Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Discussão de filmes; a arte pela arte.

Moderators: waltsouza, mansildv

JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by JoséMiguel »

Berserkir (Plural para Berserker) foram guerreiros nórdicos ferozes, que estão relacionado a um culto específico ao deus Odin. Eles despertavam em uma fúria incontrolável antes de qualquer batalha.

Image

Há uma divergência sobre o termo nórdico "baresark", que podia referir-se a "camisa simples" ou ao uso da pele de um urso na batalha (significando "camisa de urso", em nórdico), da mesma forma como os Ulfhednar usavam peles de lobo. Outra tradução possível é "sem camisa".

A origem dos bersekir é desconhecida. Tácito, porém, faz menção de grupos de guerreiros germânicos com uma fúria frenética, também uma menção bastante conhecida no formato poético de Haraldskæði (8,12,13).

Image

Especula-se que berserkir eram grupos ou bandos de guerreiros inspirados religiosamente. Esses guerreiros entravam em tamanho estado de fúria em combate que dizia-se que suas peles podiam repelir armas. Alguns eruditos modernos sugerem que a fúria dos berserkir poderia ter sido induzida pelo consumo de bebidas alcoólicas, ervas, cogumelos alucinógenos e arnica. Lendas mencionam gangues de berserkir com doze membros cujos aspirantes às mesmas tinham que passar por lutas ritualísticas ou mesmo verdadeiras para serem aceitos. Alguns berserkir tomaram como nomes björn ou biorn em referência aos ursos, um Berserker bastante famoso no mundo das sagas, no qual não recebe um caráter negativo é Böðvar Bjarki, um dos companheiros do rei Hrólf Kraki:

"Böðvar Bjarki não comparece à batalha final da narrativa, surgindo para lutar em seu lugar um enorme urso, guiado pelo próprio guerreiro. Ao final, encontram-no exaurido por lutar daquela forma, em que encontra a morte por estar impossibilitado de reagir aos inimigos"[1]

Image

Lendas contam que guerreiros tomados por um frenesi insano, iam a batalha despidos e atiravam-se nas linhas inimigas.

Em inglês existe a expressão to go berserk, que significa ficar violento, enlouquecido, incontrolável.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Berserker
À semelhança da categorização histórica ilustrada que fiz a uma excelente trilogia polaca (viewtopic.php?f=11&t=47061), não ficará mal eu explicar o que é um Viking "Berserker", termo que eu já conhecia do videojogo "Civilization IV" e que por isso fiquei logo atento ao ver os vikings a prepararem uma poção narcótica para causar psicose aos soldados, o que não é muito diferente dos soldados portugueses da guerra colonial que eram drogados pelo estado português para perderem o medo, segundo um velhote ex-combatente me contou (não posso citar fontes).
drakes
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 2576
Joined: June 10th, 2015, 11:44 pm

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by drakes »

technicolor wrote: May 14th, 2017, 11:05 am .
Viking (2016) Andrei Kravchuk

Finalmente... e quase 5 meses após a sua estreia (apenas na Rússia?), depois de algumas voltas lá consegui ver este viking e embora esperasse algo mais mainstream (acho que não é bem o caso), vi-o com prazer, apesar dos seus respeitáveis 133 min. Compreendo agora a desilusão de alguns e do lamentável score no IMdB (4,7/10) pois o título será um pouco enganoso: na verdade é que o filme pouco tem de vikings. É sim um filme russo sobre a origem da pátria a partir da união de várias tribos e da sua conversão à religião cristã ortodoxa o que poderá ter significado a introdução de alguma ordem social e progresso dada a cultura associada aos mosteiros.
...embora alguns até possam indicar as "migrações" do ditos vikings para sul como estando na origem dos povos da chamada Russia branca (a que fica aquém dos Urais)

