Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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JoséMiguel
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Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

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Image

https://en.wikipedia.org/wiki/Private_V ... _Pleasures

Ficha técnica em construção.

O filme é uma co-produção entre a Jugoslávia e a Itália, com um realizador húngaro.

O meu trailer musical amador:

Last edited by JoséMiguel on November 2nd, 2016, 1:46 am, edited 3 times in total.
JoséMiguel
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1975) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

Diário de Bordo - Curiosidades interessantes, à medida que as vou descobrindo

Irei utilizar o campo desta mensagem nº 2, para o ir editando à medida que descubro pormenores interessantes, durante a minha investigação arqueológica de cinema, através de textos traduzidos do italiano, alemão, húngaro e mais tarde dos idiomas da ex-Jugoslávia.

1) Em 1976, o realizador húngaro Miklós Jancsó foi condenado a 4 meses de prisão em Itália pelo crime de pornografia, devido a este filme. Mais tarde ele interpôs recurso e a pena foi revogada.

fonte em alemão: https://de.wikipedia.org/wiki/Die_gro%C3%9Fe_Orgie

2) Uma das actrizes secundárias deste filme é a Cicciolina, aqui com 26 anos de idade, antes dela ser actriz porno nos anos 80.

3) O personagem principal do filme é o príncipe herdeiro Rudolfo do Império Austro-Húngaro:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodolfo,_ ... 3%81ustria

3b) O filme baseia-se numa teoria de conspiração, que só foi resolvida em 31 de Julho de 2015, ao serem tornadas públicas umas cartas depositadas num cofre dum banco austríaco em 1926, e só agora descobertas:

https://en.wikipedia.org/wiki/Mayerling_Incident

Informação ainda não actualizada na versão portuguesa do artigo no wikipedia.

Comentário: A minha pesquisa está a ser muito complicada, mas muito divertida ao mesmo tempo. Estou também a preparar um trailer musical fan-made com nudez (a fotografia do filme é lindíssima). Eu tropecei num excerto no You Tube, para espreitarem, enquanto não faço o meu trailer:

Last edited by JoséMiguel on April 8th, 2016, 1:02 am, edited 1 time in total.
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1975) - Miklós Jancsó

Post by waltsouza »

JoséMiguel wrote:(...) durante a minha investigação arqueológica de cinema, através de textos traduzidos do italiano, alemão, húngaro e mais tarde dos idiomas da ex-Jugoslávia.
É sempre bom um fórum de cinema ter o seu "arqueólogo" que nos presenteia com os seus textos e as suas descobertas cinematográficas. :-)
Cada vez fico mais com a ideia que tu és o "arqueologo" deste fórum ou pelo menos desta sub-sessão. Cá espero por essas descobertas. Ah, o titulo deste filme não é me estranho, já o ouvi anteriormente, não sei onde, nem quando. :wink:
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1975) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

Obrigado Walt, o título não te é estranho porque é este o famoso filme, com que partimos a cabeça a tentar descobrir, no tópico da ajuda para descobrir o título. Vi o filme hoje e posso garantir que é mesmo o filme procurado pelo amigo do Cabeças.

Ainda estou um bocado espantado com o que vi, e ainda não assentei bem as ideias. Posso dizer que este filme merece o meu esforço, porque no tribunal italiano o juiz suspendeu a pena de prisão ao realizador húngaro, por considerar que o filme tinha grande qualidade artística, e assim a liberdade moral do cinema deu mais um passo histórico gigante, a nível de legislação, liberdade e descriminalização. É com filmes destes que o cinema avança e não com certo "lixo italiano erótico exploitation" (depois explico o que quis dizer com esta expressão feia). salut-) yes-)

O filme foi proibido na Hungria comunista, até ao colapso da URSS, mas a RTP 2 passou o filme em Portugal nos anos 80. Parabéns à RTP 2. yes-)

Esteve também uns meses proibido em Itália, quando o realizador foi condenado a prisão em 1976. Quanto à Jugoslávia, ainda não li nada. :-(
Last edited by JoséMiguel on April 8th, 2016, 1:01 am, edited 1 time in total.
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1975) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

Ainda não fiz o meu trailer musical amador, mas carreguei um vídeo de choque no meu canal do You Tube, com um excerto do filme.

