Blade Runner (1982) - Ridley Scott

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No Angel
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Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by No Angel »

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Em primeiro lugar devo confessar a minha estranhesa por nao haver nenhum topico dedicado a este filme, pelo menos que eu tenha encontrado. Se houver, por favor apaguem este topico e movam esta mensagem para lá.

Vi hoje pela primeira vez este filme, a versão "final cut". Nao sei porque demorei tanto tempo a ver este filme, visto que ja sou fa do Alien ha bastante tempo, sendo um dos meus filmes favoritos. De qualquer modo, vi hoje o Blade Runner e adorei, é de facto um grande filme. Tem tantas coisas boas: a banda sonora fantastica de Vangelis, o guiao inteligente, a cinematografia, o ambiente, a recriaçao de um futuro bastante credivel, o ritmo do filme que esteve simplesmente no ponto certo – lento quanto tinha que ser, e rapido quando tinha que ser, o suspense, a ação, esteve tudo certo. Quase que podia dizer que é um filme perfeito, no entanto houve uma coisa que achei pouco credivel, e isso foi o final. Simplesmente nao tem sentido que o Roy tenha salvo o protagonista, tendo em conta que o estava a tentar matar minutos atras, e tendo tambem em conta que ja tinha matado mais que uma pessoa antes. Achei... conveniente. Claro que se pode racionalizar o porque de ele ter feito aquilo, mas nao sei, se alguem me der uma explicaçao razoavel ate agradeço.

Gostava tambem de falar um pouco sobre o protagonista. Ele nao é, de maneira nenhuma, um heroi, ao contrario da Ellen Ripley. A violencia da Ellen é dada em auto-defesa, ao contrario da do Deckard, que é deliberada, ele foi contratado para isso, e supoe-se que esteja a receber dinheiro para o fazer (visto ser esse o seu emprego). Nao e decadente que o emprego de alguem seja matar individuos, que sentem? Mete-me um bocado de medo que alguem o veja como heroi. Este individuo é um assassino e um violador. Claro que o mesmo se pode dizer de muitos dos herois de açao que por ai andam, sendo que a diferença é que ele nao e retratado como heroi neste filme. O Ridley nao o retratou de forma demasiado negra para nao aliener o publico (que normalmente esta do lado do protagonista) e tambem porque todo o filme é ambiguo (os maus nao sao tao maus, e os bons nao sao tao bons), no entanto as pistas estao todas la e so nao ve quem nao quer. Na verdade um dos grandes trunfos do filme é esta ambiguidade das personagens, estes cinzentos. Claro que e triste que no final a Rachel fique presa a este homem que a violou (embora ela secalhar nem perceba aquilo como isso, mas foi) simplesmente porque nao tem mais ninguem, e prefere isso a ser morta. Na verdade é um filme triste, acompanhado pela melancolica musica de Vangelis. Mas é uma obra prima do cinema, sem duvida nenhuma.

Aqui fica uma das deliciosas musicas da banda sonora:



Gostei muito deste filme, de facto. Aconselham a versao original?

Podem partilhar interpretaçoes sobre o filme, o que quiserem. Acho que este é o genero de filme que permite uma discussao bastante alargada.
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DarkPhoenix
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by DarkPhoenix »

Essa da "violação", nunca tinha ouvido. :-D
No Angel
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by No Angel »

DarkPhoenix wrote:Essa da "violação", nunca tinha ouvido. :-D
Mas é verdade, é tao explicito... so porque ela nao grita, so porque ele nao lhe bate, isso nao faz daquilo menos violaçao. Ela nao queria ter relaçoes com ele, e ele impede-lhe a saida. A seguir, ele começa a ordenar-lhe que ela diga para o beijar e nao sei que, e o que e suposto ela fazer? Tem que se ter em consideraçao que ela estava totalmente indefesa. Ela submete-se porque nao tem mais ninguem, ninguem a iria ajudar de qualquer forma. Para o resto das outras "pessoas" ela devia estar morta...
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by rui sousa »

Muito pelo contrário, este é um dos filmes mais discutidos no fórum até! :-D

Há uns meses vi a Final Cut e deixei o meu comentário neste tópico: Final Cut de Blade Runner nos cinemas a 24 de Abril
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DarkPhoenix
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by DarkPhoenix »

O Deckard liberta a Rachael nessa cena chave, onde se comprova que ela é um modelo avançado de Replicant, que pode suplantar os seus limites emocionais.