O filme é uma obra portentosa (outra coisa não seria de esperar de um trabalho deste tipo assinado por Andrey Kravchuk) e algo complexa (sem algum conhecimento prévio da história da nação russa) mais feito com paixão (e rigor, não digo histórico mas sim filmíco) bem na tradição dos grandes épicos de leste. Algo entre o genial Marketa Lazarová (1967) do checo ‎František Vláčil e o Mongol (2007) dirigido pelo russo Sergei Bodrovma mas uma co-producção da Russia, Alemanha e Cazaquistão, e talvez ...com toque de Aleksandr Nevskiy (1938)de Eisenstein (agora magnificamente restaurado, finalmente) mas isto será minha visão pessoal das coisas. Por isso quem for à espera de algo semelhante à série do Canal História, do Pathfinder (2007) ou mesmo do menos conhecido The White Viking (1991) do norueguês Hrafn Gunnlaugsson esqueça lá isso... Dou estas referências que conheço para evitar equívocos mas não sei se estarei a ser correto :?:

É um épico (óbvio) com um argumento sólido mas não muito linear, com base histórica mas contestada por alguns intelectuais, politicos e pela igreja ortodoxa, mas que todavia contou com a "bênção" de Putin, ele mesmo um grande admirador do personagem retratado no filme ( Principe Vladimir de Novgorod) e sendo um filme russo tem (obviamente) uma estrutura diferente do cinema ocidental. Filme com grande violência gráfica (não a violência do LOTR contra seres míticos mas uma violência mais crua, contra gente real) o que a mim não me chocou mas admito que nem todos possam ser como eu (assim insensível como?-) )

A fotografia, a cenografia, a montagem, o guarda-roupa, a caracterização, o som, a coreografia das batalhas são top (5*) :roll: os actores é o costume.. bons todos, mas com aquele "truque" habitual que me sinceramente me irrita um pouco: O príncipe é um "pêssego" e as princesas são lindíssimas eh-) os restantes são todos feios como trolls. A música... bom para ser sincero nesta primeira visualização quase nem dei por ela... mas está lá -bullshit- Enfim foram sete (?) anos entre preparação, rodagem e pós produção e compreende-se ... embora com custos muito inferiores a uma produção da mesma escala feita por Hollywood.

Filmes mais recentes a este nível só me recordo do Macbeth (2015) do Michael Fassbender e do recente Silence já de 2017 . Estranhamente ainda está praticamente inédito no ocidente com a excepção da Alemanha onde já há disponível uma edição BD (consta que estará a ser preparada uma versão internacional menos "gráfica" e de duração inferior ??? ) Ah já me esquecia, sim há algum CGI mas não se nota muito :wink:

Classificação? Sinceramente estou-me bem nas tintas para o IMbD e dou-lhe um 8.9/10 bem merecido e se calhar bem até que poderia ser nomeado para o oscar de melhor filme estrangeiro...

Por fim, vi o filme ontem à noite (depois de ter assistido à vitória ... do Salvador em Kiev ? :-))) )e como ainda não reflecti bem sobre ele...(o filme :mrgreen: ) confesso que isto foi escrito um bocado em "cima do joelho" (como é meu hábito :mrgreen: ) mas como ainda ninguém por aqui se pronunciou faço-o eu assim mesmo, não por desrespeito, mas como sei... Estou consciente que o filme merecerá uma outra análise mais aprofundada feita por quem saiba escrever em condições e tenha ideias mais claras sobre a obra salut-)

Um raro site em inglês sobre o filme (com spoillers) cujo conteúdo pode até divergir até um pouco do que acima escrevi.
http://www.vikingmovies.info/
Excelente analise do filme, só acredito como a narrativa é muito influenciado pelo atual momento que passa a Rússia, tanto que o Putin "aprovou-o", é mais de ação que propriamente uma reflexão da história do país, por isso vemos os saltos sem aprofundar as escolhas dos personagens.

Não vi o patrocinador, mas não duvidaria que é o mesmo de Orda (1), que é um fundo do Estado ligado a Igreja Ortodoxa Russa; por isso aquele fim.

Pelo material envolvido,seria melhor uma série ou ter uma sequência para contar com mais vagar a história de Wladimir, portanto ao pensar na nota, eu daria uns 6,8 pensando em imdb, que mais ou menos a nota de superproduções, a maioria acredito que irá gostar até por que tem sangue quando as pessoas cortam as outras, diferente que vemos habitualmente no cinema :twisted:
(1) http://www.imdb.com/title/tt2331066/
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by JoséMiguel »

Ena!!! O Drakes acabou de me salvar...

