Cinema de Espanha

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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JoséMiguel
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Cinema de Espanha

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Legenda: Fotografia tirada por mim, este verão na vila espanhola de Santa Marta, região de bons vinhos, onde cada aldeia, vila e cidade possui "una botella de vino tinto" gigante, em todos os acessos às povoações dessa região vinícola.

Wikipedia

https://en.wikipedia.org/wiki/Cinema_of_Spain
https://es.wikipedia.org/wiki/Cine_espa%C3%B1ol

Introdução

Ora bem, ¿cómo empezar?

Eu aprecio muitíssimo o cinema espanhol, mesmo conhecendo-o muito pouco e mal. A Espanha possui um Cinema muito variado e rico (com uma riqueza e diversidade que nada tem a ver com o cinema português), quer seja o cinema moderno da democracia pós-Franquismo (1975-Presente) quer seja o cinema feito na ditadura, que por vezes mais me parece cinema soviético, conforme o que explica o wikipedia:
Social criticism[edit]
In the 1950s, the influence of neorealism became evident in the works of a number of rather young film directors (namely, Manuel Mur Oti, José Antonio Nieves Conde, Juan Antonio Bardem, Marco Ferreri, and Luis García Berlanga). Their main works (Surcos, Balarrasa, Todos somos necesarios, Orgullo, Muerte de un ciclista, Calle mayor, El pisito, El cochecito, Bienvenido Mister Marshall, or Plácido) ranged from melodrama to esperpento or black comedy, but all of them showed a strong social criticism, unexpected under a political censorship, like the one featured by Franco`s regime. From the amorality and selfishness of the upper middle class or the ridiculousness and mediocrity of the small town people to the hopelessness of the impoverished working class, every social stratum of the contemporary Spain was shown up.

Luis Buñuel in turn returned to Spain to film the shocking Viridiana (1961) and Tristana (1970). (Wikipedia)
O primeiro filme de ficção espanhol antecede o nosso "Os Crimes de Diogo Alves" de 1911, e chama-se "Riña en un café", foi feito em 1897 e fica aqui um excerto comentado:



O filme acima é catalão e só tem 1 minuto de duração, pelo que não retira o mérito ao nosso filme português do serial killer que atirava mulheres e crianças do aqueduto das águas livres. Realmente nessa época (1897-1911) os cineastas preferiam filmar autênticas macacadas (ou seja comédia para imbecis), para idiota analfabeto se rir, e por isso a raridade de filmes com enredo, pés e cabeça... :-( :-? Atenção que o actual cinema norte-americano do século XXI dedica-se a essas macacadas. Grr:-)

Já há uns anos eu havia criado tópico do grandíssimo realizador Segundo de Chomón (este não fazia comédias para imbecis):

viewtopic.php?f=11&t=48808&p=596597



Um exemplo bizarro, insólito e original é o filme "El Bosque del Lobo", de 1972, acerca do "Saca-Manteigas", o serial killer que vinha a Portugal raptar crianças para as matar e sacar o unto, que depois vendia em aldeias vizinhas. O homem vendia gordura de crianças humanas, como se fosse banha de porco, ele foi apanhado e preso no século XIX.

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O meu tópico:

viewtopic.php?f=11&t=48763&p=596527



Nota: Tópico em edição/construção.
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

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Imagem externa do doce artesanal espanhol de Saragoça (perto de França). Eu estive com a caixa na mão e quase para comprá~la por 7 euros, para a trazer para Lisboa, e oferecer ao dono da tasca da minha rua, para ele por em exposição. Reparem que hoje em dia, no ano de 2017, o povo espanhol é muito mais liberal e atrevido do que o desgraçado e atrofiado povo português, esta foto do doce artesanal espanhol "Tetillas de Monja" terá algo a ver com o assunto de que falarei em seguida.

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https://ca.wikipedia.org/wiki/Sierra_de_Teruel

Filme completo:

https://www.youtube.com/watch?v=Gd6dTr4jQlU
http://www.rtve.es/alacarta/videos/film ... 8/3918025/

Ora bem eu venho falar do filme catalão "Sierra de Teruel" de 1938, que eu ainda não vi, mas é gratuito em streaming, quer no You Tube, quer no site da RTVE. Porventura terá sido o último filme espanhol, feito em plena democracia, antes do golpe de estado dos fascistas e fanáticos religiosos franquistas. Com a aproximação militar dos fascistas à Catalunha, a equipa do filme fugiu da Catalunha, e atravessou a fronteira francesa, antes do cerco final de Franco a Barcelona e ao país Catalão, numa manobra militar muito triste em que os catalões feridos de guerra e mutilados fugiam de muletas, todos feridos e com ligaduras para França, onde o governo francês (2 anos antes da ocupação nazi) meteu os catalões em campos de concentração. Pouca vergonha do regime francês entre 1938-1940, que interna refugiados de uma república democrata espanhola, que fugiam de um golpe de estado de um ditador fascista de extrema direita, e fanático religioso, o Franco que proibiu o divórcio e deu poderes políticos à Igreja Católica, o que nunca nunca se deve fazer, pois a Igreja Católica causou mil anos de merda e Idade das Trevas na Europa, só ao contarmos o bloqueio ao avanço da medicina em nome de Deus, imposto pelo Vaticano, podemos começar a ter noção dos milhões e milhões de europeus que morreram, por imposição do Vaticano e proibição de avanço científico e médico, durante a Idade das Trevas, e o desgraçado do Franco voltou a dar poderes políticos a esses anormais fanáticos do Vaticano em Roma.

O pessoal do fórum já sabe que eu não gosto nada do Catolicismo, enquanto força política, que durante mil anos matou pessoas por se recusarem a aceitar as fantasias mágicas infantis dos mitos, contos de fadas e folclore das "escrituras sagradas", por isso não se espantem com a minha agressividade habitual à Igreja, sempre que tal se justifica. E meus amigos, qualquer discussão minha sobre cinema espanhol, anterior às eleições livres de 1977, irá sempre implicar a Igreja Católica e o Papa em Roma.

