There Will Be Blood (2007) - Paul Thomas Anderson

[THX]

Sem querer voltei a rever este filme no canal Hollywood este fim de semana e mais uma vez confirmei o óbvio - "There Will be Blood" é um filme tão subtil e com tantas cenas "camufladas" que dá mesmo gosto revisitá-lo, nem que seja para entendermos melhor o fio do drama que esta obra de arte nos apresenta.

Para já eu não entendo como é que pode haver gente a falar mal deste filme, mas, e segundo alguns comentários que aqui li, parece que a única explicação plausivel é a de que realmente não se pode perceber este filme sem uma rigorosa visualização de todos os frames, de todo o diálogo, da interação de todas as personagens. Filme para ser visto não uma vez, mas antes para ser "decantado", assimilado, saboreado, várias vezes. Se não tiverem paciência para o ver todo até ao fim...então não se podem sequer considerar cinéfilos ou apreciadores desta arte. E atenção que ao contrário do que muita gente anda para aqui a dizer o mérito do filme não pode ser atribuído exclusivamente a bandas sonoras e á excelente interpretação de Daniel Day Lewis. Vai muito mais além disso.

De um lado temos um homem rude, trabalhador, ambicioso, orgulhoso, cuja sensibilidade e solidariedade vão desaparecendo consoante o aumento do seu poder material. A sua realização profissional atraiçoa o seu destino solitário ao confrontar o seu filho (adoptivo mas "filho" da sua carne ao mesmo tempo) com a dura realidade da sua origem. Embriagado de poder torna-se lentamente um bebâdo desse mesmo poder e intoxicando o seu organismo com carradas de whisky torna-se numa bomba ambulante, que irá ser despoletada no final do filme com o homicidio do profeta Eli, após o ter humilhado e desmascarado até ao mais baixo que um ser humano pode descer.

Para mim "Scarface" deve ser o filme, cuja evolução de história e crescente drama, se equipara mais a este filme de Anderson uma vez que em ambos os filmes assistimos á uma ascensão e consequente queda de homens que no fim saem frustrados e derrotados com o destino que, inconscientemente (mas ao mesmo tempo de uma maneira consciente) escolheram para si próprios. Por outras palavras - a ânsia de poder retira-lhes do caminho aqueles de que mais gostam e os seus vicios (alcóol num filme e cocaína no outro) empurram-nos para uma escalada de terror interior do qual não conseguiram ou não quiseram fugir. Um destino dramático em ambos os filmes por isso.

Para ver e rever as vezes necessárias, este filme é, sem dúvida alguma, um dos obrigatórios para quem acha que sabe ver o bom cinema, como ele é.

[THX]

Aproveito para encaixar aqui uns comentários meus relativamente a este filme, que escrevi num outro tópico. Serve para recalcar a idéia que tenho deste filme :
(atenção, contém spoilers)

"There Will be Blood" é um filme que tem a sua história contada no seu titulo, tão simples como isso. Mais do que uma história sobre um homem com uma forte ambição material é um filme sobre emoções e sentimentos humanos. Um homem poderoso, determinado e arrogante, que demonstra muita inteligência no campo dos negócios mas que por outro lado apresenta uma certa dificuldade em lidar com determinadas situações. Um homem, que ajudado pelo vicio do alcóol, corta os laços com a pessoa de quem mais gosta e mata a pessoa que mais detesta.

"There will be Blood" é uma "panela em ebulição" com uma forte componente religiosa e que se traduz num nitido e crescente confronto entre a vida material e espiritual. Essa clara dualidade é-nos apresentada por duas personagens - um homem frio e extremamente frontal e um jovem cinico e comprovadamente hipócrita. O primeiro serve-se do seu perfil de negociador para alcançar os seus objectivos, insensivel ás condições de vida do próximo e excluindo, implacávelmente, qualquer sentimento de solidariedade. Para ele negócios e compaixão são como azeite e água, não se podem misturar. Por sua vez o irmão gêmeo (aqui talvez uma subtil referência do realizador aos irmãos Abel e Caím) serve-se da religião, na sua forma mais imoral, apenas com o intuíto de se aproximar da personagem central de DDL para lhe tentar extorquir dinheiro. Patente neste filme está também o vislumbre de uma personalidade muito distinta e com um caractér muito mais vincado do que o seu irmão - o rapaz, seu irmão gêmeo, que logo no inicio, e sem rodeios, aborda frontalmente DDL para lhe dar uma valiosa informação em troca de uma compensação monetária. Essa info viria a ser o motor para o arranque do futuro império de DDL.

Resumidamente o filme pode ser descrito como "um braço de ferro" entre essas duas personagens que almejam o poder e a atenção de todos os que os rodeiam.
Claro que é filme que faz parte da minha filmografia.

[THX]

Review de Tarantino relativamente a este filme :



Ao que parece o próprio Tarantino admite aqui que grande parte da inspiração para o seu "Inglorious Bastards" foi retirado deste filmaço de PTA.

