcist - 2016

Post by waltsouza »

Samwise wrote:
Estou mais de acordo com o Helldr e com o Cabeças - e julgo que o cerne da questão aqui é mesmo o factor sobrenatural, por um lado, e o facto de ter a ver com algo que de vez em quando ouvimos falar no nossa realidade, e que é a existência de exorcismos (eu já ouvi umas quantas histórias do tio, ou do avô, ou do conhecido do amigo, que quando eram pequenos, lá na terra deles, souberam que o padre não sei das quantas libertou fulano e sicrano de uma presença maligna que se contorcia no chão, que eram necessárias várias pessoas para segurar, e que sendo analfabeto se constatava que falava várias línguas), acreditando-se ou não em Deus. Estas vertentes o Martyrs não tem, e mesmo que concorde quanto ao extremo insuportável a que vai na demonstração de violência, é um filme que não me assusta nem me arrepia nada, uma vez que o ambiente de tensão é criado mais na base do histerismo grotesco e dos efeitos de câmara alucinantes. Há a presença do mal, mas é um mal humano, que volta e meia vemos nos telejornais ou lemos nos livros de história (com outros extremos de maldade). No Exorcista há um mal de origem desconhecida, sabendo-se extra-terreno, e só por aí cria-se logo metade do medo. O resto é o "jeitinho" e o toque pessoal do Friedkin...

Vi entretanto um outro filme do sub-género, o Exorcismo de Emily Rose. Meh. A história tem alguma originalidade (aparentemente é baseada num caso real), e tem bons actores e interpretações, mas não assusta grande coisa, nem constrói a tal atmosfera densa que o Exorcista conseguia, uma atmosfera que não dependia apenas das sequências em que aparecia a possuída - antes é quase constante desde o início do filme, com as sequência das escavações no Iraque e da constatação de que há um demónio ancestral que vai fazer estragos mais cedo ou mais tarde.
Não sei se realmente viste "Martyrs" mas se o viste, de certeza que não o verás como um filme que apenas tem violência para mostrar, ou então eu vi e senti as coisas de forma bem diferente (e pode acontecer, daí por vezes haverem opiniões bem contrastantes sobre o mesmo filme).

Para não estragar "Martyrs" a quem ainda não o viu, lê isto, e apenas na condição de o já teres visto.
Se viste o filme saberás que toda a violência vista em "Martyrs" tem um sentido, tu não o percebes de ínicio mas tudo o que de mau e violento acontece, tem um propósito. E no fim do filme, tu entendes a razão de toda aquela violência. O twist final mostra o que alguma da comunidade médica (eventualmente) usa para chegar a certos fins, que neste caso é tentar descobrir até onde pode ir o sofrimento humano, e tentar aprender algo com ele. Tentar chegar a um limite do sofrimento humano através da dor. E isso marcou-me (talvez até em demasia), foi daqueles filmes que fiquei alguns dias a pensar nele. Em "Martyrs" a violência tem um fim, não serão apenas histerismos grotescos, se é que os tem. E o ser humano também continua a ser um ser desconhecido e misterioso, capaz de tudo, de cometer as maiores monstruosidades, sem que o fim justique os meios.

Porque o homem também pode ser um monstro e quase renegar a tudo aquilo que o torna humano. E isso a mim assusta-me. nails-)
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Re: The Exorcist - 2016

Post by Helldr »

Nem de propósito, ontem ao fazer zapping dei com O Exorcista a passar na RTP1...
O waltzousa comentou aqui que é preciso ser religioso ou acreditar em exorcismos para ser mais facilmente impressionado pelo filme, mas o curioso é que eu não acredito em nada daquilo nem que tal pudesse acontecer, muito menos daquela maneira, com levitações e cabeças a rodar 360º... Sempre achei isso uma treta que apenas faz parte do espectáculo, mas o ambiente pesado e aquela atmosfera ameaçadora que não sei explicar muito bem de onde vem (e é isso que para mim é incómodo) é que é de mestre e que acho que só tem paralelo talvez no The Shinning.
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Re: The Exorcist - 2016

Post by Samwise »

waltsouza wrote: Não sei se realmente viste "Martyrs" mas se o viste, de certeza que não o verás como um filme que apenas tem violência para mostrar, ou então eu vi e senti as coisas de forma bem diferente (e pode acontecer, daí por vezes haverem opiniões bem contrastantes sobre o mesmo filme).

