Carlito's Way (1993) - Brian De Palma

[Cabeças]

Este filme era uma das grandes lacunas que tinha em termos de visionamento relativamente aos filmes do Brian de Palma. E finalmente, e depois do Samwise ter insistido para que visse este filme pois de certeza iria gostar, decidi-me a vê-lo, e em boa hora o fiz!

Confesso-vos que já há muito tempo não via um filme de que gostasse tanto, que me fizesse sentir tão bem durante o seu visionamento. Foi um pouco como que um "regressar" a não sei bem o quê, mas houve uma sensação como que de revisitação ao ver este filme, que ainda por cima tem cerca de duas horas e meia, o que prolonga a muito agradável experiência que se tem enquanto se está a ver.

Desde logo no início fiquei muito bem impressionado pela fotografia e pelos planos iniciais, que me pareceram originais e de muito bom gosto. E gostei também muito da voz off da personagem do Al Pacino, que acompanha todo o filme, embora não seja intrusiva de todo. Aparece sempre nos momentos certos, e sempre como uma mais valia, acrescentando sempre magia e dando uma sensação de "companhia", um pouco como um amigo que está a ver o filme connosco e nos vai confidenciando algumas coisas sobre a história. E a banda sonora também é muito boa, acompanhando sempre muito bem o filme, sendo "forte" o suficiente para se fazer notar, mas pela qualidade, pelo bom-gosto, pela perfeita sintonia com o filme, nunca sendo intrusiva.

O Al Pacino tem uma das suas grandes interpretações, está fabuloso. É curioso que neste filme, feito 20 anos depois do Serpico, do Sidney Lumet, o visual que encarna faz lembrar muito um Frank mais velho, sobretudo para alguém como eu, que revisitou o Serpico há dias. Mas independentemente deste facto, o Carlito Brigante (e é giro o sentido duplo do nome "Brigante", que pode ser interpretado também como "aquele que briga, lutador") que o Al Pacino nos mostra, desde logo nos convence em termos de personalidade, ajudado também pela voz off já referida de vez em quando. O Al é o Carlito, que tem a particularidade de aliar um passado de mafioso e narcotraficante "duro" a um lado humano, amigo e romântico na maior parte das vezes tocante.



Aparece-nos no filme uma interpretação muito interessante do Sean Penn como advogado amigo do Carlito, num papel também muito convincente e sobretudo muito original, inovador, meio divertido e por vezes meio assustador pelo lado imprevisível que progressivamente se reveste.



E fiquei apaixonado Gail, a actriz Penelope Ann Miller, a eterna namorada do Carlito uma actriz que não conhecia bem e que é realmente lindissima e desempenha na perfeição o papel e a personagem que interpreta!



Entra também o John Leguizamo (o inesquecível Vinny, do Summer of Sam do Spike Lee, entre tantos outros filmes), a interpretar Benny Blanco, um aspirante a mafioso e narcotraficante em ascenção.



E uma palavra para um cara sempre carismática (para ser simpático! ), o "nosso" velho Luís Guzmán, que aqui interpreta o guarda-costas e "homem-de-mão" Pachanga!



Sobre a história... é sobre o esforço de redenção de um criminoso que sai da prisão antes do esperado e sonha poder vir a largar o mundo em que viveu durante toda a vida, levando com ele a namorada de sempre. O filme mostra claramente porque é que o Al Pacino é considerado um dos grandes actores comtemporâneos, sendo o mesmo válido para o Brian de Palma como realizador.

Aconselho vivamente a quem gosta do Al Pacino, do Brian de Palma e de filmes ligados aos temas da máfia e do crime, e que eventualmente ainda não tenha visto este filme, que não perca (como eu perdi) mais tempo e o veja sem demora.

http://www.imdb.com/title/tt0106519/

[lud81]

"Ah you up against me now, motherfucker! You think you're big time? You're gonna fuckin die big time!"

Ainda bem que falaste do Sean Penn, acho que o gajo tem um papel espectacular neste filme. Desde o aspecto à personalidade do seu personagem, está um show. Adoro a cena em que começa a provocar os italianos na discoteca, é hilariante.

