Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

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NFCDS
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by NFCDS »

Como fã do Hans Zimmer, não posso deixar de dizer que achei fenomenal esta BSO. Está presente desde o 1.º minuto do filme até ao fechar do livro/jornal no final do filme. Impressionante!
Toda a banda sonora disponível na WaterTower Music.

Uma explicação sobre o ritmo da música:
mansildv
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by mansildv »

Christopher Nolan on ‘Dunkirk’: There Was No Green Screen

http://variety.com/2017/film/news/chris ... 202553547/

https://pmcvariety.files.wordpress.com/2017/07/christopher-nolan.jpg?w=670&h=377&crop=1

:shock:
mansildv
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by mansildv »

‘Dunkirk’ Surges Past $500 Million Target at Global Box Office

http://www.thewrap.com/dunkirk-surges-p ... ox-office/

https://www.thewrap.com/wp-content/uploads/2017/07/Dunkirk-1.jpg

The Oscar contender continues Christopher Nolan’s streak of box office successes, and is just $5 million away from topping “Interstellar”
mansildv
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by mansildv »

‘Dunkirk’ Wants to Be the Oscar Frontrunner, Sets Awards Season Re-Release in IMAX and 70mm Theaters

http://www.indiewire.com/2017/11/dunkir ... 201898148/

http://www.indiewire.com/wp-content/uploads/2017/11/la-ca-mn-sneaks-dunkirk-fionn-whitehead-20170421-1.jpg?w=780

"Christopher Nolan's critically acclaimed WWII drama is taking Oscar season by storm with a major theatrical re-release."
Samwise
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by Samwise »

Ainda não vi o filme como deve ser (nas melhores condições de imagem e som), mas do que vi fico intrigado - é um projecto estranho do Nolan, que parece ter tido uma série de ideias interessantes a pôr em prática e que a colagem de tudo resultou em disfuncionalidade, indefinição e ambiguidade.

Depois de um Interstellar que puxava diversas vezes às emoções, e que as encaixava quase a martelo na própria narrativa, este filme é frio e afastado, mesmo quando há emoções para filmar com a câmara quase em cima (a situação do náufrago e aquilo que se passa dentro da embarcação que lhe dá abrigo).

Tecnicamente parece-me muito certinho e rigoroso (os dogfights estão muito realistas face às imagens de arquivo que se conhece), mas a ideia de dividir a narrativa em três espaços de continuidade diferentes não traz abolutamente nenhum efeito prático concreto. Estes espaços de continuidade, com o tempo a ser representado em diferentes velocidades, foram utilizados noutros filmes do Nolan, em contextos que faziam a diferença em termos narrativos. Neste filme dão em nada. Nem sequer contribuem para construir o suspense - a matéria que me parece a central no interesse do Nolan.

O filme parece-me uma colagem de sequências in-extremis. Momentos em que a tensão se vai acumulando e em que o climax dita que a personagem escapa mesmo à risca de uma morte certa. São vários momentos destes ao longo do filme, e o filme dá mais importância a isso do que propriamente à operação de resgate dos soldados presos na praia.

Finalmente, num filme tão frio e técnico, quase documental e sem heróis, não percebo os últimos 10 minutos, em que há uma situação Deux-Ex Machina porcamente inserida na narrativa (que se estava mesmo a ver que ia acontecer), e um discurso heróico por parte do Churchill em voz-off.

Não é carne nem peixe. Não sei bem o que achar deste filme, mas não me seduziu à primeira tentativa. Tenho de ver em melhores condições.
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Rui Santos
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by Rui Santos »

Tenho pensado no filme, e voltei aqui hoje para ler o que escrevi, e o que outros de vós tinham escrito.
Passou-me algum do entusiasmo que me levou a gostar tanto do filme, e estive a pensar um pouco no mesmo... e parece que lhe faltam atores com carisma... Há ali alguma falta de sal.
Nem é um problema técnico, pois o filme é bem filmado. Mas há ali algo que não faz com que se dê um click. Não tenho saudades nenhumas de o ver, nem saudades dos personagens.