Isto poderá chocar algum leitor desprevenido do fórum, uma vez que ainda nem escrevi a minha apresentação ou análise deste belo filme.

Por um lado irão ver a baronesa Maria Alexandrina de Vetsera, caracterizada como hemafrodita em total nudez frontal, na primeira parte do clip, e depois irão vê-la a sodomizar o general que veio prender o príncipe Rudolfo, por ordem de sua majestade, seu pai. Isto trata-se de uma abordagem pseudo-intelectual da senhora argumentista italiana Giovanna Gagliardo, de um filme pago por produtores italianos. Já o meu pai dizia quem "Quem paga a banda é que escolhe a música."

Por outro lado temos um realizador húngaro de grande prestígio, junto com um director de fotografia jugoslavo com ainda mais prestígio, ambos grandes mestres das artes e técnicas do cinema, a fazerem o melhor que podem ao serviço dos patrões italianos.

O resultado é o vídeo seguinte, muito chocante a nível moral de 1976, mas muito bonito e poético. A música é uma versão da canção infantil "Twinkle Twinkle Little Star" ("Brilha, brilha lá no céu... A estrelinha que nasceu"), cujo melodia é de origem francesa do século XVIII, e o próprio Mozart fez arranjos musicais a partir dela. Nesta versão do filme, dobrada em inglês, eles cantam acerca da ovelha Babá que dá lã para o imperador e para a sua dama, que encaixa muito bem no contexto da cena.



É assim que um realizador foi condenado a 4 meses de prisão, mas interpôs recurso em tribunal, e devido à qualidade do filme, mudaram-se as leis e as mentalidades da Europa, neste caso na Itália de 1976. Eu ainda digo mais, se este fosse um daqueles filmes italianos maus de exploitation (filmes da treta sem qualidade), provavelmente o juiz do processo de recurso, mandava mesmo o realizador para a prisão. :wink: :roll:

PS: Tive de editar todas as minhas mensagens anteriores, mas apenas para corrigir o ano (1976 e não 1975).
Last edited by JoséMiguel on November 2nd, 2016, 1:47 am, edited 1 time in total.
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by waltsouza »

Este filme pelo vistos passou muito recentemente na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

http://39.mostra.org/br/filme/7451-Vici ... s-Publicas

Um facto interessante que eu não reparei se já referiste é que este filme foi nomeado à "Palm D'Or" do Festival de Cannes em 1976. :wink:
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

waltsouza wrote:(...)Um facto interessante que eu não reparei se já referiste é que este filme foi nomeado à "Palm D'Or" do Festival de Cannes em 1976. :wink:
Hehehe! Essa foi logo das primeiras coisas que me saltou à vista (filtro contra lixo exploitation italiano), no tópico de ajuda para identificar o filme. Mas eu aqui ainda nem fiz a ficha técnica em condições... e ainda não referi esse aspecto muito interessante.

Na verdade estou a fazer este tópico um bocado de pernas para o ar, a meter a carroça à frente dos bois. Na verdade nem posso começar a escrever uma crítica sem saber o que se passou na Jugoslávia (um dos países criadores do filme). Se na Itália o realizador foi condenado à cadeia, e na Hungria o filme foi proibido por motivos morais, o que se terá passado na Jugoslávia, onde nem sequer existe tópico do wikipedia? o-(

Mas eu já fiz um intervalo sobre este filme, porque já li informação a mais, e preciso de descansar uns dias até voltar a pegar nele. :-?

Mas fiz questão de mostrar o clip chocante da mensagem anterior, que sei que mexe com os limiares da tolerância da moral (lógica de não pornografia) do DVD Mania, mas tendo em conta o que já referi do filme, julgo que não haverá problema, devido à importância histórica e jurídica (alteração de leis de cinema) do filme.

