Lolita (1962) - Stanley Kubrick

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mansildv
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Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by mansildv »

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Lolita

Realizador: Stanley Kubrick
Elenco: James Mason, Shelley Winters, Sue Lyon, Peter Sellers.

A middle-aged college professor becomes infatuated with a fourteen-year-old nymphet.
Trailer



IMDb / Wikipedia / Rotten Tomatoes
mansildv
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by mansildv »

20 Things You Didn’t Know About Stanley Kubrick’s ‘Lolita’

http://flavorwire.com/521766/20-things- ... cks-lolita

https://flavorwire.files.wordpress.com/2015/06/lolita.jpg
technicolor
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by technicolor »

Lolita é um filme pouco comentado actualmente (e apreciado?) do mestre, talvez pelo tema que aborda, talvez pelo resultado um pouco frouxo (?) alcançado comparativamente com as suas obras posteriores, o que se deverá (?) a na na altura em que foi feito estar ainda em vigor famigerado Código Hays (o filme é de 62 e o código durou até 68) o qual não terá possibilitado a Kubrick a liberdade para fazer uma adaptação ao nível da obra original nem do seu talento (nem tão ousada como a do Lyne? ). Vi-o pela primeira (e única) vez há pouco mais de um ano e não me convenceu. O cast poderia ter sido melhor (por exemplo o desempenho do Sellers não me agradou nadinha mas em contrapartida achei a Shelley Winters magnífica, a Sue Lyon baha e Mason também não me pareceu no seu melhor). Pouco tempo depois, por sugestão de uma amiga li o romance (a edição do Público) e independentemente do tema escandaloso e polémico (chocante?)tenho de concordar com os críticos que afirmam ser uma obra notável da literatura mundial. No entanto justiça seja feita nenhuma das duas adaptações cinematográficas está ao nível do romance de Nabokov e compreende-se pois as insinuações da obra escrita não são facilmente transponíveis para a tela sem cair no óbvio, em especial alguns pensamentos "imorais" / maquiavélicos de Humbert (mesmo recorrendo a voz off). Tecnicamente o Lolita de SK é irrepreensível (é desse que aqui se fala) e outra coisa não seria de esperar vindo de quem vem, mas se calhar se tivesse sido realizado após 68 teria tido um resultado... diferente, digo eu...
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Cabeças
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by Cabeças »

Por acaso... devo dizer que este é o filme do Kubrick de que menos gostei. Achei o James Mason realmente demasiado velho para ser credível existir alguma química entre ele e a Lolita, e na minha opinião o filme envelheceu mal. Para mim foi uma decepção. :-(

Talvez tenha contribuído para este facto ter visto primeiro o filme do Adrian Lyne, e ter gostado bastante. Na altura decidi ver os filmes seguidos, mas resolvi começar pelo mais recente. Para mim a química entre o Jeremy Irons e a Dominique Swain funciona bastante bem, e achei o contexto muito mais credível e de modo nenhum datado como o filme do Kubrick.
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No Angel
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by No Angel »

Pra mim a versão do Adrian Lyne é muito melhor, esta não captura o espírito do livro (muito devido à censura da época).
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by technicolor »

Pessoalmente acho que os dois realizadores "falham" em transmitir a essência da história de Dolores (Lolita) e Humbert. Talvez mais Lyne (intencionalmente) que Kubrick . E para se avaliar disso a leitura do livro não pode ser directa, tem que ser "interpretada" pelo leitor pois a narração é feita pelo próprio Humbert que a tenta transformar...
...numa relação de amor sendo que na sua perspectiva, o mau, o predador seria o misterioso Quilty mas pela descrição que Nabokov faz do professor percebe-se que ele é um psicopata, um manipulador e um pedófilo e tem por Lolita sentimentos de desejo que não são de todo correspondidos pela miúda como se faz crer sobretudo na versão de Lyne... de que ela é conscientemente provocadora e se sente atraída sexualmente por ele (e a relação consentida), nada disso, Lolita é uma adolescente a despertar para a sexualidade sim (sem consciência do poder de sedução que suspeita ter mas que não domina de todo) mas o seu afecto por Humbert não comporta desejo carnal algum ( neste aspecto Kubrick é mais rigoroso que Lyne o qual independentemente da estética do seu filme ser bastante atractiva e cuidada na reconstituição da época, sexualiza a personagem da jovem que na verdade não passa de uma miúda de 12 anos. Lolita na realidade nem existe, é a visão de Humbert da menina de seu nome Dolores Haze, vítima das fantasias e obsessões de um estranho com idade para ser pai dela que de repente passou a viver na sua casa e é educado, gentil, e carinhoso,(enquanto a própria mãe a detestava e a via como impulsiva, mal-educada e birrenta) e esse estranho aproveita-se não só da sua carência afectiva (e da ausência de uma figura paterna) para se aproximar e abusar sexualmente e psicologicamente dela. (A perversidade de Humbert é tal que casa com a mãe, sem a amar só para ficar perto da filha)
Como alguém disse, Lolita é uma obra literária genial mas não é de todo uma história de amor.... O filme de Lyne (o inglês é um esteta do erotismo e/ou da luxúria, vindo da publicidade, sabe "vender" o seu produto e os 4 (ou 5?) títulos sobre esta temática que realizou todos provam isso mesmo ) será visualmente talvez mais apelativo, mas sem dúvida (para mim) o de Kubrick consegue ser mais rigoroso em termos de construção das personagens (o argumento base do seu filme foi escrito pelo próprio Nabokov e Kubrick sempre foi um perfeccionista), apenas que SK, manietado pelo tal production code (uma espécie censura prévia, que à partida ele sabia que o iria limitar) não consegue/pode(?) transmitir totalmente essa violência (perceptível no livro) de Humbert sobre Lolita o que a meu ver é uma falha importante e que pena foi que não o tivesse realizado mais tarde (idealmente entre Clockwork Orange e Barry Lyndon talvez). Eyes Wide Shut comprovariam posteriormente, se alguém tivesse dúvidas, que tinha indubitavelmente a capacidade e o talento para o fazer sem recorrer a uma visualização explicita das situações... Enfim os tempos também eram outros...

