Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

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JoséMiguel
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Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

Jean Rollin, o cineasta que trouxe elegância e arte ao género fantástico.

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Imagem do filme "La Rose de Fer".

https://en.wikipedia.org/wiki/Jean_Rollin

- Irei criar este tópico em simultâneo para os fóruns DVD Mania e Xploited Forum -

O realizador francês Jean Rollin era um homem que gostava muito de cinema e que tentou sempre fazer filmes de autor, não-comerciais sem vista a fins lucrativos. Devido aos filmes dele não serem feitos para "as massas", muitas vezes eram fracassos de bilheteira, de modo a que o cineasta para poder ter dinheiro para comer, realizava filmes pornográficos, por conta doutrem e altamente lucrativos, até que surgisse algum produtor que lhe financiasse o seu próximo filme sério.

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Rollin prior to receiving the Life Time Achievement Award at the Montreal Fantasia Film Festival on 15 July 2007

Os filmes do Jean Rollin possuem qualidade variável, frequentemente sofrem de falhas cinematográficas notórias sistemáticas aqui e ali, mas ao mesmo tempo o cineasta procurou e sucedeu na criação de cenas de grande elegância, requinte e qualidade, no género do fantástico, historicamente muito maltratado pelo cinema mundial.

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Tal como o realizador Alfred Hitchock, o Jean Rollin fazia "cameos" nos seus filmes, ele gostava de aparecer numa cena curta a fazer de vilão, e até tinha figura para isso. Na imagem acima podemos ver o cineasta a fazer o seu "cameo" no filme "La Rose de Fer", e mais tarde irei também mostrá-lo em vídeo no filme pornográfico "Phantasmes" (1975), no papel (não-pornográfico) de violador e homicida, vestido com uma camisola interior, que diz em inglês "Propriedade da penitenciaria de Alcatraz". Em 1975 ainda não tinham sido feitos os filmes sobre Alcatraz, e o cineasta não sabia que a roupa dos prisioneiros não diz nada disso, mas de qualquer forma o Jean Rollin estava armado em artista pseudo-intelectual no tal filme porno, porque também não faria sentido um foragido de Alcatraz estar na imediações de um castelo francês.

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Cameo do realizador no filme pornográfico "Phantasmes" de 1975

Neste momento eu já vi seis filmes deles, e criei tópicos para três. Dois desses tópicos ainda só possuem ficha técnica e o único que já está completo é o "La Rose de Fer", que a meu ver é o melhor trabalho do realizador, e o único título que não apresenta nenhuma falha cinematográfica, da amostra que eu visualizei.

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O meu tópico: viewtopic.php?f=11&t=51565

Nos próximos posts, irei começar por comentar os méritos e as falhas recorrentes do cineasta, nos melhores filmes da minha ainda reduzia amostra, de seguida irei abordar os eventos históricos em Paris em Maio de 1968, quando rebenta uma revolução popular, o presidente francês refugia-se numa base militar na R.F.A. e o primeiro filme do Jean Rollin é um dos poucos que é possível ver nos cinemas parisienses, durante o famoso "Maio de 68", perante a suspensão da distribuição de filmes, em ambiente de revolução. O problema é que o primeiro filme comercial dele era uma porcaria estilo filme de estudante, em resultado de uma "vigarice" por parte do produtor que intrujou o público francês. Nesse mês o povo de Paris, atirava objectos aos ecrãs do cinema em fúria por serem enganados com o filme deste cineasta, que foi ameaçado de morte e estava cheio de medo de ser linchado pelos cinéfilos mais violentos.

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On 27 May 1968, Le Viol du Vampire was released to theaters in Paris by Jean Lavie and his associates. Its release coincided with local political events, which resulted in it drawing large audiences. Due to strikes and riots, it was one of few theatrical productions available for viewing at the time. Screenings of the film unleashed taunts, jeers and threats of damage against Rollin.[4]

Jean Rollin explained in an interview: "Le Viol was a terrible scandal here in Paris. People were really mad when they saw it. In Pigalle, they threw things at the screen. The principal reason was that nobody could understand the story".[5] (https://en.wikipedia.org/wiki/Le_Viol_du_Vampire)
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Poster da revolta popular em Maio de 1968.

