Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

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Asgaard
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Asgaard »

Ludovico wrote:Também o vi recentemente e fiquei com a ideia do Grande Guru.
Na minha opinião,é um bom filme de facto mas que vale única exclusivamente pelo desempenho fascinante de Natalie Portman.Ela carrega o filme aos ombros durante quase 2 horas de uma forma magnifica.
Tem uma realização quase académica de Darren Aranovsky,uma pena e um guião ligeiro e superficial.Aranovsky fez um dos filmes da minha vida ("Requiem For a Dream"),de seguida fez um dos piores filmes da década passada("The Fountain") e de seguida fez dois filmes que são veiculos de lançamento dos actores envolvidos."The Wrestler" e este são "filhos" um do outro,de facto.São ambos filmes bastante bons mas em ambos os casos são guiões que não foram desenvolvidos com profundidade e neste "Cisne Negro" a realização é de um academismo enfadonho.Vale pelos desempenhos e mais nada.
Dou quer a "The Wrestler" e a este "Cisne Negro" a mesma nota:
7/10.
Dos filmes que eu vi até agora e que estão nomeados para os Óscares para Melhor Filme e Melhor Realizador nenhum deles merecia estar sequer nomeado.
Vamos ver o que Aranavosky tem para contar no futuro.
Acho que há por aí algumas contradições, não acho nada que o The Fountain seja um mau filme, achei-o bastante bom.

As coisas simples e superficiais também elas têm uma beleza muito própria, nas artes existe muito quem vá por esse caminho que só o complicado e de execução difícil é que é bom.


Eu acho que o Black Swan um excelente filme que merece estar entre os melhores do ano, dos nomeados aos Oscar seria o único que eu escolheria, mas já se sabe que os Oscares são prémios políticos, não lhes dou grande valor.

Já agora, levando o exemplo para a musica, simples, académico e meia dúzia de acordes básicos e muito fáceis de executar deram nisto.

http://www.youtube.com/watch?v=11UUVzlI6hI
Ludovico
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Ludovico »

Asgaard wrote:
Ludovico wrote:Também o vi recentemente e fiquei com a ideia do Grande Guru.
Na minha opinião,é um bom filme de facto mas que vale única exclusivamente pelo desempenho fascinante de Natalie Portman.Ela carrega o filme aos ombros durante quase 2 horas de uma forma magnifica.
Tem uma realização quase académica de Darren Aranovsky,uma pena e um guião ligeiro e superficial.Aranovsky fez um dos filmes da minha vida ("Requiem For a Dream"),de seguida fez um dos piores filmes da década passada("The Fountain") e de seguida fez dois filmes que são veiculos de lançamento dos actores envolvidos."The Wrestler" e este são "filhos" um do outro,de facto.São ambos filmes bastante bons mas em ambos os casos são guiões que não foram desenvolvidos com profundidade e neste "Cisne Negro" a realização é de um academismo enfadonho.Vale pelos desempenhos e mais nada.
Dou quer a "The Wrestler" e a este "Cisne Negro" a mesma nota:
7/10.
Dos filmes que eu vi até agora e que estão nomeados para os Óscares para Melhor Filme e Melhor Realizador nenhum deles merecia estar sequer nomeado.
Vamos ver o que Aranavosky tem para contar no futuro.
Acho que há por aí algumas contradições, não acho nada que o The Fountain seja um mau filme, achei-o bastante bom.

As coisas simples e superficiais também elas têm uma beleza muito própria, nas artes existe muito quem vá por esse caminho que só o complicado e de execução difícil é que é bom.


Eu acho que o Black Swan um excelente filme que merece estar entre os melhores do ano, dos nomeados aos Oscar seria o único que eu escolheria, mas já se sabe que os Oscares são prémios políticos, não lhes dou grande valor.