Provavelmente irei comprar o mesmo, mas irá para a prateleira de revisão para daqui a 10 anos...
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by paupau »

Mais uma vez alinho pela bitola do Samwise, faltou aquele golpe de asa para se elevar a sério. Sinceramente ha muito que ja nao pensava no filme, age fiquei admirado com o relancamento a pensar nos oscares.
Os saltos temporais assim so com uma visualizacao impedem de conseguir descrever o que acontece no filme, fiquei so com umas impressoes gerais. O filme nao e mais memoravel por ai.

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Ludovico
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by Ludovico »

paupau wrote: November 17th, 2017, 6:32 pm Mais uma vez alinho pela bitola do Samwise, faltou aquele golpe de asa para se elevar a sério. Sinceramente ha muito que ja nao pensava no filme, age fiquei admirado com o relancamento a pensar nos oscares.
Os saltos temporais assim so com uma visualizacao impedem de conseguir descrever o que acontece no filme, fiquei so com umas impressoes gerais. O filme nao e mais memoravel por ai.

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X3,é caso para dizer.
Fui vê-lo ao cinema no verão todo lampeiro e a ler maravilhas em blogues internacionais e sai-me um bom filme de guerra,únicamente.É um bom filme no geral é verdade mas NADA ACRESCENTA DE NOVO ao género e nem ao cinema em geral.Na America e em Inglaterra é elevado aos píncaros não percebo porquê.Querem ver o melhor filme guerra alguma vez feito?.Pois é continua a ser "O Resgate do Soldado Ryan"que é a síntese de todos eles quer de antes quer depois dele.Dunkirk é bom filme,técnicamente é bom mas não há rasgo NARRATIVO QUE O ELEVE A OUTROS LADOS.
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Cabeças
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by Cabeças »

Vivam,

Ando sempre um bocado atrasado relativamente aos filmes, de modo que só agora escrevo, pois vi o "Dunkirk" há 2 dias e tive tempo para pensar sobre ele.

Confesso que quando soube que o Chris Nolan ia fazer um filme de guerra, fiquei muito desiludido, pois é um realizador de que gosto muito e filmes de guerra... há milhares. Na altura lembro-me de ter pensado que preferia que se mantivesse na Ficção-Científica, pois para mm o Inception e o Interstellar são fabulosos, ou em filmes como o "The Prestige", de que também gostei imenso... ou abraçasse uma nova trilogia, como fez com o Batman. Para mim o filme dele que realmente não me tocou foi o "Insomnia", mas apenas o vi uma vez há 15 anos, está mais do que na altura de fazer um segundo visionamento. Mas quanto ao "Dunkirk"...

Estava realmente com muita expectativa acerca do filme. Sinceramente, posso dizer-vos que gostei muito. E acho que gostei ainda mais porque já há anos que me fartei um bocado de filmes de guerra e deste gostei francamente.

Para mim este não é um filme de guerra "normal", é um filme que é um bocado uma espécie de documentário que nos é apresentado com já foi referido em três contextos diferentes (terra, mar e ar) e que nos ajudam a seguir e compreender a história, ou pelo menos parte dela. Não acho também que seja um filme de "heróis", ou um filme onde haja um qualquer "alpha dog"... ou dois, como no "Platton"
O próprio piloto que é um autêntico herói é capturado no final e possivelmente executado.
E acho que este filme não pode ser comparado também ao "Saving Private Ryan" do Spielberg. Não porque seja melhor ou pior, mas apenas porque para mim não se podem comparar (ou não devem comparar-se) coisas incomparáveis. São abordagens, sensibilidades e modos de contar uma história completamente diferentes. A única coisa em comum é apenas um cenário de guerra.

