Blindness (2008) - Fernando Meirelles

[Shivers]

Estreia esta semana:

Fernando Meirelles, realizador reconhecido internacionalmente e já nomeado para os Óscares (O Fiel Jardineiro, Cidade de Deus), transporta para o cinema uma das mais aclamadas obras de José Saramago, Vencedor do Prémio Nobel.

Uma cidade é devastada por uma epidemia instantânea de “cegueira branca”. Face a este surto misterioso, os primeiros indivíduos a serem infectados são colocados pelas autoridades governamentais em quarentena, num hospital abandonado. Cada dia que passa aparecem mais pacientes, e esta recém-criada “sociedade de cegos” entra em colapso. Tudo piora quando um grupo de criminosos, mais poderoso fisicamente, se sobrepõe aos fracos, racionando-lhes a comida e cometendo actos horríveis. Há, porém, uma testemunha ocular a este pesadelo: uma mulher, cuja visão não foi afectada por esta praga, que acompanha o seu marido cego para o asilo. Ali, mantendo o seu segredo, ela guia sete desconhecidos que se tornam, na sua essência, numa família. Ela leva-os para fora da quarentena em direcção às ruas deprimentes da cidade, que viram todos os vestígios de uma civilização entrar em colapso. A viagem destes é plena de perigos, mas a mulher guia-os numa luta contra os piores desejos e fraquezas da raça humana, abrindo-lhes a porta para um novo mundo de esperança, onde a sua sobrevivência e redenção final reflectem a tenacidade do espírito humano.

http://www.castellolopesmultimedia.com/blindness/

[diesel]

Ja fui ver e é fraquinho.Nao sei se esta fiel ao livro ou nao.

[Shivers]

Abri uma poll de votação para classificarem o filme: http://forum.dvdmania.org/viewtopic.php?f=22&t=38369

[lud81]

Eu acho que o filme está muito bom e está muito fiel ao livro sim senhor. A visão do filme é um pouco diferente da visão que eu tive do livro quando o li, mas de tudo só não gostei muito da fotografia, todo o uso de branco ao longo do filme como simbolismo e "tema" visual (porque a cegueira de Saramago é branca) é óbvio de mais e podia/devia ter sido evitado.
Mas o filme está muito bom, muito forte, embora o livro seja mais forte. Fernando Meirelles é um excelente realizador que já não tem nada a provar.
Curiosamente, os americanos vêem este como mais um veículo para Julianne Moore... Para mim, este filme é de Meirelles e Saramago e de mais ninguém.

Para mim o filme é um sólido 9 numa escala de 10.
5 estrelas.

Agora só falta o Meirelles filmar a sequela, Ensaio Sobre a Lucidez. Essa é que seria bem jogada! No mesmo estilo, com os mesmos actores para as personagens recorrentes.

[mouto]

Também gostei bastante do filme, achei-o muito fiel ao livro, muitas das cenas que tinha no meu imaginário quando li o livro, estavam transpostas no filme tal como as imaginei. Muito bom.

[Ludovico]

A sensação que tenho é que Meirelles durante a feitura do filme cegou completamente .
Aconteceu exactamente aquilo que previa:
Meirelles quis ser tão fiel ao livro e a Saramago que se esqueceu completamente que estava a fazer um filme .Neste caso não tendo lido o livro já li opiniões de quem leu e que dizem que é fiel.
Já há algum tempo que não ia ao cinema e ter a sensação de ter jogado completamente ao lixo o dinheiro impregue .
É um filme entediante,insuportavelmente aborrecido sem qualquer rasgo de cinema.
A única coisa de positivo no filme é mesmo a direcção de fotografia porque de resto é um desastre total.
A sensação de que quando se é muito,muito infiel ao livro(ou à matéria prima inicial)é que os filmes resultam na sua plenitude saí completamente e rotundamente reforçada.
Quando vi as palavras muitissimo elogiosas de Saramago secretamente pensei que seria um mau filme.
Quem me dera ter-me enganado.
Depois de 2 filmes fabulosos Meirelles estatela-se completamente ao cumprido mas como é um realizador magnifico vai de certeza ultrapassar esta fase.

[SpiderPig]

Para quem leu o livro e le Saramago em geral, acho que qualquer um sabe que adaptar qualquer romance dele para filme nao e tarefa facil. Basta referir-me por exemplo aos dialogos e ao facto de utilizar apenas pontos e virgulas, alem de recorrer a paragrafos pouco frequentemente. Neste aspecto, devo dizer que fizeram um bom trabalho.
Para as pessoas que criticaram forte e feio o filme e nao gostaram ou nao compreenderam muito bem: nao e possivel tirar o maximo partido do filme sem ter lido o livro; para quem tiver tempo, nao seja preguiçoso e leia-o.
Fica uma ultima nota: o livro contem mais violencia e tabus do que o filme, muito mais.

