Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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bretes
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by bretes »

THX wrote:
Seria o mesmo se o gerente de uma galeria obrigasse o artista a expor as suas obras com uma memória descritiva ao lado.
Se nessa altura o realizador não teve capacidade de "vender" o fim da sua historia ao estúdio, como a tinha idealizado inicialmente, devia ter ficado quieto e deixar de fazer sugestões mais tarde. Afinal estamos a falar de algo que pode alterar drasticamente todo o sentido da narrativa de um filme. Se alguém quiser ter um filme livre, sem pressões de algum lado, deveria limitar-se a fazer filmes independentes, mais nada. Se não o fazem terão então de se sujeitar a ideias de terceiros.

Para mim seria como dizer, uns anos depois da sua estreia, que no filme "Tubarão" o bicho assassino era afinal um robot. Percebes agora a minha ideia?
Tem calma, apenas não considero a tua definição de arte, esse "simples" conceito universal, tão linear como descreves.
E dispenso o tom utilizado nessa última frase da tua quote.
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THX
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by THX »

E dispenso o tom utilizado nessa última frase da tua quote.
Tom??? Que tom??
Desculpa mas essa não percebi... :roll:

Apenas tentei justificar um ponto de vista, mais nada. Respeito a tua opinião, desde que respeites também a minha.

Quanto ao conceito de arte, sim, pode ser muito subjectivo, tal como o conceito de beleza, mas de uma coisa sei eu :

Quando alguém CRIA algo é porque tem algum propósito para isso, mas SE após essa criação a pessoa achar que ainda tem algo a acrescentar a esse propósito, está apenas a deturpar a arte inicial a que se propôs fazer.

Agora podes interpretar como quiseres, e se possível sem levares a mal esta minha explicação, pois nunca foi essa a minha intenção.
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
http://www.imdb.com/list/ls077088728/?s ... s077088728
Samwise
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Samwise »

THX wrote:Quando alguém CRIA algo é porque tem algum propósito para isso, mas SE após essa criação a pessoa achar que ainda tem algo a acrescentar a esse propósito, está apenas a deturpar a arte inicial a que se propôs fazer.
Esta ideia, do ponto de vista do criador/artista (que é o que interessa para todos os efeitos), é um perfeito disparate.

Se o criador não está satisfeito com a sua criação, ainda que já tenha sido "publicada", e ainda que já tenham passado x anos, não sei por que não há-de a melhorar através dos meios que achar necessários.

Quaisquer novas visões e/ou produtos acabados que surjam por acrescento ao "original" só virão a gerar mais riqueza na sua obra e a aumentar a base de interpretações que dela pode ser feita.

Mesmo que a pintura e o cinema sejam meios artísticos muito diferentes (com alguma aproximações pelo meio), esta ideia é transversal aos dois mundos.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

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THX
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by THX »

Se o criador não está satisfeito com a sua criação, ainda que já tenha sido "publicada", e ainda que já tenham passado x anos, não sei por que não há-de a melhorar através dos meios que achar necessários.
Isso do "melhorar", que apontas com tanta convicção, é muito relativo, e então no caso dos filmes ainda o é mais. Dou-te assim de repente 3 exemplos de versões Director's Cut que em NADA vieram acrescentar aos filmes originais :

1 - "The Exorcist"

Mais uns 20 minutos de cenas perfeitamente escusadas, e uma delas (a cena da miúda a descer as escadas) até insultou o filme. Foi o golpe de alguém se ter aproveitado de algo apenas para re-vender mais umas quantas cópias. Alguém ganhou muito $$$ com isso, mas eu não ganhei absolutamente nada em ter visto esses minutos extra.

2 - "Apocalipse Now"

Aqui foi mais uns largos minutos de cenas que apenas quebraram o espectacular ritmo que o filme levava. Para mim, não foi nada mais do que isso.

3 - "Bladde Runner"

Mais uma vez não acrescentou nada ao filme que estreou no cinema.
Apenas baralhou o filme e ideias originais da "theatrical version". Mais uma vez também alguém ganhou muito a vender umas box-set de 11.000$00 (na altura em que um amigo meu comprou a dele).

Claro que existe sempre uma horda de fãs que anseiam por ver esses valiosos minutos extra que nunca pensaram um dia ver, mas o objectivo principal destas versões é a de levarem esses cinéfilos a comprarem muitas vezes algo supérfulo, nada mais do que isso.