E sim, se há filme discutido e apreciado neste fórum, é o BR.
O que não impede que se volte a reabrir o debate, porque é um clássico intemporal e merece todos os posts e tópicos deste mundo e do outro.
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Pedro Pereira de Carvalho »

No Angel wrote:Quase que podia dizer que é um filme perfeito, no entanto houve uma coisa que achei pouco credivel, e isso foi o final. Simplesmente nao tem sentido que o Roy tenha salvo o protagonista, tendo em conta que o estava a tentar matar minutos atras, e tendo tambem em conta que ja tinha matado mais que uma pessoa antes. Achei... conveniente. Claro que se pode racionalizar o porque de ele ter feito aquilo, mas nao sei, se alguem me der uma explicaçao razoavel ate agradeço.
A mim parece óbvio. Ao perceber que está a terminar o seu tempo de vida programado, o Roy sente o valor da vida mais intensamente e decide que a vida é importante, donde a libertação da pomba e a salvação do protagonista.
Pedro Pereira de Carvalho - 56 anos - Lisboa
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by bretes »

Exacto, aliás é das cenas mais emblemáticas da história do cinema, imo.

Sei que já devo ter inserido/mencionado esta cena inúmeras vezes... mas nunca é demais.

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No Angel
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by No Angel »

rui sousa wrote:Muito pelo contrário, este é um dos filmes mais discutidos no fórum até! :-D

Há uns meses vi a Final Cut e deixei o meu comentário neste tópico: http://dvdmania.co.pt/viewtopic.php?f=1 ... ade+runner
Pois, eu vi menagens sobre o filme na pesquisa, e vi topicos sub-relacionados do genero do que puseste, mas nao vi nenhum mesmo sobre o filme, como os que abres quando poes as tuas criticas.
Pedro Pereira de Carvalho wrote:
No Angel wrote:Quase que podia dizer que é um filme perfeito, no entanto houve uma coisa que achei pouco credivel, e isso foi o final. Simplesmente nao tem sentido que o Roy tenha salvo o protagonista, tendo em conta que o estava a tentar matar minutos atras, e tendo tambem em conta que ja tinha matado mais que uma pessoa antes. Achei... conveniente. Claro que se pode racionalizar o porque de ele ter feito aquilo, mas nao sei, se alguem me der uma explicaçao razoavel ate agradeço.
A mim parece óbvio. Ao perceber que está a terminar o seu tempo de vida programado, o Roy sente o valor da vida mais intensamente e decide que a vida é importante, donde a libertação da pomba e a salvação do protagonista.
Isso é a explicaçao obvia, de facto, mas nao me convence muito. Quer dizer, ele ja estava a morrer antes quando estava a tentar mata-lo... o quê que mudou? Ele muda completamente em meio minuto?
DarkPhoenix wrote:O Deckard liberta a Rachael nessa cena chave, onde se comprova que ela é um modelo avançado de Replicant, que pode suplantar os seus limites emocionais.

E sim, se há filme discutido e apreciado neste fórum, é o BR.
O que não impede que se volte a reabrir o debate, porque é um clássico intemporal e merece todos os posts e tópicos deste mundo e do outro.
Liberta como? Ela nao queria estar mais com ele, e ele nao respeitou a sua vontade! Mesmo que ela no fundo gostasse dele, ele tinha que a respeitar. E nao fechar a porta e força-la a querer o que ele queria...
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Samwise »

Acho que o No Angel está a levantar questões bastante interessantes sobre o filme, capazes de oferecer novas pequenas perspectivas sobre o modo como interpretamos as personagens.