Já agora, levando o exemplo para a musica, simples, académico e meia dúzia de acordes básicos e muito fáceis de executar deram nisto.

http://www.youtube.com/watch?v=11UUVzlI6hI
Não há contradição nenhuma no que disse.
Aranovsky foi muito preguiçoso,em lugar de ter apostado no guião apostou tudo nos actores e pouco mais.O filme tem ritmo,é intenso na parte técnica tem umas magnificas fotografia e montagem mas tem um guião completamente convencional e superficial.Este filme precisava de um guião bem mais completo e maduro.É um filme teenager,demasiado "verde" mas é bom porque tem boas interpretações,especialmente de Natalie Portman que faz o desempenho da vida,(ou melhor,o desempenho da idade dela)e também porque técnicamente é bastante bom.Não tem uma realização má mas é académica e bem comportada até dizer chega e não esperava isso de Aranovsky,uma pena.
Por isso,apesar de bastantes coisas boas o filme é um filme menor.
Pois não concordo,"The Fountain" é um muito,muito mau filme.
De resto,cada pessoa é que sabe onde e quando é necessaria a superficialidade e a simplicidade.Na minha opinião,"Cisne Negro" é filme precisava dos adjectivos contrários.
Até ao momento,já vi 3 filmes que estão nomeados para o Óscar para "Melhor Realizador" nenhum deles,na minha subjectividade,merecia estar sequer lá.Ainda faltam ver 2 filmes.
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Asgaard »

Ludovico wrote:
Asgaard wrote:
Ludovico wrote:Também o vi recentemente e fiquei com a ideia do Grande Guru.
Na minha opinião,é um bom filme de facto mas que vale única exclusivamente pelo desempenho fascinante de Natalie Portman.Ela carrega o filme aos ombros durante quase 2 horas de uma forma magnifica.
Tem uma realização quase académica de Darren Aranovsky,uma pena e um guião ligeiro e superficial.Aranovsky fez um dos filmes da minha vida ("Requiem For a Dream"),de seguida fez um dos piores filmes da década passada("The Fountain") e de seguida fez dois filmes que são veiculos de lançamento dos actores envolvidos."The Wrestler" e este são "filhos" um do outro,de facto.São ambos filmes bastante bons mas em ambos os casos são guiões que não foram desenvolvidos com profundidade e neste "Cisne Negro" a realização é de um academismo enfadonho.Vale pelos desempenhos e mais nada.
Dou quer a "The Wrestler" e a este "Cisne Negro" a mesma nota:
7/10.
Dos filmes que eu vi até agora e que estão nomeados para os Óscares para Melhor Filme e Melhor Realizador nenhum deles merecia estar sequer nomeado.
Vamos ver o que Aranavosky tem para contar no futuro.
Acho que há por aí algumas contradições, não acho nada que o The Fountain seja um mau filme, achei-o bastante bom.

As coisas simples e superficiais também elas têm uma beleza muito própria, nas artes existe muito quem vá por esse caminho que só o complicado e de execução difícil é que é bom.


Eu acho que o Black Swan um excelente filme que merece estar entre os melhores do ano, dos nomeados aos Oscar seria o único que eu escolheria, mas já se sabe que os Oscares são prémios políticos, não lhes dou grande valor.

Já agora, levando o exemplo para a musica, simples, académico e meia dúzia de acordes básicos e muito fáceis de executar deram nisto.

http://www.youtube.com/watch?v=11UUVzlI6hI
Não há contradição nenhuma no que disse.
Aranovsky foi muito preguiçoso,em lugar de ter apostado no guião apostou tudo nos actores e pouco mais.O filme tem ritmo,é intenso na parte técnica tem umas magnificas fotografia e montagem mas tem um guião completamente convencional e superficial.Este filme precisava de um guião bem mais completo e maduro.É um filme teenager,demasiado "verde" mas é bom porque tem boas interpretações,especialmente de Natalie Portman que faz o desempenho da vida,(ou melhor,o desempenho da idade dela)e também porque técnicamente é bastante bom.Não tem uma realização má mas é académica e bem comportada até dizer chega e não esperava isso de Aranovsky,uma pena.
Por isso,apesar de bastantes coisas boas o filme é um filme menor.
Pois não concordo,"The Fountain" é um muito,muito mau filme.
De resto,cada pessoa é que sabe onde e quando é necessaria a superficialidade e a simplicidade.Na minha opinião,"Cisne Negro" é filme precisava dos adjectivos contrários.
Até ao momento,já vi 3 filmes que estão nomeados para o Óscar para "Melhor Realizador" nenhum deles,na minha subjectividade,merecia estar sequer lá.Ainda faltam ver 2 filmes.
Confesso que achei piada a parte do "black Swan" ser um filme para teenagers.
A simplicidade pode servir para fazer musicas como as dos Pink Floyd ou para fazer musicas como as do Quim Barreiros.
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Cabeças
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Cabeças »