Vocês sabiam que, no meu comentário prévio da minha primeira reacção ao filme, enquanto escrevia o rascunho, tinha escrito um parágrafo acerca da propaganda religiosa do filme?

Eu apaguei esse parágrafo para não ferir as sensibilidades dos membros católicos do fórum, num acto de auto-censura contra os meus valores pessoais, mas no intuito de não causar mau ambiente no DVD Mania.

Até tinha feito uma comparação com o filme americano "Ben-Hur"...

As coisas que um ateu português como eu faz, para não ofender os católicos portugueses do fórum, em violação dos meus princípios pessoais.... oops:)

E Drakes, concordo plenamente com o teu elogio à análise excelente do Tecnhicolor, foi por causa do texto dele que vi o filme. salut-) yes-)

Nota: Mas se eu mais tarde decidir analisar o filme, após alguma sabedoria ganha por mim ao ler o Wikipedia, não existirá nenhuma benesse de "pão para malucos" e a Igreja Cristã irá mesmo "levar na cabeça"...
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by JoséMiguel »

Discussão de mapas e outros filmes de leste

Image

O mapa oficial da era deste filme está acima, neste mapa saltam-me logo à vista alguns filmes de leste que eu já vi e apresentei no DVD Mania.

Não irei aqui comentar a geografia óbvia do filme do tópico, com a região romana a norte do mar negro, em que a única travessia segura com Kiev era pelo território dos Caganatos Pechenegues (não sei se o termo "Kagan" usado no filme, não se escreverá "Cagão" (Monarca do Caganato, e não um indivíduo que caga muito) em português... Esta dúvida é só por graça, mas o Wikipedia não a esclarece). Existiam também "Canatos" Pechenegues, cujo líder seria um "Khan", à semelhança do mongol Genghis Khan ou do Khan do filme Star Trek II, mas a designação portuguesa para um líder de um Caganato ilude-me, em inglês diz-se "Kagan" mas será um "Cagão" em português?

O meu primeiro comentário irá para a região do mapa legendada com "Volga Bulgars".

Na minha apresentação da super-produção búlgara de 1981, que até envolveu um estúdio militar de cinema (O Exército da Bulgária possuía em 1981 um estúdio de cinema ao serviço das forças armadas), referi o seguinte:
Mapa:

Evacuação da Fanagória no séc. VII, explicada no filme I e encenada no filme II:

Image
O meu tópico: viewtopic.php?f=11&t=48422
Filme I

Image

O primeiro filme mostra os dias finais da Fanagória, visto pelos olhos do historiador romano Belarius, que é entregue como refém pelo próprio pai, emissário do Império Romano, como garantia da aliança militar entre as duas nações, contra os bárbaros das terras de leste (Caganato Cazar):

Image

Nesta altura, o Império Romano não contém a Itália, que tinha caído perante Átila, o Huno. Os romanos do império oriental, com capital em Bizantium, consideravam-se romanos. O termo bizantino só surge mil anos depois, e foi cunhado por historiadores estrangeiros, após o colapso do império. Eles eram também demominados de "gregos" pelos povos estrangeiros. Esta é a corte imperial em Bizantium, inclui o típico fanático religioso cristão (ortodoxo) a incitar ódio e violência:

Image
Qual a relevância disto para este filme de 2016?

Primeiro essa região do mapa chamada de "Volga Bulgars" foi com os porcos, por assim dizer. Quando se deu a evacuação da Fanagória (Antiga Bulgária) o povo foi dividido entre 4 ou 5 filhos do Rei, cada um a evacuar parte do povo em direcções opostas, uma das evacuações colonizou o norte da Itália (após o colapso do império romano ocidental), mas foi assimilada/integrada pelo povo italiano, se hoje existe um país europeu chamado Bulgária, foi porque a única das 4 ou 5 tribos em evacuação a fugir das matanças e extermínios dos "mongóis", conseguiu derrotar militarmente o Império Romano Bizantino.

O interesse político do Império Bizantino em cristianizar os Rus de Kiev é portanto obter um aliado militar contra a Bulgária, com o pretexto da Religião.

Também escrevi o seguinte no mesmo tópico da trilogia búlgara:
JoséMiguel wrote: March 22nd, 2014, 6:47 am
Existem duas imagens de grande destaque para o povo português!!!