Achei o "Dunkirk" fabuloso em termos de concepção estética. O filme tem imagens que ainda não me saíram da mente e que penso que vão permanecer muito tempo na minha memória. Aos 90 minutos, as imagens do avião com os motores desligados a planar ao longo da costa com as casas em plano de fundo é das coisas mais bonitas e tocantes que vi no Cinema até hoje. Acredito que estivesse nesse momento mesmo completamente "imerso" no filme, mas achei esse momento incrível em termos cinematográficos. Em termos técnicos, em termos de planos enquadramentos, de fotografia, de banda sonora, achei o filme fabuloso. Concordo que não há uma música que fique se calhar na memória, mas o filme tem a particularidade de na minha opinião ter a música a fazer parte integrante do filme de um modo como se calhar não tinha "sentido" até hoje, ajudando a construir o ambiente de um modo omnipresente. E penso que era esse o objectivo, mais do que fornecer uma melodia que "ficasse no ouvido".

Também penso que o facto de não nos lembrarmos se calhar de uma personagem ou duas que tivessem sido particularmente carismáticas, se calhar tal como se passa na música, é propositado. É que embora a música esteja sempre presente, tal como a maioria das personagens, o filme para mim versa sobretudo sobre desencanto. De pessoas que pensavam que se calhar eram heróis. Que estavam na maioria convencidas de que as coisas iam correr de modo muito diferente. E que, quando tudo começou a correr mal, nunca pensaram que houvesse tantas dificuldades na retirada.

O filme é sobretudo um filme um bocado de anti-heróis
(por exemplo os "miúdos" que estavam mesmo na guerra estavam-se completamente marimbando para ela e, só queriam sair dali da maneira que pudessem, mesmo desertando)
. O velhote do barco e o filho dele quando retiram o aviador da água...
percebe-se perfeitamente que ele está completamente destruído, e quer tudo menos voltar para lá. Um bocado como o miúdos, que só queriam sair de lá do modo que pudessem.
A música para mim é constante e um bocado "anónima", como são constantes os "anónimos", que são quem realmente faz a grande parte da guerra. A ideia dos "heróis" e dos grandes feitos heróicos, não desmerecendo quem os praticou cheio de ideais (segunda consta foi o caso de Churchill, que serviu na frente na Primeira Grande Guerra), é uma perfeita propaganda sobretudo utilizada pelos políticos gordos, que servem as grandes indústrias de armamento onde são por vezes até accionistas. A verdade da guerra é como está gravada nalguns Zippo's: "War is Hell". Tive oportunidade de ler Sven Hassel sobretudo na minha juventude, um dissidente alemão que foi incorporado nos tanques, numa companhia de blindados na frente alemã num batalhão disciplinar, que mais tarde escreveu alguns livros sobre isso, e a imagem que ele dá dos próprios alemães é que a nível dos soldados estava tudo mais do que farto, com um cansaço enorme e muita falta de condições. E também verdade que a guerra é um cenário ideal para que animais disfarçados de humanos possam impunemente praticar os maiores crimes, tanto a nível de soldados, como de oficiais. E de Chancelers, claro. Isto do lado alemão, mas acho que é um pouco assim em todo o lado, pois a barbárie e a falta de consciência são infelizmente transversais. As bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki para mim foram um dos maiores crimes feitos contra a Humanidade. A nossa própria guerra colonial, onde o meu Pai combateu (praticamente só o conheci quando tinha 5 anos) foi um desperdício enorme de vidas em vão.

Mas voltando ao filme, caramba! O filme é para mim um filme sobre a maior parte das pessoas que têm que travar uma guerra, que por qualquer razão se vêm envolvidos numa. A maior parte dessas pessoas passa anónima, embora a maior parte dos filmes de guerra tenha sempre geralmente os heróis de serviço e as melodias que ficam no ouvido, como a cavalgada das Valquírias, o cheiro a Napalm pela manhã, e todas essas coisas. Mas a maioria das pessoas quando se vê envolvida naquele inferno quer é passar despercebida e sair dali o mais depressa possível, pois percebe depressa a insanidade e a violência imbecil de tudo aquilo. A personificação do Mal no "outro" tem, ou devia ter, um efeito de espelho: os outros somos nós próprios.