Eu confesso que o meu clip seria um bocado perigoso, e poderia ser banido se fosse postado por um membro novo, armado em palhaço a dizer "Olhem! Vejam este vídeo com mulheres nuas, porque sim!".

Mas vindo de mim, acho que o Rui Santos estará à vontade em assumir que eu usarei o bom senso. oops:) Há dois anos atrás existiu uma troca de palavras entre mim e o Rui Santos, acerca de um mostrar nudez explícita, por causa do filme japonês Utamaro, em que criei um vídeo com o desenhador a deitar cera quente sobre os mamilos da actriz. Mas cada filme é um caso e este é mesmo muito perigoso nesse aspecto de futuros screenshots que eu venha a postar (ainda não criei nenhum).

O que é curioso e merecedor de mérito, é que a qualidade é tanta, que serviu para o juiz de recurso anular a pena de prisão do realizador em 1976, e pela mesma lógica, alguma imagem ou clip esquisito que eu pretenda mostrar aqui, poderá ser aceite apenas devido à qualidade do filme... :-D
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by waltsouza »

JoséMiguel wrote:
Eu confesso que o meu clip seria um bocado perigoso, e poderia ser banido se fosse postado por um membro novo, armado em palhaço a dizer "Olhem! Vejam este vídeo com mulheres nuas, porque sim!".

Mas vindo de mim, acho que o Rui Santos estará à vontade em assumir que eu usarei o bom senso. oops:) Há dois anos atrás existiu uma troca de palavras entre mim e o Rui Santos, acerca de um mostrar nudez explícita, por causa do filme japonês Utamaro, em que criei um vídeo com o desenhador a deitar cera quente sobre os mamilos da actriz. Mas cada filme é um caso e este é mesmo muito perigoso nesse aspecto de futuros screenshots que eu venha a postar (ainda não criei nenhum).
Por mim estás à vontade. Eu também já meti por aqui trailers de filmes de terror bastante violentos, de violência extrema, e tenho a perfeita noção que podem existir pessoas que não se sintam bem a vê-los. Aquilo que cabe a cada um de nós fazer, se acha que o deve fazer, é avisar que o conteúdo do trailer (ou do vídeo que for) é explicitamente forte (mostre ele nudez ou violência) e que pode ferir a sensibilidade de alguém por aqui.

Somos todos adultos aqui dentro, a partir daí só vê mesmo quem quer (ou quem estiver no mínimo curioso :badgrin: ). Se criarmos um aviso deixamos essa responsabilidade à consciência de cada um. Nós sabemos que a violência e a nudez (ou mesmo o sexo explícito) chegam-nos de forma graficamente forte em diversos filmes, e não é necessário que sejam filmes de terror "underground" ou do cinema a descambar para o porno.

Eu não sou a favor da censura, e tenho a certeza que o Rui Santos também não é, reconheço que por vezes é preciso ter um certo cuidado, porque realmente existem certo tipo de filmes que andam a tocar as fronteiras entre o que se pode mostrar, e aquilo que pode começar a resvalar para a "gratuitidade" das cenas. O problema é que se começamos a escolher o que, dentro de um cinema dito "normal", pode ser mostrado, e não pode ser mostrado, mais um pouco e atravessamos o caminho para a censura.

Desde que não apareçam por aqui cenas de filmes porno "Hard-Core - 1º Escalão", quase tudo o resto é permitido (acho eu). Convém é por vezes deixar um aviso, mas isso já parte de nós, e se achamos que determinada cena pode chocar a sensibilidade de alguém. :wink:
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

O meu trailer musical

Estou a carregá-lo na ficha técnica (mensagem nº 1 deste tópico), e poderão vê-lo lá.

Nesta mensagem venho escrever alguns comentários "à Zé", acerca da cinematografia desse trailer.