É o momento do gatilho/faísca que determina a invasão de Portugal pelos Mouros, perante o que se estava a passar nos emergentes reinos árabe e búlgaro e no ainda valente, forte e saudável império romano oriental (bizantino), que só viria a cair uns 700 anos mais tarde.

Gostaria de ter investigado isto melhor no wikipédia, mas aqui ficam (é o texto das legendas, conforme o narrador do filme está a explicar):

Image

Image

Pelo que percebi do filme e wikipédia, o que irei escrever de seguida, a ser confirmado pela malta de História, se calhar deveria figurar no programa escolar da História de Portugal: Parece que o imperador romano, perante 2 inimigos, tomou uma decisão, de usar todas as suas tropas contra o inimigo árabe, deixando cair o norte perante os búlgaros. As duas consequências foram a criação do reino búlgaro, que ocupou terras romanas (actual país Bulgária) e afugentar os árabes em direcção a Portugal/Espanha.

À primeira vista parece-me ser uma decisão inteligente do imperador romano, porque os árabes eram fanáticos religiosos (tal como os cristãos) que pretendiam impôr o seu "arab way of life" sobre os outros povos (à semelhança da malta das coca-colas que tenta impôr o seu "american way of life" sobre os outros povos), ao passo que os búlgaros eram uns desgraçados duns refugiados que só queriam terra fértil para viver, e a sua religião chamada Tengriísmo não era da classe evangelista de se impôr sobre os os outros povos. Por isso teve lógica que o imperador romano consolidasse as suas tropas contra os árabes e deixasse cair o norte do império para os búlgaros.

Essa decisão selou o destino de Portugal.

Europa de Leste no ano 650 D.C., antes dos acontecimentos do filme I (quando os búlgaros ainda estavam na velha Bulgária em terras de Leste), destaque para a curta extensão ocidental do califato árabe, e para os contornos do império romano:

Image

Península Ibérica no ano 750 D.C.:

Image

Com isto não estou a postular que a invasão árabe de Portugal foi negativa, até acho o contrário, pois eles tiraram Portugal e Espanha da Idade das Trevas, enquanto o resto da Europa mergulhou nela. Na altura os árabes trouxeram irrigação, medicina, ciência, etc. (que roubaram dos romanos) que era bem melhor do que a ocupação dos Visigodos, mas isso seria tema para outro tópico... :-D Apenas acho fantástico ver o destino de Portugal a ser selado num filme de leste, que mete as potências militares romana, búlgara e árabe.


As restantes imagens são únicas no cinema do mundo inteiro, e mostram entre outras coisas as tropas romanas (já com roupa colorida e calças por debaixo das mini-saias dos soldados). Eu nunca tinha visto o visual dos romanos, após o colapso da parte ocidental ocidental do império (que é apenas o que Hollywood mostra), e fiquei chocado.

No tempo do Império ocidental, nenhum homem ocidental civilizado vestia calças, pois isso era motivo de gozo e ele passava logo por palhaço. Homem que eram homem, tinha de vestir um vestido de senhora, ou se fosse militar uma mini-saia, que era ainda mais masculina. Apenas os bárbaros das terras de leste, vestiam calças. :lol:

Por isso dentro da mentalidade da Grécia e Roma antiga, estes romanos bizantinos estão vestidos de forma ridícula, com calças. Esta é apenas uma de muitas curiosidades de um filme histórico de Leste, nunca antes vista ou retratada no cinema ocidental.

Obviamente a estética não importa, mas mencionei o tema para mostrar as lacunas e limitações dos cinemas europeu e americano, onde não se vêem soldados romanos do império oriental, que sobreviveu 1000 anos após o colapso do império ocidental. Porque é que os italianos e gregos não fizeram filmes com romanos bizantinos? É uma boa questão...

Aqui estão as imagens, são bastantes porque não tive tempo para escolher de entre elas. Mas podem ver muitos soldados do exército búlgaro ao serviço do filme:
Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image

Image
A seguir ainda existe o filme III, todo ele um combate épico em que o imperador romano, após ter afugentado os árabes no filme II (o tipo era esperto e manhoso), ataca os búlgaros com toda a potência militar concentrada do império romano. Os búlgaros tinham construído grandes fortificações defensivas e a longa batalha envolveu grandes estratagemas militares dos dois lados, pelo que ficou gravada na história e por isso hoje existem estes filmes.

