Cabeças wrote: ↑January 22nd, 2019, 1:12 pm
A verdade é que este tipo de acusação pega-se às pessoas, mesmo que sejam inocentes.
Eu se tivesse que escolher, escolhia pela inocência dele.
É um dos dois casos que sucedeu com artistas cujas obras me dizem muito e que sempre me incomodaram... A forma como resolvi mentalmente esse desconforto foi separar a obra do seu criador!
Julgo que foi o Miguel Ângelo que disse que, quando esculpia, não criava nada de novo. A escultura já se encontrava dentro da pedra. Ele apenas retirava o excesso... Sempre admirei essa ideia e também a humildade revelada nessas palavras. Mas também sempre acreditei nisso, ou seja, que os artistas como que conseguem estabelecer um canal directo ao divino e receber algo de eterno e imutável, do qual são, como que, meros transmissores, reveladores...
O outro caso que referi que sempre me incomodou foi o do Oliver Shanti, conhecido músico instrumentista do género New Age, provindo da Alemanha e que viveu durante muitos anos numa Quinta em Vila Nova da Cerveira onde era conhecido como um benfeitor. Teve vários êxitos, tendo inclusivamente chegado ao top de vários países (julgo que um dos cds dele esteve no primeiro lugar do top alemão).
Até que foi acusado de pedofilia e esteve muito tempo fugido da polícia... alguns anos depois deram com ele escondido em Lisboa e foi julgado e condenado. Deu-se como culpado de várias centenas de crimes de pedofilia... Ainda tive esperança que estivéssemos perante acusações falsas motivadas por uma guerra originada pelos milionários direitos de autor, como me foi assegurado por um dos rapazes a quem ele deu guarida na sua Quinta e que me garantiu que era tudo mentira... (rapaz esse com o qual falei quando lhe comprei alguns cds que estava a vender numa "banquinha").
Em termos musicais, o Oliver Shanti e os Pink Floyd sempre foram o meu expoente máximo, em géneros diferentes, mas que me marcaram e continuam a deliciar.
No caso do Oliver Shanti já não posso, como faço com o Woody Allen, vê-lo como presumível inocente... daí, o invocar aquela citação do Miguel Ângelo para separar uma obra celestial, de um "criador" eventualmente indigno de ter sido o canal escolhido para a sua difusão...
O filme Amadeus também toca nesta ideia, com o Salieri a considerar Deus injusto por ter prendado um boémio Mozart com a capacidade para compor músicas divinais...
Esta malta viveu debaixo de uma pedra este tempo todo? O início do movimento, e consequente caça às bruxas, anula o veredito e torna o Woody Allen culpado??! Enfim... Quem perde somos nós, que ficamos privados de ver o filme 