A razão de eu escrever esta mensagem acerca de um filme catalão que eu ainda não vi, foi a de ter ficado fascinado com o contexto histórico dos fascistas (rebeldes nacionalistas) cercarem a Catalunha (Republicana), e os cineastas catalães fugirem pela fronteira terrestre com a França, junto com os soldados republicanos que tentavam correr de muletas, para alcançar a salvação, antes do exército rebelde fascista fechar a fronteira com a França e finalizar o cerco militar final à Catalunha.

Os cineastas deste filme, conseguiram escapar aos campos de concentração franceses (A França apoiava o fascismo de extrema-direita e meteu os republicanos democratas espanhóis em campos de concentração, pelo motivo de serem democratas e como tal, estarem a perder a guerra civil. Perante isto se calhar foi muito bem feita a invasão nazi à França em 1940, como castigo pelos franceses não ajudarem os democratas eleitos espanhóis. A URSS ajudou os democratas, ao passo que a Alemanha Nazi e a Itália de Mussolini ajudaram o exército do rebelde fascista Franco. A França e Grã-Bretanha cagaram para a Espanha e não ajudaram o governo Republicano...

Hei-de ver este filme e depois digo qualquer coisa, mas tenham em atenção que após este último filme espanhol republicano, o cinema espanhol durante a ditadura de Franco, é muito semelhante ao cinema soviético em múltiplos aspectos, desde os aspectos cinematográficos com a corrente do Realismo, ao argumento de cinema de intervenção estilo os filmes americanos do realizador Stanley Kramer. Vou tentar explicar isto por outras palavras e "que seja o que Deus quiser" (expressão idiomática, porque eu sou ateu):

Eu acho que a maioria do cinema americano e do cinema português, entre 1940-1970 era composto de futilidades para que o povo não pensasse muito e não questionasse o governo, numa imitação do conceito da Roma Antiga do "Circo e migalhas", que era a táctica utilizada pelo senado de Roma, para evitar que as massas se rebeliassem ou questionassem a ditadura do governo romano.

Do lado americano foi preciso um sujeito chamado Stanley Kramer, para pagar do bolso dele, enquanto produtor, filmes com um mínimo de inteligência para que o povo norte-americano começasse a por em causa as coisas.

No cinema português, temos o exemplo de filmes para atrasados mentais, que são todos os clássicos do cinema português, do estilo "A Canção de Lisboa", em que a preocupação do Regime de Salazar seria de que o povo não podia pensar muito. Eu pessoalmente até gosto bastante da "Canção de Lisboa", mas sei que é um filme feito durante o fascismo de Salazar para atrasados mentais. Eu já disse que gosto do filme e não acho que eu seja nenhum atrasado mental, a questão não é bem essa mas sim a pergunta sem resposta de onde estão os filmes portugueses de intervenção e crítica social, feitos durante o Salazarismo?

Eu já sei que o Rui Sousa muito tem divulgado cinema português que eu desconheço completamente, e que supostamente serão cinema inteligente, mas quer dizer, isso fica a léguas do cinema de intervenção norte americano, soviético ou espanhol. Poderia dar exemplos americanos ou soviéticos, mas vou contar um filme espanhol que eu vi em Espanha na RTVE, com aspecto dos anos 1950:

O filme espanhol de mensagem social feito durante o fascismo de Franco, mostrava meninos a vasculhar os escombros de uma cidade espanhola bombardeada por pilotos nazis do 3º Reich, da Legião Condor, sob ordens do Adolf Hitler. A certa altura sobrevoam aviões soviéticos que largam comida em pára-quedas. Os meninos querem comer essa comida soviética/comunista que caiu do céu, mas os pais desses meninos dizem que o comunistas são vilões e que essa comida está envenenada, tal era o fanatismo fascista de direita dos pais dos meninos.

Esse filme é poderoso, pois morre logo um dos meninos ao tentar procurar comida numa bomba não-detonada, enquanto outros meninos comem a comida soviética, às escondidas dos pais.

^Não vi esse filme do princípio, mas o final é filmado numa prisão, onde assistimos ao drama de um homem condenado à morte.
nimzabo
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Re: Cinema de Espanha

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Também há este tópico sobre filmes falados na língua.
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

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Tópico no DVD Mania: viewtopic.php?f=11&t=50134&p=616054

No tópico acima, eu escrevi uma crítica ao filme em Março de 2016. Os meus screenshots foram apagados pelos vigaristas de mau carácter do Photobucket (não honraram as condições deles e voltaram com a palavra atrás, mas quando eu me queixo muito no DVD Mania, logo surge por cá um advogado do Diabo a defender essa corporação desonesta, por isso é melhor eu não levantar ondas).

Mas as imagens de links externos estão lá, bem como os meus excertos no Vimeo. Eu expliquei e citei algumas curiosidades "making of" deste filme (profissionalismo 10 vezes superior à incompetência profissional dos grandes estúdios de Hollywood).

Como ainda não tinha criado um trailer com o Movie Maker, fiz esta noite um trailer musical, com música de contos de fadas, pois considero que isto é um conto de fadas de ficção científica, que mistura o "Frankenstein" de Mary Shelly, com o "AI" do Steven Spielberg e com o "Eduardo Mãos de Tesoura" do Tim Burton.

Este trailer destina-se a promover o filme no You Tube, aos estrangeiros que procuram sugestões de bons filmes não-hollywoodescos, não o criei aqui para o fórum, pois não era necessário. O IMDB apenas possui 24 comentários, o que é uma pouca vergonha, a empresa americana Weinstein ainda conseguiu uma exibição limitada lá nos cinemas americanos, mas como sempre os estúdios mafiosos de Hollywood conseguem que muita sucata deles chegue a todo o mundo, quer seja com o marketing (honesto) ou com acordos (dúbios) com distribuidoras de Cinema e DVD (por exemplo portuguesas). Em contra-partida, um filme tão bom como este tem dificuldade em chegar ao mercado.

A maioria dos subscritores do meu canal do You Tube, procuram sugestões de filmes bons e desconhecidos, e criei o seguinte "trailer" esse sentido.

JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

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Juana, la Loca (2001)

Nunca criei tópico para este filme, mas falei dele em algumas ocasiões. Eu e o Drakes já comentámos o filme no tópico do "Último filme que viram".