Um pormenor que reparei, foi que na versão alemã do wikipédia, o autor do texto de apresentação indica que este filme não possui a famosa cinematografia com planos extra-longos e de grande coreografia do realizador Miklós Jancsó. Eu conheço bem esse método de filmagem da famosa encenação a 360º do cinema soviético, e já antes de eu ter tropeçado neste filme italiano erótico, tinha mostrado essa famosa e mítica técnica de filmagem e encenação , num filme anterior deste realizador:

viewtopic.php?f=11&t=50814

(aproveitem existir um portuga que faz clips do cinema soviético, pois caso contrário, não teriam oportunidade de observar as técnicas de cinema soviético, sem terem de ver o filme todo. Isto porque normalmente não existem trailers).

No caso deste filme, o realizador húngaro Miklós Jancsó, estava sem o seu cameraman ou director de fotografia habitual e teve de trabalhar com um cameraman jugoslavo... Mas alto aí, porque os cameramen (ou directores de fotografia) jugoslavos eram também profissionais de cinema com formação da técnica soviética.

No caso concreto do meu humilde trailer, o meu vídeo não é mais do que uma simples composição da abertura, acompanhada com músicas do Tamás Cseh, compositor da banda sonora original do filme, de que eu andei à procura. Na verdade demorei mais tempo a procurar as músicas húngaras, do que a editar as cenas de vídeo. Este filme tem uma componente poética audiovisual muito forte, que quase só funciona com as músicas deste compositor húngaro.

Image
Tamás Cseh (1943-2009)

https://en.wikipedia.org/wiki/Tam%C3%A1s_Cseh

Destaques cinematográficos no meu trailer:

- A cena com as folhas das árvores, ao início, quando surge o crédito do nome do realizador
- As cenas com o guarda-sol.
- Tracking shot com a bicicleta de dois lugares

Isto ainda não é a tal crítica cinematográfica que pretendo escrever, mas chamo a atenção para o fidalgo do Delfim (Delfim é o Príncipe destinado a ser Rei) filho do Imperador do Império Austro-Húngaro, que aparece aqui todo nú, a fumar um belo charuto, com a banda a tocar, na sua herdade de caça particular. Temos logo aqui um bom assunto para a minha futura crítica e análise histórica e política do filme e dos eventos em que se baseia. yes-) :roll: :wink:

Vou repetir aqui o meu trailer da ficha técnica, tendo em conta o tamanho do comentário e quantidade de observações:

Last edited by JoséMiguel on November 2nd, 2016, 1:47 am, edited 1 time in total.
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

A minha opinião: Parte I

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Gostei muito deste filme, em particular pelos aspectos artísticos-poéticos da excelente fotografia e música. O género primário deste filme é a sátira social e política, tal qual o filme Marie Antoinette de 2006, realizado pela Sophia Coppola, que é o filme mais parecido com este que conheço, e de que também gostei.

Image

https://en.wikipedia.org/wiki/Marie_Ant ... 06_film%29

Ambos os filmes são da corrente de cinema pseudo-intelectual, na medida em que no Marie Antoinette os personagens comportam-se como meninas adolescentes norte-americanas da década de 1980, ao passo que neste Vizi privati, pubbliche virtù os personagens comportam-se como doentes mentais que tomaram conta do manicómio. Mas tirando esses aspectos, em ambos os filmes o resto da história desenvolve-se com lógica.

Eu pessoalmente não aprecio qualquer tipo de pseudo-intelectualidade (falta de lógica), mas rapidamente ultrapasso esse aspecto, perante a qualidade artística de ambos os filmes, que no fundo acabam por ser uma sucessão de tele-discos musicais muito bonitos e originais, que é pura poesia audiovisual.

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Ambos os filmes possuem um background histórico verdadeiro e cada um tem a sua mensagem crítica a fazer, para terminar a minha comparação com o Marie Antoinette, que não possui qualquer nudez (mas que deveria possuir, tendo em conta o seu teor), a realizadora Sophia Coppola, que se pôde dar ao luxo de fazer um "filme de autor", optou por mostrar as donzelas da nobreza a comportarem-se como adolescentes fúteis de uma escola norte-americana de Beverly Hills da década de 1980 (o que me parece uma opção algo infanto-juvenil e pobrezinha por parte da realizadora).