Ora aí está um tipo de crítica de que estava à espera: a de alguém ligado ao meio do bailado. A crítica não é muito abonatória em termos de fiabilidade, mas para mim não retira nenhum do brilhantismo do filme. E sinceramente, pergunto-me se no meio as coisas serão tão perfeitas como nos quer fazer crer a minha "colega" antropóloga... :-)))

Maria José Fazenda, antropóloga, professora na Escola Superior de Dança e ex-bailarina, assistiu a Cisne Negro e escreveu sobre a relação de proximidade ou de distância que o filme estabelece com a realidade do ballet e com a vivência de uma bailarina numa companhia de dança e enquanto intérprete de O Lago dos Cisnes.

Refere ela que:

O ballet é um mundo constituído por especificidades, quando comparado com outros mundos da dança e da não dança. A organização hierárquica interna dos profissionais, o domínio de técnicas de movimento extremamente virtuosas, por parte dos bailarinos, carreiras profissionais que começam cedo e acabam cedo, regras que definem deveres e direitos de cada elemento no interior de uma companhia e de ocupação dos vários espaços de trabalho, procedimentos para cuidar da indumentária, um reportório que, na actualidade, concilia obras clássicas com outras contemporâneas - as quais, sublinhe-se, frequentemente desconstroem as posições entre bailarinos - são aspectos que definem este universo particular.

Algumas destas facetas aparecem no Cisne Negro, de Darren Aronofsky, como as aulas de dança clássica, as bailarinas cumprindo o ritual de coser as fitas às sapatilhas de pontas, a distinção dos bailarinos pela posição que ocupam e as personagens de O Lago dos Cisnes em acção. São, contudo, imagens frequentemente fragmentadas, distorcidas, exageradas. Mas é a colagem da vida de duas personagens, Odette/Odile, que em si são já uma fantasia sem correspondência na vida real, à vida de uma bailarina que, no filme, pode induzir ao equívoco de se acreditar que se está perante algo baseado em situações efectivamente experienciadas pelas bailarinas nos dias de hoje numa companhia de ballet, em vez de um produto da actividade ficcional dos seus autores.

Espírito de classe

Admitamos que alguns bailarinos possam identificar situações realmente vividas de entre o conjunto das que são representadas no filme, como a ansiedade resultante da pressão sentida pelas exigências artísticas ou interpretativas colocadas por um coreógrafo ou mestre de bailado particulares, ou da competição entre pares, ou ainda os eventuais comportamentos abusivos que ameaçam a integridade do sujeito. Estas podem, no entanto, ser situações eventualmente vivenciáveis em qualquer mundo profissional competitivo e hierarquizado e não exclusivamente no mundo do ballet.

Os universos profissionais competitivos e socialmente hierarquizados, em que as posições dos indivíduos são, ao nível das relações de poder, assimétricas, favorecem os comportamentos egocêntricos, narcisistas e abusivos. Nas sociedades democráticas, contudo, espera-se que os dispositivos de detecção de tais abusos funcionem em permanência e que os mecanismos de punição dos agressores sejam imediatamente accionados. O que também se espera que aconteça, sem hesitações, no mundo de uma companhia de ballet, nos dias de hoje, na Europa ou nos Estados Unidos da América (referem-se estes contextos por serem os que melhor conhecemos e por ser o contexto norte-americano aquele a que o filme se refere). São, por isso, surpreendentes os abusos que ficam impunes na versão do mundo de Aronofsky, sobretudo os de índole sexual exercidos por Thomas (coreógrafo/professor) sobre Nina (a jovem bailarina protagonista). Que bailarina se sujeitaria, nos dias de hoje, a tais ofensas no seu local de trabalho? Que coreógrafo ou mestre de bailado conseguiria, nos dias de hoje, manter a sua posição, cometendo tais injúrias?