Mais tarde irei comentar o tal filme pornográfico de 1975, que foi uma tentativa rara no mundo de se fazer um filme pornográfico com enredo, seriedade e qualidade cinematográfica, e que é bastante superior (cinematicamente a todos os níveis) ao tal filme de Vampiros exibido em Paris, durante os tumultos do Maio de 68.

Tentarei compor melhor este cabeçalho, há medida que tenha mais tempo.
Samwise
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by Samwise »

Faço te uma sugestão para, quando tiveres tempo, comentares um outro filme pornográfico e eventualmente comparares com o Phantasmes, e não estou no gozo (honestamente!!!! ).

The Opening of Misty Beethoven (imdb, wiki).

Este XXX, que parece que é altamente considerado no meio, tem de facto um argumento, uma narrativa, algum humor à mistura e, pasme-se, boas interpretações por parte dos actores. Aliás o filme consegue ser minimamente bom nestas vertentes "não-porno", digamos assim. Acho é que o único exemplo do género que consegui ver de uma ponta à outra sem me dar a vontade de andar para a frente, ponto um, e chegar ao fim a pensar na história, ponto dois... :mrgreen:

Fica a sugestão.
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JoséMiguel
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

Jean Rollin e os cemitérios

Desde há muito tempo, que notei no cinema algo de diferente nos cemitérios de França, quando comparados com Portugal. Eu não sabia se essa diferença era fruto de algum tipo de "Hollywoodismo/Artificialismo" de Cinema, ou se de facto, os cemitérios franceses são diferentes dos portugueses. Infelizmente, por motivos de perda pessoal de um familiar, tive mesmo de colocar esta questão numa agência funerária portuguesa, de que falarei mais adiante.

O realizador Jean Rollin, que faleceu em 2010, foi enterrado no famoso cemitério de Père Lachaise, onde também está sepultado o músico Jim Morrison da banda The Doors. Eu lembro-me de ver, em adolescente, a cena final da campa no filme "The Doors" do realizador Oliver Stone. A propósito, eu não tenho qualquer respeito pela corrente do artificialismo/Hollywoodismo com falta de seriedade do cineasta Oliver Stone, a única contribuição útil dele que reconheço, foi o argumento do Conan, o Bárbaro. O pseudo-intelectual do Oliver Stone aproveitou bem a era das trevas pré-wikipedia e pré-internet, para ganhar dinheiro com as suas intrujices, porque hoje o sujeito já está queimado e o wikipedia desse filme refere "Ray Manzarek, The Doors' keyboardist, harshly criticized Stone's portrayal of Morrison, and noted that numerous events depicted in the movie were pure fiction..."

Aproveito o off-topic do cineasta Oliver Stone, para indicar que me recuso a abrir o tópico do filme dele sobre o Edward Snowden, assunto sério reservado para tópicos sobre política, e não para cineastas que fazem macacadas a gozar na cara dos espectadores.

O filme musical The Phantom of the Opera de 2004, foi filmado parcialmente no tal cemitério de Père Lachaise, de acordo com o Wikipedia, no DVD Mania escrevi uma crítica a esse filme aqui:

viewtopic.php?f=11&t=18343&start=16



Mas o vídeo acima é demasiado bonito e artificial, pois a corrente estética do filme musical de 2004, é o artificialismo teatral da ópera parisiense, não se trata de nenhuma falha, antes pelo contrário. O filme musical de 2004 não pretende ser realístico, mas sim artístico.

O meu primeiro contacto com a obra do realizador Jean Rollin, surgiu quando eu li recentemente no IMDB, a entrada para o "Rose de Fer". Nunca tinha ouvido falar deste realizador francês, mas não conseguir resistir à premissa do filme ser passado num cemitério.

