Khadak (2006) - Peter Brosens, Jessica Hope Woodworth

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JoséMiguel
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Khadak (2006) - Peter Brosens, Jessica Hope Woodworth

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https://en.wikipedia.org/wiki/Khadak
http://www.imdb.com/title/tt0475241/

Sinopse (IMDB)
Set in the frozen steppes of Mongolia, a young nomad confronted with his destiny after animals fall victim to a plague which threatens to eradicate nomadism.
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trailer oficial



Opinião

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Este é um filme assumidamente intelectual, corrente que não aprecio mesmo nada. Portanto lógica não haverá muita, porque isto é um filme abstracto com simbolismos subjectivos, estilo pintura abstracta. Sobre esses aspectos irracionais nada poderei dizer, pois não estou apto a julgar filmes desta corrente.

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Mas devo dizer que o filme é visualmente bonito e com temas interessantes, pois mostra a Mongólia Soviética, na recta final da Perestroika (final da década de 1980).

A primeira parte do filme até parece ter lógica e fazer sentido, uns pastores nómadas da Mongólia são realojados devido a uma doença, muito contagiosa para humanos, das cabras e ovelhas... O estado soviético ordena o abate em massa dos animais de sustento, mas garante emprego e alojamento para as famílias dos pastores. Os pastores nómadas ficam tristes porque trabalham numa mina de carvão a céu aberto (filmagens espectaculares de maquinaria industrial pesada numa mina real), ficando os velhotes reformados enfiados num apartamento social do estado.

Imagens da maquinaria pesada

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Imagens da premissa (peste dos animais de criação)

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Um aspecto de que não gostei nada foi o simbolismo do cristianismo que os realizadores europeus inseriram no filme. O filme é uma co-produção europeia de 2006 entre a Bélgica, Holanda e Alemanha, com argumento e realização da dupla Peter Brosens (belga) e Jessica Woodworth (norte-americana), o filme é filmado na Mongólia com actores mongóis, mas a história foi criada por esse par ocidental. Em defesa do Peter Brosens, eu sei que ele já tinha realizado documentários sobre a Mongólia, mas o que é que o cristianismo tem a ver com a Mongólia Soviética?

O filme mostra estes 3 missionários cristãos a chatear a malta com propaganda religiosa:

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Sabem quantos cristãos haviam na Mongólia em 1989? Quatro! (4) Em 1989 existiam apenas quatro cristãos no país inteiro! Mas aparentemente 3 deles surgem neste filme!
(...)the number of Christians grew from just four in 1989 to around 40,000 as of 2008(...)

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Mongolia#Religion
Portanto para mim os realizadores estão a gozar na minha cara, até prova em contrário. Ainda por cima 3 missionários a fazerem propaganda religiosa em plena rua, não me parece um cenário muito credível.

Um pouco de história:
Throughout much of the 20th century, the communist government ensured that the religious practices of the Mongolian people were largely repressed. It targeted the clergy of the Mongolian Buddhist Church, which had been tightly intertwined with the previous feudal government structures (e.g. from 1911 on, the head of the Church had also been the khan of the country).[60] In the late 1930s, the regime, then led by Khorloogiin Choibalsan, closed almost all of Mongolia's over 700 Buddhist monasteries and killed at least 30,000 people, of whom 18,000 were lamas.[61] The number of Buddhist monks dropped from 100,000 in 1924 to 110 in 1990.[60]

The fall of communism in 1991 restored public religious practice. Tibetan Buddhism, which had been the predominant religion prior to the rise of communism, again rose to become the most widely practised religion in Mongolia. The end of religious repression in the 1990s also allowed for other religions to spread in the country. According to the Christian missionary group Barnabas Fund, the number of Christians grew from just four in 1989 to around 40,000 as of 2008. In May 2013, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints (LDS Church) held a cultural program to celebrate 20 years of LDS Church history in Mongolia, with 10,900 members, and 16 church buildings in the country.[62] There are some 1,000 Catholics in Mongolia and, in 2003, a missionary from the Philippines was named Mongolia's first Catholic bishop. (https://en.wikipedia.org/wiki/Mongolia#Religion)
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A ideia do filme parece ser de mostrar o espírito de rebelião dos jovens no final da Perestroika, mas há aqui muito intelectualismo. Na imagem acima os jovens estão vestidos como os super-heróis do filme "The Matrix", e eu pergunto o porquê disto? Essa roupa é demasiada "cool" para pastores de cabra realojados em 1989. Na imagem abaixo vemos puro intelectualismo sem nenhuma lógica:

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Eu pessoalmente teria preferido um enredo e argumento escrito por um mongol que tenha vivido a Perestroika, e uma abordagem que esteja conforme as leis da Física, mas não foi nenhuma perda de tempo para mim ver o filme, antes pelo contrário. A qualidade cinematográfica, ao nível técnico e ao nível artístico merece pelo menos um 8,5/10.

Mais algumas imagens comentadas para terminar...

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Prisão soviética unisexo para delinquentes, melhor que uma pousada da juventude portuguesa? Os casais de presos namoram durante a noite na caserna. Fico desconfiado disto, mas pode também ser algum conceito insólito soviético que eu desconheça...

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O irmão de uma das prisioneiras tenta subornar um guarda, para libertar a irmã em troca de carne de contrabando que ele trás no porta-bagagens. Isto parece ter lógica.

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O avó do protagonista passa o dia metido num apartamento e entretém-se a descascar batatas, o pessoal todo anda enjoado de batatas, devido à doença dos animais de criação.

Paisagem desoladora urbana do tipo soviético

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Eu diria que o filme tem bastante qualidade e originalidade, e valerá a pena vê-lo pelos aspectos insólitos da Mongólia na Perestroika. Eu fiquei muito impressionado com a cinematografia e fotografia do filme. Mas se decidirem ver isto, preparem-se de ante-mão para a corrente intelectual do "Stalker" do Tarkovski.

Observação: Existe uma versão (não oficial) no You Tube, se alguém quiser espreitar.
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