Aceito os "making of", os extras dos bastidores, as entrevistas, etc, não posso aceitar é cenas que não contribuem em nada para o desenvolvimento de um filme, ou pior, cenas que tentem sugerir outros fins ou reviravoltas na história original.

Ninguém tenha dúvida que quem detém os direitos dos filmes/distribuíção é quem vai lucrar mais com este tipo de negócio.
Quaisquer novas visões e/ou produtos acabados que surjam por acrescento ao "original" só virão a gerar mais riqueza na sua obra e a aumentar a base de interpretações que dela pode ser feita.
Gostava mesmo de ver o Michelangelo a acrescentar mais umas coisitas no tecto da capela Sistina, ou ver o Leonardo da Vinci a alterar o sorriso da Mona Lisa, ou então o Picasso a dar mais umas pinceladas no seu "Guernica".

Já viste algum director's cut do "2001:A Space Odissey"??
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Samwise
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Samwise »

THX, podes dar os exemplos que bem entenderes, mas penso que não passou a mensagem que quis transmitir, apesar de a teres colocado em citação.

Como considero que as expressões que utilizei espelham a ideia de forma apropriada, vou repetir, desta feita sublinhando uma parte:

Se o criador não está satisfeito com a sua criação, ainda que já tenha sido "publicada", e ainda que já tenham passado x anos, não sei por que não há-de a melhorar através dos meios que achar necessários.

Quanto aos artistas que apontas mais abaixo, aparentemente ficaram satisfeitos com as obras em questão a partir do momento em que pararam de lhes acrescentar detalhes. yes-)
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bretes
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by bretes »

THX wrote:Quando alguém CRIA algo é porque tem algum propósito para isso, mas SE após essa criação a pessoa achar que ainda tem algo a acrescentar a esse propósito, está apenas a deturpar a arte inicial a que se propôs fazer.

Agora podes interpretar como quiseres, e se possível sem levares a mal esta minha explicação, pois nunca foi essa a minha intenção.
Então devo ter interpretado mal esse "percebeste?"... de qualquer forma, também não seria por aí que me ia chatear, simplesmente ignoro e não existe mais discussão da minha parte.

O processo criativo tem muito que se lhe diga...

Quanto ao "acrescentar" ser algo que deturpa a arte inicial, bem, é a tua interpretação.
A minha interpretação é de que altera, sem dúvida alguma. Mas penso que a intenção do artista não seja a de deturpar, exactamente o oposto, caso considere alterar.
E depende da alteração. Podem ser uns pequenos acertos... podem não ser relevantes para ti, mas acredita que para muitos artistas são, principalmente os perfeccionistas.

Por outro lado, pode-se alterar "retirando".
O criativo pode considerar que a obra tenha demasiado "barulho", excesso de informação ou elementos.

Mas a parte irónica em relação ao Directors Cut do Blade Runner é que, basicamente, o Ridley "retira" a voz off e o final com cenas do Shining e apenas "acrescenta" o sonho do unicórnio, para salientar a importância do último origami do Gaff.
Se houve intenção de deturpar a arte inicial, é evidente que foi por parte do estúdio.

Outros filmes que, para mim, ganharam bastante com Directors Cut ou versões o mais próximas possíveis da visão original do realizador:

"Touch of Evil" (1958) - Orson Welles

"The Big Red One" (1980) - Samuel Fuller

"Bis ans Ende der Welt" (1991) (Até ao Fim do Mundo) - Wim Wenders

Também Kingdom of Heaven, Aliens, JFK...
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by THX »

Quanto aos artistas que apontas mais abaixo, aparentemente ficaram satisfeitos com as obras em questão a partir do momento em que pararam de lhes acrescentar detalhes.
Aparentemente eles sabiam que um verdadeiro artista que inicia uma obra tem de a finalizar...e depois nunca mais lhe tocam, não mexem mais, não podem retirar ou acrescentar mais nada.

Samwise, eu tenho um amigo alemão pintor, que está actualmente a expor as suas telas numa galeria em Los Angeles, e uma vez quando nos encontramos em Berlim ele disse-me uma coisa que ainda hoje eu penso nela :

-" Um pintor pode demorar 20 anos a pintar um quadro, mas a partir do momento que o assina e lhe coloca uma data...nunca mais dever perder um segundo com ele. Deverá deixar ser outra pessoa a perder tempo com ele, admirando-o."