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Eu fiquei fascinado com o cemitério de La Madeleine, onde este filme foi todo filmado de forma natural e realística, e até fui ver fotos aéreas do cemitério no Google Earth. Confirmo que este é o artigo genuíno do mítico cemitério francês gótico, com a mais valia de estar integrado num bosque com colinas (imaginem a mata de Benfica cheia de criptas e sepulturas), e com criptas subterrâneas, em que os familiares descem a escada para aceder às sepulturas de pedra dos antepassados.

Quando eu infelizmente tive de fazer os preparativos fúnebres de um familiar, perguntei na agência funerária que história era essa de mostrarem em filmes e documentários, as sepulturas em França de cientistas do Renascimento, que morrerem há vários séculos. Na agência funerária portuguesa explicaram-me que esse conceito designa-se por "Sepultura Perpétua", e que no caso das figuras históricas francesas é o governo de França que paga a renovação do aluguer da campa, em Portugal isso é possível, desde que um familiar renove o aluguer de 5 em 5 anos.

Eu por acaso não sabia disso...

No cemitério de La Madeleine, onde este filme foi filmado, está lá enterrado o escritor Júlio Verne. Acho bem (por uma questão puramente histórica) que o governo francês pague a renovação do aluguer da sepultura, à semelhança daqueles reis portugueses que estão enterrados em catedrais lisboetas, mas para o cidadão comum este conceito não é muito normal, pois após 5 anos as ossadas são empurradas para debaixo da terra, com toda a naturalidade social, para dar espaço a uma nova sepultura, salvo se um familiar renovar o aluguer da campa.

A diferença entre este cemitério de La Madeleine e os cemitérios portugueses, é o bosque com colinas, onde ele está inserido, e a arte gótica em pedra-mármore do período do Romanticismo.

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JoséMiguel
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

A violação do vampiro - Filme de merda a gozar na cara dos espectadores

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Mas que pouca vergonha e vigarice vem a ser esta?

Após eu ter ficado encantado com o filme La rose de fer de 1973, decidi ver o primeiro filme comercial do cineasta, enquanto estava a ver esta bela merda de filme, ainda pensei que se tratasse de um mau filme de estudante de algum instituto de cinema francês...

Epá! Eu sofri muito a visualizar este autêntico Lixo cinematográfico, lixo com letra maiúscula, a seguir fui ao wikipedia a julgar que se tratava de um filme de estudantes, e li que afinal o filme foi comercial e pago por um produtor francês "burlão/vigarista", que intrujou o povo francês.

Trailer:



Este é um "filme" horrível, a gozar na cara dos espectadores franceses que compraram o bilhete de cinema em 1968, que por isso atiravam cadeiras contra o ecrã, e ameaçaram espancar o cineasta até à morte, o que deixou o Jean Rollin muito assustado.

Para terem uma ideia do nível extremo de nojice e porcaria deste filme, imaginem uma filmagem, no gozo, feita por crianças, como esta seguinte, acerca do Star Trek:



Agora imaginem que eram cidadãos franceses, e que devido à revolta do Maio de 1968 (causou bloqueio de estreias de cinema), apenas existia este filme nas salas de cinema...

Isto foi o maior golpe de burla na história do cinema da França!

A mim incomodam-me menos as brincadeiras de cinema feitas por crianças, vejam abaixo mais um exemplo:



Este filme de 1968 fui pura intrujice e vigarice, nenhuma sala de cinema poderia cobrar dinheiro por um bilhete perante esta fita amadora, que não é digna de ser chamada de filme.

O mais grave é que esta fita amadora, que nem sequer é filme, está ainda à venda em 2017, mantém-se a intrujice, após tantas décadas...

O problema aqui não foi o realizador Jean Rollin, o mau da fita foi o produtor francês que se virou para o Rollin e deu-lhe uns trocos para fazer um filme, sem nenhum orçamento, em 3 semanas. O Rollin nunca tinha feito um filme comercial e ficou todo contente, mas a podridão foi o produtor ter apresentado este "filme" em salas de cinema.

https://en.wikipedia.org/wiki/Le_Viol_du_Vampire

Mas após eu ter visto esta porcaria, não desisti e fui ver mais filmes do cineasta, porque percebi que a intrujice foi do produtor e não dele. Eu percebi logo que o cineasta Jean Rollin era um homem humilde, com grande amor ao cinema. Ele ficou todo contente por poder fazer um filme em 1968, e não teve culpa do produtor exibir essa peça (ensaio estudantil), enquanto filme comercial de sala de cinema.
JoséMiguel
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

O meu post anterior acerca do "Le Viol du Vampire" foi apenas o meu desabafo inicial, pois perco logo a calma quando me deparo com mau cinema, em que o produtor intrujou o público.