O filme para mim é pois sobre os não-heróis na maioria. Os miúdos que vão geralmente para o combate, são comandados por alguns oficiais que até podem ser boas pessoas, mas que por causa da carreira e por que têm família têm que cumprir a obrigação deles, e por outros que são uns desequilibrados completos, sociopatas que aproveitam a guerra e posições de comando para poderem fazer e mandar fazer coisas "legalmente" e que, se porventura não fosse o contexto de guerra, seriam criminosos perigosos. Sempre achei que dos criminosos mais perigosos são aqueles que praticam crimes estando do lado da "Lei"... na tropa ou na polícia. Quando vejo imagens recentes como as que se passaram em Barcelona, de polícia de choque a arrastar pelo cabelo mulheres grávidas, e a dar bastonadas em velhos desarmados no chão (essas coisas também se passam cá como sabem)...bom, esse para mim é o tipo de criminoso que foi esperto para se alistar na polícia.

Apre, entusiasmo-me sempre. :-( Então resumindo, eu gostei muito do filme, e por acaso quero vê-lo novamente daqui a uns meses, quando puder comprar o digibook que vai sair cá.

Acho que como disse o "Dunkirk" é um filme atípico em termos de filmes de guerra, que se debruça sobretudo sobre os "derrotados", em termos físicos e psicológicos. Expõe perfeitamente a meu ver a futilidade e as condições inacreditáveis em que se põem miúdos num cenário daqueles. Os "vivas" que alguns passageiros lhes oferecem no final quando vão no comboio, se calhar na Alemanha passava-se na altura a mesma coisa. E tanto uns como outros para mim são indicadores de uma tristeza absoluta em termos humanos. É que aqueles miúdos andaram a matar outros miúdos iguais a eles. É de uma enorme falta de consciência em termos de sociedade e em termos políticos. Mas os maiores culpados são sempre para mim os políticos e os homens de "negócios". E dos cidadãos que não exercem os direitos de cidadania de um modo esclarecido, impedindo gente anormal de ascender politicamente a cargos onde faz regredir a Humanidade anos. Infelizmente, nada disto parece mudar com o tempo. Lembro-me sempre do vídeo dos Frankie Goes To Hollywood, da música "War", onde eles colocaram o governante americano e o russo num ringue a lutarem um contra o outro. Era mesmo assim que devia ser. O lugar dos miúdos é na escola, não na guerra.

Na minha opinião o Nolan fez mais um grande filme. Um exercicio estético e para mim muito intimista, absolutamente fabuloso, e um filme de "guerra" diferente e por isso para mim não comparável aos mesmos de sempre, que continuam no mesmo pedestal há anos.

Fico muito curioso relativamente ao que o Christopher Nolan escolherá para próximo projecto.
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by technicolor »

Cabeças wrote: December 15th, 2017, 4:38 am Vivam,

Ando sempre um bocado atrasado relativamente aos filmes, de modo que só agora escrevo, pois vi o "Dunkirk" há 2 dias e tive tempo para pensar sobre ele.

Confesso que quando soube que o Chris Nolan ia fazer um filme de guerra, fiquei muito desiludido, pois é um realizador de que gosto muito e filmes de guerra... há milhares. Na altura lembro-me de ter pensado que preferia que se mantivesse na Ficção-Científica, pois para mm o Inception e o Interstellar são fabulosos, ou em filmes como o "The Prestige", de que também gostei imenso... ou abraçasse uma nova trilogia, como fez com o Batman. Para mim o filme dele que realmente não me tocou foi o "Insomnia", mas apenas o vi uma vez há 15 anos, está mais do que na altura de fazer um segundo visionamento. Mas quanto ao "Dunkirk"...

Estava realmente com muita expectativa acerca do filme. Sinceramente, posso dizer-vos que gostei muito. E acho que gostei ainda mais porque já há anos que me fartei um bocado de filmes de guerra e deste gostei francamente.