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Agradecimento a Portugal, pelas cenas filmadas em Guimarães.

Este filme é do realizador Vicente de Aranda, cineasta que eu aprecio por fazer filmes históricos com maturidade para um público adulto.

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Mas antes de mais nada deixo o wikipedia desta rainha Joana de Castela e Aragão que era a cunhada (ou algo parecido) do Rei Dom Manuel I de Portugal:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Joana_de_Castela

Estive a ler a biografia desta rainha espanhola na wikipedia, e parece-me que o filme respeita os factos. Basicamente esta mulher tinha muito ciúmes do marido lhe meter os cornos, mesmo sendo um direito jurídico de qualquer homem do ano 1500 D.C. meter os cornos à sua esposa, sem ela poder refilar. Os direitos da mulher só chegaram a Portugal e Espanha após o fim do Salazarismo e Franquismo, e isso é algo de muito recente nas legislações portuguesas e espanholas.

Esta Rainha exigiu a igualdade que todas as mulheres espanholas conquistaram na Península Ibérica no final de 1970, mas era obviamente maluca por fazê-lo no séc. XVI e foi presa no Castelo de Tordesilhas. Leiam a seguinte citação da Wikipedia (versão PT-BR):
Até hoje, não está totalmente claro em que ponto a suposta loucura de D. Juana I de Castela chegou, fazendo com que a mesma fosse declarada inapta para governar. Os relatos dos historiadores são extremamente confusos nesse aspecto: enquanto uns dizem que era uma mulher nervosa e ciumenta, outros afirmam que sofria da mesma enfermidade mental que acometera sua avó, Isabel de Portugal. Todavia, é possível que Juana se encontrasse no meio termo entre um extremo e outro. De certo, ela fugia dos padrões de subserviência feminina do século XVI. Não fora uma esposa submetida, nem tampouco pacificadora do lar. Contudo, sentia um sentimento avassalador por seu esposo Felipe, a ponto de punir as amantes deste e comparecer a festas com o único propósito de vigiá-lo. Conta-se que foi em um baile da corte borgonhesa, que Juana, já em estado avançado de sua segunda gravidez, sentiu as dores do parto dentro de um banheiro e lá mesmo deu à luz ao futuro Imperador Carlos V. Tendo a mãe como exemplo feminino, a herdeira das coroas de Castela e Aragão não queria parecer menos que a grade Isabel, embora não tivesse a compostura desta última.
Este é um filme realmente passado na época dos Descobrimentos, a obra não contempla Portugal, mas podemos ver aqui as sementes das uniões entre os reinos de Aragão, Castela e Flandres, que levaram a que o filho desta Joana, a Louca fosse o Imperador de Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e do Sacro-Império Germânico. Esta mulher é a bisavó do famigerado Rei Filipe I de Portugal. O filho dela, o Imperador Carlos V era o homem mais poderoso do mundo e assustava a França e Inglaterra, esse filho nasceu no chão de uma casa de banho de um palacete na Borgonha, quando a Joana ciumenta estava a horas de parir, mas quis ir ao baile vigiar o marido.

Fiz agora esta montagem, que é para português ver. Este vídeo é o oposto do anterior que criei do filme sci-fi "EVA" (para estrangeiro ver). É apenas uma colagem de cenas que considero pertinentes para o leitor portuga do DVD Mania perceber logo a onda do filme. Essas cenas estão de acordo com o que eu li na wikipedia, ou seja o jovem Rei da Áustria, Borgonha e Flandres, assim que a viu quis logo ter sexo e desvirginar a donzela espanhola, uma semana antes de vir um big boss do Estado Papal casá-los de acordo com a Santa Sé.



Wikipedia do filme: https://en.wikipedia.org/wiki/Mad_Love_(2001_film)
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

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Filme: https://en.wikipedia.org/wiki/Carmen_%282003_film%29

Em Dezembro de 2014 eu criei o tópico para este filme no DVD Mania, cujo link colocarei em seguida. Estive a rever o que eu escrevi em 2014 e tudo bate certo com mais elementos que andei hoje a ler. Só é pena a empresa desonesta Photobucket ter voltado com a palavra atrás e ter lixado os screenshots à malta, em nome da ganância podre.

Mas antes de mais nada (e de acordo com a minha opinião em 2014) quero explicar a similaridade entre o cinema espanhol e o cinema soviético. Eu gosto muito de ambos e já em 2014 eu andava aqui no fórum a chamar a atenção a isso. Basicamente existe uma quantidade séria e significativa de cinema espanhol, que se está a cagar para a fórmula norte-americana de Hollywood e continua a fazer cinema bom e normal, que não esteja aleijado ou influenciado com a aberração do cinema formulaico estagnado dos grandes estúdios de Hollywood.

Eu vi o que se passou com o cinema da Europa de Leste após a desintegração da URSS em Dezembro de 1991. O cinema desses países todos (regra geral) tornou-se um clone idiota que copia a fórmula de Hollywood (tanto faz se é cinema russo, polaco ou romeno).

Eu já vi filmes na RTVE em Espanha, feitos durante a ditadura do Franco, que eram ideologicamente iguais aos filmes poderosos do bloco comunista de leste, como por exemplo o filme romeno de 1964 "A Floresta dos Enforcados" (o próprio wikipedia acerca do cinema espanhol comprova isso). Ou seja, quer o cinema feito na ditadura fascista do Franco ou na ditadura comunista de todos os países do Bloco de Leste, partilhavam a ideologia anti-guerra e faziam filmes de intervenção contra a guerra (tal como o cineasta Stanley Kubrick). Ao mesmo tempo os malandros (para não lhes chamar filhos da puta) de vários donos de estúdios de Hollywood faziam filmes de extrema-direita, nacionalistas e pró-guerra, com o actor John Wayne a fazer de exemplo de lavagem ao cérebro aos jovens americanos para aceitarem as guerras provocadas pelo governo norte-americano.

Estamos perante uma situação em que o cinema da ditadura fascista do Franco andou de mãos dadas com as ditaduras comunistas da europa de leste, unido contra a doutrina pró-guerra da propaganda americana de Cinema.

