Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Discussão de filmes; a arte pela arte.

Moderators: mansildv, waltsouza

mansildv
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 16138
Joined: February 25th, 2014, 6:30 pm

Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by mansildv »

Image

Spartacus

Realizador: Stanley Kubrick
Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Peter Ustinov, John Gavin, Jean Simmons, Charles Laughton, Tony Curtis.

The slave Spartacus leads a violent revolt against the decadent Roman Republic.
Trailer



IMDb / Wikipedia / Rotten Tomatoes
mansildv
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 16138
Joined: February 25th, 2014, 6:30 pm

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by mansildv »

Bom filme, que acaba por destoar na obra do realizador por ser um pouco genérico. Tem um elenco de luxo e tem alguns desempenhos muito interessantes. Não está ao nível dos outros mas, ainda assim, vale a pena :wink: - 7.5/10
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by JoséMiguel »

O "Spartacus" é um filme muito mau, que mais parece um trabalho de dono de estúdio, sedento pelos lucros, estilo animal raivoso. As porcarias do filme são muitas, e faço referência à falta de realismo e artificialidade de estúdio na cena romântica nocturna com o Spartacus e a escrava de quem ele gosta. Essa cena é muito grave do ponto de vista da liberdade de pensamento da Europa pós-Iluminismo, porque parece que o Stanley Kubrick está ao serviço da Igreja a impôr estupidez moral religiosa sobre os povos.

Do ponto de vista técnico, a única performance militar do filme, são "soldados" romanos a andarem para a direita e para a esquerda, em formação, estilo banda filarmónica nas festas da nossa senhora numa aldeia portuguesa.

Eu não sou fanático pelo Kubrick e não suporto a malta fanática que anda aqui pelos fóruns. Para mim o Kubrick é um realizador como outro qualquer, e nem sequer está bem cotado na minha lista pessoal. No entanto ele fez alguns filmes bons, sem estas cagadas de moral religiosa e artificialismo de Hollywood.

Por exemplo, eu gostei muito do filme "Paths of Glory" de 1957 (anterior aos Spartacus, que é de 1960), que é similar ao cinema espanhol e soviético do tempo de ambas as ditaduras (De Direita e de Esquerda).

Fiz este trailer dramático de intervenção social ("Cine de Protesta" como dizem os espanhóis)



O tópico do Paths of Glory neste fórum:

viewtopic.php?f=11&t=48651&p=624762

Vamos lá ver uma coisa, um filme como o "2001 - Odisseia no Espaço" não possui qualquer tipo de cagada social, política ou ideológica, mas o "Spartacus" parece um filme de propaganda (enganosa) de extrema-direita do John Wayne, onde o Clero subornou o Stanley Kubrick para fazer um filme da treta com os valores morais do antigamente (muito perigosos e contra a liberdade do ser humano) da Igreja Cristã. Ou por outras palavras, a porcaria do artificialismo e pudor do cinema de Hollywood anterior ao fim do Production Code.

Image

Para terminar, fica o tele-disco italiano, cantado em 3 línguas, da melodia escolhida pelo Stanley Kubrick, para o homem condenado à morte, no seu bom filme de 1957 (não o "Spartacus", que contém propaganda moral religiosa inaceitável).

Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Samwise »

Não vejo o Spartacus há uns 30 anos( na altura gravei-o da televisão e vi-o uma quantas vezes - acho que tinha um fraquinho pela Jean Simmons :-))) ).

Fiquei curioso quanto às questões apontadas pelo José Miguel a propósito da "perigosa" moral religiosa que o filme aparentemente apregoa, mais para mais tendo em conta:
- todo o contexto de combate à censura imposta pelo Production Code, algo de que o filme foi uma espécie de símbolo (numa atitude corajosa, o Kirk Douglas, que era também produtor do filme, insistiu em creditar o Trumbo pelo argumento, um escritor que na altura estava blacklisted)
- que o Kubrick não quis ter o nome associado ao projecto no final, mas porque não teve "controlo criativo total"
- que o Kubrick pode ser acusado de muita coisa, mas de propaganda pró-catolicismo, e pró- moral e bons costume, não faz grande sentido - pelo menos tendo em conta que realizou coisas como o Lolita, A Clockwork Orange e o Eyes Wide Shut, que devem ter revoltado até às entranhas muita "gente de fé"

Vai para a lista de próximos a ver.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
paupau
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3633
Joined: January 7th, 2005, 6:13 pm

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by paupau »

Vou mais pelo Sam, de Kubrik rrwlmentr e o filme nao tem muito, mas vou referir o final. Ate certo ponto, e a continuacao logica do final do Paths of Glory e e um final brutal para a epoca. E um final a Kubrik.

