O Quadragésimo Primeiro / Сорок первый (1956) - G. Chukhray
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O Quadragésimo Primeiro / Сорок первый (1956) - G. Chukhray

O Quadragésimo Primeiro
Romance/Drama/Aventura (88 min)
Data de Estreia: 15 de Outubro de 1956.
Realização: Grigoriy Chukhray.
Argumento: Grigori Koltunov (Argumento) Boris Lavrenyev (Autor do livro de 1927, com o mesmo nome, em que o filme se baseia).
Actores Principais: Izolda Izvitskaya e Oleg Strizhenov.
Sinopse:
História de amor, entre uma franco-atiradora do exército vermelho e o seu prisioneiro de guerra, um oficial aristocrata do exército branco. Adaptação fiel do livro de ficção histórica de 1927, pelo escritor Boris Lavrenyev. O filme divide-se em duas partes, a primeira envolve uma aventura de travessia do deserto de Karakum, enquanto a segunda envolve literalmente o conceito de "amor e uma cabana", em que os personagens principais, inimigos de guerra, se vêem sózinhos, náufragos numa ilha piscatória do mar de Aral.
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0049783/
Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Forty- ... 56_film%29
Trailer espanhol (clicar em "ver no You Tube"):
- Aviso: Texto longo! -
Apresentação e Opinião.

Este filme é verdadeiramente especial...claramente uma obra-prima da 7ª Arte, a vários níveis. Foi para mim uma supresa agradável vê-lo pela 1ª vez esta semana, no site oficial dos Estúdios Mosfilm. Está à frente do seu tempo a nível de argumento, interpretação, realismo, técnica de filmagem... essencialmente tudo décadas à frente do seu tempo.

Começo pela história, que é um livro de 1927, sobre uma mulher-soldado Maria (a versão inglesa do wikipédia diz que o nome dela é Maria no ocidente, Maryutka em russo), franco-atiradora (ou "sniper" para a malta dos jogos de computador) do exército rebelde/revolucionário vermelho, cujo regimento captura o tenente Vadim do exército branco, enviado especial do Almirante Kolchack (fiz review recentementre a esse filme) que regressava duma negociação secreta com um país vizinho, e estava na posse de informações confidenciais.

A sniper Maria fica encarregue de guardar o prisioneiro, que ela amarra com uma corda, pois se o deixar fugir, será fuzilada, assunto sério...

Ora bem, depois de grandes aventuras, travessia do deserto de Karakum e navegação no mar Aral, filmadas em condições meteorológicas autênticas de tempestades de areia e tempestades em mar, pelo melhor cameraman que já viveu até hoje (o mesmo tipo que filmou "Eu Sou Cuba"), os dois soldados inimigos (homem e mulher) naufragam e ficam sózinhos numa ilha piscatória. Mas antes de falar dessa grandiosa parte do filme, deixo algumas imagens comentadas, que, na minha opinião, são as melhores filmagens do mundo inteiro, em 1956:

Autêntica tempestadade de areia, que sem ela, os cineastam não filmavam, se pelo screenshot ficam desconfiados que é estúdio ou efeitos especiais, esperem por ver o filme, quando a câmera começa a fazer as míticas movimentações da cinematografia soviética.

Câmera montada no barco, actores em alto mar, em situação autêntica. Vista para a proa.

Idem, mesma cena. Vista para a popa.
Agora voltando ao enredo...

Ora bem, na imagem acima vemos uma cena, que em 1956, seria proibida pela censura do cinema norte-americano, embora não exista aqui nada de explícito, eles chegam à ilha cheios de frio e ensopados, e a Maria, camponesa rija ordena que ele se dispa logo ali, pois o tenente aristocrata estava com vergonha e queria esperar ao relento, enquanto as roupas dela secassem.

Esta parte do filme, passada na ilha, faz lembrar o filme "Lagoa Azul". O momento em que ela se apaixona por ele, tem uma abordagem cinematográfica original e espectacular, como eu nunca vi até hoje, que me sensibilizou. Trata-se de uma sequência condensada sem diálogos, em que ele conta a ela a históra de Robinson Crosué, de memória. Estes 2 excelentes actores têm aqui um desemprenho de Óscar, pelas expressões, a actriz Izolda Izvitskay (Maria) não é uma mulher bonita, é apenas uma mulher genuína normal, que conforme as expressões faciais pode ficar gira ou feia, ela no final da sequência fica com a cara transfigurada radiante, com olhar de cachorrinho, nunca vi tal coisa no cinema, coloquei a sequência de imagens em spoiler, pela quantidade:

Aparentemente, além de filmes de guerra, os soviéticos eram também mestres de filmes românticos...

Eu não sou apreciador de filmes românticos convencionais (do cinema ocidental), porque me cheiram a esturro, ou seja uma utopia não-credível. Mas esta história de amor é feita com a potência do realismo e credibilidade do cinema soviético, e por isso o "Amor e uma Cabana" não irá resultar...