Nem toda a gente irá gostar desta trilogia, mas realmente não conheço nenhum outro conjunto de filmes assim, de nenhum outro país. São filmes para serem vistos com muita calma, paciência e concentração. :o Aqui o "target audience" náo é a rapaziada dos 15-25 anos, eu diria que é mais 35-65 anos e apenas para quem aprecia temas históricos e tem bastante paciência, por isso talvez seja um filme especializado e optimizado para um reduzido leque de gostos e audiência, não sei... :|

E por último, Portugal nunca é mencionado em nenhum dos filmes. Isto sou apenas eu a cruzar informação e a analisar as consequências e implicações...
technicolor
Fanático
Fanático
Posts: 717
Joined: March 2nd, 2016, 9:00 pm
Location: Pinhal Novo

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by technicolor »

Excelente trabalho José Miguel (outra coisa não seria de esperar yes-) ) és mesmo a pessoa indicada para fazer este enquadramento histórico cuja leitura me vai ser muito útil quando voltar a ver o filme brevemente. A mim e a todos os que estiverem interessados em compreender melhor a história contada neste Viking... o qual também poderá ser visto de uma forma mais ligeira como um simples filme de acção, que a tem e bastante.
É capaz ser uma desilusão ver o heróico e cruel Vladimir no final a arrepender-se e a chorar pelo mal que fez... :wink:


Pessoalmente nada sei sobre a Rússia antes de 1917 (só o que li nos romances de Tolstoi, Tchekhov, Dostoiévski, Pasternak) :-( e alguns filmes que vi, nomeadamente 2 do Eisenstein e também o Andrei Rublev do Tarkovsky, por isso o meu interesse neste filme do Kravchuk. Vou seguir este tópico com atenção e quando surgir oportunidade editarei o meu comentário acima (se tal ainda se justificar)

Também concordo com o drakes quando diz que o filme "é muito influenciado pelo actual momento que passa a Rússia" e sem querer entrar pelo campo da política acho que o filme é sobretudo destinado ao mercado interno, talvez, quem sabe, numa perspectiva de exaltar o orgulho nacionalista russo...
Putin "não dá ponto sem nó", sabe-a toda... e quer de novo uma Rússia grande (combatendo ao máximo os separatismos) e orgulhosa do seu passado mais remoto, ele sabe bem que o cinema sempre foi (ainda é) um excelente meio de propaganda na mão de líderes políticos, de outras épocas e outras paragens, (até os angolanos fizeram recentemente o Njinga - Rainha de Angola e até Salazar mandou fazer o (desaparecido?) Feitiço do Império :-))) ) mas isso já sou eu a especular... salut-)
JoséMiguel
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 3076
Joined: August 30th, 2011, 9:33 pm
Location: Lisboa

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by JoséMiguel »

Um aspecto que achei que o filme faz bem foi mostrar o enorme medo que os povos tinham dos romanos, os desgraçados dos eslavos e dos pechenegues nem tinham ainda sequer inventado a escrita (foram os romanos bizantinos que criaram o alfabeto cirílico para os búlgaros, mais tarde usado pelos russos e ucranianos.), e ao pé deles os romanos bizantinos possuíam a mais alta tecnologia e conhecimentos científicos da Golden Age da Humanidade. Essa tecnologia e conhecimento científico, já tinha sido perdida na Europa Ocidental, que atravessava a sua Idade das Trevas.

Um exemplo de uma alta tecnologia perdida para sempre (que não aparece em nenhum filme sério e também não irá aparecer aqui), que a ciência de hoje ainda não consegue recriar eram os lança-chamas e granadas com "fogo grego", eu sinceramente fico impressionado com isto.

Image
Soldado munido com lança-chamas portátil em ataque a fortaleza.

Image
Barcos equipados com lança-chamas. O líquido misterioso ardia ainda mais em contacto com a água.

Image
Granadas incendiárias.

Mais informação: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fogo_grego

Além da tecnologia superior e armas de terror como estas, os bizantinos eram muito perigosos diplomaticamente porque subornavam os vizinhos à volta dos seus inimigos, para os atacar.