Esse meu amigo é uma daquelas pessoas interessantes que te convida para um café, e passado umas horas estás a jantar com ele, e quando dás por ti estás a tomar um copo num bar ás 3h00 da manhã.

É um individuo que no meio de uma praia te faz uma escultura com umas pedras e uns paus e mais com o que conseguir arranjar com as mãos. É um gajo que até irrita, no bom sentido, por estar compulsivamente a querer fazer algo, a querer criar qualquer coisa, sem parar.

É uma necessidade inerente à sua pessoa, muito grande, muito forte...mas que já nasceu com ele.

Muita gente deseja ser atleta de alta competição, mas apesar de treinar muito nunca chegam a esse nível apenas por lhe faltarem alguns requisitos físicos. Podem treinar uma vida inteira mas se não tiverem uns bons pulmões e um coração forte jamais chegarão a esse patamar.

Para se ser considerado um artista não é preciso treino nenhum...é só preciso nascer com talento, com um dom para criar algo do nada, e é esse "Nada" que se vai tornar num pedaço de Arte mais tarde através das mãos de um genuíno artista (porque existem muitos que apesar de pensarem o contrário, NÃO o são).

E é essa transformação que deverá ficar inalterável, porque se não ficar...então não é Arte nenhuma e estamos a falar de outra coisa.
O processo criativo tem muito que se lhe diga...
Para mim o processo criativo é muito simples bretes :
Ou nasces com vontade de criar algo, ou não, ou nasces com um dom ou sem ele.
Tudo o resto são tangas.

Mais, se fores um perfecionista garanto-te que podes demorar 10 anos a acabar qualquer coisa, mas sei que quando a acabares ela fica perfeita, logo não pode haver nada mais a acrescentar depois disso, uma vez que a perfeição é um limite.

O filme que eu vi do "Blade Runner" era perfeito, não me interessa ver mais nada sobre o mesmo.
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

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"I've seen things you people wouldn't believe. The limits of perfection finally achieved off the shoulder of Orion. I watched a german artist creating a piece of art with rocks and sticks near the Tannhäuser Beach. All those moments will be lost in time, like bretes english writing in rain. Time to... HEY! DONT TOUCH THAT PAINTING!

:-)))
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by THX »

Muito bons argumentos bretes, sim senhor...

Toma lá os meus :







Aos 11 anos ficou sózinho em Paris, aprendeu com a vida, já teve um bar de sucesso, já escreveu vários coisa interessantes, e foi um dos fundadores desta empresa de "street wear" :

http://www.iriedaily.de/



O seu site oficial :
http://www.jayboisms.com/

A sua história no Wikipedia :
http://de.wikipedia.org/wiki/Jaybo_aka_Monk

Acho que também ias gostar de falar com ele pessoalmente :wink: .
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Samwise »

bretes wrote:Image

"I've seen things you people wouldn't believe. The limits of perfection finally achieved off the shoulder of Orion. I watched a german artist creating a piece of art with rocks and sticks near the Tannhäuser Beach. All those moments will be lost in time, like bretes english writing in rain. Time to... HEY! DONT TOUCH THAT PAINTING!

:-)))
:lol: :lol: :lol:

Deckard: Hey, man, WTF!... that's not in the script...
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by THX »

bretes Escreveu:
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"I've seen things you people wouldn't believe. The limits of perfection finally achieved off the shoulder of Orion. I watched a german artist creating a piece of art with rocks and sticks near the Tannhäuser Beach. All those moments will be lost in time, like bretes english writing in rain. Time to... HEY! DONT TOUCH THAT PAINTING!

:-)))


:lol: :lol: :lol:

Deckard: Hey, man, WTF!... that's not in the script...
:lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: (etc...)

Já agora, o que é que acharam do meu amigo pintor?

É que se não quiserem falar mais no assunto eu compreendo... como?-)
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by bretes »

Ainda só vi o primeiro video, a cortar/desenhar directamente no vinil autocolante... e está um SHOW!
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by THX »

O homem é um génio, e muito humilde, pois se vires na entrevista que ele dá o mais engraçado é ele dizer que não é um artista, mas somente um pintor...porque pinta.

Eu andei à procura de um filme dele onde mostra o tal processo criativo que referiste, desde o seu inicio.