Isto não será de estranhar devido à Espanha e a Europa de Leste terem ficado devastadas com a guerra. Um filme pró-guerra americano com o actor John Wayne armado em herói patriota de merda seria muito mal visto tanto na Espanha fascista como na Europa de Leste comunista (o povo espanhol morreu à fome após a guerra civil, muitos foram salvos de morrer à fome graças a ofertas de comida da América Latina. Os netos dos espanhóis que passaram fome não aceitaram a propaganda pró-guerra dos filmes com o John Wayne).

Mas falarei desse cinema espanhol "De Esquerda / Anti-Guerra", feito durante o Franquismo, mais tarde. Agora vou prosseguir com este filme muito importante pelas similaridades entre o cinema espanhol e soviético.

O meu tópico de 2014: viewtopic.php?f=11&t=49925&p=606718

Entretanto criei agora este excerto, que me parece pertinente e apropriado para este tópico do Cinema Espanhol.



O cinema espanhol não é igual ao cinema soviético, quando eu vejo um bom filme histórico espanhol vejo coisas melhores que no cinema soviético, como por exemplo a nudez e sexo (nunca irei entender porque os regimes comunistas tinham pudor com o sexo, se eram ateus por ideologia e a Igreja não tinha capacidade de censurar o Cinema de Leste). Por outro lado vejo coisas piores no cinema espanhol do género histórico, por exemplo vejo maneirismos do presente a contaminar os diálogos e expressões dos actores, que não acho válidos num filme passado no antigamente.

Mas gostei muito de ver grandes adaptações de cinema aos livros do escritor francês Prosper Mérimée, que escreveu sobre a Polónia e Espanha, feitas pelos países sobre os quais ele escreveu no séc. XIX. A Espanha fez este filme em 2003, mas os polacos fizeram um filme brutal em 1970 baseado noutro conto deste escritor.

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viewtopic.php?f=11&t=47164

O poster é muito poderoso, assim como o filme também o é. Esta situação é muito interessante e inteligente pois podemos comparar uma adaptação polaca de 1970 com uma adaptação espanhola de 2003, de duas obras do mesmo escritor francês. No meu caso pessoal que gosto de ambos os filmes, considero o filme espanhol "Carmen" muito mais importante e relevante ao nível social, embora o filme polaco de 1970 consiga dar cartas e ensinar o realizador espanhol Vicente Aranda, nalgumas coisas.
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

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Sobre o cinema espanhol anti-guerra da era Franquista
Social criticism

In the 1950s, the influence of neorealism became evident in the works of a number of rather young film directors (namely, Manuel Mur Oti, José Antonio Nieves Conde, Juan Antonio Bardem, Marco Ferreri, and Luis García Berlanga). Their main works (Surcos, Balarrasa, Todos somos necesarios, Orgullo, Muerte de un ciclista, Calle mayor, El pisito, El cochecito, Bienvenido Mister Marshall, or Plácido) ranged from melodrama to esperpento or black comedy, but all of them showed a strong social criticism, unexpected under a political censorship, like the one featured by Franco`s regime. From the amorality and selfishness of the upper middle class or the ridiculousness and mediocrity of the small town people to the hopelessness of the impoverished working class, every social stratum of the contemporary Spain was shown up.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Cinema_of_Spain
Eu já vi 2 ou 3 filmes, quando estava em hotéis espanhóis, lá na TDT gratuita e muito poderosa de Espanha, que eram antigos e a preto e branco, notoriamente feitos nos anos 50 ou 60.

Eram filmes passados durante a guerra civil espanhola, num deles estavam crianças cheias de fome a apanhar comida lançada pela Luftwaffe alemã em pequenos pára-quedas. Mas eram bombas-armadilhas para matar as crianças espanholas, provavelmente lançadas nalguma cidade espanhola com muitos republicanos como Barcelona, em que o Adolfo Hitler achou por bem que os pilotos alemães, lançassem essas bombas disfarçadas de caixas de comida, para exterminar os filhos dos opositores do fascismo.

Noutro filme está um gajo na prisão que irá ser executado na madrugada seguinte, só apanhei o filme no fim e pude observar a mulher dele a levar comida à prisão e os guardas todos a saudarem o prisioneiro (os guardas dessa prisão achavam que o condenado à morte era um herói nacional).

Infelizmente não sei os títulos desses filmes (mas talvez os consiga descobrir com uma pesquisa na net, não é certo).

O que é certo é que esses filmes que eu vi em hotéis espanhóis (no canal da TVE) são cinema de intervenção anti-guerra, alinhados com os filmes de autor do Stanley Kubrick, ou com os filmes anti-guerra do bloco soviético, e todos eles com um aspecto antigo, decerto feitos na era do Franco.

O Ditador Franco considerava-se um paladino ao serviço da Igreja Católica e dos bons costumes antigos de Espanha, ele concedeu os poderes supremos de ditador, em testamento ao Rei. Esse gajo (o Franco) tinha muito orgulho em tudo o que fez durante a guerra civil, e achava que estava a ajudar o Deus dos católicos (ou seja ele era um soldado ao serviço do Deus católico). É esta a razão do regime fascista espanhol não se importar com filmes espanhóis anti-guerra de intervenção, que a mim me parecem iguais aos filmes do bloco comunista.

Em seguida dou o exemplo de um filme romeno de ideologia de esquerda, que critica a 1ª guerra mundial, quando o povo romeno combatia ao lado do povo português. Portugal e Roménia foram aliados militares na 1ª Guerra Mundial, mas nunca vi o cinema português a fazer um filme anti-guerra como este "A Floresta dos Enforcados" de 1964, vamos lá ver duas coisas: Em 1964 estava o ditador Oliveira Salazar no poder e o gajo mandava fazer filmes de propaganda fascista acerca do Império português africano, mas depois de 1974 nunca vi nenhum cineasta português a fazer um filme acerca dos soldados portugueses que combateram na Flandres, na 1ª Guerra Mundial, um motivo possível será o dos cineastas portugueses só preferirem filmes fúteis. A definição de fútil significa algo de irrelevante sem importância, e penso que escolhi a boa definição para o cinema português.