Acho um bom filme, nao vou estar a apontar grandes defeitos, senao lembro-me logo duma cena dos Sopranos em que o Gladiador era superior porque naquele tempo nao existia aquele corte de cabelo.

Enviado do meu SM-A510F através do Tapatalk

CC - 174 MoC - 73 BFI - 21
Falstaff
Iniciado
Iniciado
Posts: 85
Joined: June 29th, 2008, 10:47 pm

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Falstaff »

paupau wrote: October 4th, 2018, 3:06 pm Vou mais pelo Sam, de Kubrik rrwlmentr e o filme nao tem muito, mas vou referir o final. Ate certo ponto, e a continuacao logica do final do Paths of Glory e e um final brutal para a epoca. E um final a Kubrik.

Acho um bom filme, nao vou estar a apontar grandes defeitos, senao lembro-me logo duma cena dos Sopranos em que o Gladiador era superior porque naquele tempo nao existia aquele corte de cabelo.

Enviado do meu SM-A510F através do Tapatalk
Sim, também me lembro dessa cena dos Sopranos, mas a ironia é que, apesar do corte de cabelo do Kirk Douglas, o Gladiador até tem mais erros históricos do que o Spartacus. :lol:
Aliás, o Spartacus é um excelente épico e um dos melhores filmes do género, quanto a mim superior ao filme do Ridley Scott. E ao contrário de certos disparates que já li por aqui, não é nenhum filme de "propaganda religiosa". Na realidade, foi o primeiro épico de romanos "laico" produzido por Hollywood, sem referências explícitas ao Cristianismo, uma vez que a histórica decorre 70 anos antes do nascimento de Cristo. E na altura até houve muito boa gente em Hollywood que boicotou o filme por alegadamente ser um épico marxista! :wink:
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Samwise »

Estou cada vez com mais curiosidade em revisitar este filme, dadas as "acusações" de ser de extrema direita e de extrema esquerda ao mesmo tempo, conforme os post anteriores.

Mais do que isso, estou curioso para saber quais são os "valores morais do antigamente" que o José Miguel tanto repudia no filme.

Parece que há uma versão remasterizada já posterior à cópia que terá passado na RTP no final doa anos 80. yes-)
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
User avatar
Rui Santos
Site Admin
Posts: 6161
Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
Location: Portugal - Lisboa / MAC
Contact:

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Rui Santos »

Também ando com vontade de ver o filme.
Só o vi há demasiados anos, mas vi o filme em diversas partes fui sendo interrompido. Não tenho essa ideia do Kubrick, tenho ideia de ser um gaijo a marimbar para muita coisa...
Mas irei ver.

Curiosamente... é o meu único Criterion em dvd... e por ser R1 não sei se o conseguirei ver...
Rui Santos - 54 Anos | 22 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
paupau
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3633
Joined: January 7th, 2005, 6:13 pm

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by paupau »

Fico com ele!!!
Tambem ja o vi em dvd ha uns 10 anos e precisava de o rever. Mas tambem trnho a ideia que empregou alguns membros da blacklist (alem do argumentista, o compositor?) e foi um filme controverso na altura. Nao foi claramente um filme 100% estudio, o que nao significa que nao trnha essa veia conservadora. So revendo.

Enviado do meu SM-A510F através do Tapatalk

CC - 174 MoC - 73 BFI - 21
technicolor
Fanático
Fanático
Posts: 717
Joined: March 2nd, 2016, 9:00 pm
Location: Pinhal Novo

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by technicolor »