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Mas é preciso tentar perceber que "filme" (com aspas) é este, quais os motivos que levaram o produtor francês a pagar o filme, e qual a atitude do cineasta Jean Rollin.

Começo por colocar uma dúvida minha...

A França protege o seu cinema das influências nefastas do cinema norte-americano, com leis que obrigam as salas de cinemas e canais de televisão a exibirem uma percentagem mínima de cinema francês. Quando há poucos anos, a França vetou no Parlamento Europeu, o primeiro "Free Trade Agreement" entre a UE e os EUA, o motivo invocado foi esse, pois o então presidente Barrack Obama agiu como uma marioneta controlada pelos donos dos estúdios de Hollywood, e tentou impôr com "bullying" a extinção das leis francesas que protegem o seu cinema dos barões de Hollywood, que pelos vistos até comandam e controlam presidentes.

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The French Cultural Exception

France has been especially notable in pursuing the policy of cultural exception and its stance has sometimes attracted criticism. It was pursued by André Malraux in the post-second world war period when he was French minister of culture. In each branch of culture there is an automatic subsidy system for creative works. One example of these measures is the National Center of Cinematography and the moving image, which taxes cinema ticket sales and uses those funds to help the production or distribution of French cinema. Another example of protectionist measures is the audiovisual law (Loi sur l'audiovisuel) which specified for instance that "radio has to broadcast 40% French songs and, within this quota, 20% new talents." [8]

The effects of this policy in France is suggested by the fact that between 2005 and 2011, between 45% and 55% of its film products were American imports, compared to 60 to 90% American imports in other European film markets.[9][10][11]

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Cultural_ ... _Exception
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Eu tenho ideia de ter lido que essa lei francesa entrou em vigor nos anos 60, mas de momento ainda não localizei comprovativo no wikipedia.

A dúvida que eu tenho é esta:

Sendo um facto estabelecido que o produtor/financiador desta película encomendou a primeira parte (de 30 minutos) para juntar/agregar à exibição de um filme de terror americano, do qual ele comprou os direitos de distribuição em França, em 1968, eu interrogo-me se esse sujeito distribuidor francês não terá tentado contornar as leis de cinema francesas, e terá encomendado por tostões este "filme" ao então nabo e noviço Jean Rollin, só para contornar a lei francesa e poder dizer que tinha a percentagem de "produção nacional", para acompanhar o filme norte-americano de Hollywood que ele pretendia distribuir em França?

Isto é mesmo uma dúvida minha, que gostava de ver esclarecida. Não sei se foi o caso, mas é a única explicação com lógica e inteligência que antevejo para a criação deste filme de merda.

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Entretanto eu criei um excerto, que começa com um "stunt" de um moço que salta de um carro em movimento, aqui não existem duplos de cinema, pois o desgraçado do Jean Rollin nem recebeu dinheiro suficiente para pagar mais de 3 semanas de ordenado aos "actores" (as vampiras nuas que aparecem no filme eram strippers e modelos, que aceitaram aparecer nuas no filme, por pouco dinheiro), tempo insuficiente para ele fazer um filme com pés e cabeça, a culpa não era dele mas do tal distribuidor francês que encomendou um filme da treta, a preço de amendoins, para acompanhar um filme de Hollywood que ele pretendia distribuir em França.

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Este sujeito que salta de um carro para o outro, é como aqueles rapazes portugueses que correm à frente dos touros, durante as largadas. É malta jovem que gosta de "aparecer"... Se virem a parte inicial do meu excerto, podem verificar que não há truque nenhum e é mesmo um actor armado em "puto estúpido" que salta de um carro para o outro. Pelo menos é a ideia com que fiquei (não li nada sobre isso e posso estar enganado).