Voltando à questão principal, aqui fica um clip de um filme feito numa ditadura comunista em 1964, a criticar a 1ª Guerra Mundial, os espanhóis fizeram filmes igualmente poderosos como este, durante a ditadura fascista do Franco (eu já os vi), filmes espanhóis com o tema da guerra civil em que se mostra o sofrimento do povo republicado executado no paredão por ordens de Franco:



Tópico do filme romeno de 1964: viewtopic.php?f=11&t=46939&p=587555&hil ... os#p587555

EDIT: Fiz uma pequena revisão e removi os meus insultos (chamei nomes ao Salazar e aos cineastas portugueses :lol: mas já os apaguei). Foi apenas isso que alterei. :-)
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Re: Cinema de Espanha

Post by JoséMiguel »

Vídeo-crítica (o Zé a falar e a mandar bocas)

EDIT: 3ª tentativa da minha vídeo-crítica (removi logo a 1ª versão, a 2ª nem a mostrei, e esta 3ª tem alguns problemas, mas como acho que não conseguirei melhor, fica assim, por agora.

Eu tenho alguma vergonha da má qualidade disto, e espero depois não ficar arrependido e apagar o vídeo. :oops: :-(

Eu faço uma análise do tele-filme espanhol premiado em Cannes (o festival de Cannes também uma secção para tele-filmes) "El crimen de las estanqueras de Sevilla" de 1991.

viewtopic.php?f=11&t=52038 (filme grátis, legendado em espanhol, no site da TVE, espero que o vejam, depois de ficarem intrigados com a minha vídeo-crítica, que filme será este que ganha um prémio de Televisão em Cannes!? :o )


Em seguida comentarei os erros técnicos e factuais que cometi durante o meu vídeo, mas existe uma situação (de que me arrependo) onde eu disse mal do realizador Jesus Franco (que fazia exploitation de má qualidade), que é o tio do realizador Ricardo Franco (cineasta de alto rigor de realismo e impressionante qualidade cinematográfica) que realizou este filme. Eu peço desculpa aos fãs do Exploitation, eu próprio adorava o fórum português "Xploited", onde era membro, mas fugiu-me a boca para a verdade e chamei nomes ao cinema do Jesus Franco. A mim até me interessam os temas do cinema de Exploitation, bem como a bofetada na cara e grito de liberdade que esse cinema foi, perante décadas de censura religiosa pela Europa e EUA no Cinema, mas não aceito filmes tecnicamente mal feitos, em má fé, com enredos simplórios, ou seja Exploitation sim! mas com qualidade de enredo e de cinematografia. :-D

Isto no fundo será a mesma coisa que estarem sentados comigo numa esplanada a comer caracóis e tremoços e a beber umas cervejas, a falarem comigo de cinema. Ou seja isto é pura conversa de café, onde eu falo à vontade (aqui não falei muito à vontade, com a preocupação de não cometer erros de memória e de andar a alternar entre 30 páginas da Wikipédia, para eu não me enganar).

Devido a um erro meu, filmei o vídeo em 4:3 e ficou cortada a foto do cardeal Pedro Segura, arcebispo de Sevilha, o psicopata pior que o Franco que pretendia instaurar uma Teocracia em Espanha, com o Governo subordinado ao Clero, personagem que surge no filme:

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Fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Pedro_Seg ... sco_Franco

Um artigo recente acerca do assassinato político pela PIDE, em Espanha, do General Humberto Delgado, com informações então abafadas pelos governos de Portugal e Espanha, pelo mesmo jornalista e escritor Juan Rada, de que falo no meu vídeo, para que vejam a categoria desse criminólogo (Sherlock Holmes) "condecorado con la placa al Mérito Criminológico y la medalla al Mérito Profesional por la Asociación de Diplomados y Profesionales en Criminología e Investigación. Cruz de oro de la Agrupación Narváez (AA. Guardia Civil). Comendador de varias Órdenes de Caballería.":

https://www.elespanol.com/reportajes/gr ... 077_0.html (o Samwise de certeza irá querer ler :badgrin: )

O artigo dele sobre o assunto deste filme é este:

https://www.elespanol.com/reportajes/gr ... 559_0.html

Site oficial do jornalista de investigação:

http://www.juanrada.com/

Cineasta Pedro Costa Musté (Argumentista e Produtor):

https://gl.wikipedia.org/wiki/Pedro_Costa_Must%C3%A9

Cineasta Ricardo Franco (Realizador), sobrinho do Jesus Franco que só fazia "cagada" exploitation, ao menos o sobrinho fez logo um filme premiado em Cannes no ano de 1976:

https://es.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Franco

Sumário do meu vídeo

- O criminoso governador civil de Sevilha, Alfonso Ortí Meléndez-Valdés, que na Wikipédia não tem ano de falecimento e surge na categoria "Fallecidos en año desconocido", acho que ele fugiu em 1975, quando morreu o Franco, com medo da vingança dos familiares das pessoas assassinadas por ele, enquanto assumiu a função de Governador Civil de Sevilha.

https://es.wikipedia.org/wiki/Alfonso_O ... s1993684-1

- Frade franciscano Hermenegildo de Antequera, homem religioso de bom carácter.

- O ditador Franco com medo do poderio militar do governo norte-americano em 1952, "Meses antes Franco había aplicado dicha gracia a varios presos políticos en su afán por lograr el beneplácito de EEUU."

Expliquei no vídeo que tive de utilizar o Google Translate para entender esta frase, aqui está a tradução: "Months before Franco had applied this grace to several political prisoners in their eagerness to obtain the approval of the USA."

- O comentário da TVE que mostrei, foi por lapso, calhar num tempo que não era sobre o tema do filme, mas o assunto era o mesmo e também aparecia o jornalista de investigação Juan Rada, a falar sobre o semanário "El Caso":

http://www.rtve.es/alacarta/videos/info ... o/3619219/

Acho que esse artigo da TVE é sobre uma série biográfica nova, baseada no jornal semanário "El Caso" do próprio Juan Rada, no tempo do fascismo.

