Ondine (2009) - Neil Jordan

[Pedro Pereira de Carvalho]

Ondine

Para variar um pouco de rever os mesmos filmes, aproveitei hoje para ver mais um daqueles DVDs adquiridos nos saldo do Jumbo, a 1 Euro e pouco.

Ondine é um filme que me entristece um pouco, pelo que poderia ter sido e não foi. Fime independente, mas com aguns nomes "pesados", como o realizador Neil Jordan e o actor Colin Farrell, tinha hipótese de ser algo muito bom. O realizador Neil Jordan tem no seu currículo filmes que aprecio como Ninguém É Santo - "We're No Angels", A Companhia dos Lobos - "The Company of Wolves", Mona Lisa, A Estranha em Mim - "The Brave One", e alguns sucessos que não me seduziram tais como Jogo de Lágrimas - "The Crying Game", Entrevista com o Vampiro - "Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles", Michael Collins e Breakfast on Pluto.

Colin Farrell não é um actor que me seduza particularmente, mas neste filme o seu aspecto e origem (irlandês) acabam por ser uma mais valia. No argumento é um pescador irlandês filho de uma cigana e consegue garantir os requisitos para tal.

O argumento é simples. Um pescador divorciado, ex-alcóolico, com uma filha menor com problemas renais, e em maré de azar, apanha na sua rede a mais improvável das pescarias, uma mulher que se auto entitula Ondine como a mítica ninfa da água.
Durante a maior parte do filme levanta-se sempre a dúvida: é ela uma criatura dos contos de encantar, uma Selkie como diz a filha do pescador, ou alguém real?

E é essa dúvida que deixa uma sensação de encanto e magia ao longo do filme que nos transporta ao mundo dos trovadores irlandeses, que nos embala e que nos deixa num estador de sonho. A actriz consegue a proeza de nos deixar na dúvida.

Infelizmente, o realizador em vez de manter essa dúvida acorda-nos bruscamente na parte final do filme. Não se pode dizer que engane muito o espectador, há sempre margem para dúvidas na nossa mente, embora ache que a coincidência das canções com a boa pesca, algo difícil de engolir. No entanto quando se chega à realidade perde-se a sensação de encantamento, o estado de semi-sonho que nos ia acompanhando ao longo de boa parte do filme.

Magníficamente filmado nas paisagens da Iranda, terra do realizador e do actor principal, o filme visto no cinema deve ter sido de sonho - pelo menos boa parte dele. Não lamento a compra deste DVD, mas o filme deixa-me desiludido pelo que poderia ter sido.

Os extras do DVD, não são nada de especial: o trailer, um documentário em filmagem que parece mais interessado nas paisagens do que nas filmagens e pequenas entrevistas aos actores, realizador e produtores, que mais não são que elogios mútuos, sem grande interesse.

[Ricardo Ribeiro]

Ao contrário do Pedro, não creio que o filme tenha resultado em algo que não deva ter sido. A dúvida dura o tempo justo, e porque a vida não está para dúvidas que já bastam as reais, o espectador pode desligar o equipamento esclarecido. Para trás fica uma hora e tal bem passada, por um preço igualmente justo, aliás, generoso para o consumidor: o tal Euro que o Pedro referiu. Ainda ontem estava a pensar que às vezes, e apenas às vezes, fico triste de ter perdido o contacto com estas coisas do cinema fora do mainstream (na realidade perdi o contacto com todo o cinema, mas o mainstream é fácil de agarrar, basta comprar a Empire ou isso...) e ao nisso pensar, dava para mim mesmo o exemplo de Ondine como o de um filme que por pouco perdi... e ficou a tristeza por todos os Ondines que certamente perderei.

[JoséMiguel]

Eu também comprei a edição baratucha no Jumbo, há 8 meses atrás, mas ainda não o vi.

[Pedro Pereira de Carvalho]

A dúvida dura o tempo justo, e porque a vida não está para dúvidas que já bastam as reais, o espectador pode desligar o equipamento esclarecido.

Haaa mas é precisamente por causa da realidade que eu quero sonhar! Para a vida real basta-me ver os telejornais, os programas que na maioria passam na TV nacional e a vida das pessoas que conheço.