Num depoimento sobre o Cisne Negro, dado à revista Danser (edição de Fevereiro), Élisabeth Platel, ex-bailarina étoile do Ballet de L"Opéra de Paris - posição mais alta na hierarquia social entre os bailarinos nesta companhia -, exprime a sua estranheza perante a figura do mestre de bailado representada no filme: "(...) A época dos directores de companhias a importunar as jovens bailarinas terminou e parece-me ainda mais espantoso ver isso num filme americano."

Também num interessante trabalho sobre o modo de construção das carreiras e sobre as relações profissionais em quatro importantes companhias de ballet, Ballet across Borders: Career and Culture in the World of Dancers (1998), as observações da autora, a antropóloga Helena Wulff, contrariam até a convicção de senso comum da existência, na actualidade, de comportamentos opressivos de coreógrafos ou ensaiadores para com bailarinos. Pelo contrário, Wulff regista que estes afirmam frequentemente os seus eventuais desconfortos perante algo que lhes é exigido fisicamente e a que não estão em condições de responder, ou recusam-se a fazê-lo, ou sugerem mudanças. A determinação, por parte dos bailarinos, na defesa dos seus direitos e da sua integridade física é um aspecto que um outro filme, A Dança - O Ballet de L" Opéra de Paris, de Frederick Wiseman, que esteve recentemente nas salas de cinema portuguesas, também documenta. Mesmo o espírito competitivo que Wulff descreve como sendo característico do mundo do ballet é, porém, segundo a antropóloga, amenizado e contrabalançado com a camaradagem e o espírito de grupo e de classe vivido entre os bailarinos. Por isso, não são menos estranhas, no filme, a violação que Nina comete sobre os bens de Beth e, sobretudo, a violência psicológica exercida por parte de Thomas e de todo o grupo ainda sobre Beth, a bailarina-estrela que vê a sua carreira chegar ao fim, e que, precisamente por isso, seria, no mundo real, digna do maior respeito e não de uma cruel desconsideração.

A carreira dos profissionais do ballet começa cedo e acaba cedo, é certo. A pressão do tempo para concretizarem os seus objectivos artísticos e se realizarem profissionalmente pode ser forte. Neste quadro, se o lado infantil da bailarina muito jovem pode corresponder a algo observado na realidade, como, aliás, reconhece também Platel, no mesmo depoimento citado atrás, pelo contrário, afirma a ex-bailarina étoile, a "forma como Nina se afunda na loucura, trabalhando no seu papel, releva da pura ficção".

O facto de uma bailarina se deixar envolver pelo papel que desempenha ao ponto de se confundir com ele é inverosímil, sobretudo, porque, por um lado, estão em causa personagens de uma narrativa fantástica e, por outro lado, porque o papel de Odette/Odile, tendo em consideração as suas exigências técnicas e interpretativas, é atribuído a bailarinas que revelem possuir uma maturidade que não é compatível com a criação de tal confusão entre a ficção e a realidade.

Desde a estreia de O Lago dos Cisnes, de Marius Petipa e de Lev Ivanov, em 1895, a partir da qual foram sendo produzidas muitas e relevantes versões, o papel de Odette/Odile tem sido interpretado por bailarinas seguras e muito competentes. A primeira foi Pierina Legnani, a italiana que executou os famosos 32 fouettés enquanto Odile, na coda do 3º acto, secção a que o filme de Aronofsky faz, aliás, uma sublinhada referência. Depois, refira-se Mathilde Kshessinska que, ao lado de Vaslav Nijinsky, interpretou a Odette/Odile da versão de Mikhail Fokine, para os Ballets Russes de Serge Diaghilev, faz agora 100 anos. Houve, e há, muitas e muitas outras, até à prodigiosa Sylvie Guillem, passando pela exímia Margot Fonteyn.

Ainda em relação à dimensão artística de O Lago dos Cisnes trazida para o filme, é desadequado que um coreógrafo evoque o "excesso de controlo", característica que Nina teria para interpretar o cisne branco, Odette, por oposição à necessidade de "deixar-se ir", característica que lhe faltaria para interpretar o cisne negro, Odile. São qualidades que não definem os caracteres destas duas personagens, as quais, grosso modo, se definem antes pela oposição benévola-malévola. E se alguma interpretação teria de exprimir mais controlo seria a da segunda e não a da primeira.

