Há vários pontos aqui para abordar, sendo que pelo meio não queria perder de vista a questão inicial, que é se o BE o PCP são de esquerda ou de extrema esquerda (e onde fica a fronteira entre uma coisa e outra).No Angel wrote: ↑October 13th, 2017, 9:57 am Mas esse socialismo que o BE fala é o socialismo democrático europeu, nada tem a ver com ditadura... algumas pessoas parece que se assustam só de ouvir a palavra "socialismo", mas essa palavra tem muitos significados. No contexto atual (e dos últimos anos) referem-se a um socialismo democrático e dentro de uma economia capitalista. É o que a esquerda quer e defende, não é um socialismo comunista... até a China que supostamente é comunista apenas o é no nome, na prática é capitalista. Portanto eu acho que isto tudo é mais semântica que outra coisa sinceramente... o comunismo como sistema económico está morto e enterrado na Europa, e quando falam em socialismo, na prática é como referi na mensagem anterior, as normais medidas da esquerda: mais nacionalizações, maior distribuição da riqueza, impostos mais fortes pros mais ricos, etc, apenas com mais intensidade que um partido de centro-esquerda. Não são essas as medidas que separam a esquerda da direita?
Mas vamos teorizar que o BE ou o PCP conseguiam maioria absoluta no Parlamento: um mandado politico apenas tem 4 anos (o que pra mim não é suficiente pra destruir o capitalismo se esse fosse o objectivo, o que eu não acho que seja, pelo menos da parte do BE), e o Presidente pode dissolver o Parlamento a qualquer momento e convocar novas eleições se vir as coisas a desandar... portanto que hipóteses teriam, em teoria, o PCP e o BE de transformar Portugal num estado comunista em 4 anos (ou menos)? Nenhuma, e não existe nenhum suporte da população pra isso.
De resto, a Grécia por exemplo é governada pelo Syriza, que é um partido de esquerda tipo BE, e continua um país democrático que eu saiba... não houve nenhum ataque à democracia.
Eu acho que o problema aqui é que eu vejo a palavra socialismo com outros olhos, tu parece que ainda vês o socialismo como era no século passado, mas esse morreu na Europa.
Pegando em primeiro lugar na teorização de um cenário em que o PCP e ou BE chegavam ao poder em Portugal, com uma maioria no parlamento e um governo por sua conta.
Como tu, eu considero que as probabilidades de isso acontecer face à realidade tal como hoje a conhecemos são NULAS, mas ainda assim vale a penajoga este jogo de adivinhação, porque o que é verdade hoje, amanhã é um monte de pó, como a questão da Catalunha vem provar. Não interessa os acordos e compromissos, não interessa o que ficou decidido no passado, não interessa sequer se a forma como se ligitimam as coisas é suportada pela maioria da população catalã ou não, e a questão da Europa é para resolver depois, que primeiro estão os nossos interesses (nossos, dos partidos que estão no poder local, entenda-se).
Tu colocas a questão dos 4 anos de mandato e da hipótese de o presidente dissolver a assembleia e convocar novas eleições. Neste caso, tens de ter em conta que o povo foi soberano na escolha, e que o PCP e o BE, ao quererem afastar-se da democracia e do capitalismo, estariam apenas a cumprir o seu programa. Imagina então que o presidente convoca novas eleições e que o PCP e BE voltam a ganhar. Ao presidente restar-lhe-ia demitir-se. Ao novo presidente, restar-lhe-ia aceitar um governo que foi duas vezes seguidas eleito pelo povo. Agora, 4 anos dá para fazer muita coisa. Nem é necessário 4 anos. Uns meses basta para quebrar todos os acordos estabelecidos por anteriores governos, para cortar com o compromisso europeu e, se a maioria for grande o suficiente, para alterar a constituição de modo a subverter o modelo político e económico. Nem sequer é necessário muita coisa, porque a nossa constituição prevê uma caminhada em direcção ao socialismo. A meio dessa caminhada, e assim como quem não quer a coisa, os outros partido seriam ilegalizados e nos boletins de votos de todas as eleições "democráticas" passariam a haver apenas opções comunistas.
Mas é este o cenário que pretendemos, certo? Uma situação de hipótese em que o PCP e o BE teriam poder suficiente para levarem a cabo os seus programas e teriam o apoio da maioria do povo.
Na minha opinião, tal cenário representaria de facto o fim da democracia e do capitalismo em Portugal.
Em relação às interpretações da palavra socialismo, tens razão, há uma ambiguidade real e há vários contextos de uso que alteram significativamente a sua interpretação prática.
Eu interpreto "socialismo" em tudo o que é comunicação do BE e do PCP com base no modelo Marxista-Leninista, significando uma caminhada em direção o comunismo. Ou seja, acertas quanto dizes que eu vejo esse socialismo como sendo o do "século passado". Não tenho razões nenhumas para considerar que, neste contexto, o significado seja outro. Tenho a convicção que o BE e o PCP suportam mesmo esse modelo, embora com ligeiras variações estruturais (a ver com as várias linhas históricas em que o próprio comunismo se dividiu)
Mas já interpreto "socialismo" de modo diferente no caso do PS, Partido Socialista. O socialismo do PS não pretende avançar em direcção ao comunismo, e embora tenha um modelo econónimo fortemente baseado na intervenção estatal, permite a livre iniciativa e a propriedade privada dos meios de produção no contexto de uma economia de mercado, para além de conviver bem com a democracia e com eleições livres.
Voltando novamente à questão inicial - esta é a fronteira que separa a esquerda a extrema-esquerda. Se implemetnariam um modelo democrático+capitalista ou não. A meu ver não importa muito o que estão a fazer os dois partidos neste momento, no sentido em que isso não implica que alterem o modo de pensar. Tanto o BE como o PCP estão impedidos de impor as suas doutrinas, porque em minoria no parlamento. Apenas podem sugerir algumas medidas (que não alteram em nada o modelo económico estrutural), mas isso não significa que não sejam de extrema esquerda à mesma.
Imagina o PNR. Nem sequer pode propor nada porque não tem assento parlamentar. Mas isso não significa que não sejam de extrema direita.