[Lorde X]

Também o vi há pouco tempo e foi uma agradável surpresa. Fui levado a ele, por ter lido que tinha influências do Policial Noir, um gênero que eu adoro. E realmente tem (principalmente a voz off), embora não tão pronunciadas como eu esperava.
O Al Pacino foi feito à medida para interpretar gansgsters Depois de Michael Corleone no Padrinho, Tony Montana em Scarface ou Big Boy Caprice no Dick Tracy, mais uma grande interpretação como Carlito Brigante. Ainda não vi o Serpico, mas está na minha WL de visionamentos.

[Samwise]

Estou muito em sintonia com os teus apontamentos, Cabeças. Muito, mesmo.

Foi um pouco como que um "regressar" a não sei bem o quê, mas houve uma sensação como que de revisitação ao ver este filme, que ainda por cima tem cerca de duas horas e meia, o que prolonga a muito agradável experiência que se tem enquanto se está a ver.

Eu associo isto que dizes ao "modelo" de vida que o Carlito adopta a partir do momento em que sai cá para fora. Todo o arco narrativo se desenrola em torno da atitude dele perante aquilo que foi no passado, do regresso ao local onde cresceu - como pessoa e como criminoso - e das recordações por sarar/resolver (magnificamente sugeridas pelo realizador, mas nunca mostradas explicitamente). Há uma serenidade que tudo domina, mesmo com os apontamentos abruptos de extrema violência que brotam aqui e ali (copyright De Palma ), uma sensibilidade pelo lado humano que deseja "assentar", e uma quase aura de paz (e bondade?) sustentada pelo extremo desejo de regeneração - um paraíso que ele chega a vislumbrar (como o cartaz na parede) e que funciona como tom dominante do ambiente emocional do filme (que, como referes a seguir, está muito bem acondicionado pela voz-off confidente e pela música intimista e nostálgica).

O Al Pacino tem uma das suas grandes interpretações, está fabuloso. (...) O Al é o Carlito, que tem a particularidade de aliar um passado de mafioso e narcotraficante "duro" a um lado humano, amigo e romântico na maior parte das vezes tocante.

(...)

O filme mostra claramente porque é que o Al Pacino é considerado um dos grandes actores contemporâneos, sendo o mesmo válido para o Brian de Palma como realizador.

Aconselho vivamente a quem gosta do Al Pacino, do Brian de Palma e de filmes ligados aos temas da máfia e do crime, e que eventualmente ainda não tenha visto este filme, que não perca (como eu perdi) mais tempo e o veja sem demora.

Há ali um momento no início, o discurso perante o juiz, em que me parece que ele forçou um pouco a interpretação e entrou num over-acting não controlado, mas depois disso a mão é seguríssima sobre o material e coloca a intepretação ao nível das suas melhores.

Quanto ao De Palma, parece-em que está que nem peixe dentro de água - no domínios em que se "mexe" melhor, quer a nível de personagens e ambientes (bastante "rascas" e violentos, mas de onde consegue sacar uma centelha muito humana e emocional), quer a nível técnico, de gestão das peças no espaço e dos movimentos de câmara mais elegantes para os dinamizar. São duas horas de virtuosismo técnico de alto calibre. Já falei por diversas vezes da perseguição final na estação de comboios, mas destaco também a sequência nos telhados em que o Carlito vai pela primeira vez tentar ver a Gail. Um mimo! *

(e há ainda a cena em que aparece o Viggo Mortensen, "a real stand-up guy" )

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EDIT * - estive agora a rever a cena no youtube e lembrei-me logo dos temas "voyeuristas" típicos e obsessivos do De Palma (e que por sua vez remetem para Hitchtcock, um cineasta muito homenageado pelo Brian), em que uma personagem espia a outra através da janela do edifício em frente - se bem que aqui a temática é diferente, está cirscunspecta apenas à cena em causa, e tem uma particularidade, um toque especial, a que apenas posso apelidar de "estado de graça induzido": às tantas Gail aparece mesmo em frente à janela, os planos começam a alternar-se entre o fascínio sentido por Carlito e a concentração da "namorada" que, alheia ao espectador que a mira do outro lado da rua, ensaia uma peça de Ballet, e o som da chuva deixa de se ouvir - a música que o substitui (e que supostamente está tocar dentro da sala) foi a cereja no topo do bolo, porque não só transmite de imediato tudo aquilo que o Brigante está a sentir naquele momento, como une simbolica e emocionalmente as duas personagens.

[nimzabo]

O Sean Penn parece o Art Garfunkel