Por outro lado este Vizi privati, pubbliche virtù foca o aspecto subversivo do herdeiro do Império Austro-Húngaro em desafiar as normas do politicamente correcto, que no fundo era uma alegoria contra as leis de censura de cinema na Europa, numa década (1970) em que o governo de França ainda censurava e proibia filmes por motivos morais (cineasta Joël Séria), e no caso deste filme, o próprio realizador foi preso pelo governo de Itália, pelo crime de pornografia.

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Enquadramento histórico

O protagonista deste filme era filho de um dos homens mais poderosos do mundo e de uma princesa dos contos de fadas, em que as mulheres portuguesas entram em delírio. Há vinte anos atrás, a minha namorada apareceu em minha casa com um conjunto de cassetes VHS portuguesas de venda directa, da saga da Imperatriz Sissi... ela explicou que tanto ela, como a mãe e a irmã deliravam com isso, e eu não teria outro remédio senão ver... por acaso adorei esse pacote de cassetes e hoje sei que são considerados os melhores filmes austríacos de sempre.

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Rodolfo de Habsburgo (Viena, 21 de agosto de 1858 — Mayerling, 30 de janeiro de 1889) foi o único filho do imperador Francisco José I da Áustria e da sua consorte, a imperatriz Sissi. Príncipe-herdeiro da Áustria, Hungria e Boémia

O Rudolfo era o herdeiro e único filho do Imperador Francisco José I da Áustria (1830-1916), ele suicidou-se com a amante em 1889, sob circunstâncias suspeitas, e devido a isso o herdeiro desse grande império passou a ser o Arquiduque Francisco Fernando, famoso dos livros de História portugueses do 9º ano de escolaridade:
A influência do imperador era tanta que em 1903 teve participação decisiva na eleição do papa Pio X, após vetar o nome do cardeal siciliano Mariano Rampolla del Tindaro.[1]

Governara praticamente por decretos até que, em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando foi morto num atentado em Sarajevo. Persuadido por um de seus ministros, Francisco José I consentiu em enviar um ultimato ao Reino da Sérvia. Foi declarada guerra à Sérvia (1914), o que desencadeou a Primeira Guerra Mundial. O Império Austro-Húngaro desmembrou-se e Francisco José I morreu, em 21 de novembro de 1916, dois anos antes de o seu império entrar em derrocada total, no castelo de Schönbrunn, onde nascera. O seu sucessor foi jovem imperador Carlos I, neto do seu irmão Carlos Luís.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco ... 3%81ustria
Portanto, se o protagonista não se tem suicidado, não teria ocorrido a 1ª Guerra Mundial.

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Tema do filme
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The Mayerling Incident is the series of events leading to the apparent murder–suicide of Crown Prince Rudolf of Austria (21 August 1858 – 30 January 1889) and his lover Baroness Mary Vetsera (19 March 1871 – 30 January 1889). Rudolf was the only son of Emperor Franz Josef I of Austria and Empress Elisabeth, and heir to the throne of the Austro-Hungarian Empire. Rudolf's mistress was the daughter of Baron Albin Vetsera, a diplomat at the Austrian court. The bodies of the 30-year-old Archduke and the 17-year-old baroness were discovered in the Imperial hunting lodge at Mayerling in the Vienna Woods, fifteen miles southwest of the capital, on the morning of 30 January 1889.[1]

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The death of the crown prince had momentous consequences for the course of history in the nineteenth century. It had a devastating effect on the already compromised marriage of the Imperial couple and interrupted the security inherent in the immediate line of Habsburg dynastic succession. As Rudolf had no son, the succession would pass to Franz Joseph's brother, Karl Ludwig and his issue, Archduke Franz Ferdinand.[1] This destabilization endangered the growing reconciliation between the Austrian and the Hungarian factions of the empire, which became a catalyst of the developments that led to the assassination of the Archduke and his wife Sophie by Gavrilo Princip, a Yugoslav nationalist and ethnic Serb at Sarajevo in June 1914 and the subsequent drift into the First World War.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Mayerling_Incident
Mais uma confirmação de que a morte do protagonista deste filme, colocou em marcha uma cadeia de eventos, que causou a 1ª Guerra Mundial.