Spartacus é o filme de Kubrick de que pessoalmente menos gosto (e "consta" que ele próprio também não tinha muito orgulho nesse seu trabalho). Acho Importante referir é que Kubrick foi uma "segunda escolha" após Kirk Douglas ter despedido Anthony Mann ( que foi a primeira opção para dirigir o filme ) ao fim de apenas uma semana de trabalho (Douglas que era o "dono da produção" queria um épico bem diferente do que até então se tinha feito (principalmente dos "peplum " que eram horríveis) acreditou no talento do jovem Kubrick (com quem tinha rodado Paths of Glory) mas não o suficiente e te-lo-à alegadamente "condicionado" bastante durante a rodagem (quiçá o dinheiro para custear o projecto não tenha saído todo do bolso dele :wink: ) pelo que o resultado acabou por não agradar verdadeiramente nem a um nem a outro. Pessoalmente acho que Stanley Kubrick foi honesto no seu trabalho, pegou num projecto já em fase avançada, sem grandes possibilidades de o moldar às suas ideias e estilo e fez o melhor que lhe permitiram as circunstâncias, digo eu que gosto muito de dizer "coisas" :-))) . E Trumbo, também acho que foi uma escolha bastante corajosa nesses tempos... sendo que a própria temática da libertação dos escravos parece ter um certo pendor progressista principalmente nuns USA onde nos estados sul continuava a preponderar/prevalecer um pensamento profundamente reaccionário (Mississippi Burning/Alan Parker mostra bem isso) ...Mas os "Deuses" das artes não terão sido favoráveis :-(

Não está na minha lista de filmes a rever proximamente mas acho que pelos "meus padrões" embora não seja uma obra prima como por ex. Barry Lyndon está um bocado longe de ser uma "cagada" :lol:
mansildv
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 16138
Joined: February 25th, 2014, 6:30 pm

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by mansildv »

JoséMiguel wrote: October 4th, 2018, 3:04 am Para mim o Kubrick é um realizador como outro qualquer, e nem sequer está bem cotado na minha lista pessoal.
:shock: Blasfémia :lol:
JoséMiguel wrote: October 4th, 2018, 3:04 am Eu não sou fanático pelo Kubrick e não suporto a malta fanática que anda aqui pelos fóruns.
Não tens que suportar a malta que gosta do Kubrick (não vejo por aqui fanáticos, apenas pessoas que gostam da obra do realizador!), só respeitar, como toda a gente respeita a tua adoração pelo cinema soviético :wink:
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Samwise »

Já vi o filme entretanto, numa cópia "gloriosa", restaurada em 2015. Já tinha havido uma "reconstrução" em 1991, e esta abordagem agora devolve em grande parte o esplendor inicialmente captado (imagino que). Não sei que edições andarão aí no mercado (nacional e estrangeiro), mas este remaster de 2015 ficou mesmo muito bom.

Quanto ao filme, vou alinhar-me outra vez, e em grande medida, pelas palavras do Technicolor numa série de pontos. É o filme de Kubrick de que gosto menos, mas considero que ele fez um trabalho muito asseado e competente tendo em conta que "herdou" o projecto já sem grande margem de manobra, e que ainda teve de ajustar o trabalho em função do muito interveniente Kirk Douglas. De facto, isto não é um normal "peplum", e mesmo que a marca de Kubrick não esteja à mostra como está noutras obras, o filme tem argumentos de peso que o colocam acima da "concorrência", argumentos esses a que Kubrick não terá sido alheio, e que o elevam a milhas de produtos como o Ben-Hur. O guião do Trumbo, em paralelo, cumprindo pelo menos os mínimo olímpicos, tem pormenores muito interessantes (entre partes muito boas, com diálogos inspirados e afiados, e outras para "cumprir calendário").

Percebo o porquê da associação da fita a valores marxistas (embora ache que são ideias infundadas) e também percebo o que leva o José Miguel a falar em "valores morais cristãos", porque independentemente da época retratada, e embora não haja nada que o mencione directamente, há uma série de "ilustrações" que comungam (lol) dos princípios cristãos. Não quero com isto dizer que acho que é um filme religioso e pró-cristão, até porque esses valores não são exclusivos do cristianismo (alguns até são comuns ao marxismo, como a ideia do "bem comum", ou da "igualdade" entre seres humanos, ou ainda da necessidade de não haver "senhores" e "escravos" na sociedade), mas entendo a associação. Não concordo é com a noção de serem "valores do antigamente", "muito perigosos para a liberdade do ser humano" - a mim parecem-me antes intemporais, nada ultrapassados, e a continuarem a fazer todo sentido hoje em dia, até cada vez mais. Já a associação à extrema direita e ao John Wayne não percebo de todo. A tal sequência nocturna, feita em estúdio, parece-me normalíssima - até está bem montada tecnicamente, e não vejo nunhum atentado ao "pensamento europeu pós-iluminismo" (só se a "iluminação do estúdio" estava de alguma forma mal projectada... :mrgreen: )