Ora, é precisamente desta oposição entre o "excesso de controlo" e o "deixar-se ir" que Aronofsky precisa para representar, no filme, a sua visão do género feminino. A distinção que parece interessar-lhe não é entre as qualidades de movimento que melhor exprimem as diferenças entre o cisne branco e o cisne negro, mas as que melhor traduzem uma representação do género feminino dualista que distingue a mulher controlada-ingénua-inexperiente e a mulher livre-sensual-madura. É como se a primeira fosse o ponto de partida e a segunda o ponto de chegada. Pelo meio há um ser em devir, uma personalidade hesitante, a perturbação psicológica, o delírio.A visão da mulher e da bailarina representada no filme de Aronofsky é redutora e simplista. Trata-se, contudo, de uma visão que alguns ballets oitocentistas veicularam e que o filme reitera. No século XIX, o ballet acentuou no palco a divisão social entre homens e mulheres e transformou-se, segundo a historiadora Lynn Garafola, "numa arte sobre mulheres interpretada por mulheres para homens" (Rethinking the Sylph: New Perspectives on the Romantic Ballet, 1997).

Mas, nos dias de hoje, não é só o cisne de Darren Aronofsky que está fora de palco, é também a sua representação do género feminino que está fora de cena.


http://www.publico.pt/Cultura/um-cisne- ... 481115?p=1
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Samwise
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Samwise »

Cabeças wrote:Ainda em relação à dimensão artística de O Lago dos Cisnes trazida para o filme, é desadequado que um coreógrafo evoque o "excesso de controlo", característica que Nina teria para interpretar o cisne branco, Odette, por oposição à necessidade de "deixar-se ir", característica que lhe faltaria para interpretar o cisne negro, Odile. São qualidades que não definem os caracteres destas duas personagens, as quais, grosso modo, se definem antes pela oposição benévola-malévola. E se alguma interpretação teria de exprimir mais controlo seria a da segunda e não a da primeira.

Ora, é precisamente desta oposição entre o "excesso de controlo" e o "deixar-se ir" que Aronofsky precisa para representar, no filme, a sua visão do género feminino. A distinção que parece interessar-lhe não é entre as qualidades de movimento que melhor exprimem as diferenças entre o cisne branco e o cisne negro, mas as que melhor traduzem uma representação do género feminino dualista que distingue a mulher controlada-ingénua-inexperiente e a mulher livre-sensual-madura. É como se a primeira fosse o ponto de partida e a segunda o ponto de chegada. Pelo meio há um ser em devir, uma personalidade hesitante, a perturbação psicológica, o delírio.A visão da mulher e da bailarina representada no filme de Aronofsky é redutora e simplista. Trata-se, contudo, de uma visão que alguns ballets oitocentistas veicularam e que o filme reitera. No século XIX, o ballet acentuou no palco a divisão social entre homens e mulheres e transformou-se, segundo a historiadora Lynn Garafola, "numa arte sobre mulheres interpretada por mulheres para homens" (Rethinking the Sylph: New Perspectives on the Romantic Ballet, 1997).
Gostei de ler o artigo, mas não estou nada de acordo com esta parte. Não me parece que o Aronofsky quisesse apresentar uma "visão da mulher" e ainda menos que o fizesse com essa estreiteza/limitação dos dois pólos opostos . Não é uma visão da "mulher", é uma visão daquela mulher/personagem e da sua obsessão/perturbação. Enfim...
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by M0chit0 »

Tive a oportunidade de ir ver "Black Swan" ao cinema a semana passada e ia completamente "hypado" para o filme, com comentários de "melhor do ano" e "obra de culto". Mas achei-o simplesmente bom. Mais nada. Bem realizado, filmado e com com um simples BOM papel da Natalie Portman, que tem concorrência fraca (talvez só Hailee Steinfeld de True Grit). Melhor Filme? Muito longe para mim. Melhor realizador? O melhor não está nomeado.

