Die Hard (1988) - John McTiernan

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No Angel
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by No Angel »

PanterA wrote: March 8th, 2017, 2:56 am
JoséMiguel wrote: March 5th, 2017, 7:52 pm(...) e não aprovo o Estaline fuzilar cineastas, (..)
Mas há alguém com o mínimo de senso comum que aprove tal coisa? :roll:
Eu acho que não, só se forem psicopatas.

De resto, a Rússia ainda tem censura no cinema, não é exemplo pra ninguém. E mesmo fora do cinema, eles ainda há pouco tempo legalizaram a violência doméstica contra as mulheres, aquilo está um degredo.
Samwise
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Samwise »

José Miguel, esta é para te rires um bocadinho ( :-))) ):

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Classificação Etária: M/12Q - sendo que aqui o "Q" significa "Filme de Qualidade". Esta capa deve ser mais recente do que a "original", quando o filme foi primeiro comercializado nos clubes de vídeo, porque essa tinha um rótulo branco rectangular na parte da frente a anunciar isso mesmo: "Filme de Qualidade - Comissão de Classificação de Espectáculos" ( hoje em dia é isto: https://www.igac.pt/classificacao-de-ob ... -culturais )

"Excitante"... "De parar o Coração"... :lol: :lol: :lol:
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JoséMiguel
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by JoséMiguel »

Esse "M/12Q" faz sentido também na cassete VHS, para diferenciar de filmes como "Os Prisioneiros do Universo Perdido", que eu vi no cinema Xenon, nos tempos da escola primária.



Na mesma altura também vi o "E.T." e "Os Goonies" no cinema. Para uma criança da primária a qualidade é idêntica (eu gostei muito de cada um 3 filmes). Faria sentido ser colocado um "Q" no "E.T." e "Os Goonies" para diferenciar um filme infantil de má qualidade como "Os Prisioneiros do Universo Perdido" dos outros filmes infantis com qualidade técnica cinematográfica.

Eu concordo com o "Q" no "Die Hard", tendo em conta que é um filme infantil, ou eventualmente infanto-juvenil, com boa qualidade técnica cinematográfica.

Eu chamo a atenção para a página do wikipedia que examina os filmes saídos no ano 1988:

https://en.wikipedia.org/wiki/1988_in_film

A página é muito deprimente, porque na primeira secção surgem os filmes que deram mais lucros, onde está este "Die Hard", e na secção seguinte aparece lá uma lista enorme com títulos como "O Cinema Paraíso", "Little Dorrit", "Paper House", etc.

Esse "Q" do "Die Hard" só poderá parecer estranho a alguém que não o reconheça como filme infantil. Para mim o "Q" faz sentido. :-)
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by mansildv »

'Die Hard' Screenwriter Weighs In on Christmas Movie Debate

https://www.hollywoodreporter.com/heat- ... te-1070339

https://cdn1.thr.com/sites/default/files/imagecache/scale_crop_768_433/2016/12/die_hard_1988_3-h_2016.jpg
JoséMiguel
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by JoséMiguel »

Yippee-ki-yay, Motherfucker



EDIT: Pois! Este filme arrelia-me um bocado por causa do enredo com fórmula zombi. É que existem bons filmes de acção como o "The Thing" do John Carpenter ou o primeiro filme da saga Rambo, com excelentes argumentos, que não impôem esta desgraçada fórmula de enredo atrasado mental (o herói salva a namorada e derrota o vilão, enquanto manda bocas (as pessoas verdadeiras não andam por aí a mandar bocas, como os personagens de Hollywood), etc.). O meu problema aqui é mesmo o enredo. evil-)
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Samwise »

JoséMiguel wrote: January 24th, 2018, 4:18 am EDIT: Pois! Este filme arrelia-me um bocado por causa do enredo com fórmula zombi. É que existem bons filmes de acção como o "The Thing" do John Carpenter ou o primeiro filme da saga Rambo, com excelentes argumentos, que não impôem esta desgraçada fórmula de enredo atrasado mental (o herói salva a namorada e derrota o vilão, enquanto manda bocas (as pessoas verdadeiras não andam por aí a mandar bocas, como os personagens de Hollywood), etc.). O meu problema aqui é mesmo o enredo. evil-)
Hello. :-D

Dado o histórico de investigador atento e contextualizador histórico-mor que todos te reconhecem por aqui, José Miguel, creio que estás neste caso a fazer um péssimo trabalho de análise, quer particular, quer geral, no caso do Die Hard (e de outros por acréscimo). Estás a limitar a um extremo quase radicalizado a questão da qualidade à ideia de "enredo/fórmula cliché", a à eventual infantilidade narrativa.