- O Zé explica que o termo "Chorizo", utilizado pelos inspectores neste filme, significa "Mânfio" (calão lisboeta), ou seja enquanto em Lisboa nós dizemos "não vamos por essa rua, que estão lá uns gajos com ar de mânfios", os espanhóis dizem a mesma coisa mas chamam chouriços aos mânfios.

Falhas e erros

É difícil para mim, não cometer nenhuma falha, quando eu estou em tempo real a cruzar informação com 40 páginas abertas no Firefox, sobre este filme. Sou como o malabarista que atira demasiadas bolas ao ar e que deixa cair algumas no chão, pois isto é areia demais para a minha camioneta.
Fiz o que pude, com bastante cuidado, mas poderão haver erros meus, apesar de eu estar a ler e a mostrar páginas fiáveis da Wikipédia.

Em várias alturas "comi as palavras" com má dicção e atrapalhei-me no meu raciocínio, mas como duvido que faça uma nova versão, fica esta versão "de rascunho".

O vídeo ficou com 38 minutos, eu não estava à espera de tanto, só pretendia fazer um vídeo de 15 minutos, mas o tema em redor do filme é tão interessante que nem com os 38 minutos falei da missa à metade.

Para quem estiver curioso e tenha pachorra aqui está o meu vídeo-comentário: :oops: o-( :roll:

JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

Post by JoséMiguel »

Publiquei a minha vídeo-crítica agora, no tópico acima. :-?
Samwise
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Re: Cinema de Espanha

Post by Samwise »

Peço desculpa antecipada ao José Miguel por estar a servir-me do seu tópico sobre cinema espanhol para promover cinema português, mas creio que a heresia vem a propósito do contexto político, e complementa de certa forma este tópico com sugestões de relevo.

Encontra-se neste momento em cartaz mais um documentário/denúncia da cineasta portuguesa Susana de Sousa Dias a debruçar-se sobre o Estado Novo, desta feita servindo-se da figura de Octávio Pato, militante comunista de relevo que foi um preso político do dito regime. Esta nova peça chama-se Luz Obscura. http://cinecartaz.publico.pt/Filme/381834_luz-obscura

Já aqui falei antes do documentário 48, que é um a peça assombrossa e arrepiante, com relatos pessoais, sobre a utilização de torturta por parte da PIDE, e pelo que li, este novo documentário segue o registo de modelo narrativo desse outro.

É infeliz que um filme destes tenha apenas "espaço comercial" limitadíssimo, e muito pouco "direito de antena" face a outros produtos que são manifestamente de entretenimento, e penso estas é uma das áreas em que o estado podia melhorar um pouco a sua área de intervenção, promovendo de forma mais activa a sua divulgação.

Ficam as sugestões.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

Post by JoséMiguel »

Samwise, por mim é na boa. Eu também acabei de falar de Portugal, referindo um artigo acerca do assassinato no estrangeiro pela PIDE do General Humberto Delgado, e da forma como o assassinato político pelo governo português (estilo Estalinismo, assassinato do Trotsky no México, ou black ops recentes pela CIA dos EUA, como o Bin Laden) foi ocultado aos povos de Portugal e Espanha.

Eu achei que isso te iria interessar e que poderias querer espreitar o filme (das estanqueiras de Sevilha), perante a categoria e background do produtor.

Acho que fica bem chamar a atenção aqui para esses assuntos, mas depois para desenvolver discussão ou debate o melhor é o tópico da política. Eu próprio estou a ter essa dificuldade pois alguns comentários que pretendo fazer aqui, já fogem para o tópico da politica. O ideal será eu falar dos temas aqui e depois também escrever algo em mais detalhe no tópico da política que eu possa aqui linkar.
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

Post by JoséMiguel »

Tinha falado aqui de um assunto, que achei que não tinha interesse, pelo que resolvi antes falar da série de filmes "Rec".

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Eu já tinha comentado esses filmes aqui há uns anos, na altura em que fiquei desiludido com o Rec 3 e por isso já não quis ver o Rec 4, que ainda não tinha saído. Mas gostei muito dos dois primeiros filmes.

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O género "found footage" foi popularizado com o filme de 1999 "The Blair Witch Project". Eu vi o filme no cinema no ano 2000' e gostei dele por ser da corrente do Realismo de Cinema. Uma particularidade deste género "found footage", é que para poder funcionar, obriga os cineastas a obedecer à corrente do Realismo ou Naturalismo de Cinema (não será o caso do Rec 3). Os actores terão de se comportar como pessoas verdadeiras, ou então o filme falha.

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Antes de eu saber da existência do "Rec", vi primeiro o remake americano "Quarantine", por ter gostado desse filme fui ver a Wikipedia e em seguida vi os dois primeiros "Rec", que achei melhores do que o remake americano.

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Mas com o "Rec 3", apanhei um balde de água fria, a Wikipedia explica:

"The film has received a broad range of reviews, mostly mixed to negative, due to the straying from the original two films' serious overtones."

Basicamente achei que era uma palhaçada infanto-juvenil sem realismo, aliás o poster acima mostra logo a pinta infantil do terceiro filme da saga. Por isso eu já não quis ver o quarto filme da saga.

https://en.wikipedia.org/wiki/REC_(film_series)
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Re: Cinema de Espanha

Post by JoséMiguel »

Romasanta

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https://en.wikipedia.org/wiki/Romasanta

Depois de ter falado do realizador Paco Plaza, na mensagem anterior, decidi ver o filme dele sobre o psicopata galego que matava criancinhas espanholas e portuguesas, para lhes sacar a gordura humana e vendê-las na cidade portuguesa de Chaves a uns farmacêuticos portugueses.

Gostei do filme, mas tinha estado hesitante em vê-lo, com receio que fosse um filme infanto-juvenil, que afinal não o é.