Nota: 8.0/10
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by tok »

Tb fui ver e considero-o um bom filme.

Mais do que o poder da fotografia e das coreografias, o que me marcou mesmo foi a tensão constante ao longo de todo o filme ...
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Ahab »

desculpem lá o offtopic, mas está tudo doido :o :o


Man shot dead for eating popcorn too loudly at "Black Swan"

They don't call it a psychological thriller for nothing.

Apparently the psychological mind games that tear up Natalie Portman's character in "Black Swan" extended to the audience at a screening in Latvia, where police say a man shot and killed another audience member over popcorn.

Witnesses say the conflict arose when the alleged shooter became angry over how loudly another man was eating popcorn at the screening. (The shooter has presumably never been to a movie in New York.)

Police say they arrested a 27-year-old man who was suspected of shooting the fellow audience member, a 42-year-old man, reports the Telegraph. The victim later died in a hospital from his wounds.
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by AMSA »

Fui ver na Sexta passada e gostei bastante.
Um filme que realmente vale a pena ver no cinema :wink:

9/10
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by p_alucinado »

Para mim GRANDE FILME, sem dúvida um dos melhores do ano! Já contava com uma realização poderosa pelo que tinha visto no trailer, mas nunca esperei uma coisa assim, tão absorvente, com tanto a ser revelado em cada plano. Black Swan é, sem dúvida, um filme que pede múltiplos visionamentos. Acho que só assim conseguiremos, enquanto espectadores e cinéfilos, usufruir de tudo o que o filme tem para nos oferecer.

O que ali está pode ser visto de múltiplos prismas, desde a procura da perfeição, o confrontar dos medos interiores (e exteriores também), o crescimento enquanto pessoa, o ser, o parecer e o procurar ser, a obsessão... Mas há mais! Há insegurança, há génio, há a beleza do significado de cada falha, de cada sucesso. Natalie Portman encarna na perfeição esse cisne branco que enegrece e se encontra algures no processo. Mas tudo o resto é muito bom e Vincent Cassel é o homem mas sobretudo o mestre que não se deixa levar mas se enfurece por saber que tem a perfeição na mão e sentir-se impotente para a fazer prevalecer. E Mila Kunis que é tudo menos o cisne negro, é o anjo que ajuda a Nina a sobressair, mesmo que esta não se aperceba.

Lendo a crítica que o Cabeças postou consigo compreender completamente a opinião de quem a escreveu e considero-a muito válida. Mas acho sinceramente que o filme vai muito além de uma análise que acaba por ser um pouco simplista.

Um dos grandes filmes do ano, sem dúvida! Não havendo Nolan na lista, Oscar para Aronofski, JÁ!!!
Um clássico por semana, visto pela primeira vez, em UMA PARAGEM NO DRIVE-IN (http://umaparagem.blogspot.pt)
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Wickedbug »

Mais um grande filme do Aronofsky. Óptimo trabalho de câmara e de som a criar um ambiente de tensão e quase claustrofobia ao longo do filme.

À semelhança do The Wrestler não é preciso conhecer ou ser fã do meio, neste caso o ballet, para perceber que é um ambiente brutal (muito sofrem aqueles pés) e por vezes cruel.

A Natalie Portman está óptima a levar todo o filme às costas e a transmitir-nos os dois lados do cisne. Só não é o papel de uma vida porque esse foi logo na estreia no Leon.
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Godric
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Godric »

Samwise wrote:
Cabeças wrote:Ainda em relação à dimensão artística de O Lago dos Cisnes trazida para o filme, é desadequado que um coreógrafo evoque o "excesso de controlo", característica que Nina teria para interpretar o cisne branco, Odette, por oposição à necessidade de "deixar-se ir", característica que lhe faltaria para interpretar o cisne negro, Odile. São qualidades que não definem os caracteres destas duas personagens, as quais, grosso modo, se definem antes pela oposição benévola-malévola. E se alguma interpretação teria de exprimir mais controlo seria a da segunda e não a da primeira.