Eu acho que as tuas questões são pertinentes e interessantes, e gostaria de as debater mais a fundo aqui. Mas também gostava que saísses um pouco dessa tua embirração concreta (da fórmula cliché e da infantilidade, que são apenas pormenores num meio de muitos outros) e estudasses com mais afinco este filme e a época em que saiu.

Sugestões para todos refletirmos:

- O que tornou o Die Hard um êxito tão grande na altura?
- O que o tornou, desde então, um fenómeno cultural e um modelo (de cópia, de imitação, de homenagem) para um determinado tipo de filme que ainda hoje é seguido?
- O que o torna um bom (ou mau) filme de acção?
- E dentro do seu "sub-género", que é por alto o "one hero against many villains", o que o distingue da "concorrência"?
- Que características são importantes para que um "filme de acção" possa ser entendido/apreciado como "bom"?

Nota: concordo plenamente contigo nalguns aspecto: o Die Hard é infantil, previsível, inverosímel, incoerente, ridículo, e por vezes todas estas ao mesmo tempo. E no entanto... :mrgreen:
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by JoséMiguel »

Dado o histórico de investigador atento e contextualizador histórico-mor que todos te reconhecem por aqui, José Miguel, creio que estás neste caso a fazer um péssimo trabalho de análise, quer particular, quer geral, no caso do Die Hard (e de outros por acréscimo).
Sim, eu aqui estou a "ajavardar" (será que esta palavra existe?) armado em idiota da taberna a embirrar sem razão, porque me apetece. Obrigado pelo elogio/reconhecimento ao esforço que eu faço em espreitar traduções para inglês de sites em línguas esquisitas, mas eu faço isso para filmes interessantes.

Eu também tenho a outra faceta do bronco anormal atrasado mental (como os adeptos do futebol que se arreliam com quem não é do clube deles), que foi essa que eu mostrei aqui.

Se calhar não tenho nenhuma razão lógica para embirrar com este estilo de filmes, mas às vezes preciso de libertar pressão e escrever parvoíces.

Sam, neste filme nem vale a pena perderes tempo a tentar debater comigo, porque eu assumo que me apeteceu embirrar com o filme e escrever porcaria.

Quanto muito posso pedir desculpas por ter libertado pressão a embirrar com esta laia de filmes. :lol:
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Samwise »

Epá, mas estás no teu direito de refilar e embirrar à vontade... :mrgreen:

Este filme é que é, ou devia ser, um case study, por ter conseguido mudar as regras do jogo dentro do género, não tendo mudado a "fórmula"...
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by lud81 »

Não tenho a certeza, mas penso que Die Hard é capaz de ter sido o primeiro filme de acção de Hollywood a apresentar um herói vulnerável, um homem quebrado que sofre e chora. Antes deste filme, em 1987, só me vêm à cabeça leading men tipo Clint Eastwood, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris, Charles Bronson, Lee Marvin, Steve McQueen, Sean Connery (como Bond), etc. Todos eles máquinas sem sentimentos e uma determinação inabalável, que passavam o filme sem hesitações e tinham sempre tudo sob controlo, e tratavam as mulheres como objectos descartáveis. Como exemplo, basta ver Lone Wolf McQuade, com o Chuck Norris (que é um dos melhores filmes do Chuck Norris, se não o melhor, mas serve perfeitamente de exemplo para um tipo de herói totalmente diferente do John McClane).

Hmm, pensando um pouco, houve o First Blood em 1982, com um muito bom personagem John J. Rambo, que nos filmes seguintes não teve nada a ver com o que foi no primeiro. Até Stallone o redimir no filme final, Rambo de 2008. Poderão haver outros exemplos.

PS: refiro-me a Hollywood. Em Hong Kong, John Woo já havia criado heróis assim, começando em A Better Tomorrow, 1986.
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Samwise
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Samwise »

lud81 wrote: January 29th, 2018, 9:58 am Não tenho a certeza, mas penso que Die Hard é capaz de ter sido o primeiro filme de acção de Hollywood a apresentar um herói vulnerável, um homem quebrado que sofre e chora. Antes deste filme, em 1987, só me vêm à cabeça leading men tipo Clint Eastwood, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris, Charles Bronson, Lee Marvin, Steve McQueen, Sean Connery (como Bond), etc. Todos eles máquinas sem sentimentos e uma determinação inabalável, que passavam o filme sem hesitações e tinham sempre tudo sob controlo, e tratavam as mulheres como objectos descartáveis. Como exemplo, basta ver Lone Wolf McQuade, com o Chuck Norris (que é um dos melhores filmes do Chuck Norris, se não o melhor, mas serve perfeitamente de exemplo para um tipo de herói totalmente diferente do John McClane).