Quem já viu o filme ou o for ver ou rever, poderá entender melhor a reacção dos soldados pechenegues quando avistam o barco diplomático bizantino, que transportava o embaixador de Constantinopla.

Perante isto, quem se atrevia a atacar o Império Romano Oriental? No caso dos búlgaros eles não tinham outro remédio, porque os "mongóis" (termo impreciso mas próximo) lançaram uma guerra de extermínio e genocídio, com destruição completa e total do seu país, e eles fugiram para a Europa de Leste, ocupando território romano, para eles era um caso de vida ou de morte. No caso dos árabes muçulmanos, suponho que fosse a guerra santa contra os cristãos (não me fui informar). São dois casos que conheço mas haverão outros como a Pérsia, cujo conflito no século VII arrasou ambos os impérios mutuamente, estilo uma troca nuclear entre a URSS e os EUA com a doutrina M.A.D. (Aniquilação Mútua Garantida), e cujo conflito permitiu a um árabe muito inteligente e esperto criar uma nova religião (o nome desse sujeito era Maomé) para se aproveitar da aniquilação mútua do conflito Persa-Bizantino, e lançar um ataque militar sobre ambos os territórios, sob a justificação de servir a vontade do Deus nº 3848 (Alá ou Jeová). Foi assim que os árabes capturaram os conhecimentos científicos da Golden Age Clássica e os trouxeram para a Península Ibérica, que mais tarde foram recolhidos de bibliotecas de "Espanha" e levados para França, Alemanha, Itália, etc. (onde a Igreja Católica, organização política maléfica, já havia destruído anteriormente os conhecimentos científicos, pela sede de poder, acusando os livros de serem heresia, ver filme "O Nome da Rosa") de modo a despoletar o Iluminismo e a Renascença.

Mais informação: https://en.wikipedia.org/wiki/Byzantine ... 2%80%93628

Situação geopolítica no ano 988 (ano em que a acção do filme culmina)

Dois anos antes, o romanos bizantinos tinham iniciado a guerra contra Bulgária, que ainda iria durar décadas.

Image
In 986, the Byzantine emperor Basil II undertook a campaign to conquer Bulgaria. After a war lasting several decades he inflicted a decisive defeat upon the Bulgarians in 1014 and completed the campaign four years later. In 1018, after the death of the last Bulgarian Tsar - Ivan Vladislav, most of Bulgaria's nobility chose to join the Eastern Roman Empire.[53] However, Bulgaria lost its independence and remained subject to Byzantium for more than a century and a half. With the collapse of the state, the Bulgarian church fell under the domination of Byzantine ecclesiastics who took control of the Ohrid Archibishopric. (https://en.wikipedia.org/wiki/History_o ... .931018.29)
Pelo que percebi, em 988 a Igreja Católica era "inimiga" (rival) da Igreja Ortodoxa, e para complicar ainda mais existia uma terceira facção cristã na Bulgária, aliada do Vaticano e "inimiga" dos ortodoxos bizantinos.

Exemplo de apoio político dado pelo Vaticano à Bulgária, inimigo do Império Bizantino.
Simeon hoped to take Constantinople and become emperor of both Bulgarians and Greeks, and fought a series of wars with the Byzantines through his long reign (893–927). At the end of his rule the front had reached the Peloponnese in the south, making it the most powerful state in contemporary Eastern Europe.[45] Simeon proclaimed himself "Tsar (Caesar) of the Bulgarians and the Romans", a title which was recognised by the Pope, but not by the Byzantine Emperor. The capital Preslav was said to rival Constantinople,[46][47] the new independent Bulgarian Orthodox Church became the first new patriarchate besides the Pentarchy(...)(https://en.wikipedia.org/wiki/History_o ... .931018.29)
Mais informação: https://en.wikipedia.org/wiki/Byzantine_Papacy

Do lado sul e sudeste do mapa, a prévia guerra do século VII com a Pérsia, resultou na destruição total do Império Persa e destruição quase total do Império Bizantino, os bizantinos ganharam o jogo de xadrez bélico apenas sobrando-lhes uma única peça de tabuleiro, a capital Constantinopla, exceptuando essa cidade bizantina, todas as outras cidades foram destruídas. Os líderes da Pérsia e Império Bizantino pareciam dois putos a jogar um jogo de estratégia estilo "Age of Empires", e os bizantinos ganharam com uma só peça no tabuleiro. A nível geopolítico, os árabes são o jogador malandro nº 3, que se aproveitou dessa destruição mútua para lançar uma nova religião (no meu entender, as religiões são armas político-militares para intrujar e controlar as massas, ao serviço de ditadores de mau carácter) chamada Islão.