Para mim este não é um filme de guerra "normal", é um filme que é um bocado uma espécie de documentário que nos é apresentado com já foi referido em três contextos diferentes (terra, mar e ar) e que nos ajudam a seguir e compreender a história, ou pelo menos parte dela. Não acho também que seja um filme de "heróis", ou um filme onde haja um qualquer "alpha dog"... ou dois, como no "Platton"
O próprio piloto que é um autêntico herói é capturado no final e possivelmente executado.
E acho que este filme não pode ser comparado também ao "Saving Private Ryan" do Spielberg. Não porque seja melhor ou pior, mas apenas porque para mim não se podem comparar (ou não devem comparar-se) coisas incomparáveis. São abordagens, sensibilidades e modos de contar uma história completamente diferentes. A única coisa em comum é apenas um cenário de guerra.

Achei o "Dunkirk" fabuloso em termos de concepção estética. O filme tem imagens que ainda não me saíram da mente e que penso que vão permanecer muito tempo na minha memória. Aos 90 minutos, as imagens do avião com os motores desligados a planar ao longo da costa com as casas em plano de fundo é das coisas mais bonitas e tocantes que vi no Cinema até hoje. Acredito que estivesse nesse momento mesmo completamente "imerso" no filme, mas achei esse momento incrível em termos cinematográficos. Em termos técnicos, em termos de planos enquadramentos, de fotografia, de banda sonora, achei o filme fabuloso. Concordo que não há uma música que fique se calhar na memória, mas o filme tem a particularidade de na minha opinião ter a música a fazer parte integrante do filme de um modo como se calhar não tinha "sentido" até hoje, ajudando a construir o ambiente de um modo omnipresente. E penso que era esse o objectivo, mais do que fornecer uma melodia que "ficasse no ouvido".

Também penso que o facto de não nos lembrarmos se calhar de uma personagem ou duas que tivessem sido particularmente carismáticas, se calhar tal como se passa na música, é propositado. É que embora a música esteja sempre presente, tal como a maioria das personagens, o filme para mim versa sobretudo sobre desencanto. De pessoas que pensavam que se calhar eram heróis. Que estavam na maioria convencidas de que as coisas iam correr de modo muito diferente. E que, quando tudo começou a correr mal, nunca pensaram que houvesse tantas dificuldades na retirada.

O filme é sobretudo um filme um bocado de anti-heróis
(por exemplo os "miúdos" que estavam mesmo na guerra estavam-se completamente marimbando para ela e, só queriam sair dali da maneira que pudessem, mesmo desertando)
. O velhote do barco e o filho dele quando retiram o aviador da água...
percebe-se perfeitamente que ele está completamente destruído, e quer tudo menos voltar para lá. Um bocado como o miúdos, que só queriam sair de lá do modo que pudessem.
A música para mim é constante e um bocado "anónima", como são constantes os "anónimos", que são quem realmente faz a grande parte da guerra. A ideia dos "heróis" e dos grandes feitos heróicos, não desmerecendo quem os praticou cheio de ideais (segunda consta foi o caso de Churchill, que serviu na frente na Primeira Grande Guerra), é uma perfeita propaganda sobretudo utilizada pelos políticos gordos, que servem as grandes indústrias de armamento onde são por vezes até accionistas. A verdade da guerra é como está gravada nalguns Zippo's: "War is Hell". Tive oportunidade de ler Sven Hassel sobretudo na minha juventude, um dissidente alemão que foi incorporado nos tanques, numa companhia de blindados na frente alemã num batalhão disciplinar, que mais tarde escreveu alguns livros sobre isso, e a imagem que ele dá dos próprios alemães é que a nível dos soldados estava tudo mais do que farto, com um cansaço enorme e muita falta de condições. E também verdade que a guerra é um cenário ideal para que animais disfarçados de humanos possam impunemente praticar os maiores crimes, tanto a nível de soldados, como de oficiais. E de Chancelers, claro. Isto do lado alemão, mas acho que é um pouco assim em todo o lado, pois a barbárie e a falta de consciência são infelizmente transversais. As bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki para mim foram um dos maiores crimes feitos contra a Humanidade. A nossa própria guerra colonial, onde o meu Pai combateu (praticamente só o conheci quando tinha 5 anos) foi um desperdício enorme de vidas em vão.