Hmm, pensando um pouco, houve o First Blood em 1982, com um muito bom personagem John J. Rambo, que nos filmes seguintes não teve nada a ver com o que foi no primeiro. Até Stallone o redimir no filme final, Rambo de 2008. Poderão haver outros exemplos.

PS: refiro-me a Hollywood. Em Hong Kong, John Woo já havia criado heróis assim, começando em A Better Tomorrow, 1986.
Eu acho que vai até para além desses aspectos. Não é apenas a vulnerabilidade emocional (sobretudo) da personagem principal, é a proximidade com o "common Joe" que lhe enfiaram no ADN. O John McClane é alguém com quem o espectador se consegue identificar - uma pessoa quase normal, com um trabalho normal, sem ser um brutamentes, e com uma situação familiar em clara derrapagem - algo que o faz sofer. É um gajo normal que tem de se superar para poder sobreviver, e que numa série de situações acaba mesmo por beneficiar do factor sorte. Ele sai do avião logo ao início com um urso de peluche gigante nos braços (deve ser para oferecer aos filhos), um pequeno detalhe que é apenas um no meio de muitos aspectos que foram tratados com um cuidado especial, longe dos filmes desmiolados e "insensíveis" de tiro ao boneco. A nível físico, lembro-me bem da conversa que a sequência dos vidros deu que falar na minha escola - não estávamos habituados a ver um herói a arrastar-se pelo chão e a deixar quase um rio de sangue atrás...

A nível de acção, creio que o factor principal de inovação foi o Nakatomi Building, um espaço arquitectónico imensamente sedutor enquanto cenário fechado para enfiar pessoal aos tiros. O edifício é claramente um factor mais no filme, quase uma pesonagem de vidro e betão, imponente por fora e misteriosa e fascinante de descobrir por dentro, e que o McTiernan filmou com enorme sentido de aproveitamento estético. A infinidade de recantos e tipos de cenário para tiroteios e pancadaria, e sobretudo para o jogo do gato e do rato que acaba por suceder, sem que ninguém possa sair ou entrar, é sem dúvida um trunfo importante. Os primeiros minutos do assalto, em que a equipa de vilões entra no edifício e "tranca as portas" são mesmo uma lição de bem filmar. Tudo ao som da nona sinfonia de Bethoven, em versão alternativa...

E os vilões, sobre esses também há uma quantas coisas a dizer... salut-)
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Rui Santos »

Tenho de rever o filme, percebo bem o que falas Samwise, mas já não o vejo há muito tempo para me lembrar dele com exatidão.
Vi recentemente o Speed, que imho partilha muito deste filme, aliás era para ser John McTiernan a realizar o mesmo.
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Samwise »

Rui Santos wrote: February 5th, 2018, 9:13 am Tenho de rever o filme, percebo bem o que falas Samwise, mas já não o vejo há muito tempo para me lembrar dele com exatidão.
Vi recentemente o Speed, que imho partilha muito deste filme, aliás era para ser John McTiernan a realizar o mesmo.
Também não vejo o Die Hard há uns anos valentes, e estou a ganhar novamente vontade.

O Speed (o primeiro) é outro objecto singular e estimável no campo dos thrillers de acção, e a base é muito semelhante à do Die Hard: joga com um espaço fechado onde se desenrola o principal foco de tensão e onde se filmam as sequências de "molho" ( :mrgreen: ), só que o conceito original que o Speed apresentou (ou pelo deu a divulgar às massas), já depois do Die Hard, foi o micro-espaço circunspecto do autocarro, que não pode parar sob ameaça de explosão, e de onde ninguém pode sair.

---EDIT -
Já o Speed 2 é um clone (fraquinho) do Die Hard - com um paquete a fazer de Nakatomi... :-)))
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by Samwise »

Artigo de opinião fresquinho de hoje, no The Guardian, que nos diz essencialmente aquilo que já sabemos: o filme foi um game-changer no cinema de acção, e que deixou um legado interminável de obras que raramente cheiraram ao perfume do original.