Vou indicar quais foram os dois factores que li na Wikipedia que me motivaram a ver este filme:

1) Entidades financiadoras:
Fantastic Factory
Filmax
Future Films
Castelao Producciones
Instituto de la Cinematografía y de las Artes Audiovisuales (ICAA)
Canal+ Spain
Xunta de Galicia
Televisió de Catalunya
Televisión de Galicia (TVG) S.A.
2) Argumento do filme baseado num livro:
Based on a script by Alfredo Conde, according to the end credits the film is based on a true story, that of Manuel Blanco Romasanta, Spain’s first documented serial killer. Conde is a descendant of one of the doctors involved the original Werewolf of Allariz court case that took place in 1853/54 in Galicia, Spain. He went on to write a fictional novel, The Uncertain Memoirs of a Galician Wolfman: Romasanta.[2]
Tentarei criar página para o filme (se ainda não existir), alguns aspectos comentarei por lá e outros por aqui.

Surgiram elementos oficiais novos sobre o caso, desde que eu pesquisei o assunto em 2013, para o meu tópico d'"El bosque del lobo (1971)" do realizador Pedro Olea. viewtopic.php?f=11&t=48763&p=596527

Ando a ler a nova informação disponibilizada, que é muitíssimo interessante: yes-) :badgrin:

Por exemplo estou a ler algo de muito poderoso, que é o relatório do julgamento, escrito pelo advogado do Manuel Romasanta em 1859, no exemplo abaixo (página 221 do relatório judicial) vemos a página em que o advogado pede a sua majestade, a Rainha de Espanha, que conceda o indulto à pena de morte por garrote vil, por motivos de investigação científica e médica a pedido de um cientista francês identificado como "Mr. Philips". Espreitem a página porque merece ser lido um texto jurídico com mais de 150 anos, acerca de um assunto macabro. :-)

http://galiciana.bibliotecadegalicia.xu ... sicion=221

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Portada da reseña da causa contra Romasanta, publicada polo seu avogado defensor, Manuel Rúa Figueroa, en 1859.

Durante muito tempo não se sabia quem era este misterioso "Mr. Philips", mas recentemente um conjunto de 4 médicos psiquiátricos galegos publicou um artigo científico a identificar o cientista francês (que estava na altura exilado fora de França, por motivos políticos).
EL DR. JOSEPH DURAND DE GROS Y EL CASO DEL HOMBRE LOBO
BLANCO ROMASANTA (1853).
¿UN “BRAIDISTA” EN LA CORTE DE ISABEL II?

David Simón Lorda1; Xaqueline Estévez Gil1;
María Victoria Rodríguez Noguera2; Mónica Minoshka Moreira Martínez2
Servicio de Psiquiatría. Complexo Hospitalario de Ourense. Servizo Galego de Saúde.
32003 Ourense. España.
1Médico(a) Psiquiatra; 2Médico residente de Psiquiatría.

EL DR. JOSEPH DURAND DE GROS Y EL CASO... (PDF Download Available). Available from: https://www.researchgate.net/publicatio ... _ISABEL_II [accessed May 26 2018].
O artigo está aqui:

https://www.researchgate.net/publicatio ... _ISABEL_II
El dr Philips y Joseph Pierre Durand de Gros
Ya en 2005 (Simón, 2005), apuntamos la posibilidad de que Mr. Philips, el famoso
hipnólogo (profesor de Electro-biología) hubiera sido con mucha probabilidad Joseph-
Pierre Durand de Gros (1826-1900), pero no teníamos a aquellas alturas datos fiables ni
bibliografía que lo constatara.
Recientemente pudimos conseguir el libro de Jean-Michel Cosson, “La Trilogie Durand
de Gros, apôtres de la science et martyrs de la liberté” (Rodez- Aveyron-Francia, 1993),
dedicado al estudio de la familia Durand de Gros ("Apóstoles de la Ciencia y mártires
de la libertad"), podemos afirmar que estábamos en lo cierto, y confirmar aquella
hipótesis.
En el libro de Cosson se detalla cómo Durand de Gros esperó en vano durante un
tiempo en Marsella a ser llamado por la Corte española para poder reconocer al
Hombre-lobo Blanco Romasanta tal y como había sugerido/solicitado por carta a la
Reina Isabel II en julio de 1853...
Pese a que la Reina Isabel II ordena que se realicen las investigaciones científicas que
sugiere Dr. Philips (Durand de Gros), lo cierto es que nunca lo llamaron a España

EL DR. JOSEPH DURAND DE GROS Y EL CASO... (PDF Download Available). Available from: https://www.researchgate.net/publicatio ... _ISABEL_II [accessed May 26 2018].
Este médico é uma personagem do filme de 2004 do Paco Plaza, mas se repararem acima, os investigadores galegos em 2005 ainda não tinham a certeza deste ser o "famoso hipnólogo (profesor de Electro-biología) (...) Joseph-Pierre Durand de Gros (1826-1900)". Pois bem, o personagem que o filme mostra em 2004 bate certo com o que li desse "pseudo"-cientista francês, mas claro que ele nunca conseguiu ir a Espanha examinar o licantropo (maluco que acha que é lobisomem), ao contrário do que é mostrado no filme. Mas só o facto da personagem bater certo com o que ando a ler sobre o homem, já será um ponto a favor, que me surpreendeu. yes-) :o

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Retrato de Romasanta realizado polo litografista Vicente Urrabieta e publicado na revista La Ilustración, de Madrid, en xuño de 1854. Cedida polo Arquivo Castro Vicente.

Sendo este filme uma adaptação de um livro de ficção do género fantástico e mistério, não se trata de um filme biográfico ou histórico. Ainda assim eu farei uma análise acerca do rigor ou não das partes que são factuais. Por exemplo imaginando que um cineasta decide fazer um filme acerca da Ilha dos Amores, conforme o Luís de Camões a descreveu nos Lusíadas:

Eu exigiria que a parte de magia e fantasia com as ninfas nuas, fosse fiel a essa secção ficcional do Lusíadas, e que o resto (caravelas, roupas, comportamento dos marinheiros, etc.) fosse fiel aos factos históricos dos Descobrimentos. Isso bem feito, seria o tal "Realismo Mágico", claro que se as ninfas não aparecessem todas nuas e não fossem sex-symbols, eu acusaria logo a equipa do filme de serem puritanos religiosos, conforme o que já sucedeu no cinema português no filme "Hans Staden" (foi uma versão puritana luso-brasileira do mesmo assunto do excelente filme "Como era gostoso o meu francês").