[lud81]

adaptar qualquer romance dele para filme nao e tarefa facil. Basta referir-me por exemplo aos dialogos e ao facto de utilizar apenas pontos e virgulas, alem de recorrer a paragrafos pouco frequentemente.

Desculpa, mas o que tem usar apenas pontos e vírgulas e poucos parágrafos a ver com a adaptação da história a cinema? Ele só usa pontos e vírgulas, sim, mas isso não quer dizer que não hajam perguntas no livro... Ele escreve normalmente, apenas pontua à maneira dele. De qualquer das formas, ao ler um livro dele torna-se imediatamente claro qual a pontuação pretendida. Não vejo isso como nenhum entrave nem à adaptação nem à leitura.

[Argaroth01]

Eu acho que o problema em adaptar este romance do Saramago, não se prende com a dificuldade em decalcar a narrativa e as suas metáforas para o ecrã mas sim, sobretudo, com a forma como se faz sobressair uma história que em si, já foi vista tantas vezes sob várias formas, principalmente no domínio da ficção-científica (e sejamos honestos, muitos dos livros do Saramago são influenciados pelo género - ainda que a crítica literária seja pedante o suficiente para o negar). O que fica no ecrã pouco ou nada se diferencia de, por exemplo, um "28 Days Later". Tirando os zombies, claro. Mas percebe-se o quanto o mundo de Romero e companhia está povoado também pelas mesmas preocupações.

[lud81]

Eu sempre achei o Ensaio Sobre a Cegueira muito semelhante a uma história de zombies, desde que o li pela primeira vez. E sim, o Saramago incorpora muito o fantástico e a coincidência nas suas histórias.

[SpiderPig]

Desculpa, mas o que tem usar apenas pontos e vírgulas e poucos parágrafos a ver com a adaptação da história a cinema?

A meu ver tem tudo. Sera mais facil organizares um script baseado numa prosa convencional do que uma do Saramago. A estrutura nao e tao linear e a narraçao facilmente se imiscui no dialogo.

Argaroth01, que livros leste do Saramago?

[Argaroth01]

Argaroth01, que livros leste do Saramago?

Li "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", o "Ensaio Sobre a Lucidez" e não cheguei a terminar por completo o "Ensaio Sobre a Cegueira". Tenho que admitir que a escrita do homem me cansa um pouco. Eu não disse que em todos os livros do Saramago desponta o fantástico/ficção-científica, atenção. Há um pequeno ensaio sobre isto mesmo, da autoria de João Candeias, na revista "Bang!" n.º 0 (revista literária do género fantástico da editora Saída de Emergência, que a partir do n.º 3 passou a ter somente edição electrónica), intitulado "Saramago: O Nobel da Ficção-Cientifica" (que se debruça sobretudo sobre "Ensaio Sobre A Cegueira").

Não sei se o Saramago alguma vez admitiu gostar de ficção-cientifica, mas não seria totalmente descabido ele expurgar tal noção, tal como é comum no mainstream literário português (e no mainstream em geral), torcer o nariz ao género. Acho que deviam tomar o exemplo de Doris Lessing, também ela laureada com o Nobel, que sempre admitiu (tendo escrito até) a importância e a influência do género.

[SpiderPig]

Tenho que admitir que a escrita do homem me cansa um pouco.

A ti e a muita gente. La esta, nao e de facil leitura. De certa forma estas a dar-me razao em relaçao ao que disse atras. Eu nao acho que seja muito baseado em ficçao-cientifica... Talvez o Ensaio Sobre a Cegueira, As Intermitencias da Morte ( aconselho ) e o Ensaio Sobre a Lucidez tenham disso um pouco. Acho que nao se deve tomar uma fracçao pelo todo. Claro que os romances sao muito abrangentes e podem recorrer a varias areas.

[SpiderPig]

Não sei se o Saramago alguma vez admitiu gostar de ficção-cientifica

Que eu saiba, nunca

[Argaroth01]

É um pouco como o "The Road" do Cormac McCarthy. A crítica mainstream fala do livro como sendo pós-apocalíptico, como se ficção-científica fosse algum "rótulo" maldito, reservado a escritores e histórias de 5ª categoria. Alguma da melhor literatura do século XX proveio desse género às vezes com uma sensibilidade e maturidade invulgares. Nem tudo se resume a naves espaciais e grandes batalhas.

Para mim, não importa se o Saramago nunca admitiu a sua filiação ao género, mas noto que a sua escrita toca nele em determinadas obras.