[paupau]

Ele descreve mais uma competicao saudavel a ver se conseguiria igualar/superar PTA. Nao ha qualquer ligacao entre os dois filmes.
Vi recentemente aquele que e a grande inspiracao para o ultimo ato ou mesmo a segunda metade do filme: To Be or Not to Be do Ernst Lubistch.

[Samwise]

Depois de alguns pormenores que registei no "engraçado" e excelente Phantom Thread, resolvi tentar perceber se as referências encaixavam na matriz original como imaginei - e essa matriz era este There Will Be Blood. É a terceira vez que assisto a este filme (a primeira foi no cinema), sendo que tem sido para mim uma daquelas obras destinada a uma prolongada reflexão e reavaliação ao longo do tempo. Longe dos produtos pastilha de entretenimento de mastigar e deitar fora, que se esquecem passado uns dias (horas... minutos..), este filme tem uma série de caracteristicas e sequências que se mantiveram comigo desde o princípio, se bem que essa primeira experiência me terá deixado mais em choque - e em confronto intelectual comigo próprio - do que com sorrisos, certezas e respostas. Parece-me agora um dos grandes filmes americanos dos últimos 20 ou 30 anos (possivelmente até mais do que isso, mas aqui a questão é a comparação com a modernidade e estado actual/contemporâneo do meio).

Além do facto narrativo propriamente dito - a história de um self-made man na industria do pretróleo - o filme afigura-se como uma crítica impiedosa (de tão monstruosa que é) em formato de alegoria às fundações da sociedade americana, com as baterias apontadas a duas vertentes essenciais: a face selvagem do capitalismo, e a face fundamentalista da religião, sendo que entre as duas se estabelece um combate intenso pelo domínio do poder. E é por causa disto que recomendo o filme ao José Miguel. O filme foca precisamente duas das "instituições" que mais lhe causam pesadelos, ao mesmo tempo que arrasa de forma demolidora a mitologia das fundações da America - tudo através da personagem interpretada pelo Day Lewis (mais uma vez, irrepreensível, como se começa tornar cansativo repetir) e da personalidade odiosa, embora por vezes ambígua e contraditória, que encerra (uma face do "Uncle Sam" que não se vê muito por aí).

Pelo meio, excelente cinematografia, excelente BSO, e um punhado de sequências de encher o olho e que já fazem parte da história do cinema (como aquela do baptismo...)

"I AM A FALSE PROPHET AND GOD IS A SUPERSTITION..."
"Now say it like you mean it!"...

[mansildv]

Acho que este filme é mesmo a obra-prima do Paul Thomas Anderson!
Já o tinha visto uma vez, há pelo menos 10 anos, e continua perfeito!

10/10

[TheLimey]

Entre o There Will Be Blood e o Magnolia, o coração e a cabeça balançam indecisos.

Mas pressionado, também sou capaz de escolher o There Will Be Blood.

[mansildv]

Entre o There Will Be Blood e o Magnolia, o coração e a cabeça balançam indecisos.

Mas pressionado, também sou capaz de escolher o There Will Be Blood.

Revi os dois filmes nos últimos e achei o Magnolia fabuloso, mas a minha preferência vai para o There Will Be Blood, é quase perfeito... e o desempenho do Daniel Day-Lewis é colossal!

[Samwise]

Entre o There Will Be Blood e o Magnolia, o coração e a cabeça balançam indecisos.

Mas pressionado, também sou capaz de escolher o There Will Be Blood.

Revi os dois filmes nos últimos e achei o Magnolia fabuloso, mas a minha preferência vai para o There Will Be Blood, é quase perfeito... e o desempenho do Daniel Day-Lewis é colossal!

Nos filmes dele, para além da consistência generalizada nos papéis, há sempre um conjunto de interpretações de grande nível. No There Will Be Blood não podemos esquecer o Paul Dano, por exemplo, que se aguenta muito bem "à bomboca" perante o "colosso". No Magnólia a coisa é mais abrangente - deve ser o desempenho da vida o Tom "Respect the Cock!" Cruise, logo à cabeça (no pun intended ), mas depois todo o elenco oferece um festival de interpretações que, considerando o "ensamble", deve ser difícil de igualar. E muito antes do Uncut Gems, ninguém tinha sequer tentado "sacar" uma interpretação decente do Adam Sandler como ele fez no Punch-Drunk Love.

[José]

Vi este no cinema e gostei muito, mas só foi crescendo em mim a cada visionamento. Agora é, a meu ver, um título imprescindível e um dos melhores do P.T. Anderson.

Mas o meu coraçãozito cinéfilo ainda fica mais no limbo entre o Magnolia e o Phantom Thread.

Quanto ao Punch Drunk Love, peço desculpa, mas... a coisa não se dá. Já tentei, mas não dá. Adam Sandler excelente, no entanto.