Shizukanaru Kettō / The Quiet Duel (1949) - Akira Kurosawa

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JoséMiguel
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Shizukanaru Kettō / The Quiet Duel (1949) - Akira Kurosawa

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https://en.wikipedia.org/wiki/The_Quiet_Duel
http://www.imdb.com/title/tt0041870/

Sinopse

Num hospital militar de campanha no ano de 1944, em plena guerra do pacífico, um cirurgião japonês infecta-se acidentalmente com sífilis, durante uma operação. A acção principal decorre em 1946 e gira em torno do drama pessoal do médico cirurgião infectado.


Coloquei um excerto no final deste post, que só deve ser visto após lerem a minha análise, para melhor apreciação do vídeo.


Opinião

Gostei disto!

Este filme tem pouco a ver com o estilo do Akira Kurosawa, que fez este filme contrariado. Isto é um filme todo filmado num estúdio (Sound Stage), baseado numa excelente peça de teatro japonesa de 1946.

O mérito aqui vai quase todo para o argumento da peça, e desde que o realizador não faça asneira (seja incompetente), o nome do cineasta é irrelevante. Esta adaptação por acaso calhou ao Akira Kurosawa, mas podia ter calhado a outro cineasta qualquer que a história continuaria a ser boa.

Enquanto via o filme, surgiram-me muitas questões históricas da década de 1940, sobre essa doença venérea da Sífilis, que não é da nossa geração. Eu depois fui investigar o wikipedia, mas enquanto via o filme nem estava a entender por completo o drama da premissa, em particular pelo seguinte:

O médico rompe o noivado com a amada prometida quando regressa da guerra, sem lhe explicar o porquê. Uma primeira dúvida que eu tive foi o porquê de não usar um preservativo, mas o wikipedia explica que a Sífilis é muito mais contagiosa do que a SIDA, com transmissão pela saliva e pela zona genital não coberta pelo preservativo. Existe também outra questão que o filme depois mostra, que é o elevado risco dos bebés nasceram deformados.

Existe um comentador do IMDB que não leu o artigo do wikipedia, e que por isso escreve uma crítica de cinema sem valor, ao dizer que o filme não tem lógica por causa do não uso do preservativo.

O argumento e enredo do filme, são ambos muito bons, originais e sem nenhuma fórmula comercial previsível. A fórmula "cliché" que domina o estado doentio do cinema comercial da actualidade, é de tal ordem, que é quase preciso arranjar uma nova linguagem sempre que se aborda um filme, e indicar que ele não possui fórmula imbecil repetitiva, de que as massas adolescentes (que compram os bilhetes de cinema) tanto gostam... O que deveria ser a norma e regra de Cinema (argumento e enredo original) é cada vez mais uma "ave rara" e chateia-me ter de chamar a atenção para a ausência de imbecilidade de enredo/argumento quando descrevo um filme.

O aspecto que mais me impressionou e que leva a taça neste filme, será mesmo o mérito do não pudor e o à vontade com que o filme aborda a sexualidade em 1949. Todos sabemos que no Japão existe ainda hoje forte censura e pudor moral, em violação dos ideais europeus do nosso tempo, basta visitar um site pornográfico para vermos censura óptica na pornografia japonesa. Mas em 1949 os japoneses estavam muito à frente dos EUA e de vários países europeus como Portugal e não só, nos diálogos sobre a sexualidade. Este filme teria sido proibido em Portugal, por motivos de pudor moral, e nos EUA por violar a estupidez do Production Code dos puritanos fanáticos religiosos.

Datas de lançamento do filme (IMDB), por ordem cronológica:
Release Dates
Japan: 13 March 1949
USA: 30 November 1979
Japan: November 1998 (Tokyo International Film Festival)
Greece: 17 August 2006 (re-release)
Este é um filme que também questiona a ilegalidade do aborto, uma das personagens do filme é uma estudante de enfermagem solteira que ficou com a vida estragada, por o médico da clínica não a ajudar a abortar. Com um tema secundário destes, não será difícil de perceber porque o filme viola o Production Code americano e teria sido proibido em Portugal, em 1949.

Mas não é só a moral de intervenção social, muito à frente do seu tempo, que nós hoje respeitamos e que o tempo deu razão, que fazem um bom filme... Temos aqui uma excelente história melodramática adulta, com componente filosófica similar à ficção científica da série "Star Trek" do Gene Rodenberry.

O aspecto mais fraco do filme será o amadorismo técnico a nível de montagem, edição e audiovisual geral, o aspecto audiovisual do filme tem falhas técnicas de som e edição estilo anos 20/30 e é bastante inferior a uma produção bonita e elegante norte-americana como o "...e Tudo o Vento Levou", "Casablanca" e afins. Por outro lado esta filmagem de estúdio é muito superior à filmagem de estúdio do filme também de intervenção "Adivinha quem vem para jantar" do Stanley Kramer, cineasta que admiro muito, mas a estupidez do artificialismo desse filme deixou-me mal disposto.

Por estes amadorismos técnicos do filme japonês de 1949, não lhe posso dar uma nota muito alta... irei dar um 7/10.

Excerto



Observação: Filme provisoriamente no You Tube (HD com legendas portuguesas), carregado por um cinéfilo grego. Essa versão não é oficial e no futuro poderá não estar lá. Quem quiser ver o filme no You Tube, aproveite agora.

https://www.youtube.com/watch?v=9QusF9b-WBM
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