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As cenas seguintes do meu excerto revelam algumas podridões desta película, mas chamo a atenção para o screenshot abaixo (que julgo não aparecer no excerto).

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A imagem que surge no screenshot acima, simplesmente não é aceitável...

O meu excerto:



Vou tentar escrever uma terceira parte sobre este primeiro filme comercial do Jean Rollin, que combina mulheres nuas com argumento infanto-juvenil da banda desenhada. É o próprio cineasta que admite ter feito homenagem à banda desenhada infanto-juvenil e aqui não se trata de nenhuma das minhas "bocas" (subjectivas) do costume.
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

Porque motivo gosto eu dos filmes do Jean Rollin..?

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Eu não teria tanta apreciação como tenho hoje, quando tinha os meus 10, 15, 20 ou 30 anos de idade... com a acumulação de filmes que vi durante a minha vida, ganhei alergia à formula comercial paralítica que limita o enredo dos filmes, de forma a não ultrapassar a compreensão de um atrasado mental. Para os grandes estúdios de Hollywood é um imperativo comercial, que o enredo possa ser apreciado por um espectador atrasado mental, porque muitos biliões de dólares dependem disso. O problema é que isto acaba por se tornar numa descriminação contra muitos espectadores que não são atrasados mentais e que não gostam de ver enredos bloqueados/limitados/trancados com fórmulas previsíveis.

Não estou de forma alguma a insultar os gostos de cinema ou o intelecto de nenhum leitor do fórum (eu próprio também gosto de alguns filmes com enredo imbecil), mas quero dar como exemplo os desenhos animados norte-americanos dos anos 80, vítimas de censura intelectual.

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A censura puritana religiosa e de extremismo político, aplicada pelos EUA aos desenhos animados japoneses é bem conhecida, no caso célebre da censura da animação "Space Battleship Yamato", da qual eu sou fã e continuo a apreciá-la pela sua maturidade e inteligência.



Esta versão altamente censurada por motivos políticos e religiosos nos EUA, acabou por ser uma das animações mais inteligentes exibida na terra das coca-colas, porque produção nacional norte-americana de animação, regra geral, era feita para gozar na cara da inteligência das crianças... Se examinarmos séries de animação americanas, transmitidas em Portugal nos anos 80/90, como o "Defenders of The Earth" ou o "Conan, the Adventurer" (aqui a Europa também é culpada, porque a França co-produziu esta estupidez), podemos constatar que o herói ganha sempre, sem matar ninguém, ou seja enredo totalmente previsível e imbecil em todos os episódios, com a agravante da censura puritana religiosa norte-americana, que dita que não podem ocorrer óbitos na animação produzida nos EUA, e por isso quando o guerreiro Conan corta os inimigos com a sua espada à "Afonso Henriques", eles não morrem e são transferidos para outra dimensão. Isto é uma forma de lavagem ao cérebro e propaganda religiosa, cometida por cristãos fanáticos, a invocar aquela fantasia cristã da ida para o Céu, post-mortem. O próprio narrador refere isso na intro oficial que coloco abaixo.



Dito isto, um dos factores pelo quais eu gosto dos filmes deste cineasta francês, é o de ele ser um "autor" de cinema e de não estar minimamente interessado em obter lucros com fórmulas previsíveis, estilo enredo de animação americana para gozar com a inteligência das crianças. Dentro da pequena amostra que seleccionei e vi, do trabalho deste cineasta, gostei bastante da maturidade, seriedade e imprevisibilidade dos enredos, de vários filmes de que falarei fora desta mensagem. Mas digo já que são filmes que eu não teria tido muita paciência para os ver quando era mais novo, porque as suas narrativas arrastam-se de forma lenta.

Da mesma forma que só há poucos anos comecei a apreciar cinema mudo, é também só agora que aprecio mais os filmes do Jean Rollin. O realizador apresenta falhas sistemáticas de cinematografia e de bom senso, ao longo da sua carreira, mas eu tolero essas falhas, pela originalidade dos seus filmes.