Apontamentos sobre o livro, os filmes e a censura:

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade... pecado meu, minha alma. Lo-li-ta ... Foi Lo, simplesmente Lo, um metro e trinta e dois com os pés descalços. Era Lola com calças... foi Dolly na escola...foi Dolores na linha pontilhada onde assinava o nome... mas em meus braços foi sempre Lolita ".

É basicamente assim, desta forma que insinua uma relação nada normal que começa um dos romances mais controversos da literatura contemporânea, Lolita, publicado pela primeira vez em setembro de 1955. O seu autor, Vladimir Nabokov (1899-1977), era um emigrante russo que, com sua família, partiu para o exílio após a revolução bolchevique, primeiro na Alemanha em 1919 e depois em 1940 instalou-se nos Estados Unidos após de ter estudado filologia em Cambridge, e finalmente em 1959 mudou-se para a Suíça, onde viveu até à morte. Os protagonistas dos seus livros são geralmente personagens que vivem uma paixão anormal num mundo de aparente normalidade. Lolita, o romance mais célebre de todos os que escreveu é o exemplo óbvio disso. Com o subtítulo de "Confissões de um viúvo", é uma mistura intoxicante de violência disfarçada de afecto, de desculpas, de diário de prisão e súplica ao jurado que julga o professor de literatura Humbert Humbert - na defesa que ele faz de si próprio - e o relato da história de "amor" de um quarentão pedófilo com uma menina de 12 anos anos que, além disso, é sua enteada. Escrito com todo o cuidado e talvez inspirado por um caso verídico acontecido alguns anos antes http://hazlitt.net/longreads/real-lolita , na primavera de 1954, Nabokov já havia preparado um primeiro manuscrito e apresentou-o a quatro editores americanos (Farrar Straus, Viking, Simon & Schuster e New Directions). Nenhum deles aceitou. "Você acha que eu sou louco?", terá mesmo dito um dos editores. Outros expressaram o seu medo da censura e até de acabar na prisão. Finalmente, um ano depois, uma pequena editora francesa, Olympia Press, especializada em literatura erótica e edição em inglês com o objectivo de contornar a proibição nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, realizou uma primeira edição de cinco mil cópias em dois volumes, cheia de erros tipográficos (curiosamente a sua publicação em língua francesa foi proibida). Foi colocado à venda em Setembro de 1955 e esgotou rapidamente. Um dos que leram essa primeira edição foi Graham Greene, que para a sua selecção literária feita no jornal britânico The Sunday Times sobre os melhores livros do ano escolheu Lolita. De imediato, o Sunday Express reagiu e seu diretor disse sobre o romance que era "o livro mais sujo que eu li", "pura pornografia desenfreada". Durante dois anos, cópias de Lolita foram proscritas pelas autoridades e apreendidas pela polícia. Nos Estados Unidos, a primeira edição foi feita pela Putnam quase três anos depois em Agosto de 1958, quando McCarthismo já estava a terminar. O livro foi um sucesso, várias edições mais sairiam e diz-se que Lolita vendeu mais de cem mil exemplares nas primeiras três semanas, algo que não acontecia desde que em 1936 fora publicado E Tudo o Vento Levou. Lolita entrou na mitologia literária. A censura, no entanto, manteve a sua atenção na obra. Assim, quando em 1962, com o argumento do próprio Nabokov, Stanley Kubrick decide transpô-lo para o cinema teve que, para ultrapassar problemas com a censura aumentar a idade do protagonista de 12 para 14 anos e enfrentou a também recusa de vários actores conceituados para interpretar o papel de Humbert. Finalmente, Sue Lyon a escolhida para o papel de Lolita tinha 16 anos e, sendo menor, não podia comparecer à estreia embora quando a rodagem começou tivesse apenas 15, o seu aspecto fazia-a parecer mais adulta do que realmente era. É sabido que uma coisa é o cinema e outra é a literatura, que são línguas diferentes, mas então tem que se concordar que serão diferentes lolitas (a do livro e a do filme). Aliás ao ler o original não é credível ao ver Sue Lyon como Lolita. Com o filme de Kubrick, a popularidade da obra de Nabukov aumentou, outras edições foram feitas e tornou-se uma nova entrada nos dicionários, que definiu como uma "atraente, sedutora e adolescente". E continuaria a ser controlado pela censura durante os 35 anos seguintes pois quando em 1997 o realizador britanico Adrien Lyne voltou a adaptar o livro ao cinema, o seu filme demoraria quase um ano a encontrar distribuidora nos USA e tendo custado 60 milhões rendeu em bilheteira pouco mais de 1.4 milhões. Curiosamente, e certamente sem intenção de justificar nada, dizem os entendidos que a obra de Nabukov quando comparada com o ignóbil Josefine Mutzenbache escrito em 1906 por Felix Salten, também autor do ternurento Bambi, imagine-se, até é quase um exemplo de candura.