Confronto ideológico! A partir daqui já não comento o enredo, o filme ainda melhora bastante depois...
Mulheres-soldado russas.
Eu já tinha reparado nas mulheres-soldado soviéticas, que andavam aos tiros aos alemães na linha da frente, durante a 2º Grande Guerra, mas quando vejo esta franco-atiradora, no tempo da guerra civil, fiquei curioso e foi ao wikipédia saber como e quando começa esta história das mulheres combatentes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Women_in_t ... t_military
http://en.wikipedia.org/wiki/Women%27s_ ... n_of_Death
Elas surgem logo em 1914, no início da 1º Grande Guerra. Quando se dá a revolução de 1917, umas integraram o exército vermelho e outras serviram o outro lado do conflito, mas nunca o exército branco (acho que haviam mais exércitos do que o branco e o vermelho...). Portanto a história deste filme é credível, era aqui que queria chegar.

1st Russian Women's Battalion of Death, 1917

Franco-atiradoras Ucranianas, 2ª Guerra Mundial.
Aliás o título português oficial do filme, que está bem traduzido, significa que o Tenente do exército branco foi o 41º inimigo abatido, na contagem de alvos da franco-atiradora do exército vermelho, mas foi um tiro falhado no início do filme.
Por último, neste tema das mulheres-soldado, antes de eu ter visto filmes passados na frente russa, julgava que estas mulheres-soldado eram ficção científica, conforme o episódio "Two" do "Twilight Zone", é um bom episódio, que tem também uma história de amor entre dois soldados inimigos (EUA e URSS):

Charles Bronson e Elisabeth Montgomery, após a destruição dos EUA pela URSS.
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0734686/
Links Streaming e Notas acerca da pobre qualidade de cores do Sovcolor, neste filme.
Ora bem, julgo que esta versão que a Mosfilm disponibiliza gratuitamente online, é semelhante à edição DVD. Pelo que li trata-se da versão restaurada, que ainda assim apresenta uma imagem muito escura e cores não realísticas. O termo Sovcolor, indicado pelo IMDB não significa nada, pois todos os filmes a cores soviéticos são Sovcolor, o que difere é a qualidade da película, nos filmes de 1º linha, compravam película Kodak ao ocidente, os outros usavam película soviética de inferior qualidade, que me parece ser o caso deste filme.
Mais informações aqui:
http://books.google.pt/books?id=p_8GIy8 ... CDUQ6AEwAQ
Portanto se quiserem ver este filme, seja em DVD ou em streaming, tenham paciência ao início, que em pouco tempo se habituam às cores estranhas e já não notam, no resto do filme, de resto as imagens que postei são da versão do site oficial dos estúdios Mosfilm:
http://www.cinema.mosfilm.ru/Film.aspx? ... 26a9ec94b9
Nota: Este site usa o plugin Silverlight, como leitor multimédia, e temos de fazer zoom out ao browser para aparecer os controles e selecção de legendas. Julgo ser alguma sabotagem da Microsoft, para causar dificuldades aos utilizadores do Firefox e Google Chrome, ou então é algum problema do meu PC, não sei.
A versão do site Mosfilm tem uma resolução mais alta (720x520) do que o You Tube (640x480):
http://www.youtube.com/watch?v=jMmwgEwsPd8
Last edited by JoséMiguel on March 18th, 2015, 9:12 pm, edited 1 time in total.
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Re: O Quadragésimo Primeiro / Сорок первый (1956) - G. Chukh
O cinemax154 criou um dos famosos trailers dele anteontem, para este filme (eu sou subescritor do canal You Tube dele).
Podem ver algumas questões que eu tinha referido:
1) Pobre qualidade da película de fabrico soviética (diferente da europeia/americana). Restauração com imagem escurecida (é preciso ajustar o brilho da TV/monitor).
2) Excelente cena da tempestade de areia, para 1956.
3) Parte da sequência em que a franco-atiradora se apaixona.
Nota: Este filme tem o mesmo realizador daquelas cenas filmadas em Lisboa, dentro do táxi em 1979, do filme italiano-soviético acerca da ditadura portuguesa.
Nota 2: Incorporação do video You Tube bloqueada, a pedido da Mosfilm, eu tenho o mesmo problema com os excertos que crio (ver no You Tube).
EDIT: O Jaras ainda não carregou o trailer deste filme no seu canal do Vimeo.
Podem ver algumas questões que eu tinha referido:
1) Pobre qualidade da película de fabrico soviética (diferente da europeia/americana). Restauração com imagem escurecida (é preciso ajustar o brilho da TV/monitor).
2) Excelente cena da tempestade de areia, para 1956.
3) Parte da sequência em que a franco-atiradora se apaixona.
Nota: Este filme tem o mesmo realizador daquelas cenas filmadas em Lisboa, dentro do táxi em 1979, do filme italiano-soviético acerca da ditadura portuguesa.
Nota 2: Incorporação do video You Tube bloqueada, a pedido da Mosfilm, eu tenho o mesmo problema com os excertos que crio (ver no You Tube).
EDIT: O Jaras ainda não carregou o trailer deste filme no seu canal do Vimeo.