Bom, face a produtos mais modernos como as séries Rome e Spartacus, é evidente que esta peça range de caruncho a cada esquina - e no que toca à representação comportamental. A personagem central é unidimensional, no sentido em que é um poço de virtudes onde não cai uma mancha moral, enquanto que o "opressor romano" é representado por um bando de intriguistas que só têm em vista o poder. A única personagem com alguma espessura e interesse é para mim a interpretada por Charles Laughton - uma personagem que tem brancos e pretos e que se redime dos seus "pecados" no final.

Achei imensamente ilustrativas (no mau sentido) todas as sequências passadas na companhia do "grupo de Spartacus" após a fuga. O unico combate de exércitos que chegamos a ver tem uma óptima preparação (as tais tropas a andarem de um lado para o outro como se fossem a banda filarmónica), e um péssimo momento de combate - nessa altura nem o Kubrick tinha meios nem conseguiu disfarçar as debilidades de uma encenação de batalha em larga escala. Em compensação, achei muito estimulantes as cenas de intriga palaciana lá para os lados de Roma. É quase um mini-curso de política quanto a manobras de bastidores, jogo sujo, sede de poder e contorcionismo ideológico. A este respeito o Trumbo sabia bem o que estava a fazer. Fora isso, a primeira meia-hora é muito decente (até à fuga, e contando com o combate corpo a corpo entre Douglas e Strode), e a última meia-hora também é razoável - a sequência "I Am Spartacus!" merece o lugar de destaque que tem na história do cinema.

Entre o sete e o oito em dez.
Last edited by Samwise on October 6th, 2018, 3:28 pm, edited 4 times in total.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Samwise »

Uma curiosidade, que tive de ir procurar para tentar perceber, porque no filme a cena parece algo forçada:
The 1991 restoration includes several violent battle sequences that had been left out because of the negative reaction of preview audiences. It also has a bath scene in which the Roman patrician and general Crassus (Olivier) attempts to seduce his slave Antoninus (Curtis), speaking about the analogy of "eating oysters" and "eating snails" to express his opinion that sexual preference is a matter of taste rather than morality. When the film was restored (two years after Olivier's death), the original dialogue recording of this scene was missing; it had to be re-dubbed. Tony Curtis, by then 66, was able to re-record his part, but Crassus's voice was an impersonation of Olivier by Anthony Hopkins, who had been suggested by Olivier's widow, Joan Plowright. A talented mimic, Hopkins had been a protégé of Olivier during Olivier's days as the National Theatre's artistic director, and had portrayed Crassus in the Jeff Wayne musical album. Kubrick faxed instructions as to how the scene should be played. The actors separately recorded their dialogue.
Portanto, a meio do filme, e sem que nada o faça prever, há uma sequência passada dentro de uma banheira romana, em que o Olivier e o Curtis estão nus (embora ocultos), e em que o Olivier apalpa terreno, utilizando metáforas, para ver se o Curtis estava propenso a uma qualquer relação homosexual. Ainda estou a pensar no propósito desta sequência (que foi cortada na versão original) para a narrativa do filme, porque não tem qualquer desenvolvimento ou consequência depois dela - nem interfere com a tentativa de aproximação do Olivier à Simmons no final do filme. É uma daquelas estranhas estranhezas... *

Em relação à nudez, nota-se também que o filme é um produto da sua época. Nunca se "vê nada", embora contextos e oportunidades não faltem. O Kubrick havia de se vingar da mordaça em obras posteriores... :twisted:

* - Meditando um pouco mais sobre o assunto, esta sequência pode eventualmente ser interpretanda como uma tentativa de denegrir o carácter da personagem de Olivier, que é um senadorar/ditador romano, e de associar a homosexualidade a um homem de mau caracter (e por essa via de dizer que homosexualidade é "má", e que se manifesta apenas em certo tipo de pessoas), já que do lado dos "spartaquianos" a ilustração só mostra famílias hétero, sempre com uma carrada de crianças a compor o "ideal perfeito" de família. Em todo o caso a cena foi cortada - não passou nos cinemas na altura, mas não deixa de ser intrigante.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
No Angel
Especialista
Especialista
Posts: 1815
Joined: April 2nd, 2012, 9:58 pm