Não conheço o filme tão bem quanto a maioria dos foristas que o tem estado a debater, e já passaram uns anos desde que o vi pela última vez - não me recordo da sequência entre a Rachel e o Deckard para me poder pronunciar, mas quanto ao final, posso tentar uma abordagem diferente, No Angel. Na verdade, não sabemos se o Batty pretende mesmo matar o Deckard por essa altura - isso é já um raciocínio teu de que partiste sem questionar. O que se passa é que o Batty "brinca" com o Deckard - persegue-o, atormenta-o, tortura-o e deixa-o quase morrer, numa inversão de papéis entre gato e rato em relação ao que sucedeu no passado. O Batty fez o Deckard sentir na pele o que os Replicants caçados sentiram. Matar o Deckard sem fazer com que ele entendesse a injustiça da sua (de Batty) condição seria derrotar esse propósito. O Deckard de certa forma é o legado vivo que o Batty deixa à humanidade, uma mensagem em que revela as qualidades que verdadeiramente o tornam (Batty) num humano.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by No Angel »

Samwise wrote:Acho que o No Angel está a levantar questões bastante interessantes sobre o filme, capazes de oferecer novas pequenas perspectivas sobre o modo como interpretamos as personagens.

Não conheço o filme tão bem quanto a maioria dos foristas que o tem estado a debater, e já passaram uns anos desde que o vi pela última vez - não me recordo da sequência entre a Rachel e o Deckard para me poder pronunciar, mas quanto ao final, posso tentar uma abordagem diferente, No Angel. Na verdade, não sabemos se o Batty pretende mesmo matar o Deckard por essa altura - isso é já um raciocínio teu de que partiste sem questionar. O que se passa é que o Batty "brinca" com o Deckard - persegue-o, atormenta-o, tortura-o e deixa-o quase morrer, numa inversão de papéis entre gato e rato em relação ao que sucedeu no passado. O Batty fez o Deckard sentir na pele o que os Replicants caçados sentiram. Matar o Deckard sem fazer com que ele entendesse a injustiça da sua (de Batty) condição seria derrotar esse propósito. O Deckard de certa forma é o legado vivo que o Batty deixa à humanidade, uma mensagem em que revela as qualidades que verdadeiramente o tornam (Batty) num humano.
A cena é esta:



Esquece o titulo, porque a cena de romantico pouco tem, pelo menos a partir do 3º minuto. E perturbador... ainda mais que se considere isto uma cena de "amor".

Por acaso acho essa interpretação bastante interessante, nao me ocorreu que ele nao o estivesse a tentar matar, mas apenas a perseguir, numa tal inversao de papeis. Muito bem pensado. Acho que nem pensei nisso, visto que ele anteriormente nao teve qualquer problema em matar pessoas, ainda por cima uma que o ajudou... por isso, uma criatura que faz isso nao teria qualquer problema em matar o Deckard. Mas acho que essa ideia de transmitir uma ideia, um legado da uma boa explicaçao para o seu comportamento yes-)
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by DarkPhoenix »

BR é um filme noir, ninguém é 100% bom ou mau, honesto ou vilão, transparente ou misterioso.

Deckard é o melhor, quando se trata de identificar, localizar e caçar Replicants defeituosos, que ameacem a sociedade.
Não é bom, não é mau, é o melhor naquilo que faz.

Concebidos para trabalhar nas duras condições das colónias espaciais, os Replicants sofrem de distúrbios emocionais, devido ao facto de não aceitarem a sua condição descartável.
No caso destes 4 revoltosos, liderados pelo fabuloso topo-de-gama Roy, a sua raiva e insatisfação leva-os ao coração da Tyrell Corporation, onde foram originalmente fabricados, para exigir ao seu criador que lhes prolongue o tempo de vida.

O caso da Rachael é especial, pois foram-lhe implantadas memórias humanas ( da filha do Tyrell ) e escondida a sua origem sintética.
Ela não sabe que é um Replicant, e isso confere-lhe uma estabilidade emocional muito semelhante à humana.
Com a entrevista e realização do teste, Rachael começa a desconfiar e acaba por descobrir a verdade.
É nesse estado de fragilidade e desconcerto emocional que ocorre a cena de amor do filme.
Ambos estão apaixonados, e Deckard não pode, não vai deixar que Rachael fuja da realidade que acaba de descobrir.
A cena de amor é redentora para Deckard, ironia das ironias, apaixonado por uma Replicant, e confere uma dimensão humana à Rachael.
Não existe qualquer violação........... :-?