No cinema outras obras com o "complexo de lolita" surgiriam, mais ou menos escandalosas, mas sempre apontadas como obras imorais; Twinky (1970) realizado por Richard Donner, Pretty Baby (1978) realizado por Louis Malle, Piccole labbra(1978) realizado por Mimmo Cattarinich, L'amant (1992) realizado por Jean-Jacques Annaud, Nothing Is Private (2007) Alan Ball... e até um brasileiro Alberto Salvá faria em 1987 o "ousado" A Menina do Lado com Reginaldo Faria e Flávia Monteiro, banido até hoje, depois de uma curta carreira http://www.imdb.com/title/tt0235578/?ref_=nv_sr_1 só para citar alguns dos referenciados nos blogs sobre Lolita
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by PanterA »

Não esquecer que o Kubrick, e pelo que entendi da história aka livro, não podia ser tão frontal e directo como ele se calhar desejava por variadíssimas razões. Em início dos anos 60 era bastante perigoso passar do implícito para o explícito.
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by Ludovico »

Eu tenho outra opinião:
Eu acho os 2 filmes Lolita de ambos os realizadores EXATAMENTE O MESMO.
São os 2 bons filmes.Só que um é a cores o outro é preto branco.
Essa é grande a diferença porque de resto são idênticos um ao outro em TUDO.
Gostei igualmente dos 2 mas nenhum é excecional porque,para mim, querem uma boa adaptação do livro.
Para mim, para esta história resultar na sua plenitude tinha que ser só inspirado no livro e não uma adaptação fiel.
Não sendo essa intenção,um e outro não conseguem atingir o climax qualitativo.
"Sempre as horas,as horas,as horas......"
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by No Angel »

Ludovico wrote: September 5th, 2017, 1:45 pm Eu tenho outra opinião:
Eu acho os 2 filmes Lolita de ambos os realizadores EXATAMENTE O MESMO.
São os 2 bons filmes.Só que um é a cores o outro é preto branco.
Essa é grande a diferença porque de resto são idênticos um ao outro em TUDO.
Gostei igualmente dos 2 mas nenhum é excecional porque,para mim, querem uma boa adaptação do livro.
Para mim, para esta história resultar na sua plenitude tinha que ser só inspirado no livro e não uma adaptação fiel.
Não sendo essa intenção,um e outro não conseguem atingir o climax qualitativo.
Não acho, a versão do Lyne é mais fiel ao livro. E há diferenças, por exemplo a Dolores morre no final ao dar à luz (como acontece no livro), e isso é dito no final do filme do Lyne se bem me recordo, enquanto que no Kubrick ela continua viva no final.
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by technicolor »

É perfeitamente natural que existam diversas opiniões sobre este filme; de quem leu o livro, de quem viu apenas um dos filme ou de quem viu os dois sendo que até a tradução para português poderá (?) ter influência... e admito que se calhar (no meu caso) necessitaria talvez de mais uma visualização para ir mais ao detalhe (o cinema de Kubrick não é fácil para mim e vi os seu filmes várias vezes, excepto este, o Killer's Kiss que também só vi uma vez e o Fear and Desire que ainda não vi ), mas a verdade é que por agora não tenho vontade de o voltar a ver...
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Re: Lolita (1962) - Stanley Kubrick

Post by mansildv »

Lolita (1962) - 8/10

Apesar de não estar entre os melhores do Kubrick gostei bastante deste filme. Não li o livro nem vi a versão do Lyne, mas este Lolita cativou-me! Gostei dos desempenhos e gostei das limitações da história, a nossa imaginação é sempre pior do que aquilo que nos é mostrado!
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