Este é capaz de ser um dos filmes mais românticos que já (re)vi. É um filme que já é um clássico, é um filme de referência na filmografia de Woody Allen, é um dos seus filmes mais conhecidos e é também uma homenagem muito bonita à cidade de New York, que ele ama. Foi filmado a preto-e-branco (o primeiro de Woody Allen neste registo), o que em termos estéticos lhe confere logo um ar muito mais intemporal, artístico, poético. E os magníficos planos da cidade são inesquecíveis, tal como o acompanhamento dos mesmos pela famosa "Rhapsody in Blue", de George Gershwin.
Sob o pano de fundo de New York e a música de Gershwin (Woody terá confidenciado que foi ao som da música que teve a ideia de realizar o filme), acompanhamos as relações atribuladas entre "Isaac" (Woody Allen), "Tracey" (uma muito jovem Mariel Hemingway, na altura do filme apenas com 17 anos), "Yale" (Michael Murphy), "Mary" (Diane Keaton). Isaac anda com Tracey, Yale é casado com Emily mas tem como amante Mary, que mais tarde também terá uma relação com Isaac... no fundo Woody Allen fala-nos de afectos, da dificuldade que há por vezes em conciliar a parte racional com a emocional e sobretudo das consequências que podem advir das escolhas que são efectuadas, nem que seja relativamente a possíveis confusões sentimentais.
O humor aqui tem uma presença bastante marcada, sobretudo nos diálogos de "Isaac", mas mais uma vez, e ao contrário dos já mencionados anteriormente conhecidos como "early funny ones", o humor aqui não é o objectivo de todo, é apenas algo que enriquece o filme e os diálogos, e que contribui mais uma vez de forma decisiva para uma certa marca identitária muito própria dos filmes de Woody Allen.
Entre os diversos pares amorosos e triângulos criados, na minha opinião um dos elementos mais "amados" e presentes é a cidade de New York. É também quase impossível não nos emocionarmos com a representação muito juvenil mas muito credível de Mariel Hemingway. Como de costume, Diane Keaton tem uma interpretação cheia de encanto, num registo diferente de Annie Hall. "Mary" é uma mulher mais madura e intelectual, embora insegura e inconstante no que diz respeito aos sentimentos.
"Manhattan" tem muitas imagens belíssimas, mas a do casal (Woody e Diane Keaton) sentado num banco de um parque junto à ponte de Queensboro Bridge é uma referência absoluta em termos de imagem cinematográfica. Há um pormenor curioso, o banco não existia e foi a produção que o levou para que eles se pudessem sentar.
A Meryl Streep faz um pequeno papel, como uma ex-mulher de "Isaac". Nesta altura, Meryl tinha ainda 29 anos, fazendo os 30 uns meses mais tarde do que quando o filme foi realizado. Ela gravou as cenas em que entrou neste filme enquanto filmava o "Kramer contra Kramer"
Adorei rever o filme, claro. Este e o "Annie Hall" são registos que achei algo parecidos nalgumas coisas e são também filmes que, juntamente com o anterior "Interiors", marcam definitivamente uma mudança de Woody Allen em termos de realização para outros voos, muito diferentes das suas primeiras comédias. Ainda bem que assim foi. Curioso é que ao que parece Woody Allen não gostou nada do resultado final deste filme, tendo-se até segundo consta oferecido para realizar um outro filme de graça caso este não fosse distribuído. Desta vez, ainda bem que não foi assim.
Podem ler no link abaixo uma crítica muito mais desenvolvida e estruturada escrita pelo José Carlos Maltez no seu blog "A Janela Encantada":
https://ajanelaencantada.wordpress.com/ ... ttan-1979/
O trailer:
O filme na IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0079522/?ref_=nv_sr_3
Próximo filme: "Stardust Memories" (1980)