Quanto ao final, o Samwise já explicou.
O propósito inicial do Roy era tentar inverter o processo de degeneração letal que os tornava fugazes.
Quando percebe que é impossível, vinga-se do seu criador, e focaliza-se em encontrar o homem que está a matar os seus amigos.
Ao longo da perseguição a Deckard, e sabendo que o seu próprio fim está próximo, um turbilhão de emoções desagua na conclusão de que não fazia sentido mais violência, e Roy prefere acabar a sua brilhante existência com o salvamento do seu alvo, que acaba por ser quem ouve as suas últimas palavras.

Aliás, todo o final é bastante positivo, com Deckard e Rachael a abrirem portas para uma nova vida, sempre com a esperança de que a Rachael não tenha um limitador tecnorgánico.

Blade Runner é um portento de filme, uma experiência única e que nunca mais foi conseguida, no meu entender.
Não é num simples visionamento que lhe consegues extrair e compreender as múltiplas camadas, mas sobretudo a resposta à questão:
"O que nos torna, afinal, humanos?"

A única dúvida que ficará para sempre por responder - no meu entender não tem sequer necessidade de uma resposta - é a suspeita de que o próprio Deckard é também um Replicant.
Cada um que entenda como quiser. :-)
No Angel
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by No Angel »

DarkPhoenix wrote:BR é um filme noir, ninguém é 100% bom ou mau, honesto ou vilão, transparente ou misterioso.

Deckard é o melhor, quando se trata de identificar, localizar e caçar Replicants defeituosos, que ameacem a sociedade.
Não é bom, não é mau, é o melhor naquilo que faz.

Concebidos para trabalhar nas duras condições das colónias espaciais, os Replicants sofrem de distúrbios emocionais, devido ao facto de não aceitarem a sua condição descartável.
No caso destes 4 revoltosos, liderados pelo fabuloso topo-de-gama Roy, a sua raiva e insatisfação leva-os ao coração da Tyrell Corporation, onde foram originalmente fabricados, para exigir ao seu criador que lhes prolongue o tempo de vida.

O caso da Rachael é especial, pois foram-lhe implantadas memórias humanas ( da filha do Tyrell ) e escondida a sua origem sintética.
Ela não sabe que é um Replicant, e isso confere-lhe uma estabilidade emocional muito semelhante à humana.
Com a entrevista e realização do teste, Rachael começa a desconfiar e acaba por descobrir a verdade.
É nesse estado de fragilidade e desconcerto emocional que ocorre a cena de amor do filme.
Ambos estão apaixonados, e Deckard não pode, não vai deixar que Rachael fuja da realidade que acaba de descobrir.
A cena de amor é redentora para Deckard, ironia das ironias, apaixonado por uma Replicant, e confere uma dimensão humana à Rachael.
Não existe qualquer violação........... :-?

Quanto ao final, o Samwise já explicou.
O propósito inicial do Roy era tentar inverter o processo de degeneração letal que os tornava fugazes.
Quando percebe que é impossível, vinga-se do seu criador, e focaliza-se em encontrar o homem que está a matar os seus amigos.
Ao longo da perseguição a Deckard, e sabendo que o seu próprio fim está próximo, um turbilhão de emoções desagua na conclusão de que não fazia sentido mais violência, e Roy prefere acabar a sua brilhante existência com o salvamento do seu alvo, que acaba por ser quem ouve as suas últimas palavras.

Aliás, todo o final é bastante positivo, com Deckard e Rachael a abrirem portas para uma nova vida, sempre com a esperança de que a Rachael não tenha um limitador tecnorgánico.

Blade Runner é um portento de filme, uma experiência única e que nunca mais foi conseguida, no meu entender.
Não é num simples visionamento que lhe consegues extrair e compreender as múltiplas camadas, mas sobretudo a resposta à questão:
"O que nos torna, afinal, humanos?"