Para não estragar "Martyrs" a quem ainda não o viu, lê isto, e apenas na condição de o já teres visto.
Se viste o filme saberás que toda a violência vista em "Martyrs" tem um sentido, tu não o percebes de ínicio mas tudo o que de mau e violento acontece, tem um propósito. E no fim do filme, tu entendes a razão de toda aquela violência. O twist final mostra o que alguma da comunidade médica (eventualmente) usa para chegar a certos fins, que neste caso é tentar descobrir até onde pode ir o sofrimento humano, e tentar aprender algo com ele. Tentar chegar a um limite do sofrimento humano através da dor. E isso marcou-me (talvez até em demasia), foi daqueles filmes que fiquei alguns dias a pensar nele. Em "Martyrs" a violência tem um fim, não serão apenas histerismos grotescos, se é que os tem. E o ser humano também continua a ser um ser desconhecido e misterioso, capaz de tudo, de cometer as maiores monstruosidades, sem que o fim justique os meios.

Porque o homem também pode ser um monstro e quase renegar a tudo aquilo que o torna humano. E isso a mim assusta-me. nails-)
Vi o Martyrs há uns anos e detestei o filme. Está na minha "lista selecta" de algumas obras a que dei um zero redondo como reacção a quente depois de uma primeira visualização, em conjunto como o Cannibal Holocaust.

A respeito do que dizes:
Considerei o "twist final", que pretende dar um sentido à violência toda deliberadamente praticada, algo de ridículo e uma grande palhaçada. Enfureceu-me mais do que o que o filme já o tinha feito até esse instante a argumentação sobre o que provoca a "santificação" através do martírio e a finalidade a atingir através de acções concertadas de um grupo organizado de "benfeitores". Os histerismos grotescos de que falo é uma das vertentes que está em mostra constante ao longo do filme e que tornaram para mim a coisa logo insuportável de assistir desde cedo. Há outros filmes de terror, alguns deles clássicos, em que tal abordagem também me faz desligar a atenção e ficar irritado/aborrecido, como por exemplo o Texas Chain Saw Massacre original e o The Evil Dead Original, se bem que nesses casos não recorreram a justificações elaboradas para a violência extrema que apresentam.

Quanto à monstruosidade do ser humano, este filme não apresenta nada de particularmente novo, útil, relevante ou marcante. Os pretextos apresentados, como os achei completamente ridículos enquanto argumentação para demonstração de violência, não me marcaram nada (embora o filme, tal como a ti, não me tenha saído da cabeça por uns dias). Já ler um livro sobre algumas particularidades da nossa história, ou ver alguns filmes baseados em acontecimentos reais de atrocidades praticadas, por exemplo, marcam-me muito mais. A violência não necessita de justificações para acontecer.
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Re: The Exorcist - 2016

Post by Samwise »

Helldr wrote:Nem de propósito, ontem ao fazer zapping dei com O Exorcista a passar na RTP1...
O waltzousa comentou aqui que é preciso ser religioso ou acreditar em exorcismos para ser mais facilmente impressionado pelo filme, mas o curioso é que eu não acredito em nada daquilo nem que tal pudesse acontecer, muito menos daquela maneira, com levitações e cabeças a rodar 360º... Sempre achei isso uma treta que apenas faz parte do espectáculo, mas o ambiente pesado e aquela atmosfera ameaçadora que não sei explicar muito bem de onde vem (e é isso que para mim é incómodo) é que é de mestre e que acho que só tem paralelo talvez no The Shinning.
Devíamos fazer um top de filmes de terror aqui no fórum. :-D

Desde há uns meses para cá, ando a enriquecer o meu património intelectual à conta deste "género maldito", tentando ver muitos dos filmes que não conheço e revisitando outros que já vi no passado e que não sei que efeitos terão sobre o meu gosto actualmente.
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Re: The Exorcist - 2016

Post by DarkAvenger »

Podes abrir as hostilidades! :D
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Re: The Exorcist - 2016

Post by Samwise »

DarkAvenger wrote:Podes abrir as hostilidades! :D
Certo, certo... lá mais para a noite trato disso. :wink:
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Re: The Exorcist - 2016

Post by siroco »

Samwise wrote: Vi o Martyrs há uns anos e detestei o filme. Está na minha "lista selecta" de algumas obras a que dei um zero redondo como reacção a quente depois de uma primeira visualização, em conjunto como o Cannibal Holocaust.
salut-)

Nem o considerei como terror mas como "doentio". Daqueles filmes que dei por mim a perguntar "porque é que eu estou a ver isto?" E não o acabei.

Não sou fã da linha "sangue e tripas", até aprecio os filmes de terror mais antiguinhos em que por ainda não existirem os efeitos de hoje tudo tinha de ser mais subentendido do que mostrado.

Já dei o meu contributo para o top10.
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