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Um outro factor muito importante é o visual gótico. Da amostra de filmes que vi deste realizador, alguns possuem elementos sobrenaturais (como vampiros) e outros são perfeitamente lógicos sem nada de sobrenatural, este aspecto é importante para conferir alguma originalidade e imprevisibilidade às histórias que ele apresenta. Em ambas as situações o Rollin ia mesmo filmar ao cemitério, à masmorra do castelo, etc. Li que o homem alugou um castelo francês a uma condessa, durante um fim-de-semana, mas só queria filmar as catacumbas góticas... a imagem que eu apresento acima, pertence a esse filme.

Os filmes do Rollin são dos poucos exemplos que existem de visual gótico a sério, puro e duro, conforme mandam as regras. Eu sou um grande apreciador destes visuais.

Quando eu tinha uns 10 anos de idade, aluguei a cassete VHS do filme "O Fosso e o Pêndulo", que já na altura achei que tinha um visual "foleiro" a fingir que era gótico. Eu não voltei a rever o filme desde então, mas criei de propósito para este comentário, um screenshot para podermos ver o artificialismo do sistema de estúdio anglo-saxónico, a faltar ao respeito ao realismo gótico:

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Não gosto do artificialimo de masmorras de castelos construídas num barracão "sound stage" na Califórnia, tal como também não gosto de ver ursos desenhados a computador, enfiados em filmes de não-animação.

Já aos 10 anos de idade, achava foleiro o visual do cinema anglo-saxónico, e na altura mal sonhava eu que existiam filmes dos anos 70 da Europa de Leste e do francês Jean Rollin, que foram mesmo filmados com realismo visual gótico. Existem bons filmes com visual artístico bonito, estilo o "Dracula" do Francis Ford Coppola ou o musical "O Fantasma da Ópera de Andrew Lloyd Webner", mas nesses filmes estamos perante uma estética poética não-natural. São filmes com muito mérito, mas não apresentam um visual gótico realístico.

Eu nunca gostei do artificialismo dos "sets" construídos em estúdios anglo-saxónicos a fingirem que são castelos e afins, quando eu vi os filmes do Jean Rollin, finalmente tirei a barriga da miséria.

Este comentário foi um desabafo pessoal, que se calhar não foi muito bem escrito, mas foi o que consegui fazer...
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

Desbloqueei um excerto do filme pornográfico do Jean Rollin, que até agora esteve protegido com palavra-passe, para aprovação prévia em privado pelo administrador Rui Santos do DVD Mania e pelo moderador pmcordeiro do Xploited Forum. A única outra pessoa a quem mostrei isto foi o Samwise do DVD Mania, no âmbito do filme de comédia pornográfico norte-americano The Opening of Misty Beethoven, que foi um bom alerta da parte dele, e que eu irei comentar aqui mais tarde quando analisar e apresentar este filme "Porno - Hard Core - 1º Escalão", conforme era referido este estilo, na imprensa portuguesa dos anos 80.

Este clip foi apenas um teste privado, feito à pressa, para mostrar à administração dos dois fóruns, o estilo cinematográfico do filme. Quando escrever o tal comentário sobre o filme, farei outros clips.

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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by Samwise »

Tal como te referi por PM, este excerto tem um sabor vincadamente "europeu", de cinema (pseudo-)intelectual com intenções artísticas de calibre metafísico, que não se expressa apenas de forma estética, à base da formulação visual - o arrastamento narrativo aponta para esses lados, pelo menos. Parece-me uma abordagem realmente diferente da do Misty (sabor americano de gema, até quando se diverte a filmar a torre Eiffel em Paris), mesmo que as bases sejam semelhantes: filme pornográfico com uma história (bem) desenvolvida e personagens substantivos a contextualizar.
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

Samwise,

Esse filme porno americano "The Opening of Misty Beethoven" é bem capaz de ser melhor do que qualquer filme (convencional) do Jean Rollin, em termos de qualidade cinematográfica. Mas não é isso que estará em causa...