Mas voltando ao filme, caramba! O filme é para mim um filme sobre a maior parte das pessoas que têm que travar uma guerra, que por qualquer razão se vêm envolvidos numa. A maior parte dessas pessoas passa anónima, embora a maior parte dos filmes de guerra tenha sempre geralmente os heróis de serviço e as melodias que ficam no ouvido, como a cavalgada das Valquírias, o cheiro a Napalm pela manhã, e todas essas coisas. Mas a maioria das pessoas quando se vê envolvida naquele inferno quer é passar despercebida e sair dali o mais depressa possível, pois percebe depressa a insanidade e a violência imbecil de tudo aquilo. A personificação do Mal no "outro" tem, ou devia ter, um efeito de espelho: os outros somos nós próprios.

O filme para mim é pois sobre os não-heróis na maioria. Os miúdos que vão geralmente para o combate, são comandados por alguns oficiais que até podem ser boas pessoas, mas que por causa da carreira e por que têm família têm que cumprir a obrigação deles, e por outros que são uns desequilibrados completos, sociopatas que aproveitam a guerra e posições de comando para poderem fazer e mandar fazer coisas "legalmente" e que, se porventura não fosse o contexto de guerra, seriam criminosos perigosos. Sempre achei que dos criminosos mais perigosos são aqueles que praticam crimes estando do lado da "Lei"... na tropa ou na polícia. Quando vejo imagens recentes como as que se passaram em Barcelona, de polícia de choque a arrastar pelo cabelo mulheres grávidas, e a dar bastonadas em velhos desarmados no chão (essas coisas também se passam cá como sabem)...bom, esse para mim é o tipo de criminoso que foi esperto para se alistar na polícia.

Apre, entusiasmo-me sempre. :-( Então resumindo, eu gostei muito do filme, e por acaso quero vê-lo novamente daqui a uns meses, quando puder comprar o digibook que vai sair cá.

Acho que como disse o "Dunkirk" é um filme atípico em termos de filmes de guerra, que se debruça sobretudo sobre os "derrotados", em termos físicos e psicológicos. Expõe perfeitamente a meu ver a futilidade e as condições inacreditáveis em que se põem miúdos num cenário daqueles. Os "vivas" que alguns passageiros lhes oferecem no final quando vão no comboio, se calhar na Alemanha passava-se na altura a mesma coisa. E tanto uns como outros para mim são indicadores de uma tristeza absoluta em termos humanos. É que aqueles miúdos andaram a matar outros miúdos iguais a eles. É de uma enorme falta de consciência em termos de sociedade e em termos políticos. Mas os maiores culpados são sempre para mim os políticos e os homens de "negócios". E dos cidadãos que não exercem os direitos de cidadania de um modo esclarecido, impedindo gente anormal de ascender politicamente a cargos onde faz regredir a Humanidade anos. Infelizmente, nada disto parece mudar com o tempo. Lembro-me sempre do vídeo dos Frankie Goes To Hollywood, da música "War", onde eles colocaram o governante americano e o russo num ringue a lutarem um contra o outro. Era mesmo assim que devia ser. O lugar dos miúdos é na escola, não na guerra.

Na minha opinião o Nolan fez mais um grande filme. Um exercicio estético e para mim muito intimista, absolutamente fabuloso, e um filme de "guerra" diferente e por isso para mim não comparável aos mesmos de sempre, que continuam no mesmo pedestal há anos.