Em 988 o Império Bizantino que surge no mapa abaixo, já não consiste de grandes metrópoles com aquedutos, fontes e estátuas em mármore, pois esse modo de vida clássico terminou no conflito com a Pérsia, no mapa abaixo existem vilarejos fortificados do tipo medieval (como a vila portuguesa de Óbidos), onde o povo romano se refugiu usando pedras das ruínas das metrópoles para construir vilas fortificadas, com ruas tortuosas onde pela primeira vez os romanos vestem calças (antes as calças eram consideradas roupas de palhaço, apenas usadas por bárbaros estilo Hunos, e muito se divertiam os romanos e gregos a rirem-se com a palhaçada de verem um homem vestido com calças. Já agora a razão de nós hoje usarmos calças no Ocidente, foi porque os bizantinos nesta altura precisa pós confilto persa, decidiram imitar os bárbaros do norte, com o seu aspecto selvagem de cabelos compridos e calças, por motivo de fetiche e moda juvenil).

Image

Estes romanos vestidos de calças, são os tais romanos futurísticos do século XV (O Império Bizantino ainda existia quando Portugal inicia os Descobrimentos, e só foi derrotado em 1453), que me saltam logo à vista nos filmes históricos de leste, é que nos "filmes de Hollywood" só mostram os romanos ocidentais com soldados de mini-saia e políticos de vestido comprido e não focam os mil anos seguintes dos romanos.

Já andei também a investigar a propaganda religiosa deste filme e o caso é sério, não se trata apenas de um fanático religioso cristão a espalhar a fé cristã, como no filme norte-americano "Ben-Hur". Gosto muito do filme "Ben-Hur" e não me incomoda que tenha sido feito por fanáticos religiosos, porque ao menos eram fanáticos honestos que não intrujavam ninguém. A situação neste filme russo de 2016 é bastante mais grave do que no filme americano dos anos 50, e temos propaganda religiosa feita em má fé, de forma desonesta, que manipula eventos históricos, para intrujar os espectadores.

Irei justificar isto com referências do Wikipedia, quando tiver tempo, mas pelo que eu li no Wikipedia sobre o príncipe Vladimir, o filme ucraniano de 1984 feito no comunismo soviético é que é um filme honesto e inteligente, que não faz nenhuma propaganda política, religiosa ou anti-religiosa e apenas mostra a verdade da podridão da Igreja, de forma honesta e que bate certo com a versão inglesa do Wikipedia em 2017. Conhecem o ditado "Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo"? É que o filme soviético de 1984 está de acordo com Wikipedia de 2017, mas o filme russo de 2016 está em desacordo...
drakes
DVD Maníaco
DVD Maníaco
Posts: 2576
Joined: June 10th, 2015, 11:44 pm

Re: Viking (2016) - Andrey Kravchuk

Post by drakes »

"Soon after Vladimir Medinskii became Minister of Culture, several large-budget action movies have combined official memory politics with neoliberal interests of the state: Viking (2016), Stalingrad (2013), Going Vertical (Dvizhenie vverkh, 2017), and T-34 (2018) have all made an outstanding commercial profit from conservative ideology. The reasons for their success include the fact that these films covered the largest group of Russian viewers: people who watch federal channels and support state propaganda or are indifferent to it. All of the mentioned films were promoted as national achievements on television, like Gagarin’s space flight, the defeat of the Nazis, or the annexation of Crimea. Symptomatically, the absolute leader in terms of commercial profit is Going Vertical, whose producer Anton Zlatopolskii is general manager of the television channel Rossiya".


http://www.kinokultura.com/2019/66r-tobol.shtml

Nunca pensaria como um filme neoliberal, mas dessa lista dos que vi salva Dvizhenie vverkh
Post Reply