Descobri ainda mais duas fontes interessantes acerca do Manual Blanco Romasanta.

Image
Aproximación facial de Romasanta, realizada por Fernando Serrulla e Marga Sanín.

Artigo em 3 partes, no portal da ciência galego:

http://www.gciencia.com/historias-gc/ma ... masanta-1/

Blog por três irmãos advogados, que são familiares descendentes do médico que analisou o psicopata, eles foram descobrir os arquivos da paróquia, de onde foi enterrado o Manuel Romasanta (antigamente ninguém sabia o que sucedeu ao corpo). Também foram aos locais onde ele matou as crianças, à procura de algumas ossadas antigas, para saberem se os ossos teriam marcas de faca ou de dentes humanos, mas não encontraram nada.

https://arquivocastrovicente.wordpress. ... romasanta/

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Ilustração de um romance ficcional de 1853 sobre este caso, em que tal como o realizador Paco Plaza, o escritor aproveitou e inventou uma história de terror com lobisomens.

Fonte: Linkei as imagens do GCiencia - Portal da Ciência Galega.
JoséMiguel
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Re: Cinema de Espanha

Post by JoséMiguel »

As 8 línguas actuais da Península Ibérica

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O gif animado acima mostra a 9º língua que foi em tempos a mais falada na nossa península, o árabe, há muito erradicado por motivos de perseguição religiosa ("O meu Deus tem uma pilinha maior que a tua" :twisted: e outras idiotices medievais do género). Também falta a 8ª língua mirandesa de Portugal, que apenas foi oficialmente reconhecida em 1999 e que faz parte de um sub-grupo do leonês espanhol do antigo Reino de Leão.

Eu estou a ter alguma dificuldade em poder analisar o motivo pelo qual o filme de 1971 "El Bosque Del Lobo", feito durante o Fascismo do Franco, tem os actores a falarem em Castelhano e não em Galego. Eu sei que isso tem a ver com proibições de extrema-direita, em que a ditadura do Franco proibia o povo galego de falar galego, o povo catalão de falar catalão, e por aí fora... quando em 1970 uns galegos ou catalães chegavam a Madrid e iam a uma cafetaria falar na língua deles, surgiam logo elementos de extrema-direita similares às SA e SS da Alemanha Nazi, que gritavam com eles e os obrigavam a "hablar cristiano" sob ameaçada de serem espancados ("falar cristão", pois os espanhóis fascistas consideravam que o castelhano era uma língua cristã e as outras não o eram).

A minha dificuldade é não saber o alcance jurídico e prático da perseguição fascista às línguas não-castelhanas, durante o século XX. Já li na Wikipedia que, durante o Franquismo, os professores batiam às crianças da escola primária, que não falassem castelhano.

A fala do português também foi proibida por lei em Olivença, território português capturado militarmente por Espanha há muito tempo, por motivos militares e políticos, mas isso ocorreu noutra era muito antes do Fascismo do Franco. Agora estamos na UE e eu já pude ir até Olivença falar português.

Já o filme "Romasanta" de 2004 do realizador Paco Plaza, feito após a ditadura do Franco em que era finalmente permitido o Realismo de personagens galegos falarem em galego, opta por fazer o filme falado em inglês, em nome do lucro de exportação. Isto é muito triste... Primeiro em 1971 não se podia fazer o filme em Galego porque um psicopata fascista chamado Franco proibia a língua em nome da ideologia fascista-religiosa ("habla cristiano!"), e depois aparece este rapazinho Paco Plaza nascido em 1973, que era bebé quando o Franco morreu, e que se vende logo às influências nefastas do cinema norte-americano, fazendo o filme em inglês. Eu sou um pouco mais novo do que o realizador e nasci já um pouco depois do 25 de Abril, mas eu tenho um mínimo de presença de espírito para reconhecer os males que o fascismo fez e acho que fica muito mal um filme espanhol feito após a democracia de 1982, não utilizar actores galegos a falarem galego, num filme passado na Galiza. Mas aqui não existem quaisquer dúvidas e estamos apenas perante os estragos causados pela influência do cinema norte-americano.

Em 2016 fui à Galiza e a Leão, onde tirei umas fotografias desta questão linguística.

Na Galiza, assim que passei a fronteira vi logo grafittis na sinalética da auto-estrada escrita apenas em Castelhano, onde um moço galego escrevia "E em galego não!?", sobre disso não tirei nenhuma foto.

Mas tirei umas fotos engraçadas e pertinentes no antigo Reino de Leão:

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O Hotel Astorga, muito bom e barato.

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Sentei-me numa cadeira da idade média, que já tinha visto em filmes

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Da varanda do meu quarto topei o tal grafitti relevante para este tópico, naquela estrutura ao fundo

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Aqui está! "Leon Sin Castilla Leon Solo"

Esta questão não existe em Portugal, nunca vi um alentejano ou algarvio a escreverem grafittis por aí a dizerem "Algarve só! Algarve sem a Estremadura!" ou "Alentejo a sós! Alentejo sem o Ribatejo!".

Wikipedia acerca da língua leonesa: https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_leonesa

Mas também não andou por aí o ditador Oliveira Salazar a dar ordens aos professores primários de Braga, Algarve, Minho, Elvas, etc. para espancarem os meninos portugueses de 6 anos que não falassem em sotaque lisboeta. A mim por acaso a minha professora primária em Lisboa castigou-me por eu ser ateu (ela queria que eu fosse um católico à força toda e eu era castigado por não saber benzer-me e por eu dizer que não era baptizado à frente dos colegas). Se eu fui vítima de perseguição religiosa em Lisboa tenho o legítimo direito de dizer mal da Santa Sé, se calhar se eu fosse um espanhol espancado pelo professor por falar galego ou catalão também andava por Espanha a escrever grafittis como os da foto que eu tirei pessoalmente e mostrei acima. E no fundo é nisto que o realizador falha, ao faltar ao respeito e ferir as sensibilidades dos meninos da Galiza, Catalunha, etc. que foram espancados pelos professores primários do regime franquista, por falarem a sua língua materna na 1ª classe.
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