É espectacular e começa com ele a comprar material numa casa tipo "Max Mat" ou "Leroy Merlin" e depois vemos ele a pintar 3 telas enormes, em simultâneo e posso-te dizer que no final as telas ficam um show.

Acho que ele já as vendeu por uns bons milhares de euros.
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by Samwise »

THX wrote:
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Aparentemente estás a pegar numa ideia tua e à força de nada querer impingi-la a tudo e a todos.

Esta discussão, tal como tinha previsto, está a levar a lado nenhum. Os meus argumentos mantêm-se inalterados - e, como demonstra o teu discurso que vem a seguir, não apresentas nenhuma ideia que contrarie o que eu digo: cabe somente ao autor/criador/artista decidir quando coloca o ponto final numa obra, quer esat tenha sido já apresentada ao público ou não. Isto é tão simples de perceber... :!:
Samwise, eu tenho um amigo alemão pintor, que está actualmente a expor as suas telas numa galeria em Los Angeles, e uma vez quando nos encontramos em Berlim ele disse-me uma coisa que ainda hoje eu penso nela :

-" Um pintor pode demorar 20 anos a pintar um quadro, mas a partir do momento que o assina e lhe coloca uma data...nunca mais dever perder um segundo com ele. Deverá deixar ser outra pessoa a perder tempo com ele, admirando-o."

Esse meu amigo é uma daquelas pessoas interessantes que te convida para um café, e passado umas horas estás a jantar com ele, e quando dás por ti estás a tomar um copo num bar ás 3h00 da manhã.

É um individuo que no meio de uma praia te faz uma escultura com umas pedras e uns paus e mais com o que conseguir arranjar com as mãos. É um gajo que até irrita, no bom sentido, por estar compulsivamente a querer fazer algo, a querer criar qualquer coisa, sem parar.

É uma necessidade inerente à sua pessoa, muito grande, muito forte...mas que já nasceu com ele.

Muita gente deseja ser atleta de alta competição, mas apesar de treinar muito nunca chegam a esse nível apenas por lhe faltarem alguns requisitos físicos. Podem treinar uma vida inteira mas se não tiverem uns bons pulmões e um coração forte jamais chegarão a esse patamar.
Devias saber, tão bem quanto eu, que isto não contraria o que eu disse. Não é o público que decide se uma obra deve ou não estar concluída, é o seu autor. Se o teu amigo age dessa forma e se sente bem com isso, óptimo. Ele, e somente ele, é que sabe o que faz com aquilo que cria.

Penso que nada de novo vou trazer em termos de argumentação para esta debate, e que cada nova participação minha vai ser uma repetição daquilo que já disse: é um absurdo considerar que uma vez publicado um trabalho este não possa nem deva ser alterado/melhorado/piorado pelo respectivo autor.
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E é essa transformação que deverá ficar inalterável, porque se não ficar...então não é Arte nenhuma e estamos a falar de outra coisa.
Esta é uma discussão em que não vou participar, lamento. Não só porque é outra que não vai levar a lado nenhum, mas porque eu próprio não sei o que é Arte - estou a ser sincero, espero que acreditem.

Não consigo encontrar uma definição que me satisfaça, e a partir da qual possa fazer caso universal; não sei elencar objectivamente os requisitos que caracterizam um objecto de Arte e os distingam de outro que não é; e não sei avaliar o que é Arte "boa" e o que é Arte "má".

Já li trinta mil opiniões sobre este assunto, algumas delas elaboradas por grandes pensadores das respectivas épocas, e todas são dissonantes. Contra isto, batatas.

Qualquer pessoa que pense em participar numa discussão sobre esta matéria deve meditar antes sobre se está confiante na sua própria noção sobre a Arte, por um lado, e por outro ser essa ideia é aceite pelos demais interlocutores na discussão. Eu, neste momento, não estou.
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DarkPhoenix
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Re: Blade Runner (1982) - Ridley Scott

Post by DarkPhoenix »

Arte é toda e qualquer expressão humana consciente, em que o artista domine as técnicas e os meios para tal.

Atirar baldes de tinta contra uma tela, de forma anárquica, nunca resultará em arte.
Fotógrafos que capturam imagens de forma fortuita e que desconhecem as regras básicas da luz, não produzem arte.

Como é óbvio, as fronteiras da própria arte expandem-se com a criação de novos métodos.
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