Ora, é precisamente desta oposição entre o "excesso de controlo" e o "deixar-se ir" que Aronofsky precisa para representar, no filme, a sua visão do género feminino. A distinção que parece interessar-lhe não é entre as qualidades de movimento que melhor exprimem as diferenças entre o cisne branco e o cisne negro, mas as que melhor traduzem uma representação do género feminino dualista que distingue a mulher controlada-ingénua-inexperiente e a mulher livre-sensual-madura. É como se a primeira fosse o ponto de partida e a segunda o ponto de chegada. Pelo meio há um ser em devir, uma personalidade hesitante, a perturbação psicológica, o delírio.A visão da mulher e da bailarina representada no filme de Aronofsky é redutora e simplista. Trata-se, contudo, de uma visão que alguns ballets oitocentistas veicularam e que o filme reitera. No século XIX, o ballet acentuou no palco a divisão social entre homens e mulheres e transformou-se, segundo a historiadora Lynn Garafola, "numa arte sobre mulheres interpretada por mulheres para homens" (Rethinking the Sylph: New Perspectives on the Romantic Ballet, 1997).
Gostei de ler o artigo, mas não estou nada de acordo com esta parte. Não me parece que o Aronofsky quisesse apresentar uma "visão da mulher" e ainda menos que o fizesse com essa estreiteza/limitação dos dois pólos opostos . Não é uma visão da "mulher", é uma visão daquela mulher/personagem e da sua obsessão/perturbação. Enfim...
A mim parece-me claro que o Cisne Branco representa a mulher ingénua, controlada, inexperiente e o Cisne Negro a mulher sensual, extrovertida . E que essa personalidade não a deixava por em prática toda a sua capacidade para representar o Cisne Negro . Daí a sua frustração que se vê ao longo do filme .
Adorei as dicas do prof , ele a dizer para ela se tocar, ele sabia que tinha ali um diamante por lapidar .
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by candyman7 »

Reforçando o que já foi escrito, Black Swan é mais uma obra-prima de Darren Aronofsky.
Na minha opinião, tudo, desde actuações, argumento, ritmo de desenvolvimento, fotografia, banda sonora (mais um excelente trabalho de Clint Mansell), etc, está perfeito.
E é excelente ver que Aronofsky, mesmo tendo agora mais projecção, mantém elementos que o caracterizam, como os planos (como aquela câmara montada nos actores), atenção aos cenários, conteúdo Rated R e, especialmente, tensão que provoca no espectador.
Com Pi e The Fountain ainda por ver, já é o meu realizador preferido. Espero é que não se renda ao mainstream, e que intercale projectos como o futuro The Wolverine com filmes deste calibre.
Giribi
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by Giribi »

Mais um bullseye do Aronofsky no que diz respeito aos meus gostos pessoais. Só ainda não vi o Pi, e acho muitos bons todos os seus filmes, sendo que o Requiem é quanto a mim uma obra prima.

Ao contrário do que foi dito por um colega forista, acho a realização tudo menos académica, com um excelente trabalho de camara na forma como ela tem uma relação de grande intimidade com os protagonistas, transformando o ballet que para mim é uma seca monumental, em algo que me deliciou durante 1 hora e meia. A Natalie Portman tem um desempenho soberbo, e arrebata o filme sem dúvida, mas não acho que isso seja nenhuma falha. É mesmo suposto ser assim. Nenhum outro protagonista tem "tempo de antena" suficiente para ter impacto no desenrrolar da história. Este é um filme acerca de uma bailarina e não de uma companhia de ballet.

Acho o resultado final muito bom e recomendo.
Pelo amor de Deus, que nunca façam um remake, prequel, sequel, reboot, whatever do Blade Runner, e nem sou católico...
Update: Ridley Scott, estás oficialmente na minha shitlist!
BlankFile
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Re: Black Swan (2010) - Darren Aronofsky

Post by BlankFile »

Não sendo o melhor filme do Aronofsky a meu ver, não deixa de ser no entanto um filme de grande qualidade. Um thriller psicológico bem realizado, com interpretações muito interessantes de todo o elenco, especialmente Natalie Portman no papel de protagonista. Gostei do filme no seu todo, mas principalmente das cenas finais que são de uma intensidade vibrantes. Numa escala de 0 a 10 dou um 9.
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