- Intervalo para descanso. Fim da Parte I -


(Como curiosidade, vou colocar aqui um clip brasileiro de um filme anterior do Miklós Jancsó (com legendas PT-BR), que em 1972 lhe valeu o prémio de melhor realizador do Festival de Cannes. É um filme húngaro com mulheres nuas (muito relevante para esta crítica), de intervenção política contra o governo comunista da Hungria e contra a União Soviética. O Miklós Jancsó usou o dinheiro do estado, para fazer um filme de intervenção contra a ditadura do estado, à semelhança do cantor português Fernando Tordo, que em 1973 foi cantar a "Tourada" ao festival da Eurovisão.

Um gajo distraído (que não se foi informar ao Wikipedia e IMDB) olha para o clip e julgará que se trata de propaganda comunista, da mesma forma que a censura fascista portuguesa achou que a canção do Fernando Tordo era acerca de touros e touradas. No entanto cinema de intervenção contra ditaduras mono-partidárias comunistas não implica necessariamente que o realizador seja fan boy da ideologia de direita norte-americana, pelo pouco que li sobre o seu filme premiado de 1972, que eu ainda nem sequer vi, fiquei com a ideia de que o homem até era de esquerda, e apenas estava a criticar a corrupção do modelo de governo do bloco soviético e o sistema de ditadura mono-partidária, o que é diferente de ser uma marioneta do governo norte-americano. :-)



Por acaso estou a pensar em partilhar esta curiosidade naquele tópico novo do Anoni Mus, acerca de "filmes de esquerda", para que toda a gente veja e se aperceba, de que grande parte (da amostra que eu conheço) do cinema de leste eram intervenção contra os próprios governos e não se tratavam de nenhuma propaganda comunista. Por isso quando retomar a crítica deste filme (daqui a uns dias se conseguir), se calhar vou mover esta curiosidade para o tal tópico político:

viewtopic.php?f=11&t=50938

Se quiserem comentar o "Red Psalm" de 1972, façam-no nesse tópico (podem citar o que escrevi aqui). Eu irei apagar esta curiosidade (depois de a mover para outro local), quando começar a escrever a 2ª parte da crítica.)

PS: (Curiosidade nº 2) A mulher italiana argumentista deste filme Vizi privati, pubbliche virtù, era a esposa do realizador, e a profissão dela era jornalista. Irei colocar isto numa futura revisão das curiosidades na mensagem 2 deste tópico. Este pormenor é bastante importante numa co-produção entre a Itália e os países de Leste, e não me tinha apercebido desse pormenor. oops:) :-)
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

Não tenho nada de novo a acrescentar acerca deste filme, propriamente dito, mas gostaria de fazer uma análise e ponto de situação acerca da importância de filmes como este, e da forma geral como eu utilizo este exemplo aqui no fórum, para "combater" (manifestar a minha opinião contra) a opressão religiosa, em particular a opressão cristã norte-americana, que persiste e subsiste no cinema actual.

No caso deste filme, tudo o que eu sei e descobri, a nível de censura de cinema na Europa, já aqui foi exposto por mim, mas gostaria agora de cruzar alguma informação.

Em concreto, costumo utilizar o filme francês "Mais ne nous délivrez pas du mal" de 1971, como companheiro deste "Vizi privati, pubbliche virtù" de 1976, no meu ataque e defesa à censura governamental do cinema europeu. Estes são dois exemplos vergonhosos da censura europeia de cinema, mas cuidado ao julgarem que os norte-americanos eram ou são melhores, porque não são e o sistema/esquema (medieval) deles é muito mais grave e atenta mais contra a liberdade do ser humano. Falarei disso depois...