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by No Angel »

Samwise wrote: October 5th, 2018, 11:02 pm Uma curiosidade, que tive de ir procurar para tentar perceber, porque no filme a cena parece algo forçada:
The 1991 restoration includes several violent battle sequences that had been left out because of the negative reaction of preview audiences. It also has a bath scene in which the Roman patrician and general Crassus (Olivier) attempts to seduce his slave Antoninus (Curtis), speaking about the analogy of "eating oysters" and "eating snails" to express his opinion that sexual preference is a matter of taste rather than morality. When the film was restored (two years after Olivier's death), the original dialogue recording of this scene was missing; it had to be re-dubbed. Tony Curtis, by then 66, was able to re-record his part, but Crassus's voice was an impersonation of Olivier by Anthony Hopkins, who had been suggested by Olivier's widow, Joan Plowright. A talented mimic, Hopkins had been a protégé of Olivier during Olivier's days as the National Theatre's artistic director, and had portrayed Crassus in the Jeff Wayne musical album. Kubrick faxed instructions as to how the scene should be played. The actors separately recorded their dialogue.
Portanto, a meio do filme, e sem que nada o faça prever, há uma sequência passada dentro de uma banheira romana, em que o Olivier e o Curtis estão nus (embora ocultos), e em que o Olivier apalpa terreno, utilizando metáforas, para ver se o Curtis estava propenso a uma qualquer relação homosexual. Ainda estou a pensar no propósito desta sequência (que foi cortada na versão original) para a narrativa do filme, porque não tem qualquer desenvolvimento ou consequência depois dela - nem interfere com a tentativa de aproximação do Olivier à Simmons no final do filme. É uma daquelas estranhas estranhezas... *

Em relação à nudez, nota-se também que o filme é um produto da sua época. Nunca se "vê nada", embora contextos e oportunidades não faltem. O Kubrick havia de se vingar da mordaça em obras posteriores... :twisted:

* - Meditando um pouco mais sobre o assunto, esta sequência pode eventualmente ser interpretanda como uma tentativa de denegrir o carácter da personagem de Olivier, que é um senadorar/ditador romano, e de associar a homosexualidade a um homem de mau caracter (e por essa via de dizer que homosexualidade é "má", e que se manifesta apenas em certo tipo de pessoas), já que do lado dos "spartaquianos" a ilustração só mostra famílias hétero, sempre com uma carrada de crianças a compor o "ideal perfeito" de família. Em todo o caso a cena foi cortada - não passou nos cinemas na altura, mas não deixa de ser intrigante.
Eu não vi este filme, mas a elite romana era bem liberal na questão sexual, para eles os homens podiam ir pra cama com outros homens, mulheres, com o que quisessem, não havia problema nisso (desde que casassem na mesma com mulheres e que "cumprissem as obrigações conjugais"), eles até faziam orgias...só depois com a vinda do cristianismo é que as coisas mudaram, antes disso não havia essa questão, eles faziam o que lhes apetecia.

Como este filme foi feito durante o periodo da censura, não podiam mostrar grande coisa, apenas insinuar as coisas.
Samwise
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 6267
Joined: February 19th, 2009, 9:07 pm
Contact:

Re: Spartacus (1960) - Stanley Kubrick

Post by Samwise »

No Angel wrote: October 6th, 2018, 10:41 am
Eu não vi este filme, mas a elite romana era bem liberal na questão sexual, para eles os homens podiam ir pra cama com outros homens, mulheres, com o que quisessem, não havia problema nisso (desde que casassem na mesma com mulheres e que "cumprissem as obrigações conjugais"), eles até faziam orgias...só depois com a vinda do cristianismo é que as coisas mudaram, antes disso não havia essa questão, eles faziam o que lhes apetecia.
Tenho noção disso, mas a sequência é tão curta e tão delimitada àquela personagem que não creio que tenha um papel representativo da "elite romana" - é que fora esse caso o filme não aborda nenhuma vertente voltada para as relações conjugais e comportamentos amorosos e sexuais por aí além - nada que possamos considerar como um retrato social, pelo menos.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

Câmara Subjectiva
Post Reply