A única dúvida que ficará para sempre por responder - no meu entender não tem sequer necessidade de uma resposta - é a suspeita de que o próprio Deckard é também um Replicant.
Cada um que entenda como quiser. :-)
Tu dizes que ele so estava encarregado de matar replicants que "ameacem a sociedade", mas pelo que eu entendi a profissao dele é mata-los, quer eles sejam uma ameaça ou nao. E acaba por se ver isso no caso da Rachel, que nao era nenhuma ameaça a sociedade, e no entanto ele tinha que a matar... so nao o fez porque se apaixonou por ela.

E nao acho que seja uma "profissao" de moralidade neutra. Em primeiro lugar, porque ninguem tem o direito de matar outra pessoa, a nao ser que esta lhe peça (eutanasia, por exemplo). Em segundo lugar, porque o Deckard nao pode saber se os replicants sao sempre uma ameça a sociedade, ainda que o sejam nalgum dado momento. Existe sempre a possibildiade de eles mudarem, de se refrearem... porque nao os mandam embora, simplesmente? Ou os prendem? Porque mata-los?

Olha aquela que estava a fazer um show, ela nao parecia que estava a matar ou magoar alguem. Ela atacou o Deckard porque pressentiu que este lhe era uma ameaça, pelo menos foi o que eu percebi.

Quanto as memorias da Rachel, pensava que os outros replicants do modelo Nexus 6 tambem as tinham...

Quanto ao final, nao achei assim tao positivo quanto isso, pois acho que ficou no ar que as coisas nao iam ficar por ali, e que a Rachel nao estava segura, devido ao unicornio que deixaram no apartamento do Deckard.
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by DarkPhoenix »

O unicórnio é o símbolo da pureza.
Juntamente com o sonho a meio do filme, são os enigmas mais polémicos.
No meu entender, está tudo relacionado com o facto da Rachael ser pura, livre do temporizador genético.

O Deckard era um caçador de replicants problemáticos, a maioria ou totalidade nem tinha sequer autorização para habitar na cidade.
Roy e o seu grupo, por exemplo, desertaram da missão, capturaram uma nave e regressaram ilegalmente à Terra.
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by bretes »

O Roy se quisesse matar o Deckard, já o teria feito quando lhe partiu os dedos da mão...
Como o Samwise explicou muito bem, basicamente foi um jogo do gato e do rato. E bem visto, pois ouve-se como que um "miar" distorcido nessa sequência.
O Roy uiva, mal se apercebe da morte da Pris, a sua companheira.

Quanto à cena da "violação", concordo plenamente com a opinião do DarkPhoenix, aliás ela gosta dele, quer estar com ele, foi a sensação que sempre tive, e também é de salientar que o Deckard não é o charme em pessoa, é bastante seco, mesmo quando lhe "telefona" a convidar para tomar uma bebida no bar, até ironiza com ele próprio sobre ser muito charmoso e tal....
Tem piada, porque estamos a discutir estas personagens como se fossem humanas, sabendo à partida que são replicantes... mais uma prova da excelência deste filme.

Para mim, o Deckard é replicante. Foi uma suspeita, mas depois do directors cut, ainda fiquei mais convencido devido ao sonho.
Ele sonhou com um unicórnio... quando chega ao apartamento repara que o Gaff não matou a Rachael e deixou um origami de um... unicórnio.
Também está relacionado com a pureza, é certo, mas é a ideia que tenho.

O final, claro que ficou no ar... é um filme para reflectir, uma introspecção. A intenção do Ridley era mesmo essa, não aquela "encenação" pirosa tirada às três pancadas aquando do seu lançamento em '82.

Mas isto, claro, é a minha opinião.
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Samwise »

Obrigado por contextualizares o que eu disse, Dark. yes-) Há muitos pormenores que não tenho já presentes - está na hora de ver novamente o filme!

No Angel, depois de ver o trecho, sinceramente, acho que aquilo não tem mesmo nada a ver com uma violação, mesmo que fique subentendido que os dois vão para a cama a seguir. Quando há o corte na sequência, o Deckard já não a está a forçar a nada (ele apenas deu o "empurrão" inicial necessário, mesmo que "à bruta", que ela não seria capaz de dar - por estar confusa - e mesmo esse empurrão foi para a conseguir beijar, não foi para ter sexo), e ela entretanto aceitou o que tinha para aceitar e também já deseja "seguir em frente".
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