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No caso do filme de 1971 do realizador Joel Seria, este foi o documento oficial da censura do governo de França, e atenção que a França em 1971 não estava numa ditadura fascista como Portugal:

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Já não me recordo o que ofendeu o governo de França no filme do Joel Seria, não sei se terá sido o satanismo ou a sexualidade, mas tenha sido o que for, a proibição do filme foi revertida em tribunal, e se hoje em dia a França ousasse tentar proibir um filme como este, era logo multada pela União Europeia, fica um clip amador do filme em questão:



Mas para além destes dois incidentes na Itália em 1976 (tópico presente) e em França em 1971 (viewtopic.php?f=11&t=48894&p=597475), que nada têm a ver com os EUA, existem mais duas situações em que os EUA causaram grandes problemas, através de censura puritana moral e religiosa, em dois filmes que eu estou a tentar abordar, sendo um de 1979 (The Tin Drum / Die Blechtrommel) e outro de 2000 (Malèna), em que eu próprio tive de eliminar os meus clips de vídeo, por receio a um ataque religioso-policial pelo governo norte-americano à minha conta do You Tube ou Vimeo, em que me acusariam de crimes, que na Europa não são crimes, mas que em solo norte-americano poderá ser proibido existir clips do filme italiano do realizador Giuseppe Tornatore, nomeadamente apaguei o meu clip em que o rapaz adolescente "ia às meninas" no bordel italiano, por receio que os americanos (que mandam em Portugal, conforme demonstrado quando o ministro Paulo Portas proibiu o avião presidencial do presidente da Venezuela de abastecer em Portugal, por ordem do governo norte-americano, que comanda e controla o estado vassalo/marionete Portugal) me acusassem de algum crime religioso da idade média, pois eles não aceitam bem que um filme mostre um rapaz a ir às putas, como se fazia nos anos 1940.

Image

Já tenho um tópico incompleto para o filme Malena, que terei de desenvolver, mas podem verificar que houve chatice com os clips:

https://forum.dvdmania.org/viewtopic.ph ... 6&p=613167

Ainda não coloquei lá este meu clip por exemplo:



No caso do filme alemão "The Tin Drum", ainda não fiz tópico mas o que se passou foi que a polícia americana armou-se exactamente igual à S.S. e Gestapo da Alemanha Nazi, e foi aos clubes de vídeo investigar quem alugou a cassete VHS do filme, e fez uma rusga a casa dos clientes que tinham alugado o filme (multi-premiado nos Óscares e Cannes) e prendeu a malta que alugou a cassete do filme pro crime de pedofilia!!!! Que vergonha o ponto ao que chega o fanatismo religioso puritano norte americano!!! Acusam e prendem os clientes dos clubes de vídeo, que alugam um bom filme que ganhou a palma de ouro em cannes e um oscar, de serem pedófilos!!! É por isso que tenho medo de mostrar os meus clips da versão não censurada da Malena, os fanáticos religiosos americanos ainda mandam o ministro português (marioneta) dos negócios estrangeiros prenderem-me (já não é o Paulo Portas), se eu mostro clips da versão não-censurada da Malena!!! Grr:-) :!: o-( nails-)

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Wiki: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Tin_D ... Censorship
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

Vídeo-crítica criada há dois dias atrás.

Uma vídeo crítica de um filme como este é rara, na Europa dos anos 70 tentaram banir o filme e prender o realizador. E se agora, 40 anos depois, podemos ver um sujeito com o Blu-Ray na mão a falar do filme, temos de nos lembrar que em 1976 já tinha caído a ditadura de Salazar e Portugal tinha ficado livre de censura moral de cinema, já em Itália a questão nem se devia colocar, a partir do momento em que o Mussolini foi linchado nos anos 40.