Die Hard at 30: how it remains the quintessential American action movie
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by lud81 »

Bom artigo, gostei de ler.
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José
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Re: Die Hard (1988) - John McTiernan

Post by José »

Não sou o maior dos fãs de filmes de acção, mas este Die Hard - Assalto ao Arranha-Céus (1988) e o Speed - Perigo a Alta Velocidade (1994) dão-me cabo do meu coraçãozito cinéfilo. Adoro os dois desde sempre e ambos proporcionam-me uma aceleração cardíaca fora do comum (a nota curiosa é que contam com Jan de Bont na ficha técnica; director de fotografia no caso do primeiro, realizador no caso do segundo).

Razões para amar este filme de 1988 e para o seu sucesso são muitas e variadas, pelo menos a meu ver:

- O Contexto. Passa-se no Natal e está nos antípodas dos filmes que versam sobre essa quadra; é a história de um tipo comum que sai da sua zona de conforto para ir tentar resgatar qualquer hipótese que ainda haja de "unidade familiar" - tentar reconquistar a mulher e recuperar a relação entretanto esquartejada pela distância com os filhos pequenos. Há algo de Frank Capra neste embrulho todo, dos sentimentos à flor da pele numa altura propícia a tal. O que acontece é que lhe lixam os planos de serenidade e ele tem que ajustar o seu foco para circunstâncias completamente inesperadas e com consequências niilistas;

- O Protagonista. Temos em cena um homem bastante comum, de estatura média, não muito robusto e até já sem grande benesse capilar. De facto, longe dos "calmeirões" de serviço que abundaram nos anos 80, nas mais variadas fitas de acção. Este é um tipo com falhas de carácter, com um temperamento nem sempre fácil de gerir, conta com um humor bastante aguçado, tem uma profissão bastante normal e cuja vida familiar está a ir pelo cano abaixo - é humano, portanto;

- Os Efeitos Práticos. O facto do filme fazer por potenciar os chamados efeitos práticos ao invés de se escudar nos efeitos especiais constantes dá-lhe, ao mesmo tempo, charme, verdade e rudeza. Bruce Willis e o(s) duplo(s): seja quem for que tenha feito o quê, a realidade é que alguém teve que passar por aquele caos. Logo, passa automaticamente verdade para o espectador e envolve-nos - é um autêntico labor of love;

- A Montagem. Para além de estar impecavelmente filmado no seu todo - e musicado também, verdade seja dita -, a montagem nas chamadas cenas de acção é particularmente sofisticada - percebe-se sempre bem tudo o que está a acontecer em cena e não se cai na falácia da parafernália de cortes a cada dois segundos, tentação que contamina muitos modelos de espectáculo actuais, em que, à força, se tenta dar a ilusão de dramatismo e acção. Como se rapidez de transição de cenas e ruído sonoro e visual fossem significado automático de vertigem e aceleração dramática. O filme tem também aquele élan cartoonesco muito bem construído: veloz, exagerado, desesperado, impaciente, com um protagonista já quase só com as tripas de fora e ainda a soltar umas quantas larachas pelo meio enquanto tenta novamente reunir forças extra;

- A Jornada do Herói. Para lá das suas características pessoais com as quais o espectador se consegue identificar, a jornada do homem é tramada o tempo todo e faz-nos temer pela sua condição física. Quando o vi pela primeira vez, achei que ele conseguiria "salvar o dia", mas também me lembro que cheguei a pensar que, depois desse feito heroico, ele poderia cair ao chão e morrer, tal era o grau de mossas que apresentava. O homem não só se submete a uma viagem longa para chegar ao seu destino familiar, como passa o tempo todo da fita sozinho (uma nota para a ligação emocional que ele estabelece com o polícia traumatizado, esse elemento de buddy movie funciona muito bem), descalço e andrajoso, a pingar sangue a rodos de todas as feridas que vai acumulando no corpo. Longe dos protagonistas que passam pelas mesmas coisas neste tipo de filmes e que, por vezes, surgem imaculados, bem penteados e maquilhados no fim das contas;

- Filme- Catástrofe. Existe aqui aquela aura de filme-catástrofe, sub-género tão popular nos anos 70. Um local majestoso, com inúmeras personagens metidas lá dentro, com obstáculos atrás de obstáculos, em que não se sai nem se entra e onde se espalha o maior dos alvoroços!;

- O Vilão. Jogo do gato e do rato também no confronto directo entre o herói e o vilão - este de uma elegância obscena, de pose e expressão quase teatral (magnífico Alan Rickman!).
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