A minha admiração por este cineasta é mesmo de ele se estar cagando para fórmulas previsíveis de enredo e comercialismo das estruturas habituais do filmes americanos da treta.

Faço uma chamada de atenção para o género menor do fantástico (terror e/ou ficção científica) ter sido muito mal tratado por "Hollywood", que considera esses géneros uma "estupidez para os putos", e que por isso faz filmes da treta.

Aqui o Jean Rollin, foi um francês que fez o belo do manguito, à fórmula de Hollywood... :lol: :-P

Nota para o Rui Santos: Acrescentar um smiley do Zé Povinho a fazer o manguito, se faz favor. :-)))

Por enquanto não há "smiley" de um belo manguito, mas tenho este screenshot da peça inteligente em que é posto em causa a apanha da uva chamar-se "vindima" e ser mais que a apanha da maçã e da pêra. Por acaso também acho esquisito os pastores de vacas chamarem-se de "cowboys" se forem americanos, e apenas pastores se forem portugueses.

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JoséMiguel
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Re: Realizador: Jean Rollin (1938-2010)

Post by JoséMiguel »

Tenho estado a partilhar e divulgar alguns dos trailers musicais do David from Lille, que é meu colega do You Tube e que ajudou o meu recente canal.

Este David adora criar trailers de filmes "eróticos" pioneiros na Europa retrógada da velha guarda dos anos 60, não é que os filmes comerciais que ele aborda sejam eróticos do ponto de vista do século XXI, onde os cineastas europeus de agora trabalham num mundo livre de censura, mas ele aborda os filmes da Europa nojenta da Idade das Trevas do Cinema dos anos 60 e 70, onde a nudez e sexualidade eram pecados imorais contra a religião cristã, e por isso proíbidas por lei na maioria dos países europeus, devido à lei de cinema europeia se basear na religião do Antigo Testamento dos hebraicos.

O Cinema europeu dos anos 60 e 70 era uma porca vergonha, saída da Idade das Trevas, onde um realizador ia preso, por criar um filme erótico que fosse contra os dogmas europeus morais e religiosos. Mas como em 1970, séculos após a Era da Razão, O Iluminismo, a Renascença, A Revolução Industrial, a Revolução Científica, etc. um realizador de Cinema era condenado a prisão em tribunal, por fazer um filme erótico!????

Olhem, já falei de dois casos aqui no fórum!

Um deles foi este:

viewtopic.php?f=11&t=50948&p=617043

Tenho um extenso tópico com vídeos meus, para perceberem como o realizador de leste (do bloco soviético) foi preso em Itália, pelo crime religioso de atentado ao pudor, com este filme. Filhos da Puta dos italianos armados em religiosos fanáticos no ano de 1976!!!!

Outro caso foi o cineasta francês Joël Séria, em que um dos meus canais do You Tube foi injustamente vitimizado e violentado pela Google, por eu ter carregado lá um vídeo de um filme deste cineasta corajoso, que tinha os tomates no sítio, e que alterou a lei de censura religiosa-moral de cinema em França, na década de 1970. Sim a França nos anos 70 possuía uma lei de fanatismo religioso da Igreja Cristã, em que a sexualidade era pecado religioso e cívico, sujeita a censura e castigo na prisão. Um gajo português ainda julga, que após o 25 de Abril de 1974, Portugal ficou normal, graças à saída do fascismo, mas desenganem-se porque em Itália e França, não haviam ditaduras nos anos 70 e as leis de censura de cinema eram fortemente religiosas e semelhantes aos países muçulmanos de agora, estilo Arábia Saudita.

Aqui o David criou um clip:



Já abordei esse filme no seguinte tópico: viewtopic.php?f=11&t=48894&p=597475&hil ... ia#p597475

No caso particular do Jean Rollin, que dá o nome a este tópico o David, que é um gajo francês, também criou um vídeo de um filme que ainda não vi:

Chama-se "Jeunes Filles Impudiques (1973)", portanto jovens mulheres sem pudor, o que irá sair daqui? :p :badgrin:

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