Este sujeito tem um ar castiço estilo personagem do Scooby Doo dos anos 60/70, ou seja um hippie barbudo meio alucinado... pato-)



Vejam o vídeo, porque o homem gostou mesmo do filme, com grande apreciação, tal como eu! Ao minuto 2:00 ele diz: "Arthouse sexploitation film, based on this historical incident". Com o termo Arthouse concordo a 100%, mas não acho que isto seja exploitation, faltaria ao senhor autor da vídeo crítica, conhecer mais o background do realizador no bloco soviético, e ter noção da sentença a prisão efectiva decretada ao realizador, pelo tribunal italiano.
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

Com a cortesia do Xploited Forum, apresento-vos o póster português muito poderoso pela recomendação oficial da Comissão de Classificação de Espectáculos, em 1978, como sendo um "Filme de Qualidade - pelo seu alto valor cinematográfico":

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Este póster foi disponibilizado pelo membro TheMortician, a quem eu faço um especial agradecimento, autor de um livro, que é uma compilação de pósters, sinopses e fichas técnicas históricas, recolhida a partir de antigos anúncios de cinema na imprensa portuguesa. Segundo ele, o filme estreou em Portugal a 9 de Fevereiro de 1978.

BLOG do autor: http://voyeurdatela.blogspot.pt/

Ele carregou lá mais de uma centena de pósters portugueses, e eu já fui olhar para todos. :-) A melhor maneira de os ver é mesmo carregar em "mensagens antigas" e usar a roldana do rato para fazer scroll down.

Julgo que este destaque oficial dado pela Comissão de Classificação de Espectáculos portuguesa em 1978, poderá ser boa publicidade para alguém ir espreitar esta obra. :-P
NunoCalheiros
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

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Vai sair em Espanha em dvd e bd com legendas pt.


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Nuno Calheiros
JoséMiguel
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Re: Vizi privati, pubbliche virtù (1976) - Miklós Jancsó

Post by JoséMiguel »

NunoCalheiros wrote: May 8th, 2017, 8:25 am Vai sair em Espanha em dvd e bd com legendas pt.


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Formato: Subtitulado, Adulto
Audio: Italiano, Inglés, Español
Subtítulos: Español, Portugués, Inglés
Región: Región Libre
Relación de aspecto: 1.78:1
Número de discos: 1
Calificación española (ICAA): No recomendada para menores de 18 años
Estudio: Vértice Cine
Fecha de lanzamiento: 22 mayo 2017
Acho que em castelhano "Fecha de lanzamiento" é data de lançamento e não fecho em português. oh-)

Razões para adquirir o filme?

O realizador era um cineasta de leste, com formação técnica e artística no modelo soviético de Cinema, que foi preso em Itália por fazer este filme, o cineasta de leste foi julgado num tribunal italiano e condenado a termo de prisão efectivo pelo crime de Pornografia. Isto pode parecer estranho para um leitor português do século XXI que tem livro acesso, jurídico e moral, a sites pornográficos como o XHamster, RedTube, Nudevista e afins, mas os homens "antigos" que viviam na Europa na década de 1970 não gozavam do nosso privilégio.

Este foi literalmente o filme que fez mudar as leis anti-pornografia em Itália, com impacto jurídico, moral e artístico no resto da Europa e incluindo um Portugal com uma democracia jovem e com uma nova liberdade moral, fora do controle da ditadura de Salazar e da Santa Sé portuguesa que a protegiam.

Depois de ser considerado criminoso e sentenciado a uma pena de prisão, o realizador foi mais tarde absolvido num tribunal italiano de recurso, por um juiz italiano sensato que heroicamente considerou o filme como tendo elevada qualidade cinematográfica, e que anulou a sentença de prisão do realizador. Esse foi o momento-chave em que no ano de 1976, a Itália saiu da Idade das Trevas moral/religiosa que afligia o cinema europeu.



O Impacto em Portugal, no mês de Fevereiro de 1978 pode ser visto no poster português dessa época:

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