Fico muito curioso relativamente ao que o Christopher Nolan escolherá para próximo projecto.
Excelente! Exactamente o comentário que eu gostaria de ter tido a capacidade, a paciência e a "coragem" de ter escrito e não fui capaz. yes-)

Dunkirk não é apenas mais uma superprodução de guerra, é uma "visão pessoal" de Nolan (com um forte pendor antibelicista) sobre a coragem e o medo dos homens anónimos, não a guerra dos grandes, generais e políticos. Um magnífico "ensaio cinematográfico" sobre a tragédia de Dunquerque em 1940. Poderá até ter alguma imprecisões, que eu encaro mais como liberdades criativas de autor mas que são perfeitamente compreensíveis tal como as de Coppola no seu genial Apocalypse Now.
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by Cabeças »

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Uma das muitas imagens para mim belíssimas em termos cinematográficos, esta à 1.30 minutos de filme. A edição em digibook é fabulosa. E o som e a imagem são fantásticos. Adorei também as quase duas horas de extras. Um óptimo filme e para mim indiscutivelmente uma das melhores edições do ano.
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by Samwise »

Sobre as questões acerca da futilidade e vergonha da guerra que o Cabeças levanta, anda aí um livrito no mercado que dá pelo nome de "Porquê a Guerra?" (está disponível por exemplo na Bertrand) e tem por intervenientes principais Albert Einstein e Sigmund Freud, divulgando uma breve troca de ideias que ocorreu sobre o assunto entre estes dois génios pensadores da idade moderna.
Sinopse
Obra clássica sobre o pensamento e a natureza humana. Em 1931, o Instituto para a Cooperação Intelectual convidou Einstein, já então um físico reconhecido, para iniciar uma troca de ideias, sobre a natureza humana, política, guerra e paz, com alguém cuja dimensão intelectual e trabalho merecessem a admiração do próprio Einstein. O criador da teoria da relatividade, ainda que reticente acerca da psicanálise, escolheu Freud. O resultado está neste livro, que permite um lugar privilegiado para observar de perto o diálogo, os pensamentos e as argumentações de dois cérebros que marcaram a História e cujas ideias são ainda influentes no nosso tempo. Esse diálogo escrito, sobre os instintos violentos do homem, as enfermidades sociais ou os poderes do Estado, começaria com uma inquietação de Einstein: "Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra?"
Quem quiser poupar uns trocos, pode ler integralmente as mensagens online.


O Cabeças escreveu:
É de uma enorme falta de consciência em termos de sociedade e em termos políticos. Mas os maiores culpados são sempre para mim os políticos e os homens de "negócios". E dos cidadãos que não exercem os direitos de cidadania de um modo esclarecido, impedindo gente anormal de ascender politicamente a cargos onde faz regredir a Humanidade anos. Infelizmente, nada disto parece mudar com o tempo.
E o Einstein escreveu, logo no início da correspondência:
I am convinced that almost all great men who, because of their accomplishments, are recognized as leaders even of small groups share the same ideals. But they have little influence on the course of political events. It would almost appear that the very domain of human activity most crucial to the fate of nations is inescapably in the hands of wholly irresponsible political rulers.

Political leaders or governments owe their power either to the use of force or to their election by the masses. They cannot be regarded as representative of the superior moral or intellectual elements in a nation. In our time, the intellectual elite does not exercise any direct influence on the history of the world; the very fact of its division into many factions makes it impossible for its members to cooperate in the solution of today's problems.
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drakes
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by drakes »

Achei o melhor do filme o final que tem belas imagens, som perfeito, a parte técnica é muito apurada, mas não penso ser um grande filme de guerra, mesmo assim vale assistir.
joao.sampaio.165
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Re: Dunkirk (2017) - Christopher Nolan

Post by joao.sampaio.165 »

Vi ontem este filme.
Gostei muito!
Tecnicamente irrepreensível, imagens tiradas em vôo espectaculares, parecia que estávamos dentro da acção. Curiosamente não conhecia nada acerca do resgate dos soldados em Dunkirk e pelo que percebi do trailer também o filme do Churchill aborda esse episódio.
O Christopher Nolan é um realizador excepcional, neste filme centrou-se neste episódio da história e não quis aprofundar muito personagens, acho que ficou bem, não se individualizou muito quando houve tantos heróis. Gostei de saber que usaram barcos verdadeiros que em 1940 foram protagonistas.
Acho que este filme tem tudo para ganhar vários óscares a nível técnico. Quanto a melhor filme talvez não seja fácil porque não vemos interpretações memoráveis nem